segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pedro Casaldáliga - carta pastoral 1/8

Fonte:
http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/uma-igreja-na-amazonia/umaigreja.htm



Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social

Pedro Casaldáliga
bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia

Carta Pastoral - São Félix do Araguaia, 10 de outubro de 1971



Depois de três anos de "missão" neste norte do Mato Grosso, tentando descobrir os sinais do tempo e do lugar, juntamente com outros sacerdotes, religiosos e leigos, na palavra, no silêncio, na dor e na vida do povo, agora, com motivo da minha sagração episcopal, sinto-me na necessidade e no dever de compartilhar publicamente, como que a nível de Igreja nacional e em termos de consciência pública, a descoberta angustiosa, premente.

Para dar a conhecer esta Igreja às outras Igrejas irmãs, à Igreja.

Para pedir e possibilitar, também desde esta Igreja, uma maior comunhão, uma colegialidade mais real, uma mais decidida corresponsabilidade. Talvez também para despertar e chamar respostas e vocações concretas...

Nenhuma igreja pode viver isolada. Toda igreja é universal, na comunhão de uma mesma Esperança e no comum serviço do amor de Cristo que liberta e salva. " ... Cada parte crescem por comunicação mútua e pelo esforço comum em ordem a alcançar a plenitude na unidade". (Lumem Gentium, 13).

O "momento publicitário" de projetos e realizações que a Amazônia está vivendo, e a opção de prioridade que a própria Igreja do Brasil fez por ela, através da CNBB, justificam também com nova razão esta minha declaração pública.

Se "a primeira missão do bispo é a de ser profeta" e "o profeta é aqueles que não têm voz daqueles que não têm voz (card. Marty), eu não poderia, honestamente, ficar de boca calada ao receber a plenitude do serviço sacerdotal.


Parte I:
Situação Geográfica


Parte II:
Panorâmica Sócio-Pastoral

Parte III:
Latifúndio

Parte IV:
Posseiros
Santa Terezinha
Porto Alegre
Serra Nova
Pontinópolis
Estrada e outros

Parte V:
Índios
Xavante / Suiá
Tapirapé / Tapiraguaia
Parque Nacional do Xingu / BR-80
Aculturação Agressiva

Parte VI:
Peões

Parte VII:
Política Local
Falta de Assistência Básica
Má distribuição administrativa

Parte VIII:
Nossa Atuação
O grito desta Igreja





~ Gregory Colbert



Fonte:


Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social

(parte I/8)



SITUAÇÃO GEOGRÁFICA

Esta Prelazia de São Félix, bem no coração do Brasil, abrange uns 150.000 Km2 de extensão, dentro da Amazônia legal, no nordeste do Mato Grosso, e com a Ilha do Bananal em Goiás. Está encravada entre os rios Araguaia e Xingu e lhe faz como de espinha dorsal, de Sul a Norte, a Serra do Roncador.

O decreto de ereção da Prelazia, "Quo commodius", assinado por Paulo VI, aos 13 de março de 1970, define assim os limites estritos da Prelazia de São Félix: "Ao norte, os confins da Prelazia de Conceição do Araguaia, que atualmente delimitam os Estados do Pará e Mato Grosso; ao leste os confins da Prelazia de Cristalândia, e ao oeste os da Prelazia de Diamantino, ou seja os rios Araguaia e Xingu; ao sul a linha traçada em direção noroeste desde a confluência dos rios Curuá e da Mortes; e daí em linha reta até a confluência dos rios Couto de Magalhães e Xingu".

Compõem o solo da Prelazia terras de mata fértil, florestas, grandes pastagens, margens de areia e argila, campos e cerrados, sertão e varjões. Duas estações, bem marcadas, de clima sub-equatorial, se repartem o ano todo: " as chuvas", de novembro até abril, e " a seca" de maio a outubro.

Cruzam o território duas estradas " de terra", de empreendimento da SUDECO, (a BR-158, Barra do Garças- Xavantina- São Félix, e a BR-80, em construção, Araguaia-Xingu - Cachimbo- Cuiabá/Santarém).

A Prelazia compreende todo o município de BARRA DO GARÇAS. Além da Ilha do Bananal, formada pêlos dois braços do rio Araguaia.

SÃO FÉLIX, a sede da Prelazia, é só distrito e pertence à Prefeitura de Barra do Garças, a uma distância de quase 700 Km (nota 1).

Dentro da área do município de Barra do Garças, além da sede da Prelazia, com uns 1.800 habitantes, situam-se os povoados de Pontinópolis, Campos Limpos/ Cascalheira, Santo Antônio, Serra Nova, Garapu, barreira Amarela... O município de Luciara inclui a sede da Prefeitura (nota 2) e os lugarejos de Santa Terezinha (com o antigo núcleo fundacional de Furo das Pedras), Cedrolândia/ Porto Alegre, Lago Grande," 2 de Junho", São Sebastião", ... Dentro da Ilha do Bananal está Santa Isabel do Morro - "a capital", com aeroporto oficial da FAB -, São Jõao do Javaé e Barreira de Pedra.

Exista na área da Prelazia as aldeias indígenas da metade leste do Parque Nacional do Xingu, à margem direita do rio, e as aldeias de São Domingos, Santa Isabel, Fontoura, Macaúba, Tapirapé, Canuanã, Cachoeirinha, Areões, Barra do Tapirapé e Luciara.

Localizam-se na região a maior parte dos empreendimentos agropecuários - Fazendas ou companhias - aprovados pela SUDAM.

Entre eles, a Suiá-Missu, Codeara, Reunidas, Frenova, Bordon, Guanabara, Elagro, Tamakavy, etc. (cf. Documentação, nº I)

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Notas:

1- São Félix - na margem mato-grossense do Araguaia- foi fundada em 1941 pelo piauiense Servirano Neves, que se amparou sob o patrocínio de São Félix de Valois, como acreditado protetor "contra" os índios... Pelo Decreto Pontifício de ereção da Prelazia foi constituída titular Nossa Senhora no ministério da sua Assunção, e é agora Nossa Senhora da Assunção a padroeira também da cidade de São Félix.

2- Luciara foi fundada em 1934 pelo lendário Lúcio da Luz, vindo do Pará. Chamada inicialmente de "Mato Verde" passou a tomar definitivamente os nomes do fundador Lúcio e do Rio Araguaia em cuja margem está assentada.



~ Gregory Colbert

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