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http://outraspalavras.net/mundo/america-latina/rumo-a-era-dos-pos-genero/
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Rumo à “era dos pós-gênero”?
CATEGORIAS: AMÉRICA LATINA, COMPORTAMENTO, DESTAQUES
– ON 16/12/2013
Com Michelle Bachelet, latino-americanos elegem sua quarta presidente. Que isso tem a ver com feminismo e dominação machista na região?
Por Marília Mosckovich, na coluna Mulher Alternativa
Michelle Bachelet voltou à presidência do Chile e comemoramos que, em 2014, a América Latina vai ter quatro mulheres na presidência. É indiscutível a necessidade de comemorarmos sim, relembrarmos e reforçamos o tamanho dessa conquista. Não é pouca coisa ter mulheres na presidência, e nem é insignificante para a luta feminista. Antes de mais nada, então, um grande “VIVA!” a esse feito histórico de nossas populações!
Embora quatro não seja um grande número – e nem de longe a metade, muito menos a maioria dos países da América Latina -, certamente escutaremos por aí que isso significa que vivemos numa sociedade igualitária, que mulheres já conseguem chegar à presidência então não precisamos mais do feminismo, que chegamos a uma “era do pós-gênero” ou quaisquer bobagens do tipo. Pois reparem bem: quem em geral pronuncia essas besteiras não tem a menor ideia do tamanho das violências de gênero que ainda sofremos em todos os países latinoamericanos. Estão entre os maiores índices do mundo.
A OMS estima que, no Brasil, quase 29% das mulheres em áreas urbanas tenham sofrido alguma violência física ou sexual de seus parceiros íntimos, ao longo de sua vida. Nas zonas rurais, o número de vítimas salta para quase 37%. Quando somados os casos de violência sofrida também por agressores que não eram parceiros íntimos, os índices praticamente se igualam, sendo mais de 38% de mulheres agredidas tanto na zona urbana quanto na zona rural. Na Bolívia e na Costa Rica esse total passa de 60%. No Peru, enquanto nas cidades cerca de 56% das mulheres relatam ter sofrido violência, sexual ou física, de parceiro ou não-parceiro, nas zonas rurais a proporção chega a 70% – entre os maiores do mundo, e comparável ao da Uganda.
Na Índia, país para onde muitas brasileiras dizem ter medo de viajar sozinhas, o índice é de 35%. Outros países com índice maior do que 50% são os Estados Unidos, Tanzânia, Samoa, Moçambique, Etiópia, Dinamarca, República Tcheca, Austrália e Bangladesh. Os dados estão disponíveis aqui.
Além das violências físicas e sexuais, as mulheres continuam sofrendo a violência simbólica de serem excluídas da política em quase todos os lugares do mundo. Apenas 1/5 dos representantes parlamentares no mundo são mulheres. No continente americano, contando a América do Norte, somos menos de 25% dos parlamentares.
Com exceção de Cuba, que tem quase a metade dos cargos representativos ocupados por mulheres, e da Nicarágua que tem pouco mais de 40%, os demais países da América Latina não chegam a esses números. A grande maioria fica abaixo dos 30%, sendo que o Chile – da presidente Bachelet – tem menos de 15% de mulheres na câmara “baixa” do parlamento (sem contar o Senado, onde os números são ainda menores). O Brasil não chega a ridículos 9%. A fonte desses dados também pode ser consultada, aqui, e há um mapa explicativo extremamente interessante aqui.
No campo da saúde sexual e reprodutiva, num total de mais de trinta países, apenas cinco legalizaram ou descriminalizaram o aborto na América Latina – Uruguai, Cuba, Guiana, Guiana Francesa e Porto Rico. Nos demais, o aborto é totalmente proibido ou proibido na maioria dos casos.
Em relação ao mercado de trabalho e aos salários, os homens ganham em média 17% a mais do que as mulheres que trabalham no mesmo cargo, em todo o continente. Isso acontece mesmo com as mulheres tendo melhores diplomas e mais anos de escolarização. Também é mais difícil para as mulheres acessarem áreas de trabalho como engenharia e ciências exatas.
Esses e outros dados nos mostram com bastante segurança que as quatro presidentas mulheres não fazem verão – e nem indicam que estamos próximas de uma situação realmente igualitária. Ainda somos discriminadas e sofremos violência e exclusão simplesmente por sermos mulheres. Foi a luta feminista que permitiu que chegássemos até aqui. É dela que precisamos para continuar nos movendo.
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