---------- Forwarded message ----------From: Maíra Ribeiro <maira.taqui@gmail.com>
Date: 2013/12/19
Subject: [GTMS] Documentário “Uma Casa, Uma Vida” discute o futuro da casa xavante
To: mobilizsocial@googlegroups.com
Documentário “Uma Casa, Uma Vida” discute o futuro da casa xavante
Ver a reportagem que escrevi :) http://www.axa.org.br/ videos/2420
Ver o filme: http://www.youtube.com/ watch?v=Hf2u0_O1XYs
Documentário "Uma Casa, Uma Vida" discute o futuro da casa xavante
Filme produzido por cineastas aprendizes indígenas junto com a equipe Raiz das Imagens já está disponível na internet
Por Maíra Ribeiro
“Hoje a cultura do branco quer destruir nossa cultura. Por isso, estivemos pensando bem como seria, com a chegada dessas casas do branco. E agora com ideias novas, vamos analisar bem. Pois a nova geração está crescendo e está acompanhando tudo isso.”A fala firme do cacique Tsitoti, da Aldeia Belém, inicia o filme “Uma Casa, Uma Vida”. O documentário apresenta as alterações da casa xavante desde o contato com a sociedade envolvente e coloca em questão qual é a habitação em que o povo xavante quer morar no futuro.
Veja aqui o filme “Uma casa, uma vida”
“A chegada dessas casas do branco” a que se refere o cacique é a entrada do programa “Minha Casa, Minha Vida” nas aldeias xavantes. O filme reflete sobre a importância das comunidades indígenas terem autonomia para decidirem seu futuro, frente aos pacotes de políticas públicas que muitas vezes não se adéqua às especificidades de cada cultura. É o caso do Plano Nacional de Habitação Rural (PNHR) através do “Minha Casa, Minha Vida”, que visa o acesso e popularização da casa própria e de alvenaria para as comunidades rurais. Porém, ao se estender às populações indígenas, não houve uma regulamentação que valorizasse a habitação tradicional, os materiais locais e a participação e organização de cada povo.
As comunidades indígenas se encontram assim num impasse: ter acesso a um programa que lhes proporciona benefícios, ao mesmo tempo em que isso significa provocar alterações irreversíveis no modo de vida. A maioria das comunidades xavantes tem abraçado o programa “Minha Casa, Minha Vida” sem fazer muito alarde para essa moeda de troca, que talvez só seja sentida daqui a algumas décadas. O “consenso da comunidade” aparece apenas como um protocolo a ser seguido para efetivar o projeto, dentre tantos outros documentos necessários. A discussão em si sobre qual é a casa ideal vislumbrada por cada aldeia é, quando muito, superficial e em geral, inexiste.
Não por acaso, o documentário chega em momento oportuno, no qual diversas aldeias estão aderindo ao programa. O filme acompanha duas aldeias que decidiram refutar a construção de casas populares e conhecer outras técnicas de construção para refletir sobre o futuro da casa xavante. Trata-se das aldeias Belém e Ripá, ambas localizadas na Terra Indígena Pimentel Barbosa, dentro do município de Canarana, Mato Grosso.Nestas aldeias, durante 30 dias entre agosto e setembro, ocorreu uma vivência-oficina em bio-construção, com a participação de construtores indígenas e não-indígenas de diversos lugares do Brasil. A oficina foi organizada pelo Tibá – Tecnologias Intuitivas e Bio-Arquitetura/RJ – pelo produtor cultural Alexandre Lemos e pelas comunidades das duas aldeias e teve como resultado a construção de uma casa em cada aldeia. O documentário foi produzido numa parceria com o Raiz das Imagens, que também realizaram oficinas de técnicas audiovisuais com jovens destas aldeias, que trabalharam nas entrevistas e captação das imagens.
Casa viva
O contato dos xavantes da Aldeia Belém com o Tibá, centro de referência em bio-arquitetura com sede na região serrana do Rio de Janeiro, ocorreu em novembro de 2012. Nessa época, um grupo de indígenas xavantes dessa aldeia foram convidados a participar do Encontro de Bio-Arquitetura (EBA) em Nova Friburgo (RJ) e realizar uma oficina no Tibá para ensinar a fazer a casa tradicional xavante no Tibá. Esta experiência germinou a vontade de fazer um trabalho maior e mais continuado com bio-construção dentro das terras indígenas. Com o intermédio do produtor cultural Alexandre Lemos, começaram as organizações para a realização da vivência-curso nas aldeias. De um lado, cada aldeia se organizando para receber por quinze dias uma equipe de vinte bio-construtores e começando a coleta de materiais para construção das casas: madeira, palha, etc. Do outro lado, a captação de recursos, a seleção dos aprendizes que participariam e a logística para levar vinte pessoas para esta vivência. O plano ousado deu frutos.
O projeto, batizado de Tiba’uwe levou vinte pessoas, entre bio-arquitetos e aprendizes brasileiros e estrangeiros às duas aldeias. Durante 30 dias entre agosto e setembro, a equipe juntamente com as comunidades das aldeias Belém e Ripá, construíram uma casa em cada aldeia lançando mão de diversas técnicas de construção com os recursos locais, como terra, bambu, palha e madeira. A proposta da casa era misturar a arquitetura ritual A’uwẽ com a bio-arquitetura tibana. Foram ensinadas técnicas com barro aos indígenas como pau-a-pique, adobe e produção de tintas naturais. Já a parte de madeiramento e telhado de palhas, os indígenas, dentro de sua divisão de trabalho por gênero, mostraram sua maestria e conhecimento neste trabalho. Os únicos gastos monetários foram com pregos para fixar as estruturas de madeira e com gasolina para buscar os materiais mais distantes.
Estreia nas aldeias
Exibição do filme “Uma Casa, Uma Vida” na aldeia Belém
No fim de novembro, foram feitas as primeiras projeções do documentário “Uma Casa, Uma Vida” nas aldeias Belém e Ripá, onde, três meses antes iniciaram o projeto Tibá’uwe e os trabalhos de capacitação audiovisual que resultou no filme sobre a moradia tradicional Xavante. Esta foi a estreia do documentário para as comunidades envolvidas no projeto, que apreciaram e discutiram o filme.
“Nossa volta às aldeias, como sempre, foi carinhosa e bem recebida por todos. Na aldeia Belém, o cantor e arquiteto xavante Marcio Tserehité tomou a frente com interessantes debates a respeito do envolvimento da comunidade no trabalho com a casa e o vídeo, fazendo críticas e elogios importantes para o seguimento de um trabalho bem integrado” relatou Rodrigo Soares na página do Raiz das Imagens no Facebook. Rodrigo, que fez as exibições nas aldeias junto com Alexandre Lemos, continua:
“Na aldeia Ripá, com a energia da Serra do Roncador ao redor e a motivação constante da comunidade, tivemos a sessão lotada. Homens, mulheres, jovens, crianças e velhos compartilharam a sala de cinema improvisada à luz do dia e ao som de gerador. A comunidade que não quer saber de TV movida a energia elétrica, não abre mão do cinema indígena. Durante a projeção, comentavam cada minuto do filme empolgados de estar vendo seu povo e sua aldeia ali naquela tela de luz, imortalizados entre imagens em movimento que mostravam a força do povo Au´we Uptabi, o povo verdadeiro. A sessão finalizou com um bonito video da corrida de tora de buriti realizado pelos jovens da oficinas de video, que motivados, seguem, com suas câmeras, o trabalho de cinematógrafos Xavante.”
Ainda no mês de novembro, começaram as exibições com o objetivo de difundir a questão e de fomentar a discussão dentro das comunidades xavantes sobre a habitação indígena. Assim, além das duas aldeias, o filme já foi exibido durante o Encontro de Bio-Arquitetura (EBA) que ocorreu em Nova Friburgo/RJ e reuniu bio-construtores de todo o mundo. Em Barra do Garças/MT, ele foi exibido durante a reunião de planejamento de 2014 da Coordenação Regional Xavante da Funai, como subsídio para o plano de trabalho de direitos sociais e também durante o encontro dos representantes da comissão gestora do Território Etno-Educacional Xavante, que reuniu representantes do CEFAPRO, MEC e Secretaria de Municipal de Educação e educadores indígenas de todas as Terras Indígenas xavantes. O próximo passo é tentar exibir o filme no maior número de aldeias xavantes para gerar o debate sobre o tema. Hoje em dia, existem mais de cem aldeias xavantes espalhadas em sete Terras Indígenas, todas localizadas no leste mato-grossense nas bacias de afluentes dos rios Xingu e Araguaia.
Cinema-ação
“Uma educação imagética e problematizadora, não demagógica e idealizadora, mas que retrata uma situação real e enfrenta com amor seus problemas e soluções”. É assim que define cinema-ação na sua página, o projeto Raiz das Imagens. Entre junho e novembro deste ano, eles estiveram na região de Barra do Garças, Nova Xavantina e Canarana realizando oficinas e produções audiovisuais, com o objetivo de ensinar os instrumentos audiviosuais às comunidades A’uwe-Xavantes. Através destas ferramentas, provocar a auto-reflexão dos indígenas A’uwe-Xavantes para a partir daí documentar e divulgar a realidade atual e as origens da cultura indígena bem como as mesclas na raiz cultural brasileira.
Foi a partir do contato de Lúcio Xavante, indígena da Aldeia Nossa Senhora de Guadalupe, que os educadores-cineastas Rodrigo Soares e Edu Ioschpe entraram em contato com o povo A’uwe-Xavante. Após visita a essa aldeia localizada na Terra Indígena São Marcos, reuniões e planejamentos, a proposta de ação foi a realização de uma oficina de audiovisual para os jovens da aldeia durante um mês por uma equipe de quatro oficineiros. O projeto se concretizou através do financiamento coletivo virtual que contou com 227 apoiadores.
Usando a câmera como instrumento de reflexão e transformação, a oficina foi base para a discussão dos desafios e dificuldades enfrentados pela aldeia pelo olhar dos seus jovens. Questões como artesanato, habitação e resíduos foram levantadas, problematizadas e trabalhadas pelos jovens. Os vídeos produzidos bem como outras informações podem ser conferidos na páginahttp://www. raizdasimagens.org/
A convite do produtor cultural Alexandre Lemos, capacitaram jovens das aldeias Belém e Ripá, da Terra Indígena Pimentel Barbosa, após o término das oficinas na aldeia N. S. de Guadalupe. Além disso, apoiaram no registro do curso-vivência de bio-construção Tiba’uwe e produziram o documentário sobre a habitação xavante “Uma casa, Uma vida”.
Imagem: Raiz das Imagens e Tibá
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