quinta-feira, 10 de novembro de 2016

justiça social e mudança climática



CIDADÃS E CIDADÃOS DO POVO DA TERRA:
CRIEMOS NOSSO PRÓPRIO PODER!
            Nós, cidadãs e cidadãos do Povo da Terra, de todos os países, todas as culturas e tradições do mundo inteiro, reunidos em Paris neste momento histórico, testemunhas da mudança climática e da degradação dos recursos naturais essenciais para a vida na Terra, e da crescente desigualdade entre os seres humanos, nos comprometemos a preservar a capacidade de viver bem das gerações presentes e futuras.

            Empoderados pelos nossos conhecimentos e culturas, e tendo mobilizado a nossa capacidade de lançar múltiplas iniciativas ao redor do mundo para começar o caminho para a Grande Transição, notamos com apreensão a insuficiência e a incapacidade do processo de negociações das Nações Unidas desde 1992 até 2015, de ser efetivamente ambicioso, corajoso e convincente a fim de evitar as consequências cada vez mais evidentes, destrutivas para a humanidade e para o nosso planeta, de um desequilíbrio climático anunciado há muito tempo por cientistas.

            É tempo de reconhecer que o sistema de representação da cidadania através dos Estados, e também através de organizações multilaterais constituídas exclusivamente por estes, e de uma oligarquia financeira poderosa, sem qualquer legitimidade, é incapaz de preservar e gerir os bens comuns sem fronteiras da humanidade, como o ar, a água, o solo, as florestas, dos quais depende fortemente a vida dos seres humanos e todas as outras formas de vida. Precisamos inventar uma nova esfera de ação política que reconhece as pessoas na sua diversidade, mas também o Povo da Terra em sua unidade. Temos uma necessidade urgente de construir uma ação pública global a médio e longo prazo que seja capaz de levar em conta os interesses das gerações futuras. Precisamos de ações globais urgentes, mas que tenham um horizonte de tempo no mínimo de duas gerações, e até de sete, como sabiamente o fazem os povos indígenas da América do Norte, nas suas decisões importantes.

            É hora de dar mais um passo na capacidade de nossa família humana para garantir o seu destino comum, iniciando por evitar ameaçar a si mesma, destruindo a Mãe Natureza, que nutre a vida. Este passo é o de um processo constituinte que, se apoiando na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a complete com o reconhecimento pleno dos direitos e responsabilidades de cada ser humano para com os outros e com a natureza, não só como cidadãs e cidadãos de nações e povos diferentes, mas também como cidadãs e cidadãos do Povo da Terra, cujo destino está intimamente relacionado com o do nosso magnífico e frágil planeta.

            Estes direitos de cidadania planetária não podem continuar a serem tomados como reféns de formas de organização econômica ou política incapazes de resistirem ao poder do sistema oligárquico dominante, que retarda as medidas que precisam ser tomadas com urgência para evitar maiores catástrofes sociais e ecológicas.

            Nós nos comprometemos, então, com a construção de um poder cidadão que assuma de forma complementar aos Estados, a responsabilidade pelo futuro da humanidade no planeta. E estamos empenhados em construir juntos esse poder com todas aquelas e aqueles que, livres das pressões de lobbies oligárquicos, levem em conta a urgência da ação e da construção de sua sustentabilidade no médio e longo prazos.

            Nós nos comprometemos a buscar todas as formas de organização e expressão do poder cidadão, apoiando todas as reuniões internacionais que virão. Estaremos juntos, por exemplo, no Fórum Social Mundial Temático em Porto Alegre, em janeiro de 2016, no Encontro Internacional da Rede Diálogos em Humanidade, em julho de 2016, e no Fórum Social Mundial em Montreal, em agosto de 2016, para nos concentrarmos no que une os povos em defesa da vida e da própria humanidade comum e, ao mesmo tempo, construirmos pontes para um reconhecimento oficial do poder cidadão pelas nações, pela ONU e suas agências, a fim de evitar a influência dos lobbies contrários à continuidade da aventura humana na Terra.

            Nós nos comprometemos a juntos pormos em prática este juramento solene:
            Dedicar todas as nossas capacidades, toda a nossa criatividade, a nossa experiência intelectual, emocional, artística, material e imaterial, à aceleração imediata da Grande Transição para energia renovável e limpa, abandono de combustíveis fósseis e padrões destrutivos de produção e consumo para os seres humanos e o planeta, construção em todos os lugares e em todas as escalas, nossas famílias, nossas aldeias e nossas cidades, nossas regiões e nações, de uma nova economia baseada na igualdade e na solidariedade, respeitosa da vida, da saúde, do bem-estar humano, bem como da biodiversidade e do equilíbrio de todos ecossistemas terrestres e submarinos dos quais depende a sobrevivência da humanidade.

            Fazemos este juramento, deixando Paris, de não nos separarmos uns dos outros, nem no coração nem no espírito; de mantermos nossas conexões através de todos os meios de comunicação cidadã; de nos reunirmos sempre que as circunstâncias o exigirem; de exercermos pressão sobre todas as instâncias de poder, sejam governamentais ou empresariais, corporativas e financeiras, locais, nacionais e globais, para que assumam as suas responsabilidades; de cooperarmos constantemente entre redes cidadãs para a implementação dos objetivos vitais e urgentes mencionadas acima; e, assim, fortalecermos os nossos laços de amizade, fraternidade, solidariedade e apoio mútuo, a fim de expandirmos a rede global de cidadãs e cidadãos da Terra empenhados de corpo e alma nesta missão, atores da emergência de uma sociedade cívica mundial, portadores de um novo Contrato Social e Ecológico Planetário, garantidores deste juramento e deste compromisso em nosso nome e para a proteção das gerações vindouras.

            Todos e cada um dos cidadãos do Povo da Terra, em Paris e em todo o mundo, confirmarão por sua assinatura esta inabalável resolução. Feito em

Paris, 12 de dezembro de 2015


Por favor assine este documento em www.fsm2016.org/en/transition.

Contatos: Anne-Marie Codur (codur@hotmail.com), 
Débora Nunes (rededeboranunes@gmail.com )
Marcos Arruda (marcospsarruda@gmail.com)
...........................................................................................

Carta do seminário nacional (português)

Versão em inglês (English version)
https://1drv.ms/b/s!ArAwKvScjHNv5kGuKDu2cT1uX4SP

Versão em espanhol (versión en Spañol)
*

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

‘Mais Direitos, Mais Democracia’ – Todos os Direitos para Todas as Pessoas

No último dia 28/julho, em Brasília, lançamos a campanha nacional ‘Mais Direitos, Mais Democracia’ – Todos os Direitos para Todas as Pessoas. A campanha é uma iniciativa construída coletivamente que visa fazer uma disputa de valores no campo dos direitos humanos e pela garantia e ampliação da democracia no Brasil.
 
O nosso desafio conjunto é enfrentar a onda conservadora que afronta os direitos e as liberdades no país e sensibilizar a sociedade para a construção de uma cultura de direitos e não de privilégios, bem como estabelecer e ampliar o diálogo com diferentes públicos sobre a importância de fortalecer esta cultura como condição necessária à construção de uma democracia real. A partir desta perspectiva, pretende, também, afirmar a identidade e a autonomia de grupos oprimidos e marginalizados, bem como promover a mobilização e a formação destes grupos para uma atuação de convergência que vise o alargamento da democracia e realização dos direitos humanos.
 
O processo de construção coletiva exige o envolvimento de tod@s e ainda há muito a ser feito. A partir do lançamento, tendo presente várias questões que já vínhamos dialogando e acumulando no âmbito da coordenação executiva, e também das sugestões colhidas com vários parceiros durante o seminário em Brasília, avançaremos no processo de afinamento das estratégias e do planejamento operacional da Campanha para o próximo período. Queremos fazer isto de forma dialogada e participativa com os vários parceiros que já aderiram e vão aderindo a Campanha no seu andar. Neste momento pedimos sua atenção para o que segue:
 
  1. Queremos agradecer a todas as entidades que participaram da Plenária DH e do Lançamento da Campanha, às quais já contamos como entidades que aderiram à Campanha. Confiram a lista de quem já aderiu no site da campanha:
  2. ). Ao mesmo tempo, fazemos um chamamento especial às entidades filiadas e parceiras que ainda não aderiram para que façam sua adesão assinando o Manifesto diretamente no site da campanha ou respondendo a este e-mail.
Por favor, coloquem um baner com a logo da campanha em seu site, compartilhem as notícias em suas redes sociais e mandem suas fotos de adesão para publicação no facebook da campanha. Vejam quem já publicou:
https://www.facebook.com/maisdireitosmaisdemocracia/photos)
 
  1. Durante o lançamento e também no Seminário Nacional de Monitoramento dos DH foram distribuídos cartazes e folderes da campanha. Não fizemos, no entanto, um registro desta distribuição. Assim, pedimos a tod@s que levaram os materiais que nos informem o nome da entidade, cidade, estado e quantidade levada. Desta forma vamos saber para quem ainda deveremos providenciar o envio.
 
 
 
 
  1. Precisamos saber também quais entidades estão programando realizar o lançamento da campanha e/ou sua divulgação através de eventos já programados em nível local,
 
 
estadual ou regionalmente. Para nós é muito importante esse registro e também a divulgação das ações através das mídias que a campanha dispõe. Neste sentido, disponibilizem por favor as informações e programações para que possamos divulgar como atividades parceiras da Campanha.
 
  1. Muitas entidades produziram também matérias sobre a campanha. Por favor, nos enviem. Queremos manter nosso clipping atualizado.
 
  1. No site da campanha também estão disponíveis 3 vídeos: do Lançamento da Campanha Mais Direitos Mais Democracia, um sobre Democracia e outro sobre Gênero e Raça no Centro do Debate. Apropriem-se desse material para seus debates, aulas, etc. Divulguem!
 
  1. Estamos trabalhando na construção de um guia ou manual de orientações para produção e reprodução de materiais, compartilhamentos de materiais e informações, adesões à Campanha envolvendo diferentes esferas de representação (tais como órgãos públicos, parceiros internacionais, etc). Assim que estiver pronto poderá ser acessado no site da Campanha.
 
  1. Acessem, curtam e divulguem:
Site = http://maisdireitosmaisdemocracia.org.br/
Conta no Facebook = https://www.facebook.com/maisdireitosmaisdemocracia
Canal no Telegram =telegram.me/maisdireitosmaisdemocracia
Conta no Twitter = @todososdireitos
Conta no Youtube= https://www.youtube.com/channel/UCcDi1lK92RwdaAgE4mMAsLw
 
Agradecemos antecipadamente sua atenção e seu apoio.
 
Mais Direitos, Mais Democracia. Todos os direitos para todas as pessoas.
 
 
Expediente:
Secretaria Executiva da PLATAFORMA DE DIREITOS HUMANOS DHESCA BRASIL
Rua Ermelino de Leão, 15, conjunto 72, Centro – CEP: 80410-230 – Curitiba – PR
Fone: (41) 3232-4660 e-mail: secretaria@plataformadh.org.br;  www.plataformadh.org.br
 
Secretaria Executiva da ARTICULAÇÃO PARA O MONITORAMENTO DOS DH NO BRASIL
Rua Liberdade, 255/201 – Bairro Rio Branco – CEP: 90420-090 - Porto Alegre/RS
Fone: (51) 30129874 / 8141-0084 e-mail: secretaria.dhesc@gmail.comeneias_2@hotmail.com

terça-feira, 26 de julho de 2016

Entidades lançam campanha nacional por mais direitos e mais democracia

Entidades lançam campanha nacional por mais direitos e mais democracia

Enfrentar retrocessos e sensibilizar para uma cultura de direitos
são objetivos da campanha



Entidades que atuam na defesa dos direitos humanos e movimentos sociais lançam nesta quinta-feira, dia 28, em Brasília, a campanha nacional ‘Mais Direitos, Mais Democracia’ – Todos os Direitos para Todas as Pessoas. A campanha é uma iniciativa construída coletivamente que visa fazer uma disputa de valores no campo dos direitos humanos e pela garantia e ampliação da democracia no Brasil. O lançamento será na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), às 17 horas.

“O objetivo da campanha é estabelecer e ampliar o diálogo com diferentes públicos sobre a importância de fortalecer uma cultura de direitos como condição necessária à construção de uma democracia real”, afirma Darci Frigo, coordenador da Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil, uma das redes que organiza a campanha nacional.

A crise econômica que se abateu sobre o país, somada à desestabilização política, à eleição de um Congresso conservador e ao recente processo de impeachment aberto contra a presidenta da República, contribuem para o agravamento dos retrocessos. A própria democracia vem sendo posta à prova, com ações que priorizam a moral privada em detrimento da ética pública e que escancaram, no cotidiano, o fascismo, o machismo e o racismo presentes na sociedade.

A campanha busca “enfrentar a onda conservadora que afronta os direitos e as liberdades no país e sensibilizar a sociedade para uma cultura de direitos e não de privilégios”, destaca Enéias da Rosa, Secretário Executivo da Articulação para o Monitoramento dos DH.

A partir desta perspectiva, buscando uma ampla articulação entre parceiros nacionais, regionais e locais, que atuam em diferentes esferas de promoção e defesa de direitos, a campanha pretende, ainda, afirmar a identidade e a autonomia de grupos oprimidos e marginalizados, bem como promover a mobilização e a formação destes grupos para uma atuação de convergência que vise o alargamento da democracia. “Para avançar na construção de uma cultura de direitos é preciso promover o reconhecimento e a afirmação das identidades de sujeitos e grupos e enfrentar as práticas discriminatórias”, diz Frigo.

Embora uma campanha não seja suficiente para acabar com as violações de direitos humanos, certamente, “ela se constituirá em importante instrumento de fortalecimento das redes e movimentos sociais e entidades que atuam nas lutas em defesa dos direitos humanos”, aponta da Rosa. Para tanto, a campanha se propõe a atuar a partir de três eixos estratégicos: a) comunicação e sensibilização da sociedade sobre o que são direitos humanos e sua conexão direta com a democracia; b) articulação e mobilização para afirmar a identidade e a autonomia de grupos oprimidos e marginalizados para construção de uma atuação de convergência; e c) formação política visando construir novos conceitos e metodologias que objetivem a ampliação de direitos e a consolidação de uma sociedade mais democrática e participativa.

A iniciativa está sendo puxada pelas redes Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil e Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos, que atuam na defesa e promoção dos direitos humanos, e conta com apoio da Fundação Ford, Pão Para o Mundo e Misereor.

SERVIÇO:
Data: 28/07/2016
Local: Conselho Federal de Psicologia (CFP) – Edifício Via Office – SAF SUL, Quadra 2, Bloco B
Horário: Às 17 horas

Grupo Operativo
Nesta primeira etapa a campanha conta com um grupo operativo composto pelas organizações: Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT); Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa e Informação; Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB); Conselho Federal de Psicologia (CFP); Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social; Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e Processo de Articulação e Diálogo (PAD); e Rede Marista.

Assessoria de Imprensa

Ana Claudia Mielke – Coletivo Intervozes
Telefone: (11) 99651-8091

Anderson Moreira – Plataforma Dhesca
Telefone: (41) 8774-7474

quarta-feira, 15 de junho de 2016

poema


SOMBRAS SOBRE NÓS!

Iremar Antonio Ferreira


Tem cheiro de fumaça no ar...
É mês de junho! 
Será fogueira de São João? 
Não...!?
É cheiro de carne humana queimada...
pode ser de uma criança indígena Kaiowá...
pode ser cheiro da queima de mais um tekohá...
pode ser cheiro de gente, de fogueira, de tekohá...
mas o que tem a ver comigo isso tudo?
É mais um golpe no Brasil, ou mais uma rajada!
rajada de espingarda ou revólveres de grosso calibre...
o alvo, áh, o alvo são indígenas Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul.
Quem atirou!

Quem atirou foi o latifundio, os pistoleiros, os fazendeiros, os políticos...
Atiraram de Brasília, do MS, de Caarapó...
atiraram sem dó...nem piedade...
Atiraram contra uma multidão de pessoas Guarani Kaiowá...
O que eles queriam ajuntados assim?
Esqueceram que se juntar mais de dois é sinal de trama contra os ditadores...
Repressão é o nome usado para dispersar agitadores...
Eram mais de mil indígenas...
Discutiam o futuro deste povo numa terra onde a lei é a dos POLÍTICOS do MS;
mas também de artistas globais, cantores, empresários...

Cloudione Rodrigues Souza foi morto neste dia 14 de junho de 2016...
coincidência à parte, ele morreu no dia do aniversário do revolucionário Ernesto Guevara de la Sierna ou simplesmente Che Guevara...
Cloudione estava lutando por direito à terra! 
Cloudione também cuidava da saúde de seu povo, à exemplo do médico Che!

Cloudione foi assassinado por fazendeiros...
Che Guevara pelas forças policiais bolivianas com medo de sua articulação com campesinos na Bolívia...
A Luta pela Terra em comum...

Cloudione e o Povo Guarani-Kaiowá, Terena entre outros...
O Tekohá TeyiJutsu atacado por mais de 70 fazendeiros não será apagada pelo fogo...
As crianças queimadas e os desaparecidos feridos contabilizam ao Brasil como o País que, a mais de 512 anos tenta exterminar seus povos originários...
Mas não conseguirão!

A resistência secular dos Povos Indígenas do Brasil, da América Latina e do Mundo inteiro é mais forte que o Império da Morte...!

Onde cada indígena tomba nasce uma árvore... 

Iremar Antonio Ferreira
Instituto Madeira Vivo - IMV

Graduado em História - UNIR
Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - PGDRA/UNIR
Educador Popular
 
Telefone: 69 9981 4505

domingo, 15 de maio de 2016

Frei Luc Vankrunkelsven


Frei Luc Vankrunkelsven
ambientalista belga da ONG "WERVEL"

Lançamento do livro OÁSIS
Paróquia Sagrada Família (Pe. Zeca)
Domingo 29/05/2016


das 8 às 11:30 h.

Fone: (65) 3653 - 3488
Rua: Itália Malpice de Barros, 85 – Carumbé 
CEP: 78050 – 630 – Cuiabá - MT 





sábado, 16 de abril de 2016

Sr. Governador de Mato Grosso: para acabar com a violência no campo é preciso mais que promessas!

   Sr. Governador de Mato Grosso:
para acabar com a violência no campo
é preciso mais que promessas!

Fazer as coisas pela metade é não fazer! Mas esta parece ser a estratégia do Governo de Mato Grosso. Sob pressão, promete. Mas não cumpre. Sinaliza com palavras e procedimentos que não se concretizam. Isso é uma constante ao longo dos anos, mas fica mais evidente e escandaloso nos últimos 6 meses, se considerarmos os acontecimentos e violências no campo, a exemplo do ocorrido em Novo Mundo: queima de casas, ameaças de morte, despejos por “jagunços”.
No começo de setembro de 2015, no âmbito da realização da 1ª. Romaria do Cerrado e Grito dos Excluídos/as de MT, os movimentos sociais do campo e as entidades que compõem o Fórum de Direitos Humanos e da Terra – FDHT após protesto em frente à sede do Governo, conseguiram ser recebidos pelas autoridades do Estado, em especial o Governador.
As dificuldades, reivindicações e a violência sofrida pelos camponeses e camponesas, que foram levadas nesse encontro tiveram como resultado a organização de uma agenda a ser concretizada imediatamente pelo Governo: 1- a criação de uma Comissão Intergovernamental de Resolução de Conflitos Agrários, com participação da sociedade civil cujo objetivo é agilizar a solução dos conflitos e evitar a escalada da violência no campo; 2- foi acertada também a mudança na configuração do Comitê de Conflitos Agrários a partir das regras da Ouvidoria Agrária Nacional que tem como indicativo a implementação do Manual de Diretrizes Nacionais para Execução de Mandados Judiciais; 3- a imediata implantação dos programas de proteção aos defensores de Direitos Humanos.
Um mês depois, em outubro de 2015, sem resposta efetiva do Governo do Estado, estoura o conflito no Acampamento Boa Esperança, Novo Mundo, aumentando de modo dramático a violência na região, com a queima de 80 casas dos pré-assentados.
A indiferença e o descumprimento dos acordos assumidos pelo Governo do Estado com os movimentos sociais do campo e o FDHT permitiu que a violência se ampliasse, autorizando o grileiro de terras públicas, Marcelo Bassan, no dia 21 de fevereiro de 2016, a agir com as próprias mãos, levando terror e tortura para a comunidade do acampamento de Boa Esperança, na Fazenda Araúna, município de Novo Mundo. Estes fatos já foram suficientemente denunciados ao governo do Estado de Mato Grosso, no Brasil e internacionalmente, e de novo, sob pressão, desencadeou uma série de promessas por parte do Governo do Estado, iniciando com a nomeação do secretário de Trabalho e Assistência Social - SETAS, Waldiney Arruda, para acompanhar e resolver o caso específico de Novo Mundo de tal modo que viesse a ser “uma ação modelo” no Estado.
 Mais preocupado em preservar sua imagem do que cumprir com sua palavra e resolver os conflitos, a primeira ação do governo foi enviar uma equipe para a região, que se reuniu simultaneamente com fazendeiros, lideranças, advogados, numa ação politicamente desastrosa, socialmente ineficaz e que levou ainda mais instabilidade para a região, culminando com o assassinato de uma das pessoas envolvidas no conflito no mesmo dia, além de levar outras lideranças a serem ameaçadas de morte.
O Secretário designado pelo governador, na presença de representantes do FDHT, do presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Ouvidoria de Polícias, apresentou os seguintes encaminhamentos, todos agendados para lançamento oficial no início da 2ª quinzena de março:

1-     Anunciou a criação, por Decreto, da Comissão Estadual de Direitos Humanos e da Terra como instrumento de prevenção de conflitos e com participação de secretarias do Estado, do FDHT, Ouvidoria de Polícias, Conselho estadual de Direitos Humanos, INTERMAT entre outros. Até hoje nada foi encaminhado em relação a isso e o Decreto... não existe!
2-     O mesmo secretário garantiu a adesão do Governo do Estado de MT ao Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos - PPDDH. Programa que o Estado de Mato Grosso já foi condenado e obrigado a implantar pela justiça de Mato Grosso. Até o dia de hoje não há encaminhamentos neste sentido;
3-     Afirmou que seria designado um Delegado de fora da região para dar andamento aos inquéritos policiais contra o grileiro e seus “jagunços”, com envio dos mesmos para a Gerência de Combate ao Crime Organizado - GCCO; os inquéritos foram encaminhados, mas não houve nomeação do Delegado responsável, com isso tudo continua parado;
4-     Prometeu a Criação de um Manual de Procedimentos para o Caso de Conflitos em MT, onde constaria, inclusive, políticas públicas para os grupos vulneráveis. Nada aconteceu!
5-     Garantiu transporte imediato de 100 cestas básicas fornecidas pelo INCRA – armazenadas na Conab de Rondonópolis – para o acampamento Boa Esperança em Novo Mundo. O governo do Estado viabilizou o transporte das cestas até Guarantã do Norte. Levou... mas não entregou! O secretário foi de avião oficial até Guarantã do Norte, realizou reunião com entes públicos do município, somente com o intuito de fazer publicidade e politicagem, mas não entregou os alimentos para a comunidade. A entrega das cestas – segundo informação de agente público de Guarantã - ficou condicionada a inserção das famílias no Cadastro Único para Programas Sociais, o que, segundo o mesmo agente público, o município não teria condições de fazer em menos de 20 dias, por falta de recursos e pessoas para realizar o cadastramento. A cesta básica é um direito das comunidades em situação de vulnerabilidade alimentar e deixar no meio do caminho, entregar com uma mão e tirar com a outra, só revela mais uma vez, a falta de compromisso e vontade política deste Governo em cumprir sua palavra, até mesmo nas coisas mais simples!  O município de Guarantã não fez com que as cestas básicas chegassem ao acampamento, obrigando a comunidade de Boa Esperança viabilizar o transporte dos alimentos.

As entidades abaixo-assinadas vêm a público:
·       denunciar a inoperância do Governo do Estado do MT em situações de conflito e violência, em especial no campo;
·       repudiar o não cumprimento de acordos e negociações feitas com a sociedade civil organizada;
·       denunciar o uso publicitário e eleitoreiro da entrega de cestas básicas que não chegaram até seu destino, utilizando-se de instrumentos midiáticos para falsificar sua indiferença para com as necessidades básicas das comunidades vulneráveis;
·       denunciar a falta de interesse real de resolução de conflitos no campo em MT, o que revela a tolerância com a violência do latifúndio, o comprometimento total com as demandas de expansão do agronegócio e a impunidade para os crimes contra o povo da terra em MT.



Assinam a nota
Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mata Grosso
 Associação Brasileira de Homeopatia Popular- ABHP
 Associação Brasileira de Saúde Popular - ABRASP/BIO SAÚDE
Central Única dos Trabalhadores - CUT
Centro Burnier Fé e Justiça - CBFJ - CJCIAS
Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade - CDHHT
Centro Pastoral para Migrantes - CPM
Conferencia dos Religiosos do Brasil - CRB - Regional Cuiabá
Conselho Indigenista Missionário - CIMI MT
Comissão Pastoral da Terra - CPT- MT
Conselho Nacional do Laicato do Brasil - CNLB
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE
Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento - FORMAD
Grupo de Estudo Educação Merleau-Ponty – GEMPO UFMT/IE
Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação – GPMSE UFMT/IE
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte - GPEA-UFMT
Instituto Caracol - iC
Instituto Humana Raça Fêmina - INHURAFE
Movimento dos Trabalhadores Acampados e Assentados - MTA
Movimento dos Trabalhadores Rurais 13 de Outubro
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MTS
Rede Mato-grossense de Educação Ambiental - REMTEA
RuAção- Núcleo Interinstitucional Merleau-freiriano - UFMT




Impeachment do processo civilizatório

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/553730-impeachment-do-processo-civilizatorio

Impeachment do processo civilizatório

O aprofundamento das políticas econômicas de “austeridade” pós-golpe requer a radical supressão de direitos sociais e trabalhistas. Nesse caso, um dos focos é acabar com a cidadania social conquistada pela Constituição de 1988, marco do processo civilizatório brasileiro.
O artigo é de Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador doCesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), publicado no Le Monde Diplomatique e reproduzido por Plataforma Politica Social, 14-04-2016.
Eis o artigo.
O objetivo de construir uma sociedade civilizada, democrática e socialmente justa deveria ser um dos núcleos de um projeto nacional. A Constituição de 1988 representa um marco do processo civilizatório do país. Pela primeira vez em mais de cinco séculos, ela assegurou formalmente a cidadania plena (direitos civis, políticos e sociais) para todos os brasileiros. O novo ciclo democrático inaugurado por ela, associado aos avanços sociais obtidos na década passada, contribuiu para a melhoria do padrão de vida da população, especialmente dos mais pobres.
Não obstante, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Essa marca tem raízes históricas ditadas pela industrialização tardia, pela curta e descontinuada experiência democrática e, especialmente, pelo longo passado escravocrata, cujo legado foi uma massa de analfabetos sem cidadania. Em pleno século XXI, o país ainda não foi capaz sequer de enfrentar desigualdades históricas herdadas de mais de três séculos de escravidão. Observe-se que, segundo estudo da ONU, a pobreza no Brasil tem cor: mais de 70% das pessoas vivendo em extrema pobreza no país são negras; 64% delas não completam a educação básica; 80% dos analfabetos brasileiros são negros; os salários médios dos negros são 2,4 vezes mais baixos que o dos brancos. No Rio de Janeiro, 80% das vítimas de homicídios resultantes de intervenções policiais são negras. A taxa de assassinatos de mulheres também tem clara dimensão racial. Entre 2003 e 2013, o assassinato de mulheres brancas caiu 10%; no mesmo período, o de negras subiu 54%. [1]
Segundo o Mapa da Violência, o Brasil ocupa o terceiro lugar, entre 85 países, no ranking de mortes de adolescentes. São 54,9 homicídios para cada 100 mil jovens de 15 a 19 anos, atrás apenas de México e El Salvador. A taxa brasileira é 275 vezes maior do que a de países como Áustria e Japão. Em média, dez adolescentes são assassinados por dia. O assassinato de jovens também tem cor. Morrem proporcionalmente sete negros para cada branco. No Maranhão morrem treze negros para cada branco. [2]
Nessas condições, o primeiro objetivo estratégico de um projeto civilizatório deveria ser enfrentar essas profundas desigualdades históricas. Em segundo lugar, preservar a inclusão social recente e aprofundar a cidadania social assegurada pela Constituição de 1988. Em terceiro, enfrentar as brutais desigualdades da renda, o que exige medidas voltadas para a revisão da estrutura tributária, a melhor distribuição da propriedade urbana e rural e a correção das desigualdades no mercado de trabalho. Quarto objetivo: universalizar a cidadania social, pelo enfrentamento do déficit na oferta de serviços sociais públicos, que combina desigualdades no acesso entre classes sociais e entre regiões do país.
A criação de uma sociedade mais igualitária requer que a gestão macroeconômica crie um ambiente favorável para o objetivo de longo prazo de reduzir continuamente a desigualdade. O progresso material é vital para a melhoria generalizada das condições de vida da população. O crescimento continuado da produção e da renda é condição necessária para a estruturação do mundo do trabalho e a ampliação do bem-estar social.
Não obstante, o arcabouço institucional adotado pelos organismos internacionais desde os anos 1990, consubstanciado no chamado “tripé” macroeconômico, não converge para esses propósitos, pois visa unicamente preservar a riqueza financeira. A revisão desse arcabouço vem sendo introduzida por diversos países antes mesmo da crise internacional de 2008; e a própria ortodoxia internacional já o trata como o “velho consenso”. Mas, aqui no Brasil, o “tripé” macroeconômico, introduzido em 1999, tornou-se ideia fixa. Qualquer crítica é considerada herética pelos ditadores do debate econômico nacional.
Fortalecer a indústria também é condição necessária para avançar no processo civilizatório. A experiência internacional ensina que nenhum país se tornou desenvolvido sem uma indústria forte e competitiva. Também seria necessário fortalecer a capacidade de financiamento do Estado. Há espaço para avançar na reforma tributária, na revisão dos incentivos fiscais e no combate à sonegação. Taxas de juros estratosféricas ampliam continuamente as despesas financeiras, transferem renda para os mais ricos e enfraquecem a capacidade financeira dos governos para atuar em favor da redução das desigualdades.
Não existem perspectivas favoráveis para a construção de uma sociedade mais igualitária se esse projeto não for pensado na perspectiva da democracia. O contínuo aperfeiçoamento da democracia exige a reforma do sistema representativo, monopolizado pelos partidos e capturado pelo poder econômico. A mercantilização do voto e a ausência de partidos programáticos impõem limites ao presidencialismo de coalizão, tornando qualquer governo refém de interesses corporativos e fisiológicos. Essa é a raiz da corrupção generalizada do sistema político-partidário, que expõe as fraturas do modelo herdado do pacto conservador na transição para a democracia.
A criação de uma sociedade mais igualitária também requer o reforço do papel do Estado. Não há na história econômica do capitalismo nenhum caso de país que tenha se desenvolvido sem o concurso expressivo de seu Estado nacional. A democracia depende da pluralidade de ideias e, nesse sentido, é fundamental garantir que os meios de comunicação sejam o esteio de um debate plural sobre os problemas do Brasil e suas soluções, aprendendo com as lições de diversos países capitalistas desenvolvidos (Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha e Portugal, entre outros).
Repetindo 1954, 1961 e 1964
A crença nessa utopia foi possível desde a redemocratização dos anos 1980 até poucos anos atrás. Hoje somos devastados por uma sensação opressiva. A iminência de um golpe institucional – pois não há evidência de crime de responsabilidade cometido pela mandatária do país – e a ascensão ilegítima ao poder de representantes dos detentores da riqueza poderão convulsionar o país e aprofundar a captura e o restrito controle do Estado por parte desses setores. O golpe na democracia vem acompanhado pelo impeachmentda cidadania social. Trata-se de nova oportunidade para promover radical mudança na correlação de forças em benefício exclusivo do poder das finanças.
Nos últimos sessenta anos, a sociedade brasileira mudou para melhor. Mas as elites ainda adotam práticas dos anos 1950 e 1960. Continuam sendo “predatórias” e “incapazes de viver com o antagônico”. Como em 1964, “elas querem a derrubada do regime democrático. Elas não sabem e não conseguem conviver com o Estado democrático. Portanto, partem para sua destruição e dissolução, que ocorre através do golpe, ilegal e ilegítimo”. [3]
Às vésperas do segundo turno das eleições de 2014, um prócer da elite antidemocrática deu a senha do que viria a seguir. Repetiu em sua conta no Twitter [4] a célebre frase de Carlos Lacerda, referindo-se a Getúlio Vargas: “Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”.
Na verdade, a trama começou a ser tecida após as manifestações populares de 2013. Os oposicionistas foram sábios em “federalizar” a insatisfação popular contra a falência generalizada do sistema de representação política herdado do pacto conservador da transição para a democracia e as crônicas deficiências na oferta de serviços sociais, cuja responsabilidade é constitucionalmente compartilhada com governadores e prefeitos.
Em 2014, o “terrorismo” econômico encarregou-se de descontruir a gestão macroeconômica, com o objetivo de enfraquecer a candidatura oficial. A vitória da situação poderia representar mais doze anos de governo do Partido dos Trabalhadores. O fantasma de Lula em 2018 voltava a assustar, sendo imperativo vencer o pleito eleitoral. Economistas liberais, setores do mercado e a grande imprensa passaram a atribuir a perda do dinamismo econômico exclusivamente aos “excessos da intervenção” estatal, olvidando por completo a grave crise do capitalismo global em decorrência da debaclefinanceira de 2008 e seus desdobramentos. Na realidade, apesar de apresentar certa deterioração de alguns indicadores, o Brasil não apresentava, em nenhum aspecto considerado, um cenário de “crise terminal”, como foi difundido. [5]
Apesar das manobras, Dilma Rousseff venceu e tomou posse. Urgia, então, impedir a continuidade do governo ou sangrá-lo até as próximas eleições, para destruir o legado social dos governos petistas e ampliar a insatisfação popular dos mais pobres e das camadas médias, requisitos para fomentar as ações desestabilizadoras no front político-institucional. Esse ato foi encenado logo após outubro de 2014 e ao longo de 2015, paradoxalmente, contando com a ajuda do próprio governo, que adotou o programa econômico dos derrotados. O ato final poderá ser consumado nos próximos dias.
O Plano Temer
Em meados de 2015, em meio às tramas golpistas e antidemocráticas, o vice-presidente da República, Michel Temer, lançou seu programa de governo (“Uma Ponte para o Futuro”) [6] e passou a montar o novo gabinete. O documento, que radicaliza e aprofunda o projeto liberal para o Brasil, propõe a “formação de uma maioria política, mesmo que transitória ou circunstancial”, em torno das propostas apresentadas. Contando com a colaboração de diversos economistas liberais, a iniciativa recebeu amplo apoio de parlamentares de diversos partidos da oposição, empresários e setores da mídia.
Num contexto em que a democracia poderá já ter sido violentada, a gestão macroeconômica será ainda mais ortodoxa. Armínio Fraga, um dos mentores da política econômica do “Programa Temer”, foi o coordenador do programa econômico de Aécio Neves em 2014. Naquela época, receitava “a defesa da volta do tripé como fio condutor da política econômica”, bem como a necessidade de reduzir a meta de inflação dos atuais 4,5%, um forte ajuste fiscal, a redução do intervencionismo do governo, a recuperação do câmbio flutuante para recompor o tripé e a autonomia jurídica do Banco Central. [7] Recentemente, afirmou que “o Brasil precisa é de um ajuste enorme”, muito superior ao realizado na primeira administração Lula e pelo ministro Joaquim Levy. “Deveríamos ter uma meta de redução de 25 pontos percentuais do PIB da dívida bruta em alguns anos. E também deveríamos dobrar o grau de abertura em certo horizonte de tempo. São objetivos factíveis”, afirmou. Além disso, serão necessárias “reformas amplas e profundas”, com destaque para a reforma da Previdência e a desvinculação dos ajustes em relação ao salário mínimo e das fontes de financiamento das políticas sociais. “Nosso orçamento deveria ser 100% desvinculado, desindexado, forçando uma reflexão do Estado que queremos e podemos ter. Uma espécie de orçamento de base zero”. [8]
O aprofundamento das políticas econômicas de “austeridade” requer a radical supressão de direitos sociais e trabalhistas. Nesse caso, um dos focos é acabar com a cidadania social conquistada pela Constituição de 1988, marco do processo civilizatório brasileiro. Abre-se uma nova oportunidade para que esses setores concluam o serviço que vêm tentando fazer desde aAssembleia Nacional Constituinte.
A surrada tese ideológica do “país ingovernável” – sacada pelo então presidente José Sarney(1985-1990), num último gesto desesperado para evitar que a cidadania social fosse incluída naCarta Magna – voltou a ditar o rumo do debate imposto pelos representantes do mercado que conseguiram criar o “consenso” de que estabilizar a dinâmica da dívida pública requer a mudança no “contrato social da redemocratização”. Argumentam que os gastos “obrigatórios” (Previdência Social, assistência social, saúde, educação, seguro-desemprego, entre outros) têm crescido num ritmo que compromete as metas fiscais. Para eles, a crise atual decorre fundamentalmente da trajetória “insustentável” de aumento dos gastos públicos desde 1993, por conta dos direitos sociais consagrados pela Carta de 1988. [9] Argumentam ainda que os juros elevados praticados no Brasil decorrem da “baixa poupança” do governo. Esta, por sua vez, é fruto da existência de “sociedades que provêm Estado de bem-estar social generoso com diversos mecanismos públicos de mitigação de riscos”. [10] A visão de que “o Estado brasileiro não cabe no PIB” também tem sido sentenciada por diversos representantes desse matiz. [11]
Em consonância com o “Plano Temer”, levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) aponta que tramitam no Congresso Nacional 55 projetos de lei e propostas de emenda constitucional que suprimem direitos sociais e trabalhistas, reduzem o papel do Estado e aprofundam mecanismos de controle fiscal. [12]
Depois do golpe
Faz parte da narrativa dos oposicionistas que, após o impeachment, haverá uma trégua política, condição necessária para a reorganização da economia. Difícil acreditar nessa possibilidade. Em primeiro lugar, porque falta legitimidade aos que serão “eleitos” pela manobra. Falta, sobretudo, legitimidade ética, pois praticamente todos os futuros mandatários da República – a começar pelo presidente da Câmara dos Deputados e o do Senado Federal, o aspirante a presidente da República, a maioria de seus apoiadores, grande parte dos parlamentares que integram a comissão de impeachment e aqueles que decidirão pela cassação no plenário – parecem estar envolvidos com algum “malfeito” no uso do dinheiro público. Em segundo lugar, as elites financeiras, políticas e midiáticas erram ao pressupor que a sociedade brasileira no século XXI é a mesma de meados do século passado. Ledo engano. Não somos mais um país agrário com uma sociedade politicamente desorganizada. Portanto, como aponta Safatle, a crença na trégua pós-impeachment é falsa,“e os operadores do próximo Estado Oligárquico de Direito sabem disto muito bem”. [13]
O mais provável é o acirramento dos ânimos, da intolerância, da fratura ainda maior da sociedade e da luta de classes que está nas ruas. A governabilidade do país poderá depender de um Estado policial ainda mais severo que o utilizado em 1964. Agora, não basta intervir nos sindicatos.
impeachment do processo civilizatório em pleno século XXI aí está, como que para comprovar que a democracia e a cidadania social são pontos fora da curva do capitalismo brasileiro. São corpos estranhos que os “capitalistas” nacionais ainda não aprenderam a usar, nem sequer em benefício de si mesmos.
Notas do autor:
1 Ver: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,politicas-de-igualdade-racial-fracassaram-no-brasil--afirma-onu,10000021133
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil_Preliminar.pdf
3 Maria Aparecida de Aquino, “Elite golpista e antidemocrática”, Brasil de Fato, 1º abr. 2015. Disponível em: http://www.brasildefato.com.br/node/31711
4 Ver em: https://twitter.com/jose_anibal/status/524697787116830721?lang=pt
5 Ver: " target="_blank">http://plataformapoliticasocial.com.br/wp-content/uploads/2015/09/porumbrasiljustoedemocratico-vol-01.pdf>, p.18-39
6 Disponível em: http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15-Online.pdf
7 Ver em: http://www.valor.com.br/eleicoes2014/3662186/conselheiros-de-aecio-e-marina-convergem-em-politica-economica
8 Ver em: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,arminio-fraga-diz-que-ajuste-fiscal-atual-e-insuficiente,1795807
9 Ver: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/226576-ajuste-inevitavel.shtml
10 Ver: http://www.valor.com.br/arquivo/893219/duas-rotas-que-levam-reducao-da-taxa-de-juros
11 Ver: http://www.evernote.com/shard/s161/sh/fde65c1a-acd6-4b37-ab0f-603e9520f872/af64f4a075b1e39f0a682017402bb7d8
12 Ver: http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2016/03/levantamento-do-diapmostra-55-ameacas-a-direitos-em-tramitacao-no-congresso-8382.html
13 Ver: http://www.viomundo.com.br/politica/vladimir-safatle-congresso-gangsterizado-nao-tem-legitimidade-para-julgar-sequer-sindico-de-predio.html