quarta-feira, 9 de julho de 2014

Levadas pelos pais ao altar, noivas dizem sim uma à outra em festa tradicional

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08/07/2014 06:50

Levadas pelos pais ao altar, noivas dizem sim uma à outra em festa tradicional

Paula Maciulevicius
As duas vestidas de branco, os sorrisos dos convidados e a alegria estampada no rosto das mulheres merecia ser contada. (Fotos: Allan Kaiser)As duas vestidas de branco, os sorrisos dos convidados e a alegria estampada no rosto das mulheres merecia ser contada. (Fotos: Allan Kaiser)
Duas noivas, dois buquês, seus pais e um casamento para entrar para a história. No dia 10 de maio, as empresárias Bruna Witwytzky, de 24 anos, e Nadja Toumani, agora Witwytzky, de 29, disseram sim uma à outra numa cerimônia tradicional, para 300 convidados, em Campo Grande.
Lado B é um canal declaradamente apaixonado por casamento e suas histórias de amor e quando se deparou com a foto das duas saindo da cerimônia, casadas oficialmente, não se aguentou. As duas vestidas de branco, os sorrisos dos convidados e a alegria estampada no rosto das mulheres merecia ser contada. Não por ser um casamento gay, ou qualquer que seja a classificação, mas por ser um casamento e ponto.
As duas se conheceram há quatro anos, aqui na Capital. A história envolve capítulos de namoro à distância e de prova de amor. Advogada, Bruna largou um cargo público federal em São Paulo, alcançado através de concurso, porque não aguentou de saudades.
“Voltei para casar. Eu disse, se eu voltar a gente casa?” Este foi o “pedido” de casamento. Nenhuma delas tinha o sonho de entrar na igreja, de véu e grinalda. Não “tinha”. Depois que o amor entrou em cena, mudaram-se os atos.
Nadja e o pai, que a conduziu até o altar. Nadja e o pai, que a conduziu até o altar.
Bruna, a primeira noiva a entrar, foi levada pelo pai.Bruna, a primeira noiva a entrar, foi levada pelo pai.
“Primeiro a gente pensou só no papel, mas é um momento muito especial, você vai querer que marque, vamos querer mostrar as fotos para os nossos filhos”, descreve Nadja. Ao mesmo tempo, vinha o impasse de por que não realizar um casamento como manda o figurino?
“A gente sentiu que era quase uma missão social. O preconceito, ele começa dentro de você. Por quê casar só no cartório se as outras pessoas fazem o tradicional?, se perguntou Bruna.
Em seis meses elas planejaram a festa. O desejo inicial era casar no campo, em um local aberto. A escolha foi pela Estância Havaí. Os convites foram enviados para 300 convidados, destes só faltaram mesmo quem não pode vir por motivo extraordinário. No fim das contas, foram 297 sorrisos de felicidade na troca de alianças. “Vieram amigos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Espírito Santo e até da Guatemala”, enumera o casal.
A beleza de um casamento entre mulheres está, creio eu, nos vestidos brancos. Bruna e Nadja escolheram os modelos com o mesmo estilista, mas de surpresa uma para a outra. Elas só viram os trajes no grande dia. “A gente ia junto, mas não olhava. Uma entrava no provador, saía e a outra entrava”, contam.
Com duas noivas, os olhares têm de se dividir entre quem está no altar, à espera, e quem entra depois. Com a trilha sonora de Maria Bethânia e Marisa Monte, Bruna e Najda foram conduzidas pelos pais, por vontade própria, até o juiz de paz.
As alianças e as pulseiras que as duas usavam foram presentes da mãe de Nadja. As alianças e as pulseiras que as duas usavam foram presentes da mãe de Nadja.
“Eles que fizeram questão”, frisam. Na foto, dá para a emoção nos olhos dos dois. Tanto o pai de Bruna, como o de Nadja, demonstravam o nervosismo e a responsabilidade de entregarem as filhas no altar. “Ele estava com sorriso de orelha a orelha, falando que a gente estava linda”, conta Nadja sobre a expressão do sogro.
As noivas se vestiram juntas. Antes da entrada, entrelaçaram as mãos. “Era um momento nosso, a gente se declarou e rezou antes de entrar”, narram.
A definição de quem ia esperar a outra no altar partiu de Bruna, como argumento para rebater comentários nem sempre generosos. A empresária explica que queria quebrar o conceito de quem insiste em pontuar quem é o “homem” da relação. “A Nadja ela é mais estilosa, prefere calças e sapatos, eu sou mais clássica, gosto de salto e maquiagem, quando definiu, eu fiz questão de entrar para esperar ela e mostrar que não existe isso. Somos duas noivas”, explica.
Pelo número de convidados, a cerimônia aconteceu no gramado em frente à capela. Foi realizada por um juiz de paz e pela tia da noiva Nadja, considerada pelo casal espiritualizada a ponto de falar para todos sobre amor e casamento.
“Foi muito emocionante, a gente não esperava que ia ficar, mas ficamos nervosas. Foi chegando perto, começou a ansiedade”, narra Nadja. “Foi, definitivamente, o dia mais feliz da minha vida”, completa Bruna.
A avó de Nadja, dona Nori, aos 89 anos, chama as duas num canto e faz questão de tirar foto mostrando o dedo, como quem dá o recado contra o preconceito.A avó de Nadja, dona Nori, aos 89 anos, chama as duas num canto e faz questão de tirar foto mostrando o dedo, como quem dá o recado contra o preconceito.
O casamento foi todo tradicional, como de qualquer casal, exceto pela dança, deixada de lado. As noivas contam que até tentaram ensaiar uma coreografia como “a primeira valsa”, mas ouviram conselhos da professora de dança de que seria perda de dinheiro, visto que nenhuma das duas levava jeito.
As noivas não encontraram resistência nenhuma por parte dos profissionais e fornecedores que trabalharam para a festa acontecer, pelo contrário. “Mesmo os que tinham uma religião, se sentiram orgulhosos e muito gratos de participarem daquele momento”, concluem as duas.
Surpresos ficaram os pais das noivas, que não sabiam do nível de organização do casamento. Por não participar ativamente das decisões, eles estiveram como espectadores da felicidade das filhas. Outra surpresa, descreve Nadja, foi a presença maciça dos amigos dos pais. “Eles estavam com medo e todo mundo fez questão de ir, de estar lá”, comemora.
“Não teve nenhum parente que deixou de ir, nossos amigos disseram que foi muito importante, que quebramos barreiras de muitos casais, mudou, todo mundo se abriu. A aceitação foi incrível”, comentam. Uma das fotos exemplifica com perfeição a afirmação das noivas. A avó de Nadja, dona Nori, aos 89 anos, chama as duas num canto e faz questão de tirar foto mostrando o dedo, como quem dá o recado contra o preconceito. “Ela defende a gente”, explicam as duas.
Na pista de dança, famílias inteiras, gente de toda orientação sexual e jeito de viver. Reflexo do que Bruna e Nadja sempre pregaram. “A gente age com naturalidade. Você quer ser aceita, se você não se aceita? A gente fala: somos um casal, mas não ficamos levantando bandeira, é tudo muito natural” frisa Bruna. Em nenhum momento elas ‘venderam’ a ideia de casamento gay. “Era um casamento, tinha que ser feito, quebrou muitas barreiras”, resumem.
Na festa, o resultado do casamento entre duas noivas é a sorte duplicada na hora de pegar o buquê. Na fila, tinham homens e mulheres concorrendo, mas duas jovens que pegaram, uma amiga e a outra prima das noivas.
“Eu sempre imaginei uma festa discreta, pensava vai ficar gastando, que loucura, mas depois que a gente casa, vale à pena”, descreve Bruna. “Eu não sonhava com isso, foi incrível”, completa Nadja.
A lua de mel do casal foi na Europa, uma viagem de 20 dias entre Espanha, Itália e Inglaterra. No tour romântico, elas receberam a ligação do pai de Nadja, que precisava a todo custo dizer algo que talvez tenha ficado preso na garganta por anos. “A minha entrada com você, definitivamente, foi o dia mais feliz da minha vida”.
Pode beijar a noiva. E assim foi o casamento delas, não gay, ou qualquer que seja a classificação, um casamento e ponto."Pode beijar a noiva". E assim foi o casamento delas, não gay, ou qualquer que seja a classificação, um casamento e ponto.

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