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03/07/2011 - 10h57
Grupo argentino El Tejar lidera em produção de soja no Brasil
Roberto Samora
da Reuters em São Paulo
Com somente oito anos no Brasil, o grupo argentino El Tejar superou na safra 2010/11 tradicionais produtores de soja do país, utilizando uma agressiva estratégia de arrendamentos que tem seduzido os donos de terras e oferecido forte concorrência a brasileiros. O El Tejar, com empresa constituída no Brasil denominada O Telhar, concentra suas operações no país em Mato Grosso, onde avalia-se que o grupo argentino tenha plantado até 300 mil hectares de soja, segundo levantamento junto ao setor produtivo e a consultores.
O grupo argentino, com atuação agrícola também na Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai, não divulga a área plantada no Brasil, mas uma porta-voz da empresa no país afirmou que O Telhar conta com 21 unidades produtoras em Mato Grosso, que integram os mais de 700 mil hectares de cultivos da companhia em toda a América do Sul.
A empresa com sede na Argentina, que nasceu da associação de um grupo de produtores em 1987, inicialmente com foco na pecuária, hoje também conta com investidores de fora do país.
Isso permite ao El Tejar atuar com uma estratégia de arrendamentos arrojada para ganhar área plantada, considerada até hostil por alguns agricultores em Mato Grosso, que antes arrendavam terras e as perderam para o grupo argentino, não vendo chances de concorrência.
'Os maiores produtores de soja do Brasil já não são mais brasileiros, parece até piada', comentou Carlos Fávaro, vice-presidente da Aprosoja, entidade dos produtores do Estado de Mato Grosso, em entrevista à Reuters.
Ele estima que o El Tejar plantou entre 250 mil e 300 mil hectares na última safra em Mato Grosso, superando grupos como os mato-grossenses Bom Futuro, com 180 mil hectares de soja, dos irmãos Maggi Scheffer, e mesmo empresas como a do ex-governador e atual senador Blairo Maggi, com plantio na safra 2009/10 de 135 mil hectares --Blairo é primo dos Scheffer.
'Agora eles são os maiores do mundo', disse Fávaro, referindo-se ao El Tejar, que em área contínua na América do Sul planta o equivalente a mais de quatro vezes o território do município de São Paulo.
Os grupos agrícolas com atuação em Mato Grosso, o maior produtor brasileiro de soja, ainda costumam plantar milho na segunda safra, além de algodão. Questionado sobre o tamanho da produção de grãos no Brasil, o El Tejar afirmou produzir mais de 600 mil toneladas no Estado, mas não detalhou volumes por produto.
Além de pagar pelo arrendamento um volume xis de sacas por hectare, O Telhar ainda contrata todos os serviços do próprio dono da terra, como se ele fosse um funcionário, segundo um consultor que preferiu não ser identificado.
'Não é um arrendamento convencional, é de porteira fechada... Acaba sendo melhor (para o dono da terra), já que o cara não tem risco nenhum e ainda pode otimizar toda a estrutura dele', disse o analista.
No arrendamento tradicional no Estado, no qual o arrendatário cuida de todos os aspectos da produção, o dono da terra recebe somente pelo arrendamento.
Seduzidos pelos valores dos argentinos, muitos proprietários de terra trocaram de arrendatário para O Telhar, o que também gerou uma inflação de preços de arrendamento.
'Eu mesmo perdi área plantada, eles pagam bem acima da média, o preço do arrendamento quase dobrou, e pra quem vive em um mundo normal é impossível concorrer', afirmou um produtor do sul de Mato Grosso que prefere não se identificar.
Segundo o diretor da Aprosoja, o El Tejar consegue oferecer mais vantagens aos donos das terras porque conta com financiamentos a custos mais baixos no exterior, em torno de 3 por cento ao ano, e também porque trabalha com custos mais reduzidos, ao comprar insumos em grande escala.
'O produtor de Mato Grosso, com limites para se financiar com o crédito oficial, tem que recorrer a tradings e paga um juro de 15 por cento ao ano', declarou Fávaro. 'Aí ele (O Telhar) chega e coloca o produtor brasileiro de peão, pra trabalhar pra ele', completou, defendendo políticas públicas para haver um 'equilíbrio de oportunidades'.
O crescimento da presença de grupos argentinos no Brasil, como o El Tejar e também o Los Grobo, que também trabalha com arrendamentos, coincide com um período em que a Argentina impôs taxas sobre as exportações de grãos, o que tornou a atividade menos rentável num dos maiores produtores globais.
Por outro lado, a maior presença de estrangeiros no Brasil, por meio de arrendamentos, foi considerada positiva em recente entrevista do ministro da Agricultura, Wagner Rossi , num momento em que o governo tenta limitar a compra de terras por empresas do exterior, visando entre outras coisas restringir especulação no campo.
Se o arrendamento pode ser uma alternativa, há quem pense diferente em Mato Grosso. O setor produtivo teme que, numa eventual derrocada nos preços internacionais das commodities, grupos como El Tejar não renovem seu arrendamentos, afetando a produção nacional.
Mas a porta-voz de O Telhar rebateu essa preocupação, afirmando que 'ao ingressar em um país e realizar investimentos' a ideia do grupo é ficar por muitos anos, 'garantindo a estabilidade de todos os envolvidos'.
O total semeado por El Tejar, a propósito, também supera de longe o plantio do Los Grobo, que recentemente anunciou intenção de abrir o capital na Bovespa e que plantou na última safra, no Mercosul, 247 mil hectares de grãos e oleaginosas, sendo um terço do total no Brasil.
Uma vez com ações na Bovespa, a unidade do Los Grobo no Brasil --que além de trabalhar com plantio também negocia grãos, como o El Tejar-- fará frente a outra companhia listada do país, a SLC Agrícola, com cerca de 230 mil hectares plantados de soja, milho e algodão na última safra.
Questionada sobre intenção de eventual IPO no Brasil, a porta-voz de O Telhar não respondeu.
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