segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sínodo. Uma mudança impressionante

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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/536281-uma-mudanca-impressionante-artigo-de-james-martin

Sínodo. Uma mudança impressionante

"O Sínodo disse que os gays têm "dons e talentos para oferecer à comunidade cristã". Isso é algo que até poucos anos atrás seria impensável, até mesmo por parte dos prelados mais mente aberta", escreve o padre jesuíta James Martin, redator da revista America, dos jesuítas dos EUA.
O artigo foi publicado na revista America, 13-10-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o artigo.
O Sínodo dos bispos emitiu um documento que representa uma mudança surpreendente na maneira que a Igreja Católica fala sobre a comunidade LGBT.
O Sínodo disse que os gays têm "dons e talentos para oferecer à comunidade cristã." Isso é algo que até poucos anos atrás seria impensável, até mesmo por parte dos prelados mais mente aberta - isto é, uma declaração completa de louvor pela contribuição de gays e lésbicas, sem ressalvas e nenhuma menção reflexiva de pecado. E, sobre os parceiros do mesmo sexo, o documento do Sínodo declarou, curiosamente, "Sem negar os problemas morais relacionados às uniões homossexuais cabe-se notar que há casos em que a ajuda mútua, a ponto de sacrifício, constitui um apoio precioso na vida dos parceiros". Um documento da Igreja que elogia os "parceiros" homossexuais de qualquer forma (e até mesmo usar a palavra "parceiros") é surpreendente.
O Sínodo também faz perguntas, desafiando dioceses e paróquias: "Os homossexuais têm dons e qualidades para oferecer à comunidade cristã: somos capazes de acolher essas pessoas, garantindo-lhes um espaço fraterno em nossas comunidades? Muitas vezes, eles querem encontrar uma Igreja que ofereça-lhes um lar acolhedor. As nossas comunidades sãoo capazes de oferecer isso, aceitando e valorizando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica sobre a família e o matrimônio?".
Isso representa uma mudança revolucionária na maneira como a Igreja se dirige à comunidade LGBT. Em nenhum lugar do documento encontram-se termos como "intrinsecamente desordenados", "objetivamente desordenada", ou até mesmo a ideia de "amizades desinteressadas" entre gays e lésbicas, como foi usado recentemente. O veterano vaticanista John Thavisjustamente chamou o documento de um "earthquake", um "terremoto".
O documento do Sínodo também se voltou para várias outras questões importantes relacionadas com as famílias, incluindo o controle de natalidade, aqui lembrando a Igreja da "necessidade de respeitar a dignidade da pessoa, na avaliação moral dos métodos de controle de natalidade", isto é, a necessidade de respeitar a consciência pessoal do indivíduo. E o documento do Sínodo recomendou a ideia da "gradualidade" quando tratou da "coabitação".
O documento é apenas o resumo do ponto médio das reuniões dos bispos durante a última semana, e não é uma declaração final. (Além disso, o Sínodo tem mais uma sessão no próximo ano, para somente depois o Papa Francisco emitir sua exortação apostólica final, que será o seu próprio ensinamento sobre as deliberações do Sínodo). Mesmo assim, ele ainda é revolucionário, como foram alguns dos comentários dos participantes durante a coletiva de imprensa na segunda-feira. Claramente, o apelo do Papa Francisco na abertura do Sínodo tem possibilitado aos bispos ouvir atentamente, falar o que pensam e estar abertos a novas maneiras de pensar. Como foi o caso no Concílio Vaticano II, os participantes podem ter ido para esse Sínodo sem esperar muita abertura ou alteração, mas o Espírito Santo está em ação.

Voto nulo é alternativa democrática a dilema falso

correio

http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10144:submanchete141014&catid=72:imagens-rolantes


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ESCRITO POR DUARTE PEREIRA   
TERÇA, 14 DE OUTUBRO DE 2014



As espúrias alianças do PT com personalidades e partidos de direita não podem ser separadas dos sucessivos escândalos dos governos Lula e Dilma. Por que, então, nos comprometermos com as posições, alianças e métodos desses governos?

A alternativa democrática do voto nulo no segundo turno deve ser examinada com seriedade e sem temor.

Não identifico diferenças substanciais entre as duas candidaturas. Não há, em ambas, alianças com o grande capital e com a direita conservadora, não estão envolvidas por escândalos de corrupção ativa e passiva assemelhados? Por que, então, continuarmos nos atrelando à cômoda teoria do “mal menor”?

Ao advertir para o falso dilema em que estamos enredados, o voto nulo não é, neste momento, o bem menor? Não contribui para elevar a consciência crítica de companheiros para a identidade básica no conteúdo e na forma de ambas as propostas que restaram, identidade básica que as campanhas raivosas tentam desesperadamente encobrir?

Com um Congresso Nacional ainda mais conservador, alguém tem dúvida do que vai ser necessário negociar para garantir a famosa “governabilidade” de um eventual governo Dilma, para não falar de um eventual governo Aécio? Como o fortalecimento do desenvolvimentismo capitalista pode aproximar-nos de um socialismo atualizado?

A tática não deve servir à estratégia? Que diabo de tática é essa que no máximo nos conduz, há tantos anos, a um social-liberalismo, ao enfraquecimento progressivo das forças de esquerda e de centro e ao crescimento ameaçador das forças  de direita? Se persistimos numa estratégia socialista, não devemos buscar uma nova tática – ampla, mas combativa e mobilizadora, que aproxime as forças de esquerda das forças de centro, mas invista contra as diferentes forças conservadoras e de direita, representativas do grande capital, nacional e transnacional, financeiro e produtivo?

Não existem “atalhos” para as verdadeiras transformações sociais, nem militaristas, nem pacifistas conciliadores. Se continuamos querendo essas transformações, temos que voltar, cada um de nós no limite de suas possibilidades, ao difícil e demorado caminho da mobilização, organização e educação política das bases populares e de seus aliados.

Duarte Pereira é jornalista.

A redução da maioridade penal é uma falácia fascista

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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/536192-a-reducao-da-maioridade-penal-e-uma-falacia-fascista


A redução da maioridade penal é uma falácia fascista

Sob o título "Bomba-relógio", Luiz Fernando Vianna, jornalista, publica no jornal Folha de S. Paulo, 13-10-2014, o seguinte artigo.
Eis o artigo.
A redução da maioridade penal é uma falácia fascista.
Falácia porque nada resolve. Países que a adotaram não reduziram a criminalidade. Dois deles, Alemanha e Espanha, voltaram recentemente aos 18 anos como idade mínima.
A Constituição brasileira prevê punição a partir dos 12. O adolescente vai para uma das instituições em que a medida socioeducativa mais praticada por agentes é a tortura.
São presídios de menores, reservados a pobres. O "cidadão de bem" cujo filho comete uma infração suborna o policial ou contrata um bom advogado. Diz que o menino merece uma segunda chance e não permite que ele durma num abrigo. Não se deseja aos outros o que não se quer aos seus.
O Brasil é o quarto país em população carcerária, atrás de EUA, China e Rússia. São 550 mil pessoas, mais do que o triplo do que havia duas décadas atrás. Quase 200 mil são presos provisórios, não deveriam estar na cadeia. Alguém aí está se sentindo mais seguro com tanto encarceramento?
No filme "Sem Pena", em cartaz, mostram-se presidiários andando em círculos num pátio. Não há projetos para eles. Os próprios agentes penitenciários os obrigam a se vincular a alguma facção criminosa. Assim, além de advogado, têm dinheiro para corromper os mesmos agentes. Quando saem, pagam em crimes suas dívidas - 70% voltam para a cadeia.
PCC e o Comando Vermelho nasceram dentro das prisões, não fora.
A superlotação não é casual, mas econômica: com mais gente num mesmo espaço, gasta-se menos --um preso custa entre R$ 1.300 e R$ 1.500 mensais ao Estado. É o mesmo princípio das senzalas e dos campos de concentração.
A ampliação do encarceramento é fascista porque vê os presos como se viam os escravos e, no nazismo, os judeus: não são gente. Ao ódio, a resposta será sempre mais ódio.

Ebola se espalha pelas redes sociais, e racismo volta à tona

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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/536194-ebola-se-espalha-pelas-redes-sociais-e-racismo-volta-a-tona

Ebola se espalha pelas redes sociais, e racismo volta à tona


O vírus ebola se espalhou pelas redes sociais no Brasil desde a primeira suspeita de infecção no país, reportada emCascavel, no interior do Paraná.
Da noite de quinta-feira até a manhã desta sexta, o termo "ebola" foi compartilhado 120 mil vezes pelo Twitter em português. A palavra Guiné, país de onde veio o paciente, foi a terceira mais citada na rede social por volta da meia-noite.
A reportagem é de Ricardo Senra, publicada por BBC Brasil, 10-10-2014.
Guiné é um dos três países que concentram a epidemia do vírus na África, juntamente com Serra Leoa e Libéria.
Pelo Facebook, segundo a ferramenta de análise Sysomos, mais de 400 postagens públicas em português sobre o Ebola surgiram nas últimas 24 horas.
Os termos "ebola", "Guiné" e "Fiocruz" seguem entre os dez tópicos mais comentados por brasileiros na rede.
Racismo
O homem de 47 anos, que chegou ao Brasil no dia 19 de setembro após escala no Marrocos, foi transferido durante a madrugada para Rio de Janeiro.
Em meio a dúvidas sobre sintomas, riscos de infecção e especulações sobre a confirmação ou não do caso, alguns internautas mais uma vez publicaram comentários racistas nas redes sociais.
As ofensas associam o vírus ebola à população de origem africana.
"Ebola é coisa de preto", "Alguém me diz por que que esses pretos da África têm que vir para o Brasil com essa desgraça de bactéria (sic) de ebola" e "Graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer preto que passa aqui na frente" foram algumas das frases postadas no Twitter na manhã desta sexta.
A situação não é diferente entre os usuários do Facebook. A nuvem de palavras que mostra os termos mais associados à doença na rede destaca a palavra "preto".
Ou seja, a maioria das pessoas que escreveu publicamente sobre o vírus associou "ebola" ao termo "preto".
'Sob controle'
Na manhã desta sexta-feira, o ministro da Saúde Arthr Chioro afirmou, em entrevista coletiva, que o paciente não teve "nem hemorragia, nem diarreia, nem febre, nem vômito."
"Na quarta-feira, teve febre, tosse e dor de garganta. O médico trabalha com as informações e sintomas que ele consegue detectar na consulta clínica", disse o ministro.
Foram identificadas 64 pessoas que tiveram contato com o paciente - 60 delas na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) deCascavel.
Os resultados dos exames, segundo Chioro, saem em 24 horas.
"Se tivermos o resultado do exame antes, imediatamente tornaremos público. Pelo protocolo, é necessário confirmá-lo em dois laboratórios. Mesmo se esse resultado der negativo, será colhida em 48 horas uma segunda amostra para análise e posterior informação do resultado."

Revelado documento secreto que cataloga “inimigos” durante Guerra Civil em El Salvador

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http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=82873

Notícia com vídeo relacionadoRevelado documento secreto que cataloga “inimigos” durante Guerra Civil em El Salvador

Marcela Belchior
Adital
A Comissão de Direitos Humanos de El Salvador (CDHES) acaba de revelar, publicamente, um documento confidencial das Forças Armadas (FAES) do país em que são registradas ações do serviço de inteligência governamental durante a Guerra Civil, que ocorreu no território nacional entre os anos 1980 a 1992. O chamado Livro Amarelodemonstra como foram cometidos crimes pelos militares, contendo uma lista de quase 2 mil pessoas identificadas, fotografadas e que, em grande parte, foram capturadas ou mortas.

O documento confirma o envolvimento da Força Armada em crimes de homicídio, tortura e desaparecimentos forçados durante a Guerra Civil. Foto: Reprodução.


Assinalados no livro como "terroristas delinquentes”, os alvos eram pessoas ligadas à Frente Farabundo Martí de Liberação Nacional (FMLN), partido político de oposição criado a partir de cinco organizações guerrilheiras, mas também a sindicatos e partidos de tendência direitista. Entre eles figura o atual presidente da República, Salvador Sánchez Cerén, um dos principais dirigentes da FMLN que, em 1970, participou da criação da primeira organização armada de esquerda no país, a Forças Populares de Libertação Farabundo Martí (FPL).
Do total de nomes identificados no livro, 43% se referem à lista de desaparecimentos forçados ou de pessoas que tiveram direitos humanos violados. Os casos foram denunciados tanto pelas próprias vítimas quanto por seus familiares, diante de organizações humanitárias salvadorenhas e da Organização das Nações Unidas (ONU), ainda nos anos do conflito.

O Livro Amarelo contém 270 páginas com nomes, fotos e outras informações dos insurgentes perseguidos pelo Exército. Foto: Reprodução.


A difusão do Livro Amarelo representa a suplantação de anos de táticas obstrucionistas por parte do Exército e de outras forças de segurança de El Salvador, e se localiza em um contexto político no qual o país busca reavaliar a história das violações aos direitos humanos durante o conflito. Como afirma o diretor da Comissão de Direitos Humanos, Miguel Montenegro, a apresentação do Livro Amarelo é uma maneira de superar a impunidade que ainda existe no país a respeito da guerra. "Lá estão os nomes e sobrenomes de quem foi assassinada e assassinado pelas Forças Armadas de El Salvador”, declarou à imprensa.
Montenegro destaca que o livro deverá gerar grande impacto e diz esperar repercussão nacional e internacional no que tange ao respeito aos direitos humanos, fazendo-se conhecer os fatos que construíram o conflito e pressionando por justiça em torno dos responsáveis pelas violações. O diretor da Comissão exige que a Corte Suprema de Justiça (CSJ) de El Salvador discuta a Lei de Anistia do país, que ele considera inconstitucional, para penalizar quem cometeu crimes de guerra.
Para isso, parte das provas está contida no documento. Além de identificar os militantes que estavam na mira do Exército salvadorenho, o registro também revela uma lista de defensores de direitos humanos, líderes sindicais e outras figuras políticas. Muitos deles foram vítimas de detenções ilegais, tortura, execução extrajudicial, desaparecimento forçado, entre outras violações.

Presidente Salvador Sánchez Cerén catalogado no livro (à esquerda) e na atualidade. Foto: Reprodução.

O Livro Amarelo é o primeiro documento militar confidencial, proveniente dos próprios arquivos do Exército, que se torna público em El Salvador e, até o momento, a única prova da violação de direitos com perseguição, vigilância e desaparecimento de cidadãos/ãs durante a Guerra Civil. Publicado na Internet, o registro também traz uma série de documentos provenientes de arquivos estadunidenses, nos quais se evidencia a participação da CIA (Central Intelligence Agency), do Governo dos Estados Unidos, e de outros serviços de repressão.
Entenda o conflito
Embora nunca tenha sido declarado de maneira oficial, o período conhecido por Guerra Civil de El Salvador foi um conflito bélico interno. Nele, se enfrentaram as Forças Armadas de El Salvador, encarregada de defender a soberania do Estado, contra as forças insurgentes da FMLN.
O confronto armado repercutiu na morte ou desaparecimento de pelo menos 75 mil salvadorenhos/as civis mortos e 8 mil desaparecidos/as em 12 anos de embate. A guerra civil foi encerrada após um processo de diálogo entre as partes e a assinatura do acordo de paz, que permitiu a desmobilização das forças guerrilheiras e sua incorporação legal à estrutura política do país.
Saiba mais sobre a luta por justiça às violações de direitos humanos na Guerra Civil de El Salvador em depoimentos de vítimas do conflito:

Leia também
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Decisão do arcebispado de El Salvador desampara vítimas de violações

Marcela Belchior

Jornalista da ADITAL

domingo, 12 de outubro de 2014

ONGs querem Amazônia como prioridade no próximo governo

amazônia
http://amazonia.org.br/2014/10/ongs-querem-amaz%C3%B4nia-como-prioridade-no-pr%C3%B3ximo-governo/



ONGs querem Amazônia como prioridade no próximo governo

Apesar dos atributos naturais e papel estratégico no cenário nacional, plataforma das ONGs aos presidenciáveis aponta que as riquezas da Amazônia têm gerado poucos benefícios sociais e econômicos para a grande maioria dos seus mais de 24 milhões de habitantes
Três das principais ONGs que atuam na Amazônia decidiram se unir e apelar aos dois presidenciáveis que disputam o segundo turno na eleições deste ano em nome do desenvolvimento sustentável Amazônia. A plataforma Amazônia e as Eleições 2014: Oportunidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável formulada pelo Imazon, IPAM e Amigos da Terra Amazônia parte do princípio de que o país já se mostrou capaz de resolver desafios que se colocam para a região, como a redução do desmatamento entre 2005 e 2012. O que falta, diz o documento, é conexão entre políticas públicas e investimentos adequados à complexidade regional.
A plataforma ressalta que a região é superlativa em recursos naturais e importância ambiental. Abriga cerca de um terço das florestas tropicais, a maior bacia hidrográfica do planeta e é rica em recursos minerais e em potencial hidrelétrico. Suas florestas cumprem papel fundamental na conservação da biodiversidade, no ciclo do carbono e regulação do clima. Também prestam um serviço crucial para os brasileiros: a produção de cerca de 20 bilhões de toneladas de vapor d’água por dia, que são transportadas em nuvens e geram chuvas para o Centro-Sul do país.
“É hora de constatar que os atuais investimentos na Amazônia não promovem desenvolvimento, e que desmatamento é impeditivo do desenvolvimento.  A partir disso, é preciso desenhar e implementar uma política de desenvolvimento regional baseada na diversidade do território” diz Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
Apesar desses atributos e do papel estratégico no cenário nacional, a plataforma aponta que as riquezas da Amazônia têm gerado poucos benefícios sociais e econômicos para a grande maioria dos seus mais de 24 milhões de habitantes.
clique na imagem para ler o documento na íntegra
Mesmo assim, a Amazônia passou ao largo dos debates no primeiro turno das eleições. Para as entidades signatárias da plataforma, o desafio de promover o desenvolvimento sustentável na região deve ser encarado a partir de agora como uma questão de Estado, assumida pelo governo e pela sociedade brasileira. Ao mesmo tempo, as ONGs afirmam que essa tarefa requer uma perspectiva e prioridades regionais considerando a população local e a diversidade socioeconômica da região.
A ocupação da região, alertam as entidades, tem sido marcada pelo desmatamento, o uso predatório dos recursos naturais e o conflitos sociais deflagrados a partir da década de 1960 e intensificados na década seguinte com os investimentos em larga escala do governo militar em estradas, hidrelétricas, mineração e colonização agropecuária. O desmatamento acumulado, que era inferior a 1% do território amazônico até início da década de 1970, atingiu quase 19% dele em 2013 – cerca de 760 mil quilômetros quadrados.
E o desmatamento não gerou benefícios para o povo da região Amazônica, denunciam as ONGs. O PIB da Amazônia Legal tem se mantido em torno de 6% a 8% do total nacional nas últimas duas décadas, e seu PIB per capita é cerca de metade da média brasileira. A região está atrás do Brasil no cumprimento das metas do milênio e no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Além disso, o recém-publicado Índice de Progresso Social da Amazônia revela que 98,5% dos 772 municípios da região têm uma pontuação de progresso social inferior à média nacional, com saneamento precário, acesso limitado à internet, educação básica de baixa qualidade, educação superior insuficiente e insegurança. Alguns de seus municípios estão entre os mais violentos do Brasil, destacam as entidades na justificativa dos pleitos aos presidenciáveis.
Smeraldi afirma que “se os dados mostram que a Amazônia não acompanhou o avanço social e diminuição da pobreza que caracterizaram o país nos últimos anos, é porque ela absorveu passivos do resto do Brasil, inclusive fluxos populacionais vinculados tanto à reforma agrária quanto às migrações nos entornos das grandes obras.”
Propostas
Para reverter o dramático quadro socioambiental da Amazônia, as ONGs signatárias da plataforma pedem para que o novo governo reveja imediatamente a política energética atualmente imposta para a região e que tem como base em um ambicioso plano de expansão de geração de energia elétrica – que inclui a construção de 30 hidrelétricas (UHE) na Amazônia até 2023. Além de investir em eficiência energética, a plataforma reivindica priorizar fontes com menos impactos socioambientais, incluindo eólica e solar (fotovoltaica) e biomassa.
A plataforma pontua também a existência de um “descasamento” entre as necessidades locais e os grandes projetos de infraestrutura. Enquanto os investimentos públicos nas áreas de energia, óleo e gás, logística e telecomunicações devem atingir cerca de R$ 130 bilhões até 2020 na Amazônia, o licenciamento ambiental das respectivas obras não consegue induzir a mitigação dos efeitos colaterais negativos.
Como alternativa, as ONGs propõem que os investidores contribuam para um fundo cujos recursos pagariam as análises de risco sem interferência de quem gera o impacto. Querem ainda que o novo governo priorize investimentos em infraestrutura para o desenvolvimento local, especialmente em saneamento básico, estradas vicinais e geração de energia distribuída em comunidades rurais. É preciso combinar o planejamento das obras com investimentos sociais, recomendam as organizações.
O fato de a Amazônia ter quase dois terços de sua população nas áreas urbanas torna essencial priorizar a infraestrutura para a economia de serviços. Tal investimento é estratégico para interromper o tradicional processo de “exportação” dos benefícios que tem caracterizado os grandes empreendimentos de infraestrutura na região. Para isso, é necessário capacitar as micro e pequenas empresas com prioridade para as cidades médias no interior.
A s Unidades de Conservação da Amazônia também estão entre as preocupações da ONGs. Em 2014, as Ucs somavam 111 milhões de hectares na Amazônia. Elas foram, na opinião dos ambientalistas, um dos pilares da política que reduziu o desmatamento da região e que fez do Brasil o campeão mundial em reduções de emissões de gases do efeito estufa entre 2005 e 2012 (-36,7%). Além disso, as áreas protegidas abrigam biodiversidade e garantem serviços essenciais à humanidade (água, solos, medicamentos, alimentos).
Para proteger e estimular o uso efetivo das Ucs, a plataforma recomenda que se faça diagnóstico fundiário urgente das Ucs e regularização do passivo, com prioridade para as mais desmatadas e sob maior risco de desmatamento. Assim, entendem, será possível transformar as Ucs em vantagem para o desenvolvimento local. Uma forma de fazer isso seria pela destinação de parte dos fundo de participação dos Estados e municípios (FPE e FPM) para os governos locais que tiverem proporcionalmente mais Ucs em seu território.
Agronegócio
Para que o setor se torne rentável e sustentável na Amazônia será necessário investir em técnicas agropecuárias já disponíveis. Por exemplo, um investimento de cerca de R$ 1 bilhão por ano daria conta de suprir a demanda do aumento de consumo de carne até o ano 2022 melhorando a produtividade de um quarto da área de pasto mal utilizado. Isso geraria 39 mil empregos adicionais e de melhor qualidade.
O valor adicional na produção agropecuária seria de R$ 4,2 bilhões por ano, representando um aumento de 16% em relação a 2010. As ONGs lembram que irregularidade ambiental e fundiária e a baixa eficiência, no entanto, aprisionam muitos produtores num dilema: sem regularização eles não conseguem acesso a crédito. Porém, para custear a regularização, parte das fazendas devem tornar-se mais produtivas – e, para isso, é preciso tomar crédito para investir.
Para estimular o uso mais eficiente e sustentável das terras na região, as ONGs sugerem acelerar a regularização das posses, mas sem subsídios, e cobrar efetivamente o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural e alocar as terras públicas devolutas.
O apoio a agricultura familiar na Amazônia também deve de ser revisto. Os 2.261 assentamentos federais somam mais de 30 milhões de hectares, com aproximadamente 400 mil famílias assentadas. Esse território ainda detém 15,8 milhões de hectares em floresta, dos quais 13,3 milhões (84%) concentram-se em apenas 600 assentamentos. No entanto, a grande maioria desses assentamentos tem sido implantada sem investimentos adequados em infraestrutura, serviços sociais básicos e assistência técnica. O resultado tem sido a combinação de degradação ambiental, conflitos sociais, inviabilidade econômica das atividades agrícolas ou extrativistas e, consequente, o abandono ou venda ilegal dos lotes.
Para estimular a conservação e a restauração florestal, a plataforma sugere que o governo federal institua pagamentos por serviços ambientais para os agricultores familiares, conforme já autorizado pelo novo Código Florestal e de outras fontes de financiamento. O pagamento deveria ser condicionado ao monitoramento da cobertura florestal por meio de imagens de satélite. Os indicadores de progresso social poderiam ser usados para identificar as áreas prioritárias para recebimento desses pagamentos.
Hoje existe a oportunidade de desenvolver uma economia florestal integrada, com prioridade para investimentos industriais baseados na integração lavoura-pecuária-floresta, para fins de energia, alimentos, fibras, madeira e ração. Esta abordagem integraria as cadeias para atingir maior produtividade da pecuária, diversificar a produção e reduzir riscos, ao mesmo tempo em que viabilizaria o uso e a recuperação de quase meio milhão de quilômetros quadrados de terrenos alterados e abandonados. Para isso é preciso combater a exploração ilegal de madeira, destinar terras públicas para o manejo florestal, estimular o reflorestamento e a modernização da indústria.
O texto aos candidatos alerta ainda para a necessidade de uma política eficaz e com escala que estimule a proteção de florestas nativas e que restaure áreas degradadas. Entre as sugestões para direcionar recursos para a conservação dos serviços ambientais estão, por exemplo, o condicionamento dos subsídios já existentes ao desempenho ambiental e a criação da Cide-Carbono.
A Cide (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico), um tributo federal que vigora hoje com alíquota zero, poderia trazer mudanças em setores com alto impacto ambiental e ao mesmo tempo gerar recursos para a recuperação de passivos ambientais. Os recursos gerados seriam utilizados para subvencionar atividades de recuperação florestal, que fixam carbono.
Clique aqui para ler o documento
Fonte: Amazõnia.org.br

bullying: “Agredir o outro, sem nenhuma razão, é uma maneira de atenuar a dor e o estado conflitivo”

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=82859

Bullying: “Agredir o outro, sem nenhuma razão, é uma maneira de atenuar a dor e o estado conflitivo”

Natasha Pitts
Adital
A alta prevalência de casos de bullying não é novidade nos dias de hoje. Com o advento da Internet e das redes sociais fica cada vez mais fácil intimidar, ameaçar e perseguir aqueles ou aquelas considerados mais frágeis ou que não se encaixam nos padrões de determinados grupos. Os meios eletrônicos têm sido, inclusive, usados para escolherem as vítimas, como é o caso de meninas que por serem "bonitas demais” e gostarem de se expor na Internet são agredidas e desfiguradas.
Em entrevista à Adital, o psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina (FASM), em São Paulo, Breno Rosostolato (foto), fala sobre o assunto. Um dos alertas do especialista é que, se não tratado na infância e adolescência, o bullyingpode deixar marcas profundas e a vítima pode crescer carregando traumas, ansiedades e conflitos enraizados na violência sofrida.
Nos casos da prática de assédio moral no ambiente escolar, o papel da escola é propiciar um espaço de confraternização, respeito e diálogo; trabalhar questões de cidadania e valores. Além disso, Rosostolato aponta que o envolvimento dos pais é importante para estabelecer uma parceria entre a família e a instituição. No entanto, antes de tudo isso, a prevenção continua sendo a melhor maneira de encarar o problema.
ADITAL - O termo bullying surgiu para a maior parte da população brasileira recentemente, mas vem sendo estudado em países da Europa há mais de 10 anos, quando se decidiu analisar o que estava por trás de muitas tentativas de suicídio por parte de adolescentes. Hoje, com o advento da Internet e das mídias sociais, é possível que haja mais casos de bullyingque no passado?
Bruno Rosostolato - Bullying é um termo inglês originário de bully, que significa "valentão” ou "tiranete” que, especificamente, é aquele que abusa de sua autoridade ou posição para oprimir os que dele dependem. O termobullying designa os atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender (em).
Esse comportamento agressivo possui uma forma direta, como apelidos, xingamentos, roubos e gestos ofensivos. A forma indireta está relacionada com difamações, isolamento e indiferença, ou seja, quando a vítima está ausente.
Acredito que, com o advento da Internet, casos de bullying estão sendo mais divulgados e propiciando ocyberbulling, vídeos divulgados em redes sociais das agressões cometidas, brigas em escolas ou nas imediações das mesmas. Os casos de bullyingvêm aumentando de maneira alarmante e preocupante.
ADITAL - Todo tipo de violência que acontece dentro do ambiente escolar pode ser consideradobullying? Essa prática tem características e traços específicos? Os recentes casos de meninas agredidas "por serem muito bonitas” podem ser considerados bullying?

BR - Saber identificar o bullyingé importante. Nem todo machucado ou arranhão é sinal de que a criança esteja sofrendo agressões. É sabido que os meninos, principalmente, possuem brincadeiras um pouco mais ríspidas. Natural. As crianças disputam brinquedos e, depois que passa o conflito, brincam juntas novamente.
Para se caracterizar o bullying, as agressões devem ser frequentes, ou seja, repetidas e intencionais. A criança passa por situações que causam dor ou sofrimento todos os dias. Se há desequilíbrio de poder é bullying. Se existe uma diferença de dois anos é preciso intervir.
Outros sinais que podem denunciar o bullyingsão quando a criança começa a dar muitas desculpas para não ir à escola. Chorar, ficar ansiosa e agitada são os sinais mais evidentes. Se a criança tinha um bom rendimento escolar e, subitamente, esse aproveitamento declina, é necessário averiguar o porquê disso. O baixo rendimento escolar pode ser consequência da violência sofrida na escola.
Os casos de violência contra meninas, com a absurda justificativa delas serem bonitas, pode ser consideradobullyinge uma violência contra a integridade do outro. Nesses casos específicos, a agressão possui a finalidade de desfigurar o outro, aniquilando-o internamente e externamente.
ADITAL - O que motiva uma criança ou adolescente a promover bullying? Pode-se dizer que o problema começa em casa a partir de falhas na educação, no ensinamento da ética e na imposição de limites por parte dos pais e/ou responsáveis?
BR - O problema pode começar em casa sim. A falta de limites, referências e orientação cria na criança e no adolescente agressor um estado emocional de abandono e desamparo. Agredir o outro, sem nenhuma razão, é uma maneira de atenuar essa dor e o estado conflitivo.
ADITAL - Esses menores têm um perfil definido (agressividade, dificuldades para obedecer a regras, baixo rendimento escolar, problemas familiares etc.)?

BR - Pessoas que possuem atitudes provocativas não gostam de ser contrariadas e costumam se impor através de atitudes violentas e agressivas. A dificuldade em se colocar no lugar do outro revela pouca apatia e, possivelmente, uma relação familiar sem vínculo afetivo. Não interiorizam regras, limites, normas e figuras de autoridade, desafiando-as.
ADITAL - E sobre as vítimas, existem alvos ou grupos específicos? São sempre homossexuais, obesas/os, tímidas/os ou qualquer criança/adolescente que não se encaixe nos padrões pode se tornar um alvo?
BR - Geralmente, as vítimas do bullying são pessoas frágeis, que não conseguem reagir e ter posicionamentos. Não possuem recursos para lutarem contra a agressão e aos poucos vão se rendendo às investidas do agressor. O aspecto emocional vai definhando e procuram fugir do problema, sem confrontar.
Um sentimento conformista toma conta das vítimas que, geralmente, são aquelas mais tímidas e retraídas, de preferência as que não oferecem resistência ao agressor ou que ele julga serem diferentes e que não façam parte do grupo de amigos dele.
ADITAL - Algumas notícias dão conta de que o bullying pode ser responsável por baixa autoestima, depressão, baixo rendimento escolar, dificuldades de relacionamento, mudanças de humor e até tentativas de suicídio. É possível que essas marcas da infância causem sequelas que permanecerão durante a vida adulta?
BR - Sim, é possível sim. As consequências dobullying para a criança, num primeiro momento, são baixa autoestima, choros frequentes, agitação e ansiedade, principalmente se esses comportamentos aparecerem um pouco antes da criança ir para a escola; medos inexplicáveis, insônia, falta de apetite e urinar na cama.
Num segundo momento, a criança apresenta estresse, dores de cabeça e pode apresentar um comportamento melancólico, ou seja, isolamento. A criança não brinca mais como antes, se afasta dos amigos e fica em casa, evitando sair. Dificuldade de concentração e baixo rendimento escolar, dificuldades de relacionamento e mudanças constantes de humor são agravantes que acompanham o estado emocional dessa criança.
Num momento mais acentuado do bullying, essa criança pode apresentar síndrome do pânico, automutilação, como arrancar o cabelo, se furar ou se cortar, depressão e até suicídio.
Na vida adulta, caso não aconteça uma intervenção terapêutica na infância e na adolescência, esse adulto pode reviver traumas, ansiedades e conflitos enraizados na violência sofrida anteriormente no bullying.
ADITAL - Nos países do Reino Unido, uma medida governamental garante a aplicação de políticas anti-bullying em todas as escolas. No Brasil, o que efetivamente poderia ser feito no âmbito escolar e familiar para combater essa prática tão prejudicial a crianças e adolescentes?
BR - O papel da escola é propiciar um espaço de confraternização, respeito e diálogo. Trabalhar questões de cidadania e valores, tão importantes para conscientizarem os alunos sobre direitos e deveres. A prevenção é sempre a melhor maneira de encarar o problema do bullying que, muitas vezes, é silencioso. Quanto mais cedo for identificado, mais eficazes serão os métodos de intervenção contra o ciclo conflituoso.
A escola deve ainda convocar uma reunião com os pais dos alunos envolvidos. O trabalho deve ser feito junto à família, pois o envolvimento dos pais é importante para estabelecer uma parceria entre a família e a instituição. Os pais devem ser exemplos para os filhos e devem participar da vida deles.
O professor possui um papel primordial para o combate ao bullying, pois, além de identificar autores, espectadores e alvos, deve intervir, imediatamente, numa situação de agressões gratuitas e propositivas entre os alunos. Esse posicionamento do professor é de respeito e, portanto, exemplar. Muitas vezes, se colocar no lugar da vítima é uma maneira satisfatória para distinguir a brincadeira inocente e a brincadeira agressiva. O professor deve comunicar o ocorrido à direção.
Atividades que estimulam a solidariedade e a cooperação são os instrumentos que o professor deve se valer nesse momento de conflito. Conversar com a sala de forma clara e direta sobre a importância de respeitar o colega. O trabalho didático deve proporcionar uma discussão sobre as diferenças, logo, trabalhando a tolerância.

Natasha Pitts

Jornalista da Adital

Restrições rigorosas à saúde reprodutiva mata e leva à prisão centenas de mulheres e meninas

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http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=82841

Restrições rigorosas à saúde reprodutiva mata e leva à prisão centenas de mulheres e meninas

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A salvadorenha María Teresa Rivera cumpre 40 anos de prisão depois de sofrer um aborto espontâneo. Mãe de um menino de cinco anos, não sabia que tinha voltado a ficar grávida até que a levaram numa ambulância da fábrica de confecções onde trabalhava e a ingressaram em um hospital. Sua sogra a encontrou sangrando caída no chão da fábrica. Um membro do pessoal do hospital informou a polícia sobre o caso. Esta chegou e começou a interrogar María Teresa sem a presença de um advogado.
Em julho de 2012, a julgaram e a declararam culpada por homicídio agravado, apesar de existirem graves deficiências nas provas apresentadas contra ela. Seu filho terá 45 anos quando ela sair da prisão. María Teresa Rivera é uma das tantas mulheres encarceradas por motivos relacionados à gravidez, incluídos abortos induzidos e espontâneos em El Salvador. Algumas já passaram mais de 10 anos na prisão. Ela, como a maioria das mulheres do informe da Anistia Internacional, "À beira da morte: Violencia contra las mujeres y prohibición del aborto en El Salvador”, lançado recentemente, procedem dos setores mais pobres da sociedade
A repressiva e defasada proibição total do aborto por parte do governo está destroçando as vidas de mulheres e meninas em El Salvador, empurrando-as para abortos inseguros e clandestinos ou obrigando-as a interromper perigosas gravidezes, declara a Anistia. As que colocam fim às suas gravidezes se arriscam a passar anos na prisão.
O recente informe descreve como a restritiva lei do país tem como consequência a morte de centenas de mulheres e meninas que se submetem a abortos clandestinos. A criminalização dessa prática também tem provocado que as que são suspeitas de que se submeteram a um aborto enfrentem longas penas de cárcere.
"A terrível repressão que sofrem as mulheres e as meninas em El Salvador é realmente espantosa e equiparável à tortura. É negado a elas seu direito fundamental de decidir sobre seu próprio corpo, e são castigadas duramente si se atrevem a fazê-lo", afirma Salil Shetty, secretário geral da Anistia Internacional.
"O mais terrível é que a proibição se estende inclusive para casos em que a vida da mulher grávida corre perigo, o que significa que as mulheres cujo estado de saúde as impede de concluir uma gravidez em condições de segurança enfrentam um dilema de impossível solução: se abortam podem ir para a cadeia, e, se não fazem, estão condenadas a morrerem".
Devido às restritivas leis do país, as mulheres e meninas declaradas culpadas de abortar podem passar entre dois e oito anos na prisão.
O informe documenta como, em alguns casos, as mulheres que têm abortos espontâneos são processadas e encarceradas durante décadas. Segundo as leis sobre homicídio, podem ser condenadas a até 50 anos de prisão.
A proibição do aborto inclusive se estende a meninas que são violadas. A lei obriga todas as mulheres a concluírem a gravidez, ainda que isso possa ter efeitos devastadores sobre elas, tanto física como psiquicamente.
Um médico que tratou de uma menina de 10 anos, que tinha sido violada, contou à Anistia Internacional: "Foi um caso bem difícil […] porque ela não entendia o que estava se passando […] Pediu-nos lápis de cores, de cera. E aí partiu o coração de todos [...] [dissemos: Se é uma menina! É uma menina'. E ela, ao final, não entendia o que estava esperando”. Obrigaram essa menina a continuar com sua gravidez.
A repressiva legislação contra o aborto em El Salvador é reveladora de uma discriminação muito mais ampla contra as mulheres e as meninas no país. Os estereótipos de gênero chegam inclusive às decisões judiciais, e os juízes, em várias ocasiões, questionam a credibilidade das mulheres. As atitudes discriminatórias contra as mulheres e meninas significam também que o acesso à educação sexual e aos métodos anticonceptivos é quase impossível.
"A inércia do governo salvadorenho na hora de abordar a discriminação contra as mulheres limita, gravemente, as vidas das mulheres e das meninas. Ao se negar a resolver, adequadamente, as fortes barreiras existentes para aceder a métodos anticonceptivos e a uma verdadeira educação sexual, condenam gerações de mulheres jovens a um futuro determinado pela desigualdade, a discriminação, a limitação de suas opções e pela restrição de suas liberdades", declara Salil Shetty.
"O mundo não pode permanecer passivo observando como as mulheres e meninas de El Salvador sofrem e morrem. O governo deve proporcionar às mulheres e meninas acesso a serviços de aborto seguros e legais quando a gravidez representar um risco para sua vida ou sua saúde, quando seja resultado de uma violação ou em casos grave malformação do feto."
El Salvador é um dos sete países da América Latina onde o aborto está totalmente proibido por lei, juntamente com o Chile, Haiti, Honduras, Nicarágua, República Dominicana e Suriname. Alguns destes países, como é o caso do Chile, já estão tomando medidas para modificar suas leis.
O caso de Beatriz, uma jovem de 22 anos procedente de uma zona rural de El Salvador, teve grande difusão no ano passado. Beatriz padecia de lúpus e outros problemas graves de saúde. Ficou grávida, mas ficou patente que o feto era anencefálico (carecia de uma grande parte do cérebro e do crânio), uma malformação mortal que não lhe permitiria sobreviver mais do que algumas horas ou dias após o nascimento. Foi negada a ela a possibilidade de abortar apesar de que o caso tenha chegado até a Corte Suprema. Em 03 de junho de 2013, após a intervenção da Corte Interamericana de Direitos Humanos e a difusão do caso pela imprensa internacional, o Governo de El Salvador autorizou, finalmente, que Beatriz fizesse uma cesárea precoce. O recém-nascido morreu horas depois.