diário de cuiabá
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=415254
MT pode ter 82 nomes na lista de assassinados
Revisão dos números está sendo coordenada pelo ex-deputado Gilney Viana
HELSON FRANÇA
Da Reportagem
O período da ditadura passou, mas, para algumas famílias que tiveram entes mortos por militares, as marcas permanecem de forma mais latente.
De acordo com a lista oficial do governo brasileiro, 357 pessoas foram assassinadas devido a perseguições sofridas por parte militares na época dos anos de chumbo. Os números, no entanto, nunca foram consenso, principalmente entre pesquisadores e historiadores, além de centenas de famílias de possíveis vítimas.
Pretendendo jogar luz à penumbra que envolve o período, ajudar as famílias das vítimas a buscar os seus direitos e fazer o governo reconhecer erros do passado, um estudo inédito realizado pelo ex-deputado federal de Mato Grosso e atual coordenador do projeto “Direito à Memória e à Verdade”, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Gilney Viana, discute a possibilidade de ampliar a lista de mortos e desaparecidos políticos na época compreendida pelo regime militar.
O estudo identifica mais de 600 vítimas, sendo 82 de Mato Grosso. A inclusão dos nomes será avaliada na Comissão Nacional da Verdade e na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Encontra-se entre os casos relacionados a Mato Grosso o assassinato do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier.
Ele foi morto por um militar em 12 de outubro de 1976, no município de Ribeirão Cascalheira. Na ocasião, Burnier, juntamente do bispo Pedro Casaldáliga, foi à delegacia da cidade interceder por duas mulheres que eram torturadas pelos militares para revelar o paradeiro de um suspeito de ter matado um soldado.
Na discussão, Burnier acabou baleado por um soldado. “Estávamos desarmados e não oferecíamos perigo, pedíamos apenas que parassem com a sessão de tortura”, afirmou Casaldáliga, hoje bispo emérito do município de São Félix do Araguaia.
Aos 84 anos, Pedro afirmou que é “necessário recuperar a memória de Burnier”, pois o amigo desempenhou um importante trabalho no Estado, sobretudo com os indígenas, e foi morto de forma covarde por representantes da ditadura.
Burnier foi um dos coordenadores do Conselho Indigenista Missionário em Mato Grosso.
Outra vítima do Estado que pode ter o nome incluído na lista de mortos e desaparecidos políticos no período da ditadura é Henrique José Trindade, agricultor assassinado por militares em 4 de setembro de 1982, por disputas de terras em Alto Paraguai.
Ele foi baleado e teve um dos olhos arrancados. Seu corpo foi encontrado embaixo de uma árvore no sítio vizinho.
A esposa de Henrique estava grávida de oito meses na ocasião e um filho de 15 anos do casal levou um tiro na mão.
Na avaliação do pastor Teobaldo Witter, um dos coordenadores do Centro de Direitos Humanos que leva o nome de Henrique, a inclusão do nome do agricultor na lista é o mínimo que o governo pode fazer frente ao dano causado à família da vítima.
“Ficará registrado na história. A Justiça deve ser feita para que fatos como esses jamais sejam repetidos”.
Gilney Viana explicou que a sua pesquisa foi focada na vida dos camponeses - onde foram identificados líderes rurais e religiosos, padres, advogados e ambientalistas -, entre os anos de 1961 a 1988. Para subsidiar sua pesquisa, contou com informações do livro “Retrato da Repressão Política no Campo - Brasil 1962-1985: Camponeses Torturados, Mortos e Desaparecidos”, além de entidades como o Movimento dos Sem-Terra e Comissão Pastoral da Terra (CPT), dentre outras.
“A intenção é contribuir com a verdadeira história pela qual o país atravessou. Fatos lamentáveis como esses não podem ser esquecidos. Essas pessoas merecem e devem ser lembradas”, pontuou Gilney.
O estudo ganhou força após a lei que cria a Comissão da Verdade ter sido sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT) em novembro do ano passado.
A comissão deve examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos ao longo da ditadura, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
O documento será encaminhado à Comissão da Verdade e à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que ficarão responsáveis pela decisão de elevar ou não o número de mortos do período.
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=415254
MT pode ter 82 nomes na lista de assassinados
Revisão dos números está sendo coordenada pelo ex-deputado Gilney Viana
|
Da Reportagem
O período da ditadura passou, mas, para algumas famílias que tiveram entes mortos por militares, as marcas permanecem de forma mais latente.
De acordo com a lista oficial do governo brasileiro, 357 pessoas foram assassinadas devido a perseguições sofridas por parte militares na época dos anos de chumbo. Os números, no entanto, nunca foram consenso, principalmente entre pesquisadores e historiadores, além de centenas de famílias de possíveis vítimas.
Pretendendo jogar luz à penumbra que envolve o período, ajudar as famílias das vítimas a buscar os seus direitos e fazer o governo reconhecer erros do passado, um estudo inédito realizado pelo ex-deputado federal de Mato Grosso e atual coordenador do projeto “Direito à Memória e à Verdade”, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Gilney Viana, discute a possibilidade de ampliar a lista de mortos e desaparecidos políticos na época compreendida pelo regime militar.
O estudo identifica mais de 600 vítimas, sendo 82 de Mato Grosso. A inclusão dos nomes será avaliada na Comissão Nacional da Verdade e na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Encontra-se entre os casos relacionados a Mato Grosso o assassinato do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier.
Ele foi morto por um militar em 12 de outubro de 1976, no município de Ribeirão Cascalheira. Na ocasião, Burnier, juntamente do bispo Pedro Casaldáliga, foi à delegacia da cidade interceder por duas mulheres que eram torturadas pelos militares para revelar o paradeiro de um suspeito de ter matado um soldado.
Na discussão, Burnier acabou baleado por um soldado. “Estávamos desarmados e não oferecíamos perigo, pedíamos apenas que parassem com a sessão de tortura”, afirmou Casaldáliga, hoje bispo emérito do município de São Félix do Araguaia.
Aos 84 anos, Pedro afirmou que é “necessário recuperar a memória de Burnier”, pois o amigo desempenhou um importante trabalho no Estado, sobretudo com os indígenas, e foi morto de forma covarde por representantes da ditadura.
Burnier foi um dos coordenadores do Conselho Indigenista Missionário em Mato Grosso.
Outra vítima do Estado que pode ter o nome incluído na lista de mortos e desaparecidos políticos no período da ditadura é Henrique José Trindade, agricultor assassinado por militares em 4 de setembro de 1982, por disputas de terras em Alto Paraguai.
Ele foi baleado e teve um dos olhos arrancados. Seu corpo foi encontrado embaixo de uma árvore no sítio vizinho.
A esposa de Henrique estava grávida de oito meses na ocasião e um filho de 15 anos do casal levou um tiro na mão.
Na avaliação do pastor Teobaldo Witter, um dos coordenadores do Centro de Direitos Humanos que leva o nome de Henrique, a inclusão do nome do agricultor na lista é o mínimo que o governo pode fazer frente ao dano causado à família da vítima.
“Ficará registrado na história. A Justiça deve ser feita para que fatos como esses jamais sejam repetidos”.
Gilney Viana explicou que a sua pesquisa foi focada na vida dos camponeses - onde foram identificados líderes rurais e religiosos, padres, advogados e ambientalistas -, entre os anos de 1961 a 1988. Para subsidiar sua pesquisa, contou com informações do livro “Retrato da Repressão Política no Campo - Brasil 1962-1985: Camponeses Torturados, Mortos e Desaparecidos”, além de entidades como o Movimento dos Sem-Terra e Comissão Pastoral da Terra (CPT), dentre outras.
“A intenção é contribuir com a verdadeira história pela qual o país atravessou. Fatos lamentáveis como esses não podem ser esquecidos. Essas pessoas merecem e devem ser lembradas”, pontuou Gilney.
O estudo ganhou força após a lei que cria a Comissão da Verdade ter sido sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT) em novembro do ano passado.
A comissão deve examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos ao longo da ditadura, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
O documento será encaminhado à Comissão da Verdade e à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que ficarão responsáveis pela decisão de elevar ou não o número de mortos do período.
Nenhum comentário:
Postar um comentário