Manoel Chiquitano Brasileiro focaliza uma dupla busca: a luta de um homem solitário que percebe ser necessários documento de identidade para alcançar a nacionalidade brasileira, mesmo sendo ele, um índio Chiquitano, descendente dos primeiros habitantes do Brasil. E por outro lado, a luta coletiva do povo chiquitano que atravessa um conflito de identidade étnica, mas vem buscando a demarcação de suas terras tradicionais, apesar das pressões que sofre dos grandes fazendeiros e pecuarista da região na fronteira Brasil-Bolívia e da maioria dos políticos de Mato Grosso. O povo Chiquitano vive nos dois países e foi separado ao longo de sua história por uma fronteira que não desejou e sequer foi consultado. Através da Romaria de Santa Ana que sai da Bolívia e percorre as comunidades indígenas de ambos os países, os Chiquitanos desafiam os limites impostos pela fronteira, na tentativa de se reencontrarem e se reconhecerem como iguais, através da fé.
http://youtu.be/gKV7JSImwSE
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Aluízio De Azevedo Júnior
Olá Luiz Borges
Em virtude do Comentário de José Bala: "Estou muito triste pala retaliacao do filme da minha amiga Glorinha Albues pelo sr. Luiz Borges .vai o meu desabafo..." no post de Lidiane Barros convidado para o 19 Festival de Cinema e vídeo de Cuiabá;
Em virtude a resposta que você, Luiz Borges, deu ao José Bala, também no post de Lidiane Barros, nos seguintes termos: "de que filme vc esta mencionando José Bala? Tá loco? Primeiro pq não teve nenhum filme de Gloria Albues inscrito. Penso que vc pode estar referindo ao filme do diretor Aluízio De Azevedo Júnior onde a Glorinha é a montadora. Se for este o caso, este trabalho sequer foi inscrito, inclusive, ao meu pedido que conheço o filme, solicitei ao diretor que atendesse o regulamento e fizesse uma nova edição do filme que era de 25 minutos para 20 minutos. Então antes de postar comentários deste tipo, querido amigo José Bala, é bom se informar. Agora entendo sua ausência de de outras pessoas na sala do Cinemato. Lamentável!"
E respondendo ao que me perguntou no in box aqui do face: "ola aluizio, vc viu o que o Jose Bala amigo da gloria esta falando do seu filme, que agora nem é seu, é dela"
Respondo abertamente:
Acabei de ver o que o José Bala falou. Não sei como ele ficou sabendo, mas o que tenho a dizer sobre o assunto, depois de muito refletir, é:
Em primeiro lugar o filme Manoel Chiquitano Brasileiro é da Glória Albuês sim. Ela foi diretora junto comigo, roteirista e montadora. E trabalhou muito na produção, direção e finalização. Nós dois tomamos todas as decisões juntos e, portanto, ressalto: o filme é nosso, da Glória e meu.
Quanto ao fato do nosso filme Manoel Chiquitano Brasileiro não constar na programação do Festival, gostaria de considerar algumas questões que nos levam a crer que parece ter havido criação de empecilhos para que não pudéssemos inscrevê-lo:
1) Não entendemos qual critério o Festival utilizou para estabelecer que somente os filmes mato-grossenses de 20 minutos pudessem se inscrever, já que é quase um consenso nos Festivais pelo Brasil de que a categoria curta-metragem vai até 25 minutos.
2) Realmente você disse para editar o nosso filme Manoel Chiquitano Brasileiro, entretanto, foi numa ligação feita faltando um dia pra acabar a inscrição (ainda que a inscrição tenha sido prorrogada por mais alguns poucos dias - três salvo engano). Mas como técnico da área, você sabe que não há tempo hábil para editar um filme cortando 5 minutos num período tão curto. Era preciso gastar recursos que não tínhamos para contratar produtora, editor e precisa readequar totalmente a obra, para que haja concatenação nas ideias, falas, personagens, com fluidez nos cortes, que exige muitas horas de ilha de edição. E também consideramos um desrespeito para com nós diretores, que fizemos um trabalho de 25 minutos e passou por um crivo de um edital nacional, o Etnodoc, e uma comissão com técnicos especialistas em cinema, tendo sido aprovado como um dos 15 melhores roteiros entre mais de 890 inscritos no Brasil todo. Caso fossemos editar iriamos descaracterizar a obra!
3) Não entendemos, porque a regra de 20 minutos valeu apenas para as produções locais e não valeu para as produções nacionais. Gostaria de lembrá-lo que quando mostrei o filme Manoel Chiquitano Brasileiro, na ocasião, você sabia que tinha 25 minutos, e em nenhum momento você informou que o Filme não poderia concorrer devido a duração da obra. Sem contar que no catálogo duas obras da mostra competitiva de curtas estão acima de 20 minutos: O Florista com 23 minutos; e O Ser Tão Cinzento com 25 minutos. Isso configura que a curadoria do Festival usou de dois pesos e duas medidas? Que fique claro que não questionamos a inclusão desses trabalhos, pois certamente têm seus méritos.
4) Por outro lado, não entendemos porque o Festival não pode exibir nosso filme Manoel Chiquitano Brasileiro na mostra Hour Concours, uma vez que dois filmes nesta mostra ultrapassam também os 25 minutos: o mato-grossense Ivens Cuiabano Scaff, com 45 minutos; e Cidade Cinza de 80 minutos. Embora não conheça os filmes, acho da maior importância, ambos participarem, principalmente do poeta Ivens Cuiabano Scaff poeta de primeira qualidade. Que fique bem claro que não estou contra a inserção dessas obras.
5) Manoel Chiquitano Brasileiro é um filme que tem qualidade para no mínimo ser apresentado no Festival. Ainda que não concorresse em nenhuma categoria competitiva, minimamente merecia ser exibido, pois retrata a questão dos indígenas Chiquitanos na fronteira do Brasil com a Bolívia, mostrando a cruel realidade que enfrentam nos conflitos que travam com os fazendeiros brasileiros e mato-grossenses para manutenção de suas terras e identidade indígena. Tanto é que recentemente foi selecionado na Mostra Amazônia de Cinema do Sesc Arsenal e vai percorrer 10 cidades da região Amazônica. E ainda passou pelo crivo da comissão técnica da TV Brasil, que vai exibi-lo em sua grade de programação ainda este ano.
6) Atentando-se ainda ao fato de que o deputado estadual José Riva - que aparece no filme como um dos políticos que defendem um modelo econômico onde as terras indígenas são vistas como obstáculo ao desenvolvimento do Estado -, vem a ser o marido da secretária de estado de cultura de Mato Grosso, órgão patrocinador do Festival, e dado o conjunto do que apresentamos, nos leva a crer que a organização do Festival não quis se indispor com o seu principal financiador. O que é lamentável, pois nos faz questionar se ao tomar tal atitude, indiretamente, a organização do Festival não está exercendo censura prévia e atentando contra a liberdade de criação e expressão? Direitos tão duramente conquistados por nossa categoria artística.
Aluízio De Azevedo Júnior
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Glória Albues
VER PARA CRER
É difícil acreditar em certas coisas quando elas acontecem conosco. Parece a Morte, aquela que a gente sempre pensa que só acontece com os outros. Mas tal qual a Indesejável, as coisas acontecem sim com a gente mesmo.Um dia ou outro.
Estou me referindo aos últimos acontecimentos que envolvem o meu nome e do Aluízio de Azevedo em relação ao Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, que de uma forma inesperada e usando de táticas obscuras, impediu que o nosso filme Manoel Chiquitano Brasileiro fosse inscrito, não nos dando sequer a chance de competirmos e do filme vir a ser selecionado - e para nossa grande alegria - exibido ao público mato-grossense. Quer coisa mais triste quando uma obra de arte não consegue chegar às pessoas? Já dizia (ou cantava?) o Caetano Veloso na década de sessenta: É proibido proibir .
Quando isso acontece é quase uma morte, é como se retirasse o ar do pulmão da vida, porque acredite a vida está lá na obra do artista. E mais triste ainda quando esse impedimento vem de um Festival de Cinema tão importante para o desenvolvimento do audiovisual em Mato Grosso, o qual ao longo de suas 18 edições, aplaudimos, participamos e apoiamos.
E o que é pior, querem fazer crer os responsáveis por essa decisão ( que naturalmente não recai sobre todos os que trabalham no Festival), que tudo não passa de um mal entendido, um delírio de interpretação de nossa parte, uma teoria da conspiração. Onde está a prova que existiu má fé, ou censura previa, ou ainda cerceamento à liberdade de expressão por parte do Festival? De onde tiramos essa idéia maluca? Aí é que mora o problema, pois são coisas que não se escrevem, justamente prá não se deixar rastros. Palavras levam o vento…Mas atitudes são atitudes e falam por si mesmas .
Concordo plenamente com tudo que o meu parceiro Aluizio vem publicando na internet, através do facebook sobre o lastimável episódio. Mas se ainda pairar alguma dúvida, tenho uma proposta que aqui faço publicamente à direção do Festival. A abertura de um espaço na programação ( e todos nós que trabalhamos com eventos culturais sabemos que isso é possível quando há real interesse) para exibirmos o nosso filme Manoel Chiquitano Brasileiro a todos aqueles que estão vivamente interessados em refletir e debater sobre as condições de penúria, violência e toda sorte de desrespeito que a etnia chiquitana vem sofrendo ao longo de sua história, por conta da ação de fazendeiros e pecuaristas da região, apoiados por seus representantes políticos em Mato Grosso. E sobretudo discutir o direito à identidade étnica dos povos que é o assunto central do nosso documentário. Que tal, no último dia do Festival? Assim teríamos tempo de convidar um maior número de pessoas. Só não vale colocar a exibição do nosso filme Manoel Chiquitano Brasileiro à I hora da tarde.
Essa tomada (ou deveria dizer retomada?) de atitude beneficiaria a todos. Afinal, esta não deve ser uma luta de vencedores e vencidos mas uma celebração à liberdade de criação e de expressão. Como disse, ganhamos todos, o Festival, o patrocinador oficial que é a Secretaria de Cultura do Estado, nós, os realizadores e sobretudo, mas sobretudo mesmo, o público. Assim, sairíamos do campo das palavras e passaríamos às atitudes, porque como disse anteriormente, as atitudes falam por si mesmas.
Glória Albues
Aloir Pacini
Como antropólogo que assessorou e forneceu muitas imagens do filme, fui da equipe que o preparou estou lisonjeado por ter participado desta produção. Soube desta censura absurda no dia 10 do corrente e fiquei escandalizado, pois não pensava que algo assim pudesse acontecer nos dias de hoje. Estive entre 16 e 18 de outubro de 2013 em Santa Cruz de la Sierra, Bolivia onde apresentei o texto As identidades nas fronteiras: o caso de Manoel Chiquitano nas Jornadas de Antropología, Historia y Arqueología - Tierras Bajas, no Grupo de Trabalho Fronteira Bolivia-Brasil, coordenado por mim e por Paulo Cimó Queiróz, que aconteceram no Museo de Historia de la Universidad Autónoma Gabriel René Moreno. No dia seguinte foi passado o filme Manoel Chiquitano Brasileiro e as pessoas aplaudiram de pé e elogiaram muito a qualidade desta produção.
Observo aqui que a peregrinação feita por Manoel Chiquitano Brasileiro que não era cidadão nem do Brasil, nem da Bolívia é uma metáfora da situação dos Chiquitanos no Brasil. O caso do Manoel Massaí Manacá da comunidade Santa Aparecida, município de Vila Bela da Santíssima Trindade em Mato Grosso, que desejava conseguir seu documento de identidade que o identifiquem indicam o caminho percorrido pela sua etnia no Brasil. A dificuldade do documentário Manoel Chiquitano Brasileiro participar do 19º Festival de Cinema e vídeo de Cuiabá tem a ver com as posturas dos políticos do Mato Grosso contra a demarcação destas terras tradicionais para os Chiquitanos, disso não tenho a menor dúvida. Por isso não estranho as maquinações para tornar mais uma vez as demandas desta etnia invisíveis por aqui. Contudo, esta é mais uma oportunidade de mostrar algumas conexões e divulgar como vivem os Chiquitanos nas fronteiras do Mato Grosso com a Bolívia.
Aloir Pacini
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Bartomeu Meliá do Paraguai
Siento o creo sentir lo que sientes. El colonialismo actual tiene más mañas y es más deshonesto, creo, que el antiguo. Es más amplio.
En este y otros casos se ve que que los recién llegados invadieron la casa de los chiquitanos, y como la entrada les era chica, echaron abajo la casa y desalojaron a los dueños; ahora con toda desfachatez se preguntan que hace ahí todavía los antiguos moradores que permanecieron. Ahora los indios tal vez no sean los que tienen que ser matados -ijukapyrâma- , sino los que tienen que desaparecer de la vista -ikañypyrâma-, por lo menos esconderlos debajo de la alfombra para no ser vistos, que tiene su suciedad también y cuánta.
Gracias por la información.
Saludos a los compañeros de la casa de Cuiabá, con añoranza.
Grande abrazo
Bartomeu, s.j.
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