sexta-feira, 8 de março de 2013

Estudantes da UFMT e advogada da ADUFMAT agredidos e insultados pela PM vão processar Estado e reitoria da Universidade

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Estudantes da UFMT e advogada da ADUFMAT agredidos e insultados pela PM vão processar Estado e reitoria da Universidade

Seis estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a advogada da Associação dos Docentes da UFMT (ADUFMAT S.Sind.), detidos, agredidos e insultados pela Polícia Militar ontem à tarde durante e depois da manifestação por moradia estudantil, vão processar o Estado e a reitoria da UFMT. Eles denunciam a truculência policial que marcou o final do ato de trancamento da avenida Fernando Corrêa, principal via de acesso à instituição de ensino.
Fotos e vídeos como este mostram vários momentos de excesso das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam). Como um tapa na cara desferido em um rapaz que tentava pedir calma. A força do tapa lançou o rapaz ao chão.
A Reitoria será processada porque acionou a polícia para desbaratar o protesto. A Reitoria nega e alega que populares é que ligaram para o 190. Mas, em nota oficial, a PM reafirma que “a Reitoria da UFMT informou a PM do fato e solicitou providências”.
“A polícia já chegou batendo e atirando”, disse o estudante de Mestrado em Geologia Caiubi Kuhn, mostrando mais de 20 furos no peito, provocados por balas de borracha. Ao abrir a entrevista coletiva à imprensa, realizada no auditório da Associação dos Docentes da UFMT (ADUFMAT S.Sind.), na manhã de hoje, ele explicou que as casas do estudante são refúgios para filhos de pais de baixa renda, que têm dificuldades em mantê-los fora de casa, durante o período universitário. “Sou um desses filhos”, disse Caiubi.
Ainda sangrando na região próxima à virilha, a estudante de Ciências Sociais Viviane Mota, do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFMT) contou, na coletiva, que levou um tiro de bala de borracha em uma distância de menos de 2 metros. Ela considerou a conduta da PM durante do protesto um ato de brutalidade.
Depois de ser alvejado com um tiro de bala de borracha na coluna e imobilizado por pelo menos oito policiais, um dos estudantes presos durante do protesto, Sérvulo Neuberger, que faz Comunicação Social, foi algemado e levado de camburão para o Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) Planalto. Os outros cinco detidos demoraram para chegar lá.
Walter Aguiar foi um dos algemados e levados no camburão. “Fomos amplamente reprimidos nesse trajeto”, afirma o estudante de Engenharia Elétrica. “Nos chamaram de vagabundos e fizeram assédio psicológico. Falaram que iam nos matar e nos torturar. Nos deixaram trancados, por mais de uma 1h, no camburão, debaixo do sol”.
Uma bala de borracha causou lesão no 3º metacarpo da mãe esquerda da estudante de Agronomia Bruna Matos. “Isso só resolve com cirurgia, conforme o laudo de ortopedista. O Estado provocou isso aqui; o Estado vai ter que concertar. Estou escrevendo monografia, como fico? E se for irreversível?”
A representante do Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso, Valquíria de Carvalho Azevedo, disse que o caso já toma dimensões nacional e internacional. “Foi uma brutal violência!”
A causa do protesto é a falta de assistência estudantil na UFMT. Hoje o programa de moradia para universitários, que se chama Casas do Estudante Universitário (CEU), engloba cinco residências e 50 vagas. Acontece que a UFMT construiu uma casa dentro do campus de Cuiabá, com 64 vagas. E, sem avisar formalmente aos contemplados, rescindiu os aluguéis, na intenção de transferir todos para o prédio recentemente inaugurado.
Representando o pessoal que mora nas casas estudantis, a universitária Laís Caetano afirmou que o protesto só ocorreu porque foram vencidas todas as possibilidades de diálogo. “Fiquei sabendo, extraoficialmente, no dia 5 de março que no dia 22 vou ter que sair da casa onde moro. Ora, mas isso é uma falta de respeito. Pelas nossas contas, não haverá vagas para todos, como diz a reitoria, isso é mentira. Nós somos 50 e já tem gente com vaga garantida na casa nova. Isso sem falar nos 635 calouros de baixa renda que estão para entrar no próximo semestre”.
A advogada da ADUFMAT S.Sind, Ione Ferreira Ferreira Castro, afirma que foram desrespeitadas prerrogativas que sua categoria tem para exercer a profissão, como o direito de acompanhar os clientes na lavratura do Boletim de Ocorrência. “Bati na porta para saber como estavam os estudantes, quando um mastodonte me mandou calar a boca e fechou a porta na minha cara. Mas quando eu ouvi um policial gritando que ia meter a mão em um aluno eu bati novamente, até porque os estudantes estavam lá dentro junto com dois presos fugitivos e um traficante. Mas, por ironia, só os estudantes estavam algemados; os outros não. Na hora que o policial ia fechar a porta novamente na minha cara, eu coloquei o pé e ele quebrou a porta em mim e falou que eu estava presa por desacato e por lesão ao patrimônio público. Foi me mandando entrar e me jogando encima da mesa. Me fez tirar tudo – brincos, anéis e deixar até a bolsa. Quando estava me qualificando, me pediu documentos e eu disse que não estava comigo. E ele retrucou: ah, então a senhora anda por aí sem documentos? Respondi que os documentos estavam lá fora, na bolsa. Olha a estupidez! Então, eu sou a prova viva do despreparo desses policiais. Eles têm preparo físico, mas não mental. Estavam no protesto para manter a ordem, mas eles que promovem a violência. Agora eu pergunto: esses PMs é que vão lidar com a gente na época da COPA? E nem digo somente na época da COPA, porque esses jogos serão passageiros. Pergunto se são esses PMs que estão andando aqui dentro da universidade? Como que pode isso” – declarou, indignada.
Um outro advogado criminalista, Marco Antônio, foi detido junto com ela, simplesmente por reforçar junto a prerrogativa que o advogado tem de acompanhar o cliente.
A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso emitou nota de repúdio à truculência policial.
A advogada Carla Rocha, que na coletiva representou a OAB, disse que o caso será denunciado junto à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, para que isso não volte a ocorrer. “De certa forma, inclusive a Ordem foi ferida”.
A professora de Ciência Política na UFMT Juliana Ghisolfi destacou a correlação entre situações semelhantes que se repetem por aqui por conta da truculência da reitoria, da polícia e do sistema. Primeiro, lembrou da adesão ao ENEM como porta única de ingresso na UFMT, goela abaixo, através de ad referendum, um expediente ditatorial, usado pela reitora Maria Lúcia Cavalli Neder, em maio de 2009. “Isso implica na vinda de muitos estudantes do interior e até de fora do Estado”, destacou a professora. Porém, a Universidade não se preparou adequadamente para receber tantos alunos mais de fora. Ghisolfi lembrou ainda o caso do universitário africano Toni, assassinado em 22 de setembro de 2009 e que não tinha assistência estudantil. A UFMT também é acusada de ter sido omissa no caso Toni. “Essa reitoria é assim, não ouve estudante, não ouve professor, não escuta ninguém. Acontece que há interesses muito maiores em jogo, é uma disputa de poder”.
O presidente da ADUFMAT S.Sind., Carlos Roberto Sanches, destacou ainda que a reitoria também não ouviu a comunidade acadêmica quando decidiu construir um centro de socialização no bosque da UFMT, atendendo a interesses privados. Também não ouviu ninguém quando aprovou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), para administrar o Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM), assim como mantém essa polícia despreparada fazendo a segurança no campus. “Com essa política e essas práticas antidemocráticas, o Governo Federal sepultou a carreira dos professores das universidades federais, acabou com nossa carreira, também porque há representantes internos que aceitam esse tipo de jogo. Mas estamos aprendendo com os estudantes que é possível reagir contra isso”.
Durante o protesto um jornalista, que estava cobrindo o fato, quase foi agredido pela polícia, confundido com um manifestante.
Em assembleia geral, na parte da tarde dessa quinta-feira, os estudantes resolveram fazer novo protesto na avenida Fernando Corrêa, contra repressão, pela punição dos agressores militares e por moradia estudantil. E seguiram para a reitoria, onde estão nesse momento.
Na OAB, ainda nesta tarde de quinta, comissão estuda encaminhamentos jurídicos.
Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa da ADUFMAT S.Sind.

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