quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Pedro descansa onde ele sonhou, na beira do Araguaia, entre um peão e uma prostituta

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Pedro descansa onde ele sonhou, na beira do Araguaia, entre um peão e uma prostituta

13 Agosto 2020

Descansar eternamente em meio àqueles que marcaram sua vida, os que não contam, os que o mundo colocou do lado de fora da história. O desejo de Pedro foi cumprido, ele descansa no cemitério dos Karajás, na beira do Araguaia, que regou sua vida por mais de 50 anos, lá onde eram sepultados os sem nome, lá onde ele sempre sonhou em ficar para sempre, no meio de um peão e uma prostituta.

 

A reportagem é de Luis Miguel Modino.

 

Pedro sempre foi um homem cheio de sonhos, “o sonho de Deus, foi o sonho de Pedro também, o sonho do Reino”, como afirmava Dom Adriano Ciocca, bispo de São Félix do Araguaia, na missa exequial celebrada neste 12 de agosto no Centro de Pastoral Tia IrenePedro vai ficar no meio daqueles que foram parte fundamental da sua vida, pois “ele queria justiça, queria fartura, queria alegria, vida plena para todos e para todas. Não importa a raça, não importa o sexo, não importa a cultura, não importa nem a religião”, insistia o bispo.

 

Ao falar desses sonhos de PedroDom Adriano, afirmava que “ele sonhou, e sonhou com os pés no chão, porque não só ficou no sonho, mas ele procurou viver e lutar para que esse sonho se realizasse. O banquete do Reino tem que começar aqui na terra e nós somos responsáveis para que a alegria da partilha, a plenitude da fraternidade tenha pelos menos alguns sinais entre nós”. Esse sonho, presente na vida de Pedro, o tornou realidade. Para que acontecesse esse sonho, “Pedro decidiu seguir Jesus, seu Mestre, na radicalidade, na fidelidade que todos nós conhecemos”, segundo o atual bispo de São Félix, que destacava em Casaldáliga sua disposição para se colocar no no último lugar, Pedro “se fez peão com os peões, se fez índio com os índios, se fez solidário com quem Deus se solidarizou, os abandonados, os excluídos, os escravos”.

Foto: Luis Miguel Modino

Uma postura de vida radical, assim é como Dom Adriano Ciocca definia Dom Pedro, como aquele “que serviu de exemplo e continua servindo de exemplo para nós”. Ele é visto pelo bispo como “uma semente plantada na beira do Rio Araguaia, uma semente que deve crescer, e deve produzir muitos frutos”. Seguindo seu exemplo, Dom Adriano lançava o desafio de “que cabe a nós fazer que aquilo que semeou, aquilo que Pedro acreditou, o modo como ele viveu o Evangelho, nessa dedicação e serviço total, de encarnação plena, possa ser um dos sinais, possa ser a marca registrada e continue definindo nossa Igreja de São Félix do Araguaia, nossa Prelazia”.

 

Mas o exemplo de Pedro tem que se fazer presente na vida do povo, “tem que ser a marca de vida que nós devemos levar, tem que ser essa força de transformação, tem que ser essa força que vai fazer brotar frutos de justiça, frutos de vida, frutos de amor”, insistia Dom Adriano, que via como caminho para que a vida de Pedro possa marcar nossa vida, retomar, meditar seus versos, fazer que eles se tornem parte concreta de nossa existência. O desafio é que “essa luz possa continuar iluminando para que o sonho do grande banquete da vida seja visibilizado, apesar de todos os entraves que nós conhecemos e que estamos vivendo neste tempo”, afirmava o bispo, que agradecia Dom Pedro pelo seu exemplo, sua fidelidade a Cristo.

 

Foto: Luis Miguel Modino

 

Aquele que nunca mais voltou na Catalunha que o viu nascer, nunca esqueceu o que suas origens representavam em sua vida. Aquele Pere que sendo criança corria nas ruas de Balsareny quis que essa terra que pisou se misture com a terra do Araguaia para sempre, algo que foi realizado quando foi colocada a terra de Balsareny no seu caixão junto com um pedra do Mosteiro de Montserrat, referência de fé na vida de todo catalão.

 

A despedida de Pedro foi momento de homenagens, de celebração esperançada. Foram muitos, gente conhecida, mas também o povo anônimo, que quis fazer sua homenagem. Sirvam de exemplo as palavras que desde Manaus enviava o sucessor de Dom Pedro como bispo de São FélixDom Leonardo Ulrich Steiner, que definiu seu predecessor como um místico, “enraizado na terra, na humanidade e em Deus”, alguém livre, ousado, inspirado, de vida simples e despojada, que percorreu as veredas do Evangelho dos pobres, uma prova daquilo que o primeiro bispo de São Félix transmitia com sua vida. Por tudo isso, o arcebispo de Manaus mostrava sua gratidão profunda a Deus e a Pedro, por tudo o que viveu no Vale dos Esquecidos, mas sobretudo pelos pequenos detalhes da convivência.

 

Foto: Luis Miguel Modino

 

Adolfo Pérez Esquivel, que sempre viu Pedro como um sinal de justiça e de paz, também enviava sua mensagem ao amigo. Foram homenagens e palavras de agradecimento que foram repartidas pelos presentes, pelos bispos, pelo povo, também pelos indígenas do povo xavante, que o homenageavam com reverência e admiração, reconhecendo a importância que as lutas de Pedro, um valente guerreiro, tiveram para que hoje, mesmo diante das dificuldades e perseguições, eles continuem vivos, sem perder a esperança.

 

Foto: Raul Vico

 

Pedro está ressuscitado, contemplando o Araguaia desde sua beira, lá onde ele sentava para rezar, para contemplar a obra do Deus Criador, para inspirar sua mente que se traduzia em poesia, em Evangelho encarnado na vida de um povo e uma terra que nunca irão esquecer seu profeta, seu poeta.

 

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domingo, 9 de agosto de 2020

Morreu o bispo do Brasil que se destacou na defesa da reforma agrária

 https://www.esquerda.net/artigo/morreu-o-bispo-do-brasil-que-se-destacou-na-defesa-da-reforma-agraria/69618


Morreu o bispo do Brasil que se destacou na defesa da reforma agrária

Morreu este sábado, o bispo Pedro Casaldáliga reconhecido defensor dos direitos humanos e dos mais pobres. Lançou em 1971 a Carta Pastoral por uma Igreja da Amazónia, que constitui a primeira denúncia mundial da situação social na área da floresta.
Pedro Casaldáliga foi sempre um grande defensor dos indígenas – Foto de vermelho.org.br
Pedro Casaldáliga foi sempre um grande defensor dos indígenas – Foto de vermelho.org.br

Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia, morreu este sábado, 8 de agosto, com 92 anos, vitimado por uma embolia pulmonar. Além da avançada idade, o bispo tinha a doença de Parkinson. O velório começou este sábado, na cidade de Batatais, depois seguirá no dia 10 de agosto para Mato Grosso e posteriormente para São Félix do Araguaia, onde será sepultado.

Pedro Casaldáliga, que não gostava do uso de Dom1, nasceu em Barcelona e desembarcou no Brasil em 1968, em plena ditadura militar. Foi consagrado bispo em 1971.

Segundo o Brasil de Fato2, lançou a Carta Pastoral por uma Igreja da Amazónia, também em 1971, documento conhecido nacional e internacionalmente e que marcou o seu percurso.

De acordo com o Instituto Humanitas Unisinos3, a carta constitui a primeira denúncia mundial da situação da Amazónia, sendo um documento de defesa dos povos indígenas e de luta contra a marginalização social.

Pedro Casaldáliga foi também um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)(link is external) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT)(link is external), entidades que têm desde então atuado na defesa dos indígenas, das comunidades tradicionais e dos trabalhadores do campo.

Em artigo assinado por José Carlos Ruy4 do PC do B, assinala-se: “Uma vida dedicada aos humildes, à luta pela justiça, ao combate à desigualdade social, contra a opressão. Há mais de 50 anos (em 1968), ele se mudou para a Amazônia, onde lutou contra o latifúndio e o roubo de terras de índios, camponeses, ribeirinhos – o povo pobre do qual foi o grande defensor”.

Também o PSOL, em nota5 assinada pelo seu presidente nacional, Juliano Medeiros, manifesta o pesar pelo falecimento e sublinha: “Defensor da reforma agrária e da justiça social, há cinco décadas ele vivia e se dedicava àquela região, se tornando um ícone da luta pelos direitos dos camponeses, trabalhadores sem terra e povos indígenas. Também teve atuação fundamental no movimento pela redemocratização do país e na luta contra a Ditadura Militar. Para garantir dignidade à vida dos outros, ele arriscou a sua própria em diversas situações. Sua perda é inestimável e fará enorme falta”.

Guilherme Boulos destacou no twitter: “A morte de Pedro Casaldáliga deixa um vazio na luta contra o autoritarismo, tão fundamental neste momento,”

O Diário de Notícias, em artigo(link is external) assinado por César Avó, recorda que Pedro Casaldáliga foi um dos protagonistas da Teologia de Libertação, que foi preso e ameaçado de morte.

A notícia refere igualmente as homenagens de Lula e Dilma Rousseff (ver tweet abaixo).


Notas:

Termos relacionados Internacional

Nos 92 anos de Pedro Casaldáliga

 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/596194-nos-92-anos-de-pedro-casaldaliga

Nos 92 anos de Pedro Casaldáliga

11 Fevereiro 2020

 

    "Tu és um dos derradeiros membros daqueles que Comblin chamava os grandes Padres da Igreja Latino-americana", escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo, em homenagem ao aniversário de Dom Pedro Casaldáliga.


    Meu caro Pedro

     (Imagem enviada pelo autor)

    Tu és um dos derradeiros membros daqueles que Comblin chamava os grandes Padres da Igreja Latino-americana.

    Tive a alegria de participar em muitos encontros em teu centro pastoral às margens do mágico rio Araguaia.
    Ali acolheste tantos jovens que foram agentes de pastoral em tua prelazia e pelo continente afora.
    São Felix passou a ser um ponto de referência para a Igreja de toda a região.
    E, ao mesmo tempo, tua presença na América Central era uma luz que orientava
    uma caminhada valente e profética, vencendo tantas contradições.
    Aliás, tens sido desde tanto tempo, o grande profeta da Pátria Grande.

    Quero ler junto contigo e com os que estão aí celebrando tua vida luminosa, aquele soneto onde apareces de corpo inteiro:


    Si no sabeis quien soy. Si os desconcierta
    la amálgama de amores que cultivo:
    una flor para el Che, toda la huerta
    para el Dios de Jesús. Si me desvivo
    por bendecir una alambrada abierta
    y el mito de una aldea redivivo.
    Si tiento a Dios por Nicaragua alerta,
    por este Continente aún cautivo.
    Si ofrezco el Pan y el Vino en mis altares
    sobre un mantel de manos populares
    sabed del Pueblo vengo, al Reino voy.
    Tenedme por latinoamericano,
    tenedme simplemente por cristiano,
    si me creéis y no sabéis quien soy!


    Deus fez em ti maravilhas!

    Com um profundo carinho,
    pedindo que rezes por todos
    os que estamos resistindo neste Brasil ferido,

    teu Luiz Alberto.

     

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    Pedro Casaldáliga, presente!

     http://www.ihu.unisinos.br/601689-pedro-casaldaliga-presente


    08 Agosto 2020

    Pedro Casaldáliga, presente!

    Pedro Casadáliga, santo, profeta e poeta nos acompanha agora na casa do Pai.

    O último da grande geração dos Padres da Igreja que marcaram com luz a América Latina.

    Está sendo velado na casa dos seus claretianos em Batatais, depois passará por Ribeirão Cascalheira, onde enfrentou a repressão, para dormir definitivamente em São Félix, às margens de seu mágico Araguaia.

    A informação é de Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.

    E tempo de festa na sua chegada aos céus. Lembramos um poema de Manuel Bandeira, Pedro abrindo de par em par as portas das quais é guardião: "Entra Pedro, tua casa te espera.".

    Foi ficando leve, leve, como uma pétala levada pelo vento da história.

    Não é necessária confirmação canônica, ele é e já era em vida, Santo.

    Soam suas duras palavras:


    "Malditas sejam todas as cercas!

    Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar!

    Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos".
     

    Nada como relembrar o soneto em que revela sua identidade:

     
    "Si no sabeis quien soy. Si os desconcierta
    la amálgama de amores que cultivo:
    una flor para el Che, toda la huerta
    para el Dios de Jesús. Si me desvivo
    por bendecir una alambrada abierta
    y el mito de una aldea redivivo.
    Si tiento a Dios por Nicaragua alerta,
    por este Continente aún cautivo.
    Si ofrezco el Pan y el Vino en mis altares
    sobre un mantel de manos populares
    sabed del Pueblo vengo, al Reino voy.
    Tenedme por latinoamericano,
    tenedme simplemente por cristiano,
    si me creéis y no sabéis quien soy!"

     

    Vida sem fronteiras, derramando misericórdia, clamando por justiça, em união mística com o Pai.

    Dali nos acompanhe nesta quadra triste de nossa história.

    Não rezamos por ele, que vive a plenitude. Pedimos que reze por nós e pela América Latina ferida.


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    Morre Dom Pedro Casaldáliga, bispo que dedicou a vida em defesa do povo brasileiro

     br de fato

    https://www.brasildefato.com.br/2020/08/08/morre-dom-pedro-casaldaliga-bispo-que-dedicou-a-vida-em-defesa-do-povo-brasileiro

    Morre Dom Pedro Casaldáliga, bispo que dedicou a vida em defesa do povo brasileiro

    Velório ocorre neste sábado, 8, em Batatais

    Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
     


    Morreu às 09h40 deste sábado, 08, Dom Pedro Casaldáliga Plá, Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT) e Missionário Claretiano. Dom Pedro estava internado na UTI da Santa Casa de Batatais, interior de São Paulo. A Prelazia de São Félix do Araguaia, a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria e a Ordem de Santo Agostinho confirmaram a morte do religioso por embolia pulmonar. 

    O velório ocorrerá a partir das 15h deste sábado na capela do Clareitiano, na cidade de Batatais - SP. Em Mato Grosso, o corpo deverá chegar no dia 10 de agosto e será velado Santuário dos Mártires, na cidade de Ribeirão Cascalheira. Depois, o corpo de Dom Pedro, será encaminhado para a cidade de São Félix do Aráguaia onde será velado no Centro Comunitário Tia Irene e depois sepultado. 

    Histórico

    O religioso foi transferido para a unidade hospitalar de Batatais, a 354 km da capital, na noite da última terça-feira (4), após apresentar problemas respiratórios e permanecer uma semana internado no Hospital de São Félix do Araguaia (MT). Aos 92 anos de idade, Casaldáliga sofria do Mal de Parkinson. Ainda jovem, o bispo foi acometido por uma forte pneumonia que deixou uma sequela permanente no órgão do sistema respiratório, o que torna o quadro ainda mais delicado neste momento.

    Repercussão 

    Ao longo do dia, diversas lideranças e personalidades lamentaram a morte de Dom Pedro Casaldáliga nas redes sociais. Confira: 

     

     

     

     

    Trajetória

    Nascido em uma aldeia há quilômetros de Barcelona, na Espanha, em 1928, Dom Pedro Casaldáliga Plá é de família camponesa. Desembarcou no Brasil em 1968, em plena ditadura militar, e foi consagrado bispo em 1971, quando lançou a Carta Pastoral por Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social. O texto ficou conhecido nacional e internacionalmente e marcou o perfil do missionário como porta-voz de índios e agricultores.

    O bispo também foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que até hoje atua na defesa de indígenas, comunidades tradicionais e trabalhadores do campo.

    Além de sua atuação junto aos pobres e em defesa da democracia, Casaldáliga também se destaca por suas poesias que abordam a urgência da reforma agrária e da luta contra o agronegócio. Confira:

    "Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada.

    Por onde passei, plantei a morte matada. Por onde passei, matei a tribo calada,

    A roça suada, a terra esperada... Por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada."


    Confissão do latinfúndio

    Edição: Marina Selerges