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O acidente com um guindaste na Arena Corinthians em São Paulo na quarta-feira, que deixou dois operários mortos, é o problema mais recente - e talvez o mais grave para a imagem do país, na opinião de especialistas - no processo de organização da Copa do Mundo de 2014.
A reportagem é de Luis Kawaguti, publicada pela BBC Brasil, 28-11-2013.
A lista de imprevistos, que inclui mortes, atrasos, manifestações e crimes, não impedirá a realização nem deverá causar grandes alterações da agenda do torneio do ano que vem.
Porém, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, já podem até afastar torcedores estrangeiros.
De acordo com Peter Tarlow, consultor internacional de segurança em grandes eventos, a imagem do Brasil como anfitrião da Copa foi bastante prejudicada no exterior nas últimas duas semanas. Isso ocorreu devido ao acidente no Itaquerão e aos dois arrastões contra banhistas nas praias do Rio de Janeiro.
"A cada semana vem uma notícia ruim do Brasil, que volta a ser visto como um país com falta de segurança. É uma combinação de fatores", afirmou.
O americano é professor da universidade Texas A&M, atuou na organização do Super Bowl (campeonato de futebol americano), nos Jogos Olímpicos de Inverno nos Estados Unidos e atualmente presta consultoria para a polícia do Rio.
Segundo ele, além da criminalidade nas ruas, o acidente desta semana pode fazer o estrangeiro ver os estádios como locais inseguros. "E agora é a hora em que o americano ou o europeu estão decidindo se compram ingressos e passagem para o Brasil."
O analista disse, porém, que se não ocorrerem outros grandes tropeços até a data do evento (especialmente no Rio de Janeiro, cidade brasileira mais conhecida no exterior), os episódios negativos de agora devem ser rapidamente esquecidos.
Segundo ele, a notícia do acidente não teve maior repercussão nos Estados Unidos A por causa do feriado de Ação de Graças, mas o mesmo não ocorreu na Europa.
Projetos
Segundo o jornalista e colaborador da BBC baseado na América do Sul Tim Vickery, outro evento negativo também contribuiu para prejudicar a imagem do país nesta semana: o anúncio de que 14 projetos de mobilidade, orçados em R$ 1,2 bilhão, foram retirados da matriz de responsabilidade da Copa.
Entre eles estavam projetos para melhorias em portos, aeroportos e rodovias que perdurariam, beneficiando a população mesmo após o fim do torneio. "Isso é um escândalo porque houve muito tempo para planejar", disse.
Segundo ele, notícias como essa aumentam o descontentamento de setores da sociedade que - com alguma razão - criticam gastos que o país está tendo com a Copa do Mundo. Partidários dessa opinião têm manifestado esse descontentamento por meio de diversos protestos.
Contudo, segundo Vickery, a Copa ocorrerá de qualquer maneira. "Passou o momento de pular fora. A Copa pode ser bem sucedida e torço para que ela seja", disse.
"A Copa do Mundo vai ser um sucesso com morte ou com manifestações, mas elas deixam uma mancha", disse o consultor independente de marketing esportivo Amir Somoggi.
Segundo ele, o Estado brasileiro, como anfitrião do evento, não pode ser responsabilizado pelas mortes em Itaquera. "Também houve mortes na Copa da África do Sul."
Porém, diferente de Tarlow, Somoggi disse não acreditar que o acidente em São Paulo crie uma imagem de insegurança nos estádios capaz de dissuadir turistas e torcedores de irem às partidas.
"Não acredito que o turista vai deixar de vir, mas terá uma preocupação a mais, como já tem com a questão do arrastão", disse.
Leia abaixo sobre outros tropeços que já preocuparam os organizadores da Copa.
Acidentes e mortes
Além do acidente no Itaquerão outras duas mortes foram registradas em obras de estádios que serão usados em jogos da Copa do Mundo de 2014. Em junho de 2012 o carpinteiro José Afonso de Oliveira Rodrigues, de 21 anos, morreu ao cair de uma laje do Estádio Nacional de Brasília. Em março de 2013 o pedreiro Raimundo Nonato Lima Costa, 49 anos, morreu na construção do estádio de Manaus
Também foram registradas uma explosão na Arena da Baixada, em Curitiba no ano de 2012, e um princípio de incêndio na Arena Pantanal, em Cuiabá, já em 2013.
Atrasos
Discussões entre a Fifa e autoridades brasileiras sobre o cronograma das obras dos estádios têm sido frequentes. Em 2012, o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, chegou a dizer que o Brasil merecia um "chute no traseiro" - causando grande mal estar.
A Fifa trabalha com a meta de que os estádios estejam prontos até o fim deste ano. Atualmente as maiores preocupações recaem sobre a Arena Pantanal, em Cuiabá, a Arena Amazônia, em Manaus e a Arena da Baixada, em Curitiba - cujas obras ainda não teriam atingido a marca dos 90% de conclusão dos trabalhos. A Fifa cogita até fazer intervenções nas obras para garantir o mundial.
Entre as razões dos atrasos estão problemas de financiamento e greves de trabalhadores - que já paralisaram ao menos oito das 12 obras.
O acidente desta semana lança novas preocupações sobre o cronograma de obras da Arena Corinthians, que neste mês estava com 94% das obras concluídas. Promotores públicos e sindicatos discutem uma eventual paralisação da obra por questão de segurança.
Mas especialistas dizem acreditar que, mesmo com o acidente, ainda há tempo para concluí-la sem a necessidade de alterar locais de jogos no mundial.
Fonte Nova
Em maio, parte da cobertura que forma o telhado da Arena Fonte Nova, em Salvador, se rompeu em meio a chuvas fortes. Além disso, um viaduto de acesso ao estacionamento trincou e teve que ser escorado poucos dias antes do início da Copa das Confederações. Os incidentes não chegaram a causar problemas para o torneio.
Manifestações
Uma onda de manifestações contra os gastos públicos com a Copa e as imposições da Fifa marcaram a realização da Copa das Confederações neste ano. Manifestantes enfrentaram barreiras policiais, mas não conseguiram invadir nenhum dos estádios durante o torneio.
Os atos ocorreram em meio a uma onda de manifestações pelo país deflagrada por propostas de aumento nas tarifas do transporte público.
Para especialistas, o recorde de público e o próprio evento em si foram ofuscados pelos protestos. Segundo informações de inteligência da polícia, os manifestantes tentam articular novos protestos para a época da Copa do Mundo.
Troca de comando na CBF
Em março de 2012, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, deixou o comando da confederação alegando problemas de saúde. Teixeira estava no cargo desde 1989. Enfrentava uma série de acusações - inclusive um processo, considerado o mais sério da história da Fifa, o chamado dossiê da ISL, em referência à ex-agência de marketing da entidade, então em tramitação na Justiça suíça. Teixeira já havia enfrentado duas Comissões Parlamentares de Inquérito, mas as críticas acabaram, segundo a imprensa esportiva, abafadas pelos êxitos da Seleção sob o comando dele.
A saída de Teixeira foi vista como uma vitória pelos críticos, mas elevou as dúvidas sobre a capacidade de organização da CBF. Assumiu o comando da entidade e a direção do Comitê Organizador Local da Copa o ex-governador biônico de São Paulo, José Maria Marin, 80 anos de idade.
O ex-jogador e deputado federal Romário celebrou a saída de Teixeira e disparou contra Marin, dando do tom da polêmica que envolve a CBF há anos.
"Hoje podemos comemorar. Exterminamos um câncer do futebol brasileiro. Finalmente, Ricardo Teixeira renunciou a presidência da CBF. Espero que o novo presidente, João Maria Marin, o que furtou a medalha do jogador do Corinthians na Copa São Paulo de Juniores, não faça daquele ato uma constante na Confederação. Senão, teremos que exterminar a AIDS também", escreveu o parlamentar, à época, em sua conta no Twitter.
Morumbi versus Itaquerão
Como uma isenção fiscal de R$ 420 milhões com a Prefeitura da capital e apoio declarado do ex-presidente Lula, o Corinthians finalmente realizou o sonho de ter uma arena própria. O plano do São Paulo de ver o Morumbi como sede da Copa foi desmantelado em 2010, quando a Fifa alegou falta de garantias financeiras por parte do clube paulista para a adequação do estádio aos padrões da entidade que comanda o futebol, um deles, a distância entre o público e o gramado.
Atraso no Maracanã, amistoso suspenso
Em maio de 2013, atrasos nas obras do Maracanã fizeram a Justiça suspender um amistoso entre as seleções de Brasil e Inglaterra, primeiro teste do estádio reformado para a Copa. O temor era de que os canteiros de obra representassem uma ameaça para os torcedores. Mas, logo em seguida, a Justiça liberou o jogo, após a apresentação de laudos atestando a finalização das obras.
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