terça-feira, 29 de julho de 2014

Brasileiros pedem fim da violência contra Palestina

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http://outraspalavras.net/blog/2014/07/23/brasileiros-pedem-fim-da-violencia-contra-palestina/

Brasileiros pedem fim da violência contra Palestina

Funari, articulador do documento: "Vamos formar rede que assine moção e dialogue com lideranças judaicas e palestinas no Brasil"
Funari, articulador do documento: “Vamos formar rede que assine moção e dialogue com lideranças judaicas e palestinas no Brasil”
Presidente da Comissão Justiça e Paz de SP lidera carta pela paz no Oriente Médio. Assinam pessoas de origem judaica. Proposta é reproduzir iniciativa em mais países 
Entrevista a Sérgio Storch
Um documento subscrito por 18 brasileiros de origem judaica, 18 de origem árabe e 18 de outras origens, pela paz com justiça no Oriente Médio, foi encabeçado pela Comissão Justiça e Paz de São Paulo (CJP-SP) e outros líderes de organizações de direitos humanos. O gesto é inspirado na iniciativa do Papa Francisco, que realizou em Roma oração conjunta pela paz com o então presidente do Estado de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
Antônio Funari Filho, presidente da CJP-SP, conta a seguir as razões que o levaram a liderar o movimento. Advogado com longa trajetória nas questões de direitos humanos e combate à violência, Funari foi ouvidor das polícias do Estado de São Paulo no governo Mário Covas e coordenador do Fórum Nacional dos Ouvidores de Polícia.
Cena de "Budrus". Filme da brasileira Júlia Bacha conta história de cidade em que palestinos e judeus uniram-se pela paz http://www.imdb.com/rg/VIDEO_PLAY/LINK//video/wab/vi3080848409/)
Cena de “Budrus”. Filme da brasileira Júlia Bacha conta história de cidade em que palestinos e judeus uniram-se pela paz (http://www.imdb.com/rg/VIDEO_PLAY/LINK//video/wab/vi3080848409/)
Como nasceu essa iniciativa na Comissão Justiça e Paz?
A Comissão Justiça e Paz de São Paulo tem uma tradição histórica, desde a resistência à ditadura militar, de defender cidadãos contra a opressão e a violência, especialmente a institucionalizada. Há muito tempo acompanhamos à distância as iniciativas cristãs na Terra Santa, na defesa de vítimas da violência e das injustiças. E sentimos, no gesto do Papa ao convidar para a oração no Vaticano, que era o momento de estendermos a mão para o Oriente Médio, especialmente por estarmos no país de maior população católica e por termos, no Brasil, uma situação de amizade e diálogo com judeus, muçulmanos e pessoas de todas as religiões ou sem religião. Somos um país singular nesse aspecto, o que nos dá condição de exercermos um papel que pode vir a ser importante. Fomos estimulados a dar esse pequeno passo por alguns membros das comunidades judaica e árabe que têm estado conosco em nossas diversas lutas por justiça no Brasil. E, não tendo braços para atuar em todos os lugares, sentimos que a Terra Santa é um local emblemático por onde podemos expressar nosso compromisso com a justiça e a paz no mundo.
Que desdobramentos são esperados dessa iniciativa?
Desejamos que, em primeiro lugar, ela chegue ao Papa Francisco, cujo gesto merece ser reconhecido e ter efeitos que perdurem. Seu gesto não foi apenas uma jogada de marketing. Entendemos que cabe a nós, no país com a maior população católica do mundo, um papel que pode ser indutor de reações também em outros países, que fortaleçam a iniciativa do Papa e a sua perenização por tempo mais longo. Encaminharemos a carta, pelos caminhos por onde flui a informação na Igreja, ao Papa Francisco, de modo a que sinta que a Igreja está respondendo ao seu gesto, a partir de um país. Acreditamos que outros países poderão nos acompanhar nisso, especialmente na América Latina e no Caribe, onde já temos conhecimento de iniciativas conjuntas de judeus e palestinos. Vale notar que no conjunto da América Latina há uma quase simetria entre as populações judaica e palestina, ambas da ordem de meio milhão de pessoas. Ou seja, se tivermos esse efeito junto a outros países – destaco a Argentina, com a maior população judaica, e o Chile, com a maior população palestina –, estamos falando de uma parte significativa das diásporas judaica e palestina. Nossos povos estarão assim retribuindo com amor a essas diásporas e seus lugares de origem pelo tanto que recebemos dessas imigrações.
Em segundo lugar, a iniciativa visa ter continuidade em si mesma, e sensibilizar progressivamente lideranças das comunidades judaica e palestina para que atuem junto às lideranças em outros países e junto às forças políticas nos países que são centro do conflito, Israel e Palestina – lembrando que, embora o Estado Palestino não tenha ainda sido instituído por veto do Conselho de Segurança da ONU, já é reconhecido pela Assembleia Geral da ONU, Unesco e outras agências mundiais. Vamos continuar investindo na formação de uma rede que assine essa moção e se organize para dialogar com lideranças judaicas e palestinas no Brasil, promovendo consensos que possam contribuir para as ações dos dirigentes desses países. Pretendemos trazer para ela artistas, cientistas, empresários e outras lideranças que deem maior densidade ao apoio que, estamos certos, a maior parte dos brasileiros deseja manifestar ao Papa.
Acreditamos que possamos ser percebidos também nos Estados Unidos, onde está a maior comunidade judaica, na qual existem fortes correntes que apoiam a paz. Esperamos ter efeito encorajador para essas correntes e seus parceiros na sociedade norte-americana, contrabalançando as forças interessadas no armamentismo e no conflito no Oriente Médio.
Em terceiro lugar, o próprio movimento de busca de assinaturas promoverá encontros, nos quais esperamos contar com presença crescente de atores que influenciam a opinião pública de judeus e palestinos no Brasil, e estimulá-los para que se comuniquem com seus povos em Israel e na Palestina.
Finalmente, acreditamos ser possível com isso catalisar um movimento mais amplo do Brasil, incluindo sua diplomacia, no sentido de fortalecer a presença brasileira no Oriente Médio, com a tradição que todos reconhecem em nós como nação que se opõe às guerras e à violência.
Em termos práticos, quais os próximos passos da CJP?
Já estamos nos preparando para a segunda etapa, em que, modestamente, pretendemos ter 49 assinaturas de cada uma das listas. Estamos identificando os nomes que queremos, e buscando-os diretamente. Será sempre um número paritário, para que em nenhum momento se configure como ação isolada ou com hegemonia de uma das comunidades. Essa simetria é parte fundamental do design. E cada pessoa que vier associar a sua assinatura será desafiada a trazer mais uma de cada um dos outros grupos. Ou seja, um cineasta de origem judaica será convidado a trazer um cineasta de origem árabe e um de outras origens; um empresário de origem árabe será convidado a trazer um empresário de origem judaica e assim por diante. Depois de publicar com 49 +49 +49 (o que pretendemos fazer até o Ano Novo Judaico, em setembro), partiremos para 100 +100 +100, e por aí vai. Esperamos que em 2015 tenhamos condições de propor ao novo governo a ser eleito dentro de alguns meses uma iniciativa em direção a Israel-Palestina que possa retomar o gesto feito pelo então ministro Antonio Patriota, em 10 de julho de 2012, com o encontro “Lado a lado: o papel das Diásporas para a paz no Oriente Médio”, no Itamaraty. Há uma longa trajetória de iniciativas de governos brasileiros que nossa iniciativa pode honrar, pelo lado da sociedade civil.
Como essa iniciativa se relaciona com as prioridades da CJP para São Paulo e Brasil?
A prioridade da CJP hoje é a luta contra a criminalização dos movimentos sociais. Vemos grandes analogias entre as injustiças que acontecem hoje na relação Israel-Palestina, que, é preciso dizer, derivam de uma ocupação militar por parte de Israel que já tem 47 anos, e a opressão que sofrem os movimentos populares. Há paralelos fortes entre esse processo que ocorre no Brasil e o processo que ocorre na relação de Israel com os palestinos. Certamente nem todos os israelenses aprovam todas as políticas de seu país em relação a uma população que está sob ocupação, assim como aqui a maioria da população não apoia a repressão policial que é exercida contra os movimentos sociais. E, simetricamente, não são todos os palestinos que apoiam uma resistência violenta, da mesma forma como aqui as táticas violentas não são aprovadas pela maior parte do nosso povo. O efeito das mídias lá e aqui tem também paralelos. Em ambos os casos vemos a necessidade de aplicar a lei com justiça. E uma ação como essa, de âmbito internacional, sinaliza para as pessoas que nos acompanham vontade política na direção de um engajamento da sociedade para a paz, que só é possível com base na justiça.
Temos certeza de que o gesto do Papa e a nossa iniciativa em apoiá-lo serão compreendidos no significado que têm para essas lutas no Brasil. Vivemos todos no mesmo planeta, e a luta por justiça e paz é universal. A harmonia a ser buscada na Terra Santa é um objetivo exemplar para essas lutas no nosso país e em todo o mundo. Não são questões separadas.

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