quinta-feira, 31 de julho de 2014

“Atiram sobre nossas cabeças. Pá, pá, pá, pá. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz Kaiowá em área retomada

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“Atiram sobre nossas cabeças. Pá, pá, pá, pá. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz Kaiowá em área retomada

Inserido por: Administrador em 30/07/2014.
Fonte da notícia: Por Renato Santana, Assessoria de Comunicação - Cimi
Tão logo retomaram mais um naco de terra tradicional do tekoha - lugar onde se é -  Passo Piraju, nesta última segunda-feira, 28, o acampamento de oito famílias Kaiowá erguido no local passou a ser atacado por homens armados. “Atiram sobre nossas cabeças. Pá, pá, pá, pá. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz um dos indígenas presentes na área reocupada. No Mato Grosso do Sul, este é o “olá!” de fazendeiros antes do início de qualquer mesa de diálogo. 

Lideranças indígenas da Aty Guasu, a grande assembleia Guarani Kaiowá, pedem proteção aos Kaiowá de Passo Piraju. Com a retomada desta segunda, os Kaiowá ganham um pouco mais de espaço - não sabem ao certo o tamanho da terra recuperada - e inserem mais um episódio na história de uma luta emblemática pela terra Guarani Kaiowá travada numa das regiões mais violentas do estado.

Passo Piraju fica às margens do rio Dourados, entre os municípios de Dourados e Laguna Carapã, região de Porto Kambira. Os Kaiowá ocupavam cerca de 20 hectares, retomados a partir de 2004, e mantidos com a típica resiliência do povo entre fazendas de soja e cana, tiros de pistoleiros, criminalização de lideranças, além de sucessivas tentativas de reintegração de posse - a última teve um desfecho positivo aos Kaiowá no ano passado.   

A retomada é apenas mais um importante passo entre tantos que precisam ser dados para que os Kaiowá voltem a viver no território de onde foram expulsos na primeira metade do século 20. Fazendeiros incentivados pelo governo federal e apoiados pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) chegaram em Passo Piraju, conforme o relato dos mais velhos, e disseram para os Kaiowá irem embora da fazenda. O tempo passou e a reparação do erro cometido pelo Estado está longe de se efetivar pelo cumprimento dos termos da Constituição de 1988. 

Se por um lado o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo determinou a paralisação das demarcações de terras indígenas, por outro também não cumpre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado junto ao Ministério Público Federal (MPF) em 2007, para que fossem constituídos grupos técnicos com foco na identificação e delimitação das terras indígenas Guarani e Kaiowá no cone sul. 

O Relatório Circunstanciado de Identificação do tekoha Passo Piraju foi entregue pelo antropólogo responsável à Funai em outubro de 2011. O estudo estava no escopo das ações do Grupo de Trabalho (GT) Dourados-Amambaipeguá, um dos seis GT`s criado pelo órgão indigenista do Estado em 2008 por força do TAC. Porém, nenhum foi capaz de concluir os procedimentos apesar das inúmeras promessas feitas aos indígenas. 

“Plantem meus ossos aqui”  

Passo Piraju possui posto de saúde, escola, poço artesiano, roças e criação de animais. Em diversidade, os kaiowá produzem mais culturas do que os monocultivos de cana e soja do entorno. Se para o governo federal e agronegócio, para a Bolsa de Chicago ou para a China uma terra indígena é a representação do atraso econômico, aos Kaiowá é a certeza de não voltar para a situação de dez anos atrás quando viviam sem ter o que comer às margens da rodovia. Assim ainda vivem milhares de Guarani e Kaiowá pelo Mato Grosso do Sul afora: cercados por bilhões de dólares em soja, cana e gado sugados da terra ancestral, mas sem as famílias terem o que comer ou um pedaço de terra para plantar.

Durante ameaça de reintegração de posse em outubro de 2012, Carlito Kaiowá (na foto ao lado), liderança de Passo Piraju, declarou: “Se a lei vai ter o poder de tirar de nós o Passo Piraju, eu quero que a lei retire só as minhas crianças. Eu quero deixar a minha carne, o meu osso em cima dessa terra aqui. Eu vou deixar. Podem vir fazer o despejo. Só que daqui eu não saio. Eu quero que a minha morte, que minha catacumba seja no rio. Quero que minhas crianças, quando elas voltarem de novo, que elas cacem o meu osso para plantar de novo na aldeia. Eu quero que me plante na aldeia Passo Piraju, porque aqui eu nasci, daqui eu fui expulso, aqui que eu vou poiá minha catacumba”. 

Queimadas: Focos de calor aumentam 35% no Mato Grosso

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Queimadas: Focos de calor aumentam 35% no Mato Grosso

Conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Mato Grosso ainda é campeão de queimadas no país
Com o fim do período chuvoso, e a péssima prática de queimar o lixo, as queimadas urbanas também preocupam
Focos de calor aumentaram 35% em Mato Grosso em relação ao ano passado. Conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Estado é campeão de queimadas no país.
Entre janeiro e julho, Mato Grosso registrou mais de 6,8 mil focos de queimadas. Durante o mesmo período de 2013, o Estado havia acumulado 5 mil ocorrências.
Até agora, Mato Grosso continua como o que mais registra focos de queimadas no país. Para fins de comparação, Tocantins, que ficou com a segunda colocação no ranking das queimadas, teve 3,6 mil focos registrados, pouco mais da metade do que o contabilizado em Mato Grosso.
Somente no mês de julho, mais de 1,3 mil focos de queimadas foram registrados no Estado.
Conforme o Sistema de Monitoramento de Queimadas por Satélites do Inpe, até agora os satélites captaram 28.273 focos de calor em todo o país. Um aumento de 44% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o sistema captou 19.553 focos.
Com o fim do período chuvoso, e a péssima prática de queimar o lixo, as queimadas urbanas também preocupam. Na Capital, a Prefeitura de Cuiabá, através do Programa de Combate às Queimadas montou uma força-tarefa para tentar reduzir os índices.
De acordo com o coordenador do programa, Oscar Amélito, nos últimos 25 dias foi registrado 45 focos de calor no município. Segundo ele, uma melhora em relação a anos anteriores.
Ainda assim, a Prefeitura notificou mais de 800 terrenos para que os proprietários façam a limpeza e evitem que o local pegue fogo. Dez proprietários já foram multados pela Secretaria de Meio Ambiente do município.
Conforme Oscar, a população tem se conscientizado e ajudado na limpeza. Segundo ele, a prefeitura também vem fazendo a sua parte com o trabalho preventivo, que começou desde o dia 10 de junho, limpando ruas, avenidas, praças e estradas. O Programa também incui terrenos nos quais não há notícias sobre os proprietários.
As pessoas que tiverem uma área maior e precisarem de licença especial para efetuar a limpeza deverão procurar a prefeitura para a autorização da limpeza com máquina.
Caso haja fogo ou fumaça o cidadão pode denunciar através do telefone de emergência 193. A denúncia sobre terrenos baldios pode ser feita pelo telefone (65) 3616-9614.
Por: Gustavo Nascimento
Fonte: Diário de Cuiabá 

Livro-reportagem “Marãiwatsédé: A trajetória Xavante na luta pela terra” é apresentado em Congresso de Jornalismo Investigativo

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http://www.axa.org.br/?p=4302


Livro-reportagem “Marãiwatsédé: A trajetória Xavante na luta pela terra” é apresentado em Congresso de Jornalismo Investigativo

Confira a entrevista com Sckarleth Martins, uma das autoras do livro

Por Maíra Ribeiro
Entre os dias 24 e 26 de julho de 2014, ocorreu o XIX Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) em São Paulo. No último dia, foram apresentados os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) selecionados pelo Congresso. Um deles foi o livro-reportagem “Marãiwatsédé: A Trajetória Xavante na Luta pela Terra”, das jornalistas formadas pela UFMT de Barra do Garças, Sckarleth Alves Martins e Dandara Morais. Dandara faz parte do Grupo de Comunicação da Articulação Xingu Araguaia (AXA).
O livro relata e esmiuça o histórico do povo Xavante de Marãiwatséde, que foi deportado de suas terras em 1966, poucos anos após o início do contato com não-indígenas. Seu território deu então lugar a um dos maiores latifúndios da época, a Fazenda Suiá-Missu, no nordeste mato-grossense. Nas décadas seguintes, o povo de Marãiwatsédé lutava pela própria sobrevivência e pelo retorno ao seu território tradicional. Somente no ano de 2012, após grilagem e desmatamento de suas terras, conflitos diretos e arrasto de processos judiciais, finalmente houve a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé e o povo Xavante está começando a usufruir integralmente do seu território (leia mais na nossa reportagem especialMarãiwatsédé: do sonho à luta, da conquista ao sonho).
Tivemos a oportunidade de conversar com Sckarleth Martins, que apresentou o trabalho no Congresso da ABRAJI. Ela nos contou um pouco sobre o projeto de pesquisa e seus desdobramentos e a importância de um jornalismo comprometido que divulga as lutas populares, em particular dos povos indígenas, que são pouco noticiadas e repercutidas.
AXA – Do que se trata o livro-reportagem “Marãiwatsédé: A Trajetória Xavante na Luta pela Terra”, resultado do TCC seu e de Dandara Morais?
SCKARLETH MARTINS – O livro-reportagem é um resgate da história desse povo, ao mesmo tempo que assume um caráter denunciativo. Trata-se de um resgate histórico por conta da riqueza de detalhes sobre a vivência deste grupo Xavante, característico por sua memória oral viva e pulsante. É um resgate principalmente para nós, que, por vezes, somos alheios aos modos de vida dos povos tradicionais e à violência a que foram (e são) submetidos desde o contato com os não índios.
À primeira vista, a história pode ter um tom meio fabuloso, porque é difícil aceitar que o Estado brasileiro tenha sido conivente com uma situação de violência por tanto tempo. Um povo que é transferido de sua terra ancestral para atender a interesses inventivos do negócio agropecuário. Em detrimento da lisura com os gastos públicos, os invasores foram agraciados com verbas federais para usufruir de um território tradicional, enquanto os Xavante ficaram à míngua perambulando por entre terras de parentes. Quando, finalmente, conseguem reaver seu território, depois de mais de quarenta anos de exílio, são postos em uma situação de conflito com pequenos produtores que, também, foram enganados. É uma trama que, mesmo repleta de reviravoltas, possui um apego ao real muito pungente.
AXA – O que as motivou a escolher este tema?
SCKARLETH – Quando estávamos no processo de pesquisa sobre o Trabalho de Conclusão de Curso, a escolha foi quase que intuitiva. Tínhamos o interesse de produzir um produto jornalístico, e a época da submissão do projeto na Universidade coincidiu com o momento da Desintrusão no Território Indígena. De fato que, quando acompanhávamos a cobertura local dos veículos de mídia, havia muita informação desencontrada e de modo muito superficial. Logo, decidimos nos aprofundar nas investigações sobre este acontecimento inédito, que é a retirada de não-índios de Terras Indígenas.
AXA – Como foi o contato e a receptividade do povo de Marãiwatsédé com a pesquisa?
SCKARLETH – Por sorte de jornalista em início de carreira (risos), tínhamos realizado um trabalho na disciplina de radiojornalismo no qual entrevistamos o filho do cacique, o Cosme Rité, que é diretor da Escola Estadual Indígena Marãiwatsédé. Nessa época, a escola fazia parte da comarca de ensino de Barra do Garças, e o Cosme sempre ia à cidade para resolver pendências burocráticas no Centro de Formação e Atualização dos Profissionais de Educação Básica, o Cefapro. Por conta do interesse do Cosme pela educação, apresentamos a nossa ideia de realizar um livro-reportagem sobre a história dos Xavante Marãiwatsédé, e antes mesmo de pedirmos autorização para visitar a aldeia ele nos convidou para uma festa junto ao seu povo. Esta foi a primeira mostra de confiança que ele depositou em nós. O nosso trabalho seria impossível se não tivéssemos a confiança e o apoio dos Xavante.
AXA – Como foi a ida para a aldeia?
SCKARLETH – Quando, enfim, nos sentimos preparadas para visitarmos a aldeia nos demos conta do desafio que seria superar a barreira da língua. Grande parte dos anciãos Xavante não falam português, e eles eram de suma importância para o trabalho, pois viveram em Marãiwatsédé antes do contato com os não índios e sabiam como era a vida longe de sua terra ancestral. Nesta etapa contamos com auxílio do diretor Cosme, que traduziu as entrevistas e nos apresentou à comunidade.
Quando chegamos na aldeia, todo um mundo de estereótipos caíram por terra. Sabe aquele olhar meio mítico sobre os povos tradicionais em documentários e obras de literatura? Pois bem, a realidade é bem menos lúdica, ainda que colorida. Em Marãiwatséde nos deparamos com uma sociedade que realmente sabe o significado de viver em comunidade. À época, os Xavante estavam a poucos meses vivendo em seu território sem a presença de invasores. Estavam, também, passando por uma crise de desnutrição muito grave, suspeita de envenenamento de sua água, e ainda assim, havia um certo ar de esperança e alegria por terem, enfim, retornado para sua terra ancestral. Era perceptível este mix de emoções em cada conversa, em cada ritual que presenciamos.
AXA – De modo geral, como foi o processo de pesquisa e a construção do livro?
SCKARLETH – Como tínhamos que escrever sobre uma comunidade tradicional, fomos pesquisar o que já havia sido feito sobre os Xavante e demais povos. Nesta etapa, o trabalho voltou-se para leituras mais antropológicas e de estudos culturais. Com relação à pesquisa documental enfrentamos muitas dificuldades para ter acesso às informações junto aos órgãos governamentais. Eles se portaram de forma muito reticente e resistente, mesmo com a Lei de Acesso à Informação em vigor. Bem, depois das entrevistas e da garimpagem de documentos, criamos um banco de dados com todas as informações sobre os Xavante Marãiwatsédé, com datas, nomes do envolvidos na transferência deste povo e valores cedidos pela Sudam aos invasores. Depois dessa organização prévia, escrever o livro foi fluido porque sempre recorríamos aos documentos para conferir alguns dados e às entrevistas.
Pelo fato da história ter muitos reveses, preferimos por uma ordem não cronológica dos fatos. O primeiro capítulo relata os desafios da vivência atual dos Xavante, com o reflorestamento da área, a saúde da comunidade, a educação etc. No segundo capítulo, nos remetemos à vida em Marãiwatsédé antes do contato com os não índios. Nesta etapa resgatamos um pouco da história dos primeiros invasores da área, até a chegada das grandes companhia internacionais e da exploração desenfreada do solo com incentivos do governo federal. No último capítulo contamos sobre como os Xavante se organizaram para recuperar seu território e se reencontrarem com os egressos de Marãiwatsédé.
AXA – Quais foram os desdobramentos e resultados do livro?
SCKARLETH – O resultado que esperamos deste trabalho, de fato, é que a história de luta do povo Xavante alcance um sem número de pessoas. Muitos povos foram e ainda são exterminados física e culturalmente. Não temos de ser tolerantes com os privilégios de pessoas privilegiadas em detrimento dos direitos das minorias.
Este livro foi selecionado pela ABRAJI para ser apresentado no seu 9º Congresso. A Abraji priorizou os Trabalhos de Conclusão de Curso que, na sua produção, fizessem uso de métodos investigativos e contato direto com as fontes de informação. O livro ainda não foi publicado, então participar deste evento foi uma grata surpresa e uma grande conquista, não só para nós que produzimos o trabalho, mas para a história que, mais uma vez, pôde ultrapassar os limites da universidade. Estamos estudando algumas plataformas de financiamento coletivo e editoras. Além do Congresso da Abraji, apresentamos, também, um artigo científico no Encontro Nacional de Jornalismo Ambiental, em Porto Alegre-RS. Este trabalho realiza uma análise de cobertura de três veículos de mídia online, com linhas editorias diferentes, sobre a ocupação da Câmara dos Deputados durante o Abril indígena de 2013. A ideia é questionar os modos de relatar um mesmo acontecimento em cada veículo e os possíveis desdobramentos.
AXA – O que lhe chamou a atenção na apresentação do trabalho no Congresso da ABRAJI?
SCKARLETH – É curioso notar como os povos tradicionais despertam a curiosidade das pessoas. Às vezes com um tom meio pitoresco e romântico, mas sempre muito afoitas por informação. Durante o Congresso da Abraji, diversos jornalistas discutiram a respeito do processo de apuração não se basear só no trabalho massante de ficar em frete ao computador revisando planilhas, mas se dar no contato com as fontes, com os envolvidos nos acontecimentos que se pretende investigar. No painel que apresentei o livro-reportagem, por exemplo, os demais trabalhos relataram as mesmas dificuldades com relação a obter informações junto aos órgãos oficiais e trocamos experiências sobre como superar as dificuldades.
AXA – Havia outros trabalhos semelhantes à temática tratada por vocês no Congresso?
SCKARLETH – Todos os trabalhos deste painel foram voltados para investigações das situação de conflito e de fragilidade das minorias. Havia um trabalho sobre a dignidade humana dos homoafetivos e as descobertas científicas sobre as sexualidades. Um sobre a vida no presídio feminino no interior do estado da Bahia. E outro sobre a contaminação de uma comunidade do interior da Bahia por metais pesados.

AXA – De que forma vocês acreditam que este trabalho pode ajudar a comunidade de Marãiwatsédé?
SCKARLETH – Nós não cremos que, com este trabalho, nós mudaremos o mundo. Ainda assim o fizemos acreditando ser possível! Se o livro-reportagem possibilitar um movimento de reflexão por parte dos leitores, já nos será de grande valia. Mas, se conseguirmos motivar outros profissionais e entidades a se dedicarem às causas das minorias, será uma grata surpresa.
AXA – No Brasil, como você enxerga o alcance do jornalismo que dá voz às lutas populares e às comunidades?
SCKARLETH – O jornalismo por si é um instrumento de resistência e denúncia social. No Brasil, desde a redemocratização em 1988, tem crescido o número organizações do terceiro setor voltadas às causas de minorias e às causas ambientais. De fato, é um movimento ainda pequeno, em vista do alcance e da receita das grandes corporações, mas as novas mídias surgem neste contexto como plataforma de resistência e pluralidade. Ainda que, com a democratização dos meios de comunicação já existam novos horizontes, cremos que há de se desenvolver um trabalho de educação midiática da sociedade brasileira. Se possível, seremos ‘mais’ democráticos, quando, de fato, a informação não for um privilégio, mas um direito.
Imagem: Divulgação internet

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Entre os maiores exportadores de soja mundiais, MT reúne 5 candidatos ao governo

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http://amazonia.org.br/2014/07/entre-os-maiores-exportadores-de-soja-mundiais-mt-re%C3%BAne-5-candidatos-ao-governo/


Entre os maiores exportadores de soja mundiais, MT reúne 5 candidatos ao governo

Um dos maiores produtores e exportadores de soja do mundo, o estado de Mato Grosso, que também se destaca pela venda internacional de milho, algodão e carne bovina, terá cinco candidatos na corrida pela disputa do governo, em 2014. Apesar de ser o terceiro maior estado do Brasil, Mato Grosso tem apenas 3,18 milhões de habitantes distribuídos em 141 municípios.
O senador Pedro Taques (PDT), de 46 anos, é candidato ao governo pela coligação Coragem e Atitude para Mudar, formada pelo PP, DEM, PSDB, PSB, PPS, PV, PTB, PSDC, PSC, PRP, PSL, PRB e o PDT. Formado em direito, já foi procurador da República, cargo que o tornou conhecido pelo combate a grupos de extemínio e ao crime organizado na Amazônia. Em 2010, pediu exoneração do Ministério Público Federal para disputar a eleição ao Senado, na qual surgiu como surpresa e acabou eleito.
O médico Lúdio Cabral (PT), de 43 anos, representará a coligação Amor a Nossa Gente, composta pelo PMDB, PROS, PR e PcdoB e o PT. Com carreira política recente, iniciada em 2004, quando foi eleito vereador da capital, reelegeu-se ao cargo em 2008. Em 2012, disputando a prefeitura de Cuiabá, chegou ao segundo turno, perdendo com 45,5% dos votos válidos.
O deputado estadual José Geraldo Riva (PSD), de 55 anos, é o candidato da coligação Viva Mato Grosso, que conta com o apoio de PTC, PTN, PEN, PRTB e SD. Formado em direito, foi prefeito de Juara, município no norte do estado, entre 1983 e 1988, e, depois de ser sido eleito deputado estadual em 1994, conseguiu se reeleger quatro vezes.
José Marcondes dos Santos Neto, o Muvuca (PHS), da coligação Mobilizar e Humanizar, é o candidato mais novo na disputa pelo cargo de governador de Mato Grosso. Com 39 anos de idade, atua como jornalista e conta com o apoio do PMN.
O advogado José Roberto Cavalcante, ou Dr. Roberto, como aparecerá na urna, de 52 anos, é o candidato próprio do PSOL. Somados, os cinco candidatos declararam previsão de gastos de até R$ 110 milhões na campanha deste ano para o cargo de governador.
Mato Grosso tem cerca de 2,2 milhões de pessoas aptas a votar, que representam 1,53% do total de eleitores do país. Apenas 5,4% deles têm curso superior completo como grau de instrução e 31,7%, o ensino fundamental incompleto. Os analfabetos são 5,1% dos eleitores. Além das cinco candidaturas ao governo, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) recebeu 328 pedidos de registro de candidatura para deputado estadual e 105 para deputado federal.
Por: Danilo Macedo
Fonte: Agência Brasil – EBC
Edição: Talita Cavalcante

foto do dia - A vida não é um jogo, a guerra sim!

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/533726-breves-do-facebook-30-07-2014

Tássia Monte Santos compartilhou a foto de barakacity.
A vida não é um jogo, a guerra sim!

Os fundos abutre são um perigo

carta maior
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Os-fundos-abutre-sao-um-perigo/7/31494

Os fundos abutre são um perigo

Embaixador passou pela Argentina depois de ser convidado para um seminário sobre as Malvinas organizado pelo ex-ministro da Educação Daniel Filmus.


Martín Granovsky - Página/12
Arquivo

Buenos Aires - Ele passou pela Argentina depois de ser convidado para um seminário sobre as Malvinas organizado pelo ex-ministro da Educação Daniel Filmus, secretário encarregado da área especial na Chancelaria. Sacha Llorenti, dirigente de confiança de Evo Morales e embaixador da Bolívia nas Nações Unidas, havia dialogado com este jornal antes da cúpula do Grupo dos 77 mais a China, realizada na Bolívia, e voltou a conversar após a cúpula.

 
O documento emitido pelo G-77 é um detalhado texto de 242 pontos. Ele pode ser acessado neste link: http://bit.ly/1ouDIW5.

“Buscamos a construção de um mundo multipolar, disse Llorenti, que na Bolívia era um dos articuladores dos movimentos sociais. “E essa construção significa, é claro, a possibilidade de uma transformação global. Não falo apenas de intercâmbio comercial. Falo também do sistema financeiro internacional e da mudança da estrutura das próprias Nações Unidas. Seria a consolidação de um novo paradigma de desenvolvimento”.


Como seria esse novo paradigma?

Esta é uma tarefa pendente. Não tanto em termos econômicos, mas no modo como o mundo e o sistema financeiro estão organizados. Minha perspectiva como presidente do G-77 é global. Esse bloco, o maior da ONU, discute a fundo, e às suas discussões se soma a China, o que implica uma série de coincidências em termos de posicionamento diante do cenário das Nações Unidas. Permite contar com uma posição muito importante em questões de contrapeso. Peço desculpas se não avanço nesta resposta, pois minha condição de presidente do G-77 me impede de expressar algumas opiniões.

Mas a cúpula do G-77 em Santa Cruz de La Sierra já aconteceu. Não é um segredo.

Aconteceu, é claro, e o bloco se fortaleceu justamente no ano em que a Bolívia exerce a presidência. Essa era a nossa função. Saíram pontos importantes.
 
Primeiro, foi a reunião mais importante em uma década. Segundo, para a Bolívia, foi a reunião internacional mais importante que já organizou. Terceiro, a Declaração de Santa Cruz é um documento vivo, o mais progressista já firmado consensualmente pelo grupo. Em pouco tempo, esse texto já se materializou em fatos mais concretos do que meramente declarativos. O grupo se posicionou de maneira muito forte, a ponto de fazer um pronunciamento específico dirigido ao juiz norte-americano pelos fundos abutres. Nós dissemos na Bolívia, e insistimos nisso, que os fundos abutres são um perigo para todos os processos futuros de reestruturação da dívida e que não se deve permitir que esses fundos paralisem as atividades de reestruturação da dívida dos países em desenvolvimento, nem privem os Estados Unidos do direito de proteger seus povos. Ter falado diretamente ao juiz é uma ação concreta e inédita. O segundo caso é o assunto das Malvinas. Pela primeira vez, o G-77 fez um discurso em nome dos 13 países. Isso nunca aconteceu antes. Dou ainda outro dado. Saiu um informe dos Estados Unidos que qualifica alguns países bem e outros mal. Pois bem: a declaração diz que rechaça os pronunciamentos unilaterais. Questiona critérios. Não fica jogada em um gabinete. O presidente Evo queria fazer um relançamento do G-77. Creio que ele tenha conseguido. A vitalidade deu mais relevância ao grupo. Não se limita a esses corredores cinzentos das Nações Unidas, mas se coloca em relação às pessoas que nós representamos. Transforma-se em uma série de fatos políticos e sociais que se seguirão.

Se seguirão mesmo?

Em poucos dias. Teremos na Bolívia uma reunião do G-77 com ministros de industrialização nos dias 25 e 26 de agosto para tratar do tema da governança de recursos naturais e industrialização. Os países membros da América Latina, África e Ásia consideram isso fundamental. Nós na Bolívia nacionalizamos, o que implicou uma transformação revolucionária no país. Com o gás, incrementamos nossa renda de 300 milhões de dólares anuais para 6 bilhões. Incrementamos as reservas de 1,7 bilhão de dólares para mais de 15 bilhões. A Bolívia é um dos países que mais tem reservas internacionais per capita. Isso permitiu investimentos em infrasetrutura, em educação, em tudo... Em setembro, faremos uma reunião de chanceleres do G-77. Logo, em outubro, emitiremos um posicionamento contra o bloqueio de Cuba. Participaremos dos debates da ONU sobre a agenda de desenvolvimento pós-2015, incluindo o desenvolvimento sustentável e a mudança climática. O G-77 também mostra repúdio à espionagem norte-americana. Enfim, uma série de temas que queremos ressaltar e trabalhar conjuntamente para que a Declaração de Santa Cruz não seja apenas um fato diplomático e político, mas, no melhor dos casos, um fato social. O mesmo acontece quanto às Malvinas. Ao falar em Ushuaia com os ex-combatentes e com os habitantes da Terra do Fogo, sentimos que a declaração teve repercussão na vida cotidiana.

Em outubro, a Bolívia realizará eleições presidenciais.

A meta é superar os 70% dos votos.

É uma meta realista?

É otimista porque os frutos da revolução boliviana são palpáveis. Estão chegando a cada canto do país. Além dessas conquistas, existe uma consciência coletiva do povo boliviano de que não podemos voltar ao passado. Estamos convencidos de que a consciência do povo boliviano acompanha o presidente Evo e o processo revolucionário. É claro que a melhor forma de fazer campanha é mostrar tudo o que foi feito, e isso não se pode esconder. Ninguém, nem o opositor mais obcecado, pode negar as transformações da Bolívia. Já existe um projeto de país, uma agenda de país, e isso gira em torno das propostas do meu partido, o Movimento al Socialismo.

Que tipo de partido o MAS é hoje? Clássico, semelhante ao que os partidos europeus eram nos 1960 ou 1970?

O MAS é um partido que não tem um ponto de comparação na região. Na realidade, é uma confederação de movimentos sociais. Na área urbana, tem uma estrutura mais clássica, partidária, mas está cheia de vida porque vai se regenerando através dos sindicatos e das federações de camponeses e trabalhadores. Agora, a Central Obrera Boliviana faz parte da aliança do governo, assim como a Confederação de Mulheres e a Federação de Mineiros. É realmente um momento histórico com o qual a esquerda dos anos 1970 nem sequer sonhou.
 
Os dirigentes e seus quadros vão se revezando de acordo com as decisões das organizações sociais. Muitos estão na estrutura do poder. Não é que haja uma aliança do governo com os movimentos sociais. Os movimentos sociais são o governo.

 
Quando esse fenômeno começou?

O momento chave é quando Evo assume a presidência dos sindicatos do trópico de Cochabamba, no final dos anos 1980. Evo lê os momentos políticos do país como dirigente político e sindical, e como articulador de movimentos sociais. Na reunião de Trinidad da Federação de Campesinos, em 1996, surgiu esse instrumento político pela soberania dos povos. É um salto qualitativo muito importante na história sindical. Antes, falava-se muito da independência e do pluralismo ideológico existente no seio dos sindicatos. Mas se o pluralismo se entende dessa maneira, um pró-imperialista pode estar ao lado de um revolucionário ou de um nacionalista. Foi uma lógica aplicada para levar aos sindicatos qualquer proposta ideológica. Nos anos 1990, o MAS se constrói em torno de Evo. Evo encarna o processo revolucionário. Isso ocorre poucas vezes na história. Bem, estamos diante de um dos casos mais raros. Nem sequer a mesquinhez do cotidiano pode negar que Evo Morales é a grande figura dos últimos 500 anos, e nas pesquisas ele sai como o melhor presidente da história boliviana.

Por que a relação com o Chile está tão mal, em função da saída para o mar?

Quando entramos para o governo, em 2006, confiamos em um diálogo sincero, franco e construtivo com o Chile.

Eram os últimos meses de Ricardo Lagos como presidente.

 
Sim. Tínhamos uma agenda de 13 pontos. Mas depois de Lagos, de Michelle Bachelet, de Sebastián Piñera e agora novamente de Bachelet, assistimos a uma política no mínimo diversionista por parte do Chile. Prorroga e adia decisões sobre a saída ao mar da Bolívia, tema central das relações bilaterais com Chile e principal tema da diplomacia boliviana, classificado pela OEA como interesse regional. A Bolívia tomou a decisão de apresentar uma demanda internacional na Corte Interamericana de Justiça sobre a base dos compromissos chilenos de outorgar à Bolívia uma saída para o Oceano Pacífico. Não é uma mudança abrupta. É por uma resolução necessária desse tema. Falamos durante décadas e décadas. Até Augusto Pinochet fez uma proposta de corredor em direção ao Pacífico. E como é que os atuais governos democráticos não podem fazer uma proposta? Se existe algum povo que pode entender nossa demanda é o povo argentino. Assim como para eles as Malvinas são um tema da alma (vejo que eles falam sobre as ilhas e seus olhos brilham), a saída para o mar é a mesma coisa para os bolivianos. Levo da argentina uma tatuagem na alma. Reitero: as declarações, as palavras, os debates nos quais se luta até a morte por uma vírgula cobram algo de racional quando têm relação com a realidade. Em Ushuaia, vi como muitas das brigas na ONU valem a pena. No nosso caso, tínhamos 400 quilômetros de costa, arrebatados pelos interesses britânicos acompanhados pela oligarquia chilena. É um dos temas que permitirá alcançar o anseio da construção da integração latino-americana. Se tenho que nomear três pontos pendentes necessários para a integração plena: um é o bloqueio a cuba; outro é o das Malvinas, que é uma causa latino-americana; e um terceiro é a saída para o mar da Bolívia. Se não resolvemos esses temas juntos, a integração avançará, mas terá insuficiências.


A Bolívia continua interessada em ser membro pleno do Mercosul?

Sim. E, além disso, seria um fato natural. A Bolívia é caminho obrigatório na rota do sul ao norte e do corretor transoceânico.

Vocês esperam alguma coisa depois que o avião presidencial foi obrigado a pousar em Viena porque outros aeroportos negaram o direito de aterrissagem?

O que aconteceu foi um sequestro. O sequestro é desviar o curso de um avião previamente autorizado, quando esse avião tem imunidades diplomáticas, ou seja, é inviolável, e leva dentro dele um presidente. O avião teve que fazer uma aterrissagem na Áustria porque foi obrigado. Apresentamos uma nota para que o alto comissário dos Direitos Humanos investigue, pois a manobra pôs em risco a vida do presidente. Ainda estamos esperando que avaliem o tema. Está claro que quem esteve por trás foram os Estados Unidos. O caso, assim como outros, revela como o mundo está organizado. Para a soberba dos Estados Unidos, o multilateralismo, o direito internacional, as imunidades ou a inviolabilidade dos chefes de Estado são estória.
 
Vivemos em um mundo no qual existem alguns nos submetemos ao direito internacional e outros estão acima dele. Há pouco tempo, Barack Obama, em um discurso em Weast Point não muito repercutido, disse que existe uma nação indispensável: os Estados Unidos. O resto somos, portanto, dispensáveis? Ele reafirma a lógica do excepcionalismo. Se eles são excepcionais, o resto somos inferiores. O discurso de Obama foi pronunciado em uma academia militar. Desnuda a forma como o mundo está organizado.  Se vamos falar da integração latino-americana, é preciso se basear na identidade. Reconhecer a si mesmo em relação com os demais. Isto é, temos que nos opor a essa lógica imperial que domina o mundo. A palavra “imperial” talvez esteja desgastada, mas devemos prestar muita atenção porque ela revela a forma de organização do mundo.
 
Originalhttp://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/1-251672-2014-07-28.html
 
Tradução: Daniella Cambaúva


Créditos da foto: Arquivo
PARCERIAS 

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Nipsters: o nazismo usa máscaras na Alemanha

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http://outraspalavras.net/blog/2014/07/29/nipster-o-nazismo-usa-mascaras-na-alemanha/


Nipsters: o nazismo usa máscaras na Alemanha

Ao invés de rechaçar cultura pop, neonazis tentam apropriar-se dela. Consomem como “hipsters”, vestem-se de negro e… agridem violentamente um número cada vez maior de imigrantes
Cauê Seignemartin Ameni
O atual movimento neonazista alemão vem buscando novos recrutas na subcultura dos jovens com barbas, sacolas de pano, óculos antigos e faixas com slogans nazistas. Ao se deparar com o número cada vez maior dos chamados hipster em manifestações anti-imigrantes organizadas pela extrema-direita, a mídia local apelidou-os de “nipsters”, relata longa reportagem de Thomas Rogers para revista Rolling Stones.
Assim como a propaganda foi essencial ao regime do Terceiro Reich, as redes sociais têm sido a principal plataforma do movimento. Os jovens usam intensamente o YouTube, Tumblr, Instagram e outras redes sociais para ganhar mais apoio na Alemanha, disse à revista Patrick Schroeder, um dos líderes do movimento no nordeste da Bavária, onde pretende dar um rosto social e político mais descolado à extrema-direita alemã.
Schroeder, descreve a reportagem, tem as laterais do cabelo raspado, só veste preto e usa uma bandana com as inicias H8 – que significa “Heil Hitler”. Ele ficou conhecido com seu programa no canal nazista online FSN.tv, onde apresenta, ao lado de um mapa da Alemanha de 1937, as novidades sobre o movimento nazista. Procura mostrar uma extrema-direita menos ameaçadora, dizendo que pessoas de outras subculturas, incluindo hip-hop, poderiam se juntar ao grupo sem alterar seu visual.
“Se a definição do nipster é de alguém que pode viver no mainstream”, explicou Schroeder à Rolling Stone, “então vejo isso como o futuro do movimento”. Para ele “se o Terceiro Reich fosse tão ruim, teria ruído”. Schroeder organiza um show anual de bandas nazistas conhecido como Live H8 concert, mas está furioso por ter seu evento impedido pelas autoridades ano passado. “Neste país, se você tem a opinião errada, todo mundo está contra você”, lamenta.
Para Andry Knape, 28, membro chefe da Junge Nationaldemokraten (JN), a ala jovem do Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), o maior partido de extrema-direita do país, não há contradições em usar um visual americano e ter como objetivo “preservar a cultura alemã”. Fundado em 1964 por hitleristas, o NPD tem envolvido cada vez mais jovens. Como Scroedes, Kanpe quer dar ao “nacionalismo” uma cara mais palatável, conta a reportagem. Para ele, que cresceu sobre influência da cultura pop norte-americana, a ideia de policiar os hábitos culturais dos jovens é bobagem. Ele prefere manipular a cultura com o intuito de “usá-la para trazer mais jovens ao rebanho”. “Nós não queremos nos desligar”, diz Knape à revista, sobre a cultura hipster. “Eu vejo rap e hip-hop, por exemplo, como uma maneira de transportar a nossa mensagem”. 
O grupo de Knape vem obtendo grande audiência: “A internet nos permite alcançar as pessoas que não alcançamos na rua”. Seu último vídeo que viralizou na rede, apresenta pessoas dançando com máscaras, em meio a carros destroçados, com cartazes dizendo “Tenha mais relações sexuais com nazistas”. No canal também é possível  assistir homens encapuzados tagarelando como fazer diversos pratos veganos.
Michael Schaefer, 31, também membro do JN, diz que: “Nós assumimos o nipster. Quero dizer hipster nacionalista, não hipster nazista”. Segundo o livro de Mark Greif, What Was Hipster?, o termo hipster refere-se a um consumidor que “se alinhou com a rebeldia da subcultura e com a classe dominante, e assim, abriu um canal venenoso entre os dois”. Nos últimos anos, uma série de rappers de extrema-direita surgiu na Alemanha, como Makss Danos e Dee Ex. Eles exaltam as supostas virtudes da identidade alemã em suas letras. Assim como o techno neonazista, do DJ Adolf, lembra Thomas Rogers.
O jornalista alemão John Riceburg explica que os nazistas sempre tentaram copiar as subculturas juvenis, dando os exemplos dos skinheads, que são originalmente “uma espécie de subcultura proletária da juventude”. Em entrevista à RT, Weyman Bennet, secretário União Anti-Fascista, disse: “Eles estão tentando integrar as ideias nazistas e fascistas como algo aceitável. Vimos isso na década de 70 – quando parte dos primeiros punks começaram a usar suásticas”. No início dos anos 70 até os anos 90, o movimento fascista tentou se “reconectar na cultura dos jovens”, acrescentou.
As autoridades e a população tem reagido ao fenômeno. O Tribunal Superior está preparando uma audiência para tentar proibir a face pública do movimento: o Partido Nacional Democrático da Alemanha, composto por vários grupos de extrema-direita em todo país. Em 2014, com 1% dos votos, ele conseguiu pela primeira vez um assento no Parlamento Europeu. Em abril, uma marcha contra imigrantes feita pelo NPD em Berlim foi bloqueada com sucesso por milhares de manifestantes. Em Munique, está em curso o julgamento do membro do National Socialist Underground, célula de extrema-direita, acusado de matar 10 pessoas entre 2000 e 2007.
Com o vestuário neonazista mais arrumado é difícil de reconhecê-los, diz Cynthia Miller-Idriss, professora norte-americana que vem realizando pesquisas com jovens de extrema-direita nas escolas. “Se você era um professor”, diz ela, “você costumava identificar um skinhead em sua classe e poderia pensar como intervir. Mas agora é mais difícil para sociedade em geral entender quem esses jovens são para se engajar com eles”.
No último relatório de 2013 do Bundesverfassungsschutz, agência de segurança interna alemã, concluiu-se que existem cerca de 22.000 membros de extrema-direita na Alemanha, incluindo 9.600 que estão “dispostos a envolver-se em violência”. De acordo com as estatísticas, eles cometeram 473 crimes violentos contra estrangeiros ano passado, um aumento de 20% em relação ao ano anterior.
Coincidência ou não, o surgimento do nipster ocorre no mesmo tempo que a extrema direita vem ganhando apoio em toda a Europa. Muitos associam o sucesso destes partidos à sua capacidade de maquiar-se com um slogan mais amigável e menos ameaçador. O cientista político holandês Cas Mudde, argumentou que esses partidos conseguiram ligar a crise do euro “com suas características ideológicas fundamentais: nativismo, autoritarismo e populismo”, elaborando uma solução simplista, de fácil aceitação entre jovens desolados.