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http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6527&action=read
Mato Grosso do Sul tem quase 4 milhões de hectares “fantasmas”
Indígenas Guarani Kaiowá retomam nova área no Mato Grosso do Sul
Indígenas, integrantes do MPF e da Funai são atacados por pistoleiros no Mato Grosso do Sul
Guerreiros da Paz: povos indígenas do MS tiveram mais uma semana intensa de mobilizações na luta por seus direitos
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Amilton Lopes: tudo pelos Guarani
Egon Heck,
de Luziânia (GO)
Amilton Lopes, Avá Apikaverá na sua língua Guarani, nasceu em território Guarani no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai.
Em 2008, foi à Europa para falar da realidade de seu povo, denunciando toda sorte de violência a que estão submetidos os Kaiowá Guarani, e buscar solidariedade para os direitos e luta de seu povo.
Na Europa, carregando sua bagagem de viagem de duas semanas de mobilização pelos direitos de seu povo, suava mas não perdia o bom humor. Quando a carga pesava demais e os sobe e desce escadaria de metrô eram intermináveis, ele estampava um sorriso no rosto e dizia: “tudo pelos Guarani”.
No decorrer da viagem, assim ficou registrado: “quando batia o cansaço depois de um dia intensivo de falas, debates, contatos - “tudo pelos Guarani”. Quando a saudade das gentes e terras brasis batiam forte, quando a falta do feijão e arroz, da carne e das nossas frutas tropicais se fazia sentir: “tudo pelos Guarani”.
Esse era o Amilton Lopes, guerreiro incansável dos direitos de seu povo, que viveu como poucos os caminhos e descaminhos, as idas e voltas de uma liderança Kaiowá Guarani. Teve momentos de intensa contribuição nas lutas de retomadas das terras, iniciado pelo tekohá Pirakuá, em 1983. Poucos meses depois seria brutalmente assassinado Marçal Tupã’y, na aldeia de Campestre. A partir daquele momento, Amilton sentiu-se comprometido em continuar a luta de Marçal pelos territórios Guarani. Foi o que fez. Foi mais adiante morar em Nhnaderu Marangatu. Desempenhou importante liderança no processo da luta pela terra. Quando a comunidade foi expulsa pra a beira da estrada, em 15 de dezembro de 2005, fez uma fala violenta contra a expulsão, defendendo a liberdade e direito de seu povo àquele território.
Se sorrio neste instante
um sorriso de dor,
Não é expressão de felicidade
Mas de um drama,
De uma revolta e indignação,
Pois hoje estamos despejados,
Estamos na rua!
A gente chora
Porque somos expulsados,
O que faremos agora?
Não temos mais paz.
Os Kaiowá tem que ser livres,
Nunca podem ser assim executados,
Hoje choro pelas crianças!
Tenho a certeza
De que esse juiz e esses policiais
Vão dar os melhores presentes
Para suas crianças.
E nós o que daremos para as nossas?
Carinho e esperança,
Fome e talvez um pedaço de pão!
O que pensam que somos,
Esses que fazem isso conosco,
Que somos animais ou traficantes,
Para virem tirar nós daqui
Com fortes armas?
Não precisavam.
Nós sabemos lutar saindo
E sair lutando,
Porque nós Kaiowá Guarani
Resistimos e vamos resistir
Com nossas palavras!
Pisaram em cima de nós,
Mas ainda temos raiz,
Vamos brotar, crescer
E dar frutos.
O sol ilumina o mundo
Ele é nosso pai,
Se ninguém gosta de nós
Vamos destruir o mundo.
(Nhanderu Marangatu – para que o mundo saiba )
A fatalidade e a luta
No domingo, 16 de setembro, Amilton e sua esposa saíram, antes do clarear do dia, para pescar. Por volta das 10 horas da manhã, com muita esperança de pegar uns bons peixes no rio Apa, que passa pela terra indígena Pirakuá, que ele ajudou a recuperar há quase três décadas, jogou a tarafa. Ao tentar desenroscá-la, caiu na água. Fatalidade. Dali não mais conseguiu sair. Seu corpo só foi encontrado três horas depois. Deixou esposa, seis filhas e três netos. No dia 9 de outubro ele completaria 56 anos.
Sua trajetória de vida expressam bem as contradições e lutas do povo Kaiowá Guarani. A terra onde nasceu foi tomada pelo processo de colonização da região do cone sul do Mato Grosso do Sul. De pequeno foi doado a uma família não indígena para que por eles fosse educado e escolarizado. Viveu então parte de sua infância e juventude em Campo Grande. Cursou o ensino primário. Pelos seus talentos artísticos, integrou-se num grupo de teatro, que fez apresentações em várias regiões do país.
Após longos anos em terras estranhas, decide retornar às comunidades e lutas de seu povo Guarani Kaiowá. Em outubro, faria 29 anos desse retorno. A partir de então, participou intensamente do processo da Aty Guasu e das lutas de retomada dos tekohá. Participou de eventos nacionais e internacionais. Teve momentos de intensas alegrias, mas também de tribulações e conflitos. Foi candidato a vereador nas últimas eleições e foi membro do Conselho Tutelar do município de Antonio João (MS).
Várias vezes, disse que gostaria de contar toda a história de vida e luta para que futuramente pudessem conhecer os detalhes dessas lutas. Sua bela e dura trajetória de lutas, vitórias e sofrimentos, certamente será lembrada pelo povo Kaiowá Guarani e seus aliados.
de Luziânia (GO)
Amilton Lopes, Avá Apikaverá na sua língua Guarani, nasceu em território Guarani no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai.
Em 2008, foi à Europa para falar da realidade de seu povo, denunciando toda sorte de violência a que estão submetidos os Kaiowá Guarani, e buscar solidariedade para os direitos e luta de seu povo.
Na Europa, carregando sua bagagem de viagem de duas semanas de mobilização pelos direitos de seu povo, suava mas não perdia o bom humor. Quando a carga pesava demais e os sobe e desce escadaria de metrô eram intermináveis, ele estampava um sorriso no rosto e dizia: “tudo pelos Guarani”.
No decorrer da viagem, assim ficou registrado: “quando batia o cansaço depois de um dia intensivo de falas, debates, contatos - “tudo pelos Guarani”. Quando a saudade das gentes e terras brasis batiam forte, quando a falta do feijão e arroz, da carne e das nossas frutas tropicais se fazia sentir: “tudo pelos Guarani”.
Esse era o Amilton Lopes, guerreiro incansável dos direitos de seu povo, que viveu como poucos os caminhos e descaminhos, as idas e voltas de uma liderança Kaiowá Guarani. Teve momentos de intensa contribuição nas lutas de retomadas das terras, iniciado pelo tekohá Pirakuá, em 1983. Poucos meses depois seria brutalmente assassinado Marçal Tupã’y, na aldeia de Campestre. A partir daquele momento, Amilton sentiu-se comprometido em continuar a luta de Marçal pelos territórios Guarani. Foi o que fez. Foi mais adiante morar em Nhnaderu Marangatu. Desempenhou importante liderança no processo da luta pela terra. Quando a comunidade foi expulsa pra a beira da estrada, em 15 de dezembro de 2005, fez uma fala violenta contra a expulsão, defendendo a liberdade e direito de seu povo àquele território.
Se sorrio neste instante
um sorriso de dor,
Não é expressão de felicidade
Mas de um drama,
De uma revolta e indignação,
Pois hoje estamos despejados,
Estamos na rua!
A gente chora
Porque somos expulsados,
O que faremos agora?
Não temos mais paz.
Os Kaiowá tem que ser livres,
Nunca podem ser assim executados,
Hoje choro pelas crianças!
Tenho a certeza
De que esse juiz e esses policiais
Vão dar os melhores presentes
Para suas crianças.
E nós o que daremos para as nossas?
Carinho e esperança,
Fome e talvez um pedaço de pão!
O que pensam que somos,
Esses que fazem isso conosco,
Que somos animais ou traficantes,
Para virem tirar nós daqui
Com fortes armas?
Não precisavam.
Nós sabemos lutar saindo
E sair lutando,
Porque nós Kaiowá Guarani
Resistimos e vamos resistir
Com nossas palavras!
Pisaram em cima de nós,
Mas ainda temos raiz,
Vamos brotar, crescer
E dar frutos.
O sol ilumina o mundo
Ele é nosso pai,
Se ninguém gosta de nós
Vamos destruir o mundo.
(Nhanderu Marangatu – para que o mundo saiba )
A fatalidade e a luta
No domingo, 16 de setembro, Amilton e sua esposa saíram, antes do clarear do dia, para pescar. Por volta das 10 horas da manhã, com muita esperança de pegar uns bons peixes no rio Apa, que passa pela terra indígena Pirakuá, que ele ajudou a recuperar há quase três décadas, jogou a tarafa. Ao tentar desenroscá-la, caiu na água. Fatalidade. Dali não mais conseguiu sair. Seu corpo só foi encontrado três horas depois. Deixou esposa, seis filhas e três netos. No dia 9 de outubro ele completaria 56 anos.
Sua trajetória de vida expressam bem as contradições e lutas do povo Kaiowá Guarani. A terra onde nasceu foi tomada pelo processo de colonização da região do cone sul do Mato Grosso do Sul. De pequeno foi doado a uma família não indígena para que por eles fosse educado e escolarizado. Viveu então parte de sua infância e juventude em Campo Grande. Cursou o ensino primário. Pelos seus talentos artísticos, integrou-se num grupo de teatro, que fez apresentações em várias regiões do país.
Após longos anos em terras estranhas, decide retornar às comunidades e lutas de seu povo Guarani Kaiowá. Em outubro, faria 29 anos desse retorno. A partir de então, participou intensamente do processo da Aty Guasu e das lutas de retomada dos tekohá. Participou de eventos nacionais e internacionais. Teve momentos de intensas alegrias, mas também de tribulações e conflitos. Foi candidato a vereador nas últimas eleições e foi membro do Conselho Tutelar do município de Antonio João (MS).
Várias vezes, disse que gostaria de contar toda a história de vida e luta para que futuramente pudessem conhecer os detalhes dessas lutas. Sua bela e dura trajetória de lutas, vitórias e sofrimentos, certamente será lembrada pelo povo Kaiowá Guarani e seus aliados.
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