quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Falta de transparência, imposição e negociatas políticas de pastor pode resultar em “debandada” de fiéis da Assembleia de Deus

araguaia
http://www.araguaia40graus.com.br/site/index.php/noticias/29-religi/10631-falta-de-transparencia-imposicao-e-negociatas-politicas-de-pastor-pode-resultar-em-debandada-de-fieis-da-assembleia-de-deus

Falta de transparência, imposição e negociatas políticas de pastor pode resultar em “debandada” de fiéis da Assembleia de Deus

Enquanto o pastor José Fernandes ensaia sua própria candidatura a suplente de senador na chapa do pré-candidato ao senado Welington Fagundes(PR), membros da sua igreja lhe denuncia por falta de transparência nas prestações de contas, descumprimento do estatuto, excesso de mordomias, salário milionário, imposições, arbitrariedades, excesso de funcionários pagos com o dinheiro do tesouro da igreja , folha de pagamento inchada e gastos exorbitantes para promoção pessoal.
José Fernandes Noleto, presidente da CONEMAD/MT- Convenção Estadual dos Ministros Evangélicos das Assembléias de Deus Ministério de Madureira no Estado de Mato Grosso.
Segundo um grupo anônimos fiéis da Igreja Assembleia de Deus, ministério de Madureira, em Barra do Garças, a partir desta data, eles passarão a denunciar de forma mais sistemática tornando publica as atitudes, segundo eles; errôneas, e politiqueiras adotadas pelo presidente da igreja em Mato Grosso, pastor José Fernandes Noleto
A enxurrada de denuncias que pelo visto estão por vir, prende-se ao fato de uma grande parte dos fiéis estarem insatisfeitos há bastante tempo com seu líder eclesiástico e que segundo afirmam, por inúmeras vezes eles tem procurado entendimento com o pastor presidente através de caminhos amigáveis, baseados em fundamentos bíblicos estabelecidos como regra de fé e pratica, mas sem sucesso.
De acordo alguns, o objetivo deles não seria promover escândalos no meio da igreja, mas a maioria são categóricos ao acusar José Fernandes de centralizador e arbitrário, como se ele fosse o dono da igreja. “nosso intuito é alertar e aconselhar nosso líder religioso que pelo visto esta com os olhos vedados, par largar a politicagem de lado e trabalhar para restabelecer o conceito e a ordem religiosa dentro da igreja, grande parte da irmandade estão andando como ovelhas desgarradas sem o seu pastor, as atitudes do presidente esta ficando cada dia mais insustentável”. Dizem.
De acordo o grupo, que prefere não se identificar, pelo fato de denunciar, eles acreditam que não serão castigados por Deus por falar a verdade, mas temem represálias por parte do próprio pastor Fernandes e de alguns da sua “panela”, segundo dizem formada por meia dúzia de “paus mandados” submissos as benesses do poder.
Entre as denuncias o grupo cita a falta de transparência nas prestações de contas, descumprimento do estatuto, excesso de mordomias, salários milionário do presidente, imposições, arbitrariedades, excesso de funcionários pagos com o dinheiro do tesouro da igreja , folha de pagamento inchada, gastos exorbitantes para promoção pessoal.
Outra denuncia grave seria a manipulação por parte do pastor José Fernandes em forjar uma Assembleia Geral da igreja usando seus “arautos” para tentar negociar um imóvel residencial da igreja, localizado na rua Mato Grosso, no centro comercial de Barra do Garças, pelo valor de R$ 600 Mil reais como parte do pagamento de uma fazenda que ele estaria comprando no vizinho município de Nova Xavantina, através d
e um empresário que tem uma empresa no ramo de madeireira em Barra do Garças.

IMOVEL DA IGREJA QUE SERIA ENTREGUE COMO PARTE DO PAGAMENTO DE UMA FAZENDA
Segundo uma fonte, a "negociata" somente não foi concluída, pelo fato de alguns membros, entre eles, o ex-vereador e presbítero da igreja, Ailton Rocha e um pastor de nome José Brás “bater o pé” e não aceitar as imposições arbitradas pelo pastor presidente. Procurado Ailton Rocha preferiu não comentar o assunto, mas não desmentiu nossa reportagem.
Informações dão conta de que nos próximos dias, uma comissão de fiéis estarão se deslocando para Brasília (sede nacional) para apresentar ao presidente geral vitalício, Bispo Manoel Ferreira, um dossiê completo e minucioso de tudo que se passa dentro das Assembleias de Deus, campo de Barra do Garças.
Apaixonado pela política

Em discurso inflamado para fiéis promovendo políticos de Mato Grosso.
Outra principal denuncia seria pelo fato do envolvimento pessoal do pastor José Fernandes na política partidária e que estaria deixando os fiéis e a sua igreja em segundo plano. Segundo os inconformados, a forma escandalosa adotada por Fernandes na politica acaba envolvendo diretamente a imagem da Igreja Assembleia de Deus que não tem nada a ver com suas paixões e opções políticas.
Fernandes nunca escondeu sua paixão pela política de cabresto, nas eleições municipais ele sempre lançou e apoiou candidatos a vereadores da sua confiança em Barra do Garças e em todos os municípios onde ele tem igreja. Subir em palanques e pedir votos para seus candidatos sempre foi o lado forte de Fernandes, e o pior; atua sempre de forma escancarada dentro da igreja.
Em 2010 ele teve a ousadia de assinar uma carta e reconhecer sua assinatura em cartório, grampeada com santinhos dos seus candidatos e entregou para seus pastores de confiança para impor o nome dos seus candidatos dentro das suas congregações, há época, cada membro recebeu a espécie de ‘intimação eleitoral’ individualmente para votar nos seus candidatos. (foto abaixo)

Na ocasião a Policia Federal e o MP chegou a fazer diligencia em uma chácara alugada pela igreja após uma denuncia anônima, para apreender o material. Segundo a fonte, a denuncia havia sido feita por um ex-candidato a vereador que é membro da igreja, mas sem sucesso.
Receitas da Igreja
Inconformados, os denunciantes afirmam que José Fernandes ultimamente fica mais em Cuiabá e que aparece em Barra do Garças apenas no final e inicio de cada mês somente para visitar meia dúzia de amigos, participar de alguns cultos e coletar as entradas de dízimos e ofertas das igrejas e congregações sob sua jurisdição, espalhadas em praticamente todos os municípios do Vale do Araguaia.
Os fiéis afirmam ainda que somente a arrecadação mensal da igreja sede, na rua Pires de Campos, ultrapassa R$ 150 mil reais, enquanto que 20% da receita de cada congregação são repassadas religiosamente para a CONEMAD – MT- Convenção Estadual dos Ministros Evangélicos das Assembléias de Deus Ministério de Madureira no Estado de Mato Grosso, ao qual Fernandes continua sendo presidente.
Ensaiando candidatura em 2014
Segundo especulações no meio político, existe um interesse pessoal do pastor Fernandes em ser candidato a suplente de senador, na chapa a ser encabeçada pelo pré-candidato ao senado, atualmente deputado federal, Welinton Fagundes(PR) em 2014. Caso seu projeto pessoal não seja aceito nas coligações, a sua carta de manga seria impor a candidatura a deputado estadual do seu genro, Saulo Santos, que reside em Cuiabá.
Recentemente para tentar ganhar espaço publicitário em Cuiabá, José Fernandes além de ter alugado um apartamento em um residencial de luxo da capital, pago com o dinheiro da igreja, ainda espalhou dezenas de outdoor em pontos estratégicos da cidade, onde ele mesmo se auto apresenta a população cuiabana, e o pior; na publicidade ele próprio lhe parabeniza através da sua igreja pelo seu aniversario de 50 anos e pelos seus 12 anos de chegada em MT, oriundo de Porangatú-GO.


José Fernandes em dezenas de outdoor em pontos estratégicos da capital
Segundo alguns analistas políticos da capital, o pastor poderá ter cometido crime eleitoral por propaganda extemporânea, o caso poderá ser investigado pelo MP eleitoral.
As mordomias do Zé
Para manter seu status, o presidente das Assembleias de Deus Madureira no Estado de Mato Grosso, José Fernandes Noleto, além de ter telefone, carro de luxo, motorista, funcionários e despesas mantidas pela igreja, ele ainda conta com três residências fixas. Sendo um apartamento de luxo na capital, alugado pela igreja a preços exorbitantes em um edifício bem disputado de um bairro nobre da cidade (Bosque da Saúde) .
A segunda residência trata-se de uma chácara em Barra do Garças, usada apenas para descanso, reuniões e lazer, denominada Sitio Manain, o imóvel luxuoso pertence ao promotor de justiça, Natanael Fiuza que se mudou para a capital e esta alugado para a Assembleia de Deus, por valores não revelados. (Foto abaixo)

SITIO MANAIN A RESIDENCIA DE DESCANSO Nº 02 PARA O PASTOR DESCANSAR DO STRESS
O terceiro imóvel, talvez o mais luxuoso fosse à antiga residência oficial do pastor também em Barra do Garças, denominada por alguns de “Casa da Dinda”, trata-se de uma mansão localizado no setor Dermat, um dos imóveis mais cobiçado na cidade aparentemente com mais de 200 metros de área construída. (Foto abaixo)
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MANSÃO OFICIAL DO SETOR DERMAT, APELIDADE POR "CASA DA DINDA"
Histórico
A primeira debandada dos remanescentes da Madureira por não concordar com as atitudes do pastor José Fernandes ocorreu em 12/02/2012, quando um grupo de aproximadamente 100 membros, liderados pelo pastor dissidente, Daniel Silva, pediu suas cartas de demissão e desligamento definitivo da Igreja, em seguida eles criaram um novo ministério, denominado de Igreja Assembleia de Deus Vale do Araguaia.
Pastor Daniel Silva, o primeiro a se rebelar e criar outra igreja denominada Assembleia de Deus Vale do Araguaia.
A grande baixa de fiéis causou repercussão negativa, em meio ao seguimento evangélico. Há informações de que na ocasião houve uma ampla reunião entre lideranças e “rebelados” com direito a lavagem de roupa suja, bate boca e troca de farpas. Em meio às turbulências e a repercussão da época, o pastor José Fernandes preferiu o silencio, ao invés de comentar o assunto com a imprensa.
O OUTRO LADO
Para assegurar o amplo direito de resposta sobre esta reportagem, procuramos ouvir a outra parte, no caso o pastor José Fernandes para comentar sobre as possíveis denuncia de alguns membros e graduados da sua igreja.
Por varias vezes durante o dia 07/10, ligamos em seu telefone celular (66) 9239 **21 e também no seu residencial (66) 3401 ** 09, mas ele não atendeu as nossas ligações, também deixamos uma mensagem de voz na caixa postal do seu telefone celular, mas ele não retornou nossas ligações.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Violência policial em São Paulo mostra racismo da polícia militar

combate ao racismo ambiental
http://racismoambiental.net.br/2013/10/violencia-policial-em-sao-paulo-mostra-racismo-da-policia-militar/#.UnEg29_FzE8.facebookViolência

Violência policial em São Paulo mostra racismo da polícia militar

Por , 30/10/2013 10:57
Rede TVT - A afirmação é do participante do Fórum HipHop, Miguel Angelo da Silva.Veja também o comentário da presidenta Dilma Rousseff sobre a morte do adolescente Douglas Rodrigues, que levou um tiro de um policial militar.

ata de reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo realizada em Luciara

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Sandra <sandra.alcantara@mda.gov.br>
Data: 26 de outubro de 2013 13:41
Assunto: Prezados Senhores - Remessa de ata de reunião ocorrida em Luciara - MT, no dia 24.10.2013 **SR-13**
Para:

        Prezados Senhores,

    Cumprindo ordem do ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, encaminho-lhes cópia de ata de reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo realizada em Luciara, no auditório da Universidade de Mato Grosso, no dia 24 de outubro de 2013, quando foi discutida questão envolvendo trabalhadores rurais da Associação dos Produtores e Retireiros do Araguaia de Luciara, vinculada à possível criação, dentro dos limites do município de Luciara, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável denominada Mato Verdinho, conforme documento constante de arquivo anexo.
        Atenciosamente,

Sandra Alcantara de Matos
Assistente-Técnico da Ouvidoria Agrária NacionalTelefone (61) 2020.0799 Fax (61) 2020.0525



-- 
mais informações com:
CPT Araguaia
Fone/Fax: 66 - 3569 - 1148
Porto Alegre do Norte-MT
skipecpt_araguaia

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baixar a ata
aqui
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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Black blocs são politizados e expressam revolta contra injustiças sociais, diz pesquisador

rede br atual - RBA
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/10/black-blocs-sao-politizados-e-expressam-revolta-contra-injusticas-sociais-1922.html


ENTREVISTA

Black blocs são politizados e expressam revolta contra injustiças sociais, diz pesquisador

Estudioso dos jovens mascarados, Francis Dupuis-Déri defende que a tática é uma reação à violência policial, e nasceu na Alemanha de 1980 da convicção de que é preciso ir além das passeatas
por Tadeu Breda, da RBA publicado 28/10/2013 09:24, última modificação 28/10/2013 11:19
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MÍDIA NINJA
black bloc sp midia ninja.jpg
Black blocs marcham em SP em solidariedade aos professores do Rio: reação à violência da PM
São Paulo – “É preciso perturbar e reagir quando a polícia ataca o povo.” Essa é uma das explicações que o cientista político Francis Dupuis-Déri elaborou sobre os black blocs durante os mais de dez anos em que estuda a tática dos jovens mascarados que se infiltram nas manifestações populares para atacar símbolos do capitalismo. “Apenas uma ínfima parcela da elite controla os negócios globais. Existe um sério déficit democrático no mundo. As pessoas estão revoltadas e consideram que já não basta se manifestar pacificamente.”
Professor da Universidade de Québec em Montreal (Uqam), no Canadá, Dupuis-Déri conversou com a RBA por e-mail. Respondeu a perguntas sobre a origem histórica dos black blocs, na Alemanha Ocidental, nos anos 1980, e sobre como tem sido a repressão à tática em outros lugares do mundo. Na entrevista, ficamos sabendo que os governos de São Paulo e Rio de Janeiro não foram os únicos a ferir as liberdades civis na tentativa de reprimir o descontentamento dos black blocs. “Os conflitos políticos se polarizam e o Estado age de maneira burra, através da repressão policial e da detenção dos dissidentes.”
Dupuis-Déri é autor de Les Black Blocs, já na terceira edição, e Who's Afraid of the Black Blocs? Anarchy in Action Around the World, que pode ser traduzido como Quem tem medo dos black blocs? Anarquia em ação ao redor do mundo.Embora à distância, tem olhado com atenção para as recentes movimentações dos black blocs no Brasil e no Egito. E não parece surpreso com a multiplicação da tática ao redor do mundo. black bloc é facilmente reproduzível”, diz, ressaltando um dos problemas do grupo: a infiltração. “Na Alemanha, neonazistas organizam black blocs dentro de suas próprias manifestações.”
O que é o black bloc? Um movimento? Uma tática? Uma performance?
Black bloc é simplesmente uma tática, uma maneira de se organizar dentro de uma manifestação. Consiste em se vestir de preto para garantir um certo anonimato. Pelo que conheço, a maioria dos black blocs desfilam com calma nas manifestações. A simples presença deles forma, de certa maneira, uma bandeira preta, símbolo do anarquismo. Vale lembrar que os sindicatos fazem coisa semelhante quando se manifestam: eles se agrupam atrás de faixas, com bandeiras, para que todos os seus membros andem juntos. Nesse sentido, com o black bloc é a mesma coisa.
Francis Dupuis-DériQuando, como, onde e por que surgiram os black blocs?
O black bloc como forma de ação – ou seja estar vestido de preto e mascarado – surgiu na Alemanha Ocidental por volta de 1980. A tática apareceu dentro do movimento “Autonomen”, que organizava centenas de ocupações políticas e lutava contra a energia nuclear, a guerra e os neonazistas. Os black blocs alemães defendiam as ocupações de prédios contra as expulsões da polícia e se confrontavam com os neonazistas nas ruas. A estratégia black bloc se propagou no Ocidente através da música anarcopunk e de grupos antirracismo. A ampla cobertura midiática das manifestações antiglobalização de Seattle, nos Estados Unidos, em 1999, também contribuiu para a difusão da tática, assim como a internet o faz hoje. A questão, aqui, é que o black bloc é facilmente reproduzível.
O que justifica o surgimento dos black blocs em países da Europa e nosEstados Unidos, onde as necessidades básicas da maioria dos cidadãos, ao contrário do que ocorre no Brasil, já estão atendidas?
No Ocidente, os black blocs se mobilizam há pelo menos 15 anos durante grandes encontros do G8, G20, FMI etc. E dentro do chamado movimento altermundialista (famoso pelo slogan “outro mundo é possível”, cunhado pelo Fórum Social Mundial). Muitos black blocs consideram que a ideologia neoliberal e o capitalismo são responsáveis pelas desigualdades, injustiças e a destruição do planeta. Além disso, essas grandes cúpulas internacionais demonstram que apenas uma ínfima parcela da elite controla os negócios globais e que, consequentemente, existe um sério déficit democrático no mundo. Por fim, a repressão aos movimentos sociais no Ocidente cresceu nos últimos 15 anos. Em países como a Grécia, a situação econômica é catastrófica. Por essas e outras razões, as pessoas estão revoltadas e consideram que já não basta se manifestar pacificamente: é preciso perturbar e reagir quando a polícia ataca o povo.
Que ideologia norteia a atuação dos black blocs?
Não existe “um” black bloc, mas sim “os” black blocs, que são distintos em cada manifestação. De maneira geral, quem mais participa desses grupos são anarquistas, anticapitalistas, feministas radicais e ecologistas. Segundo minhas pesquisas, os black blocs são geralmente compostos por indivíduos com uma forte consciência política.
Os black blocs são de esquerda ou de direita? É possível defini-los nestes termos?
Principalmente de esquerda e sobretudo de extrema-esquerda. Mas, como o black bloc é reconhecido principalmente pela aparência, pela roupa preta, fica fácil imitá-lo. Já há alguns anos, na Alemanha, país onde surgiu a tática, neonazistas organizam black blocs dentro de suas próprias manifestações. É uma apropriação, uma deturpação.
É possível fazer algum paralelo entre os black blocs e o ludismo do século 19?
De certa maneira, podemos sim fazer um paralelo. Muitos pensam que os ludistas, que destruíam as maquinas têxteis na Inglaterra no século 19, eram apenas românticos contrários ao progresso. Mas, no fundo, eles defendiam um modo de vida comunitário contra o desenvolvimento tecnológico e econômico que mais tarde viria a perturbar profundamente suas vidas. Tudo em nome do lucro de alguns poucos privilegiados. Certamente, essa ideia existe dentro dos black blocs. Há muitos ecologistas radicais que aderem à tática, e suas ações diretas são motivadas pela convicção de que o capitalismo, o desenvolvimento desmesurado e o consumismo vão destruir a vida no planeta.
Por que os black blocs adotaram o vandalismo como estratégia?
Muitos movimentos sociais contam com grupos mais combativos. Isso se aplica, por exemplo, para os movimentos indígenas e alguns grupos sindicais. É importante lembrar que os black blocs não são os únicos que procuram destruir bancos. Durante a crise de 2001, na Argentina, lembro de ter visto mulheres da classe média, de aproximadamente 50 anos, atacarem vitrines de bancos com martelos, porque elas acabavam de perder todas suas economias. Era uma maneira significativa de expressar sua revolta. Ao longo dos séculos, muitas vezes, pessoas arruinadas por dívidas pesadas queimaram bancos e tribunais – onde se mantinha o registro das dívidas. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos depois da independência. Como outras pessoas, os black blocs pensam que é preciso mais que manifestações calmas e pacíficas para realmente perturbar a ordem das coisas e expressar uma revolta legítima contra instituições que destroem suas vidas. Os bancos são uma delas.
Em que sentido atentar contra símbolos do capitalismo (bancos, lojas de automóveis etc.) pode ajudar a superar a ordem capitalista?
Algumas pessoas se manifestam com um cartaz “Foda-se Capitalismo!”. Isso não detém o capitalismo, mas é uma mensagem, uma crítica pública. A ação do black bloc é a mesma coisa, só que mais radical, mais combativa. O alvo é a mensagem. Os críticos dos black blocs frequentemente relatam danos e quebradeiras contra pequenos comércios e usam esse fato para qualificar a tática como violência gratuita e apolítica. Ora, segundo minhas pesquisas, 99% dos alvos têm um significado claramente político: bancos, grandes empresas, grupos privados de mídia, edifícios do governo e da polícia. Mesmo quando um pequeno comercio é alvo, é preciso ser paciente e buscar alguma explicação. Frequentemente, nas semanas seguintes, ficamos sabendo que, por exemplo, era uma represália contra comerciantes que colaboraram com a polícia durante uma manifestação, ou pequenos empresários que costumam a maltratar seus funcionários.
No Brasil, os black blocs apareceram com mais força durante as manifestações de junho. Tanto à esquerda quanto à direita, poucas são as vozes que contestam publicamente essa desumanização dos black blocs. Esse processo de condenação social também foi visto em outros países onde os black blocs atuam há mais tempo? Pode citar alguns exemplos?
No Ocidente, a repressão da polícia contra movimentos sociais progressistas vem crescendo nos últimos 15 anos. Durante a greve estudantil de 2012, no Canadá, mais de 3.500 pessoas foram presas apenas na cidade de Québec. (Québec tem apenas 7 milhões de habitantes e a greve durou 10 meses) A maioria das prisões ocorreu durante manifestações pacíficas. Ao todo, ao longo de toda a greve, apenas algumas vitrines foram quebradas. Nada que justifique tamanha repressão.
Na cidade de Montreal e na cidade de Québec, a legislação municipal também foi modificada para proibir máscaras e obrigar os manifestantes a fornecer antecipadamente o trajeto do protesto. Um militante fantasiado de panda foi preso e teve a cabeça de sua fantasia arrancada. Em um dos meus livros, À qui la rue? Répression policière et mouvements sociaux (A quem pertence a rua? Repressão policial e movimentos sociais, em tradução livre), contabilizei mais de 10 mil detenções contra o movimento altermundialista desde asmanifestações de Seattle, nos Estados Unidos, em 1999. As leis antiterroristas editadas após 11 de setembro de 2001 são usadas para criminalizar todo tipo de dissidência. Os conflitos políticos se polarizam e o Estado age de maneira burra, através da repressão policial e da detenção dos dissidentes.
Como a esquerda (movimentos sociais, partidos políticos e intelectuais) costuma reagir à aparição dos black blocs?
Os black blocs parecem não ter muitos amigos. Muitas vezes, os porta-vozes das organizações progressistas, como sindicatos, denunciam os black blocs, dizendo que eles se “infiltram” em “suas” manifestações e que eles só querem “quebrar tudo”. Pessoas de esquerda justificam dessa maneira a repressão e a criminalização da dissidência. Denunciando a “violência”, eles esperem ganhar uma imagem respeitável. Vimos isso em todas as manifestações do movimento altermundialista, desde Seattle, em 1999, até o encontro do G20 em Toronto, no Canadá, em 2010. O problema é que essas forças progressistas praticamente não acumulam ganhos nos últimos 15 anos. Pior, é a direita quem está na ofensiva em todas as partes, e a esquerda recua – pelo menos na Europa e nos Estados Unidos.
A esquerda mais institucional e “respeitável” frequentemente precisa da turbulência e da combatividade da extrema-esquerda para suas manobras no campo político. Na Itália, um grupo contra a construção de um trem de alta velocidade (Movimento No TAV) aplaudiu em Turim um porta-voz que declarou “somos todos black blocs”. No Brasil, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) declarou recentemente apoio e solidariedade aos black blocs. Vemos regularmente testemunhos de manifestantes que não participam dos black blocs, mas que concordam com a tática e inclusive já foram protegidos por eles dos ataques da polícia. Vimos isso em Seattle e no Québec durante a greve de 2012, assim como em outros lugares. Muitos sabem também que os black blocs ilustram um elemento importante dos movimentos de contestação. Para alguns, os black blocs são uma “imagem do futuro”.
Tradução: Delphine Lacroix

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Justiça suspende obra de Belo Monte

amazônia
http://amazonia.org.br/2013/10/justi%C3%A7a-suspende-obra-de-belo-monte/

Justiça suspende obra de Belo Monte

Desembargador federal suspende projeto e exige execução das obrigações ambientais e fixa multa diária de R$ 500 mil
No início da construção, índios invadiram a obra para protestar contra a execução do projeto, o maior de geração de energia no país
As obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, serão paralisadas mais uma vez, depois de decisão tomada na tarde de ontem pelo desembargador Antônio Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região. Caso não atenda a determinação judicial, o consórcio Norte Energia, responsável pela construção bilionária no Rio Xingu, pagará multa diária de R$ 500 mil.
Em decisão individual, à qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividade, o desembargador acata denúncias do Ministério Público Federal (MPF), que questiona a viabilidade ambiental do principal projeto energético do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Estão atropelando a legislação e fazendo o que querem em Belo Monte”, alerta o magistrado.
Este mês, a construção da hidrelétrica Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará, também foi paralisada por ordem da 5ª Turma do TRF da 1ª Região. Com isso, as obras dos dois maiores projetos de geração de energia do país estão atualmente suspensas por questionamentos ambientais na Justiça. Ambas as decisões podem ser revertidas no Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão sobre Belo Monte proíbe repasses de qualquer tipo de recurso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao consórcio Norte Energia até que todas as medidas preventivas do ponto de vista ambiental – e prometidas pelas empresas – sejam cumpridas. “Não se pode permitir o uso do dinheiro público com o projeto dessa forma”, diz Prudente.
Segundo a decisão do desembargador, entre as pendências – que já resultaram em multa de R$ 7 milhões por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – estão a ausência de programas de educação ambiental, de monitoramento dos aspectos socioeconômicos e da conservação da fauna aquática.
Terra de ninguém
Não é a primeira vez que Belo Monte tem as obras de execução suspensas judicialmente. “Ninguém é contra as hidrelétricas, o progresso do país ou o PAC. Mas essas empresas têm que cumprir a legislação ambiental brasileira, só isso. É uma questão de soberania. Do contrário, atestaremos que somos terra de ninguém. E o mundo inteiro está de olho nessa usina”, comenta Prudente.
Ao EM, o desembargador acusou o consórcio Norte Energia de não fazer o dever de casa e, nas palavras dele, “seguir empurrando com a barriga” as exigências necessárias para continuar as obras. “Ocorre que, à luz da legislação de regência, sem o cumprimento das condicionantes, não há qualquer possibilidade de se conceder licença de instalação”, discorre ele, na decisão de 24 páginas. A obra de Belo Monte é alvo de protestos também dos índios que vivem às margens do Rio Xingu. Em maio, um grupo deles invadiu o canteiro de obras da usina.
O investimento previsto em Belo Monte é de R$ 25,8 bilhões. A previsão é que o projeto seja concluído em 2019, com capacidade de gerar 11.223 MW de energia elétrica. Se isso ocorrer, será a terceira maior usina do mundo, atrás apenas de Itaipu e Três Gargantas, na China. “O poder econômico em torno do projeto é grande. Por isso, eles continuam”, completa o magistrado.
O consórcio Norte Energia não havia sido notificado até o fechamento desta edição, mas informou que “as obrigações e os compromissos da empresa estão sendo rigorosamente cumpridos”. O BNDES e o Ibama também não tinham recebido a decisão até o fim da tarde de ontem e, portanto, não se pronunciaram sobre o assunto.
Por: Diego Amorim
Fonte: Estado de Minas

Súditos do Rei Midas

carta maior
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/Suditos-do-Rei-Midas/39/29355

28/10/2013 - Copyleft

Súditos do Rei Midas

Em Serra Pelada (2013), Heitor Dhalia mostra homens e mais homens sangrando o solo em busca de ouro. Eis ou não uma síntese de nossas vidas?


Flávio Ricardo Vassoler
Divulgação
“A maior concentração de seres humanos para trabalho manual desde a construção das pirâmides do Egito”. Eu (ainda) não sei como alguém se sente quando o oncologista diz que a biopsia acaba de diagnosticar um tumor maligno, mas quando me deparei com a frase garimpada do filme Serra Pelada (2013), direção de Heitor Dhalia, fiquei pensando em como era morrer de câncer nos tempos dos faraós. O leitor e a leitora talvez se sintam algo desnorteados com o parágrafo (propositalmente) desconexo, mas foi desse modo que me senti quando as tomadas panorâmicas do filme capturaram um formigueiro humano interminável, no início da década de 1980 – eu nasci em 1981 –, em busca de um único objetivo: ouro.


 

Não se sabia o que era o câncer no tempo dos faraós. Quem poderia imaginar algo como a “humanidade” se as margens do Nilo delimitavam o mundo? As pirâmides têm os nomes dos grandes governantes. Ora, foram eles que as erigiram? Se chegarmos perto das pirâmides e as tocarmos com nossa compaixão, sentiremos que a verdadeira base que as sustenta é o chicote. O suor. O trabalho anônimo daqueles que jamais foram considerados os protagonistas da história. Séculos mais tarde, quando o capitalismo começou a forjar a pirâmide da humanidade sobre o mercado mundial, quando passou a ser necessário educar para (re)produzir, Beltolt Brecht (1898-1956) reconheceu asPerguntas de um trabalhador que lê:



“Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída —
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos Na noite em que o mar a tragou.
 
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele? 
 
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?
 
Tantas histórias.
Tantas questões”.

 
Quais são os pressupostos históricos dos versos de Brecht? Um aprofundamento sem igual na história humana da noção de (busca por) igualdade. A consciência de classe. A descoberta politicamente orientada de que é a base que soergue o cume da pirâmide. Ainda assim, a consciência aguçada anuncia que continuamos a morrer de câncer. E pior: precisamos nos deparar com as tomadas panorâmicas de Heitor Dhalia a descortinar os milhares e milhares de trabalhadores à procura de um único elixir. A revolução? Não. O ouro burguês.


 

Creio que nosso momento histórico distópico precisa ler o poema de Brecht a contrapelo da consciência de classe. Quando a dialética passa pelo mercúrio do garimpo da Serra Pelada, uma pergunta não deixa de despontar: por que essa energia assombrosa em busca da propriedade áurea simplesmente não consegue ser canalizada para a sociedade como um todo? Por que precisamos ser empresas em miniatura – do it yourself!, faça você mesmo! – para que a partilha do ouro seja feita em detrimento de nós mesmos? Legítimo ouro de tolos. Se o Egito ficou para trás e já não acreditamos em faraós, por que o fetiche do ouro consegue congregar milhares, milhões e bilhões de espoliados ao redor do seu altar?


 

É curioso: dizem que Deus não existe. Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Fiódor Dostoiévski (1821-1881) conceberam os maiores réquiens ad majorem Dei gloriam,para a maior glória de Deus. “Se Deus está morto e se Deus não existe, tudo é permitido”. No Velho Testamento judaico há a noção de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Mas não há imagens de Deus em uma sinagoga. A onipresença de Deus sempre foi uma abstração. O ouro, como os santos católicos – o ouro dos santos católicos –, era o corpo da alma ausente. Mas o ouro já é anacrônico. Em uma cidade violenta como São Paulo, quem carrega muito dinheiro na carteira? Cartões. O dinheiro deixou de ser dourado para virar a maior das abstrações. A maior das ficções. E nossa era secular que já não acredita em Deus não consegue deixar de acreditar no dinheiro.


 

Sim, muitos reclamam do dinheiro e de seus princípios. Mas a dialética, a contrapelo de sua esperança de superação e a partir do sentido e do ressentimento de nossos tempos, a dialética combalida me faz perguntar: que valores e práticas agregariam as pessoas em sociedade para além da lógica do dinheiro? Antes que os(as) mais otimistas soem as trombetas de alerta, gostaria de mencionar, ainda uma vez, as imagens panorâmicas de Heitor Dhalia. Homens e mais homens sangrando o solo em busca de ouro. Eis ou não uma síntese de nossas vidas? Seriam estas as Perguntas de um leitor que trabalha?


 

Quando Karl Marx (1818-1883), n’A Ideologia Alemã, trouxe soslaios do que seria a sociedade emancipada com a noção de que poderíamos pescar durante o dia e fazer crítica literária à noite, certa vez me perguntei se, em Utópolis, seria possível, de alguma maneira, que a Serra Pelada retornasse, que o hedonismo da Serra Pelada retornasse, que o Bezerro de Ouro voltasse a ser o nosso ídolo. Não estamos no século XIX e, salvo engano, as revoluções de 1848 não batem à nossa porta. A noção de bela vida que embasou os soslaios de Marx foi efetivamente solapada pelo princípio burguês. (Salvo novo engano, ela apenas respira com a ajuda de aparelhos.) Refiro-me à noção de uma vida ética e esteticamente completa em si mesma, plena de sentido e realizações com trabalhos relacionados às nossas vocações e escolhas potencializadas pela sociedade organizada racionalmente, isto é, segundo os princípios da humanidade reconciliada. (Mas que princípios seriam esses?!) Hoje, a Serra Pelada apenas nos apresenta a escatologia de nossas vidas, a sucessão burocrática de nossos dias como a reprodução desordenada das células até que o tumor vindouro nos diga qual foi o sentido – e o ressentimento – do que (não) fizemos. Ou pior: do que não pudemos fazer. Se já houve um tempo em que se pensou que era possível imaginar algo para além de Serra Pelada, Heitor Dhalia nos leva a imaginar por que ainda somos garimpados.


 
 

Flávio Ricardo Vassoler é escritor e professor universitário. Mestre e doutorando em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP, é autor de O Evangelho segundo Talião (Editora nVersos) e organizador de Dostoiévski e Bergman: o niilismo da modernidade (Editora Intermeios). Todas as segundas-feiras, às 19h, apresenta, ao vivo, o Espaço Heráclito, um programa de debates políticos, sociais, artísticos e filosóficos com o espírito da contradição entre as mais variadas teses e antíteses – para assistir ao programa, basta acessar a página da TV Geração Z: www.tvgeracaoz.com.br. Periodicamente, atualiza o Subsolo das Memórias,www.subsolodasmemorias.blogspot.com, página em que posta fragmentos de seus textos literários e fotonarrativas de suas viagens pelo mundo.

A serviço de um certo Brasil

carta maior
saul leblon
http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/A-servico-de-um-certo-Brasil/29351

A serviço de um certo Brasil

A afetação conservadora adicionada às páginas da Folha é um maneirismo que pouco ou nada acrescenta ao repertório original da direita.

por: Saul Leblon 


A afetação conservadora adicionada às páginas da Folha, um maneirismo que pouco ou nada acrescenta ao repertório original da direita, exceto pancadas de um bate-estaca monótono, talvez cause estranhamento à memória recente de seus leitores jovens. Justifica-se.

A Folha atingiria um milhão de exemplares de circulação ao final dos anos 70,  (hoje caiu a 1/3 disso) atraindo amplas franjas de leitores introduzidos à vida política na esteira das mobilizações  pela redemocratização.

Atilado homem de negócios, com interesses em áreas como a criação de galinhas e o mercado financeiro,  Octávio Frias,  dono do jornal, havia farejado novidades  no  vento da história.

Versátil, tratou de sintonizar seu produto,  dando-lhe roupagem ecumênica, condizente com o crepúsculo do regime ditatorial iniciado em 1964.

Nomes respeitáveis da intelectualidade e da política foram incorporados à equipe de articulistas do diário, dando à Folha uma aura de caixa de  ressonância do novo ciclo democrático  que pedia para nascer.

Dalmo de Abreu Dallari, Eduardo Suplicy, Almino Afonso, Fernando Henrique Cardoso, Lúcio Kowarick, Plinio de Arruda Sampaio, D. Evaristo Arns, Gerardo Mello Mourão, Franklin de Oliveira, ademais de Alberto Dines, Severo Gomes,  Rafael de Almeida Magalhães, entre outros, passaram a debater no jornal  as aspirações de um Brasil que não cabia mais nos limites de um regime espremido pela crise econômica e pela insatisfação popular.

A verdade, porém, é que nem sempre foi assim. E, pelo visto,  tampouco o será de agora em diante.

Dez anos antes desse aggiornamento empresarial, quando a consolidação do golpe civil-militar de 64  estava em xeque nas ruas, nos meios artísticos e intelectuais,  a ditadura brasileira promulgou o Ato Institucional nº 5, que aboliria de vez a liberdade de expressão, de organização e de manifestação no país.

Decretado  em 13 de dezembro de 1968,  o AI-5 queimou as caravelas da veleidade ‘constitucional’ do regime e jogou para as calendas a promessa de rápido restabelecimento democrático vinculado à convocação de novas eleições presidenciais.

A repressão asfixiaria a tal ponto a expressão política, a partir de então, que muitos viram na opção armada o único caminho disponível à resistência.

Foi nesse divisor da história, em 1969, que Octavio Frias, pai do atual diretor editorial da Folha , Otavinho, um perdigueiro na arte de farejar o mainstream , convidou Plinio Corrêa de Oliveira para escrever regularmente no jornal.

Plínio Correa, fundador e líder da seita  Tradição Família e Propriedade (a TFP), era então o símbolo mais borbulhante do ponto a que pode  chegar o extremismo conservador, quando a hidrofobia não se contenta em exercitar o varejo do anti-comunismo.

A TFP era uma espécie de Tea Party radicalizada.

Suas marchas de coreografia fascista, os gigantescos estandartes  medievais e as pancadas secas das fanfarras sombrias, quebradas de sopros estridentes,  irrompiam pelas ruas  brasileiras  como autênticos mensageiros do terrorismo de Estado.

Sabia-se que aquilo era o braço cenográfico da tempestade que se avizinhava no céu do país.

Se de um lado o moralismo medieval causava desconcerto e derrisão, de outro irradiava medo pelos encadeamentos sabidos com o aparato militar-empresarial que havia empalmado o país.

Bem fornida de recursos, a organização de Plinio Correa  oferecia-se como uma azeitada máquina de  apoio à ditadura e aos interesses do conservadorismo.
Suas campanhas evidenciavam disciplina militar e ampla cobertura, que ademais de vasculhar o Brasil atingia outros países.

Com a esquerda reprimida e perseguida, a TFP tinha as ruas à sua disposição. Não raro, seus desfiles eram protegidos por carros policiais.

Plínio Correa tinha trânsito entre militares e o empresariado. Sua determinação de funcionar como uma espécie de guardião da doutrina da fé católica funcionava como um contraponto  ao clero progressista, que perseguia com ódio inexcedível.

Muito já se discutiu a funcionalidade fascistóide dessas falanges a misturar  devoção religiosa fanática, de um lado, e anticomunismo  visceral de outro.

A TFP tentava ser para o Brasil o que a Opus Dei, fundada em 1928, fora para o franquismo, na exacerbação do uso da fé como escudo repressor da sociedade e da esquerda espanhola.

Plínio Correa de Oliveira avocava-se um misto de Josemaría Escrivá de Balaguer, o fundador da Opus Dei, e Joseph McCarthy, o senador americano que durante a guerra fria,  nos anos 50, liderou  a patrulha anticomunista nos EUA.

A TFP  nunca alcançou a abrangência pretendida. Mas funcionou como uma radicalização narrativa do regime, , alimentando medos e ódios, justificando preconceitos e  perseguições.

A Igreja Católica foi uma das baionetas mais afiadas do golpe de 64. Mas nunca houve monolitismo nesse apoio e, a partir da radicalização opressiva do regime, ele se estiolou.

Quando Plínio Correa foi convidado por Octávio Frias a escrever na Folha, em coluna inaugural em 1969, era  notório o ativismo crescente da ala progressista da Igreja – laica e de batina - contra a ditadura.

O mesmo ocorria no polo oposto da interação empresarial-militar.

O convite de Frias a Plínio era um dente dessa engrenagem em curso.

Documentos recentemente filtrados dos arquivos do Dops, de São Paulo,  mostram o estreitamento das ligações do empresariado paulista com o aparato repressivo, no período mais asfixiante da ditadura, nos anos 70. 
    
Um dos lubrificantes desse intercurso, a azeitar as relações entre a  Fiesp e o Dops,  era um certo ‘Dr. Geraldo’,  objeto de detalhada reportagem veiculada recentemente  no insuspeito ‘O Globo’ (09-03-2013).

 ‘Dr. Geraldo’ frequentou semanalmente os porões da tortura em São Paulo , entre 1971 a 1978.

No registro de ingresso no bunker, onde reinava soberano o delegado Sergio Paranhos Fleury, ele assinalava a sua presença notificando ao lado do nome a procedência: ‘Fiesp’.

Geraldo Resende de Mattos, o “Dr. Geraldo”, conviveu assiduamente com as câmaras do horror, duas, três vezes por semana,  no período da violência de febril, quando o comandante do II Exército em SP,  general Humberto de Souza Mello, havia liberado a matança dos ‘inimigos’ do regime.

Plínio Correa de Oliveira passou a escrever na Folha no escopo dessa convergência de matança e intensificação das relações entre o aparato repressivo, as fileiras do empresariado paulista e a polarização politica dentro da Igreja católico.

A  exemplo de Plínio, o ‘Dr Geraldo’ era um radical de direita.

Proprietário de fabricas de vidros e lâmpadas,  seu acesso ao círculo dirigente da Fiesp, segundo ‘O Globo’, foi facilitado pelo amigo do peito, o industrial Nadir de Figueiredo, um dos fundadores e por anos o mais influentes líder da entidade, cujos  presidentes dependiam de seu aval para se eleger.

 Como eles, o empresário  dinamarquês Albert Henning Boilesen, assassinado em abril de 1971 por um comando guerrilheiro, também diretor da Fiesp/Ciesp com apoio de Nadir Figueiredo, era outro habitué dos porões da tortura no Dops.

A principal função de  Boilesen na engrenagem empresarial-militar era coletar fundos para o aparato repressivo da ditadura. Consta que tinha planos de organizar algo de contundência superior à ação do Dops e da Oban.

‘Dr. Geraldo’, por sua vez, fazia a mediação direta entre o empresariado e a linha de frente da repressão.

Plínio Correa vocalizava, através da Folha, a legitimidade da luta sem trégua contra o comunismo e a degeneração dos costumes, aqui e alhures.

A endogamia do trio era perfeita.

Em 16 de setembro de 1973, por exemplo, apenas cinco dias depois do golpe de Pinochet no Chile, o líder da TFP publicaria na ‘Folha de São Paulo’  uma coluna eufórica.

O texto  não apenas celebrava o golpe de Estado (cantando o ‘Magnificat’, diz no título, em menção a um hino religioso à Maria), como justificava o banho de sangue em curso.

O que era execrado em todo o mundo humanista e democrático desfrutava de um espaço de júbilo na Folha.

‘No momento em que escrevo – sexta-feira pela manhã’-- o Chile parece estar acabando de fumegar’, começava assim o artigo de Plínio na Folha. E fuzilava: ‘... a seita comunista era no Chile como um leão solto. Pôs-se a devorar, com furioso ímpeto, os membros da nação (...)  Foi  indispensável, para salvar o Chile, derramar sangue do leão...’ (leia ao final desse post a íntegra do texto ‘Magnificat pelo Chile’, publicado na Folha, pouco depois do golpe contra Allende).

Boilesen, o ‘Dr Geraldo’,  Plínio Correa de Oliveira, Nadir Figueiredo, entre outros, de uma longa lista de sabidos e muitos ainda não investigados, não eram ilhas perdidas, mas um articulado e vulcânico arquipélago político da extrema direita em ação no país.

“(...) sabe-se que foi expressivo o fluxo de dinheiro para a repressão, a partir de coletas na Fiesp e em reuniões promovidas por Gastão de Bueno Vidigal (Banco Mercantil de São Paulo), João Batista Leopoldo Figueiredo (Itaú e Scania), Paulo Ayres Filho (Pinheiros Produtos Farmacêuticos), e o advogado Paulo Sawaia, entre outros. Empresas como Ultragaz, Ford, Volkswagen, Chrysler e Supergel auxiliaram também na infraestrutura, fornecendo carros blindados, caminhões e até refeições pré-cozidas”, diz o mencionado texto de ‘O Globo’.

A reportagem finge ignorar, mas à detalhada lista à qual não faltou incluir até  refeições ‘pré-cozidas',  omitiu-se o empréstimo de viaturas da ‘Folha’ para ações camufladas do aparato repressivo em São Paulo.

Quando o regime já não se sustentava no êxito econômico e a luta armada fora derrotada, Geisel/Golbery entenderam que a hora era oportuna para afrouxar o sistema político, gradualmente.

Áulicos cronistas que hoje pontificam lições de democracia ao governo do PT, encontrariam  nessa brecha uma saída honrosa para limpar a trajetória profissional marcada de cumplicidade com a ditadura.

Extremistas como Nadir Figueiredo, ademais de Plínio Correa e magnatas da ditadura, como o construtor Adolfo Lindenberg, caminhariam em sentido oposto. 
Articulados à alas radicais do Exército tentaram abortar a ‘abertura’.

Perderam.

Foi nesse trânsito entre dois tempos  que o velho Frias   farejou a tendência vencedora e abriu o jornal à opinião democrática brasileira.

Por  via das dúvidas, conservaria o líder da  TFP entre os seus articulistas, até 1990.

Desse posto avançado, Plínio Correa continuaria a vociferar a agenda do grupo. Teve tempo, ainda para investir contra a reforma agrária, as greves do ABC e a eleição da então petista Luiza Erundina, em São Paulo, em 1989.

Os replicantes de hoje, não tem o mesmo peso e carecem da articulação política do original.

 O ponto, porém, é que a Folha sob o comando de Otavinho, aparentemente decidiu que é hora de uma nova viragem à direita, como aquela arquitetada pelo velho Frias,  em 1969.

Se o filho tem o dom paterno de se antecipar aos ventos, ou apenas enfia os pés pelas mãos na trajetória reconhecida de apequenar a herança recebida, a história dirá.

O certo é que a Folha percorre uma nova mutação.

Como as anteriores, a serviço de um  certo Brasil.

Nisso seu slogan é crível. 

Leia, a seguir,  o artigo de Plínio Correa de Oliveira sobre o golpe no Chile, publicado na Folha de São Paulo, em 16 de setembro de 1973.

"Magnificat" pelo Chile

No momento em que escrevo – sexta-feira pela manhã – o Chile parece estar acabando de fumegar. Os boatos irradiados sobretudo de Buenos Aires, Havana e Moscou não logram persuadir o grande público. E o noticiário dos jornais vai apresentando um quadro contraditório, do ponto de vista sentimental. Os gestos de alegria pela vitória se mesclam com a tristeza ou até a cólera pelo sangue vertido.

O momento da reflexão fria e lúcida já chegou. E se patenteia assim, com nitidez, a linha geral dos acontecimentos. Poucas palavras bastam para defini-la. O Governo de uma grande nação sul-americana caíra nas mãos de uma seita de fanáticos, isto é, do Partido socialista-marxista. Essa seita resolvera aplicar ao Chile – custasse o que custasse – sua doutrina materialista, igualitária, dirigista e anticristã. A partir deste fato ideológico, desdobraram-se múltiplas conseqüências políticas e econômicas. Uma série de leis socialistas e confiscatórias se foram aplicando sucessivamente ao país, sem atender ao descontentamento da maioria da opinião pública. Em conseqüência, uma crise política começou a abalar os próprios fundamentos do Estado. Também a partir do fato ideológico se desenrolou, paralelamente à crise política, uma crise econômica. O pior dos patrões é o Poder Público. Sentiram-no bem os operários das cidades e dos campos, que pouco depois de "beneficiados" pela socialização, começaram a revoltar-se contra a miséria que sobre eles ia baixando. Porque mau patrão, o Estado é mau produtor. A pobreza foi se estendendo por toda a nação como uma gangrena. As crises política e econômica somaram seus efeitos e produziram um caos. Greves imensas paralisaram o país. Ele estava à beira de uma aniquilação total.

 Sobrevieram então as Forças Armadas, destituíram do poder os sectários, e estão repondo o país em condições de salvar-se.

Esta é a linha geral dos fatos, e diante dela, a única atitude que cabe é aplaudir. Pois, se é verdade que o bem comum é a suprema lei, o fato puro e simples da salvação de um país que afundava, não pode deixar de ser apoiado.

A serem coerentes consigo mesmos, os esquerdistas do mundo inteiro – que vivem a apregoar a supremacia total do bem comum – ficariam sem resposta. Mas ei-los que se transformam bruscamente em defensores dos direitos individuais, e, fechando os olhos para a salvação pública, começam a entoar pelo mundo inteiro seu De profundis laico e melado, a propósito do sangue que correu. Sangue dos esquerdistas é claro. Não dos soldados!

* * *

Esse sangue vertido, também nós o deploramos. Em outros termos, quanto preferiríamos que a trajetória ideológico-política e ideológico-econômica do Chile não tivesse conduzido o país à verdadeira catástrofe que foi a ascensão da seita marxista ao poder. Quanto fez a TFP chilena para alertar os seus conterrâneos para o perigo do progressismo "católico" e do demo-cristianismo, os quais iam empurrando sorrateiramente a nação para o precipício de onde agora ela se reergue tinta de sangue. Quanto atuaram as TFPs de todo o continente sul-americano para criar condições internacionais desfavoráveis a uma colaboração com esse processo de ruína e morte. Basta lembrar, neste sentido, a enorme difusão – que vale por uma epopéia – do best-seller de Fábio Vidigal Xavier da Silveira, "Frei, o Kerensky chileno".

Nada foi capaz de obstar a que a "saparia" chilena, conluiada com o clero esquerdista, entregasse o país a Allende.

Junto cantaram, na Catedral de Santiago, com rabinos, pastores protestantes, comunistas e terroristas, o Te Deum da vitória. E em seguida a tragédia começou. Desde logo se podia prever que, como um marxista nunca entrega voluntariamente o poder, ou ela terminaria no sangue, ou liquidaria o Chile. De fato, ela terminou em sangue, com o Chile quase liquidado. Os primeiros culpados por isto, não é difícil encontrá-los. Foram os que cantaram o estranho Te Deum ecumênico.

* * *

 Libertada assim de entraves, e com o supremo poder em mãos, a seita comunista era no Chile como um leão solto. Pôs-se a devorar, com furioso ímpeto, os membros da nação. Diante de ameaças dos defensores do país, nem deixou o poder, nem cessou suas devastações. Foi indispensável, para salvar o Chile, derramar sangue do leão. Pergunto: a não ser isto, o que se deveria ter feito? Deixar o país ir à garra? – Esta pergunta só pode ter como resposta um "sim" ou um "não". Peço aos melados cantores do laico De profundis que me digam se sua resposta é "sim".

Mas, dir-se-á, deposto o governo marxista, era absolutamente indispensável atirar sobre os redutos comunistas que ainda resistiam de armas na mão? – A resposta pressupõe o conhecimento de uma série de pormenores que a imprensa não noticiou ainda, e de considerações morais que não há espaço para desenvolver aqui. Entretanto, o certo é que os militantes da resistência comunista se opõem criminosamente, e de armas na mão, à salvação do país. Seu fanatismo os leva a resistir à bala quando toda resistência já é inútil. Assim, os responsáveis principais pelo sangue ora vertido no Chile, são os que intoxicaram de doutrinas marxistas e fanatizaram os resistentes. Estes, sim, a História cristãmente imparcial os tachará sempre de criminosos.

Se do lado dos restauradores da nação houve ou está havendo excessos, a História também o dirá. E com imparcialidade igualmente cristã os censurará. Aguardemos.

Mas o fato é que a História cristãmente imparcial jamais considerará em igual plano o sangue dos fanáticos que morrem agredindo o país, e o dos heróis que tombaram na defesa deste.


Perón, dotado de meios de informação presumivelmente excelentes, admitiu como certo que a morte de Allende tenha sido por suicídio. E não hesitou em qualificar o ato desesperado do malogrado presidente, como "atitude valente”, de um homem que tem vergonha e por isso se "suicida".

Seria o caso de perguntar ao octogenário apologista do suicida se lhe faltaram valentia e vergonha quando, deposto em 1955, em lugar de se suicidar, foi viver no seu opulento exílio de Madrid.

De minha parte, como católico, só posso censurar o suicídio do teimoso chefe comunista. E lamentar que lhe tenha sido de tão pouco socorro espiritual a Bíblia pressurosamente ofertada pelo cardeal Silva Henriquez.

* * *

Em síntese, expulso do Chile o comunismo, ipso facto perdeu ele terreno no continente sul-americano. Como brasileiro e amigo do Chile alegro-me. E, sem prejulgar em minha alma pormenores que possivelmente Deus e a História não aprovem, entôo interiormente o Magnificat.

Sim, o Magnificat (*) que o cardeal Silva Henriquez por certo não estará cantando.

NR (*) É um cântico entoado (ou recitado) frequentemente na liturgia dos serviços eclesiásticos cristãos.