terça-feira, 9 de outubro de 2012

VLADIMIR HERZOG (1937-1975) Memória de um pesadelo

observatório da imprensa
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VLADIMIR HERZOG (1937-1975)

Memória de um pesadelo

Por Audálio Dantas em 09/10/2012 na edição 715

Apresentação de As duas guerras de Vlado Herzog, de Audálio Dantas, 406 pp., Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2012; lançamento, em São Paulo, na terça-feira (16/10), a partir das 19h, no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rego Freitas, 530 - sobreloja); título e intertítulos do OI
   
O projeto deste livro tem mais de trinta anos. Quando decidi realizá-lo, em 2005, avaliei o tamanho das dificuldades que teria pela frente. A primeira, maior de todas, era juntar as lembranças, os cacos de memória que ficaram espalhados pelo caminho até então percorrido. Trinta anos haviam se passado desde a escalada de terror que culminou com o assassinato de Vladimir Herzog, no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) do II Exército, em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975.
Escrever este livro significava reviver um pesadelo.
Nos pesadelos, os momentos de maior angústia persistem na memória. Mas faltava juntar as lembranças das angústias reais. Em que momento, exatamente, tudo aquilo tinha começado? Como reconstituir cenas reais que muitas vezes se misturavam à ficção?
Trinta anos depois, era grande a dificuldade para retomar o fio da meada. No entanto, era preciso contar a história daqueles dias de outubro de 1975.
O projeto do livro nasceu no exato momento em que, descendo as escadarias da catedral da Sé, em São Paulo, vi a multidão – 8 mil pessoas – que participara, em protesto silencioso, do culto ecumênico em memória de Vladimir Herzog escoar-se pelas esquinas da praça que, aos poucos, se esvaziou.
Aquele vazio, no fim da tarde de 31 de outubro de 1975, estava carregado de simbolismos.
A paz ocupara o espaço que poderia, naquele exato momento, estar tinto do sangue dos que haviam comparecido ao ato cívico-religioso na catedral.
Ao mesmo tempo que os participantes do culto ecumênico deixavam a praça, em pequenos grupos, retiravam-se centenas de policiais que para ali tinham sido mandados, com ordens de reprimir qualquer manifestação fora dos limites da catedral.
Esvaziavam-se a praça e, ao mesmo tempo, o pretexto para uma ação repressiva que poderia terminar num massacre.
Um grito que fosse, dentro ou fora da catedral, poderia desencadear a fúria reprimida dos que haviam assassinado Vladimir Herzog e ali esperavam justificativa para a continuidade de uma guerra contra a “subversão”, articulada na sombra dos porões controlados pelos órgãos de segurança da ditadura militar, transformados em campo de operação de um poder paralelo.
O Brasil inteiro estava em suspense naquele momento em que, na previsão sinistra de uma autoridade, tudo poderia acontecer. Mas o vazio da praça tinha o sentido de um marco na luta contra a ditadura que, no dizer de um dos oficiantes do culto ecumênico, dom Helder Câmara, começava a cair naquele instante.
Ao descer as escadarias da catedral, tive a certeza de estar vivendo o início de um novo capítulo na história das lutas do povo contra a opressão. Vale registrar aqui o depoimento que, anos depois, daria o jornalista Marco Antônio Rocha, um dos que constaram da mesma lista de militantes comunistas em que estava o nome de Vladimir Herzog:
Nunca se disse tanto sem nenhuma palavra e nenhum ruído. O povo reunido na catedral da Sé – corajosamente, diga-se de passagem, depois do festival de truculências policial-militares engendrado para que ninguém fosse lá – não disse nada. Mas, simplesmente, estava dizendo: “Basta!” De maneira uníssona, enérgica, firme, determinada – e absolutamente pacífica. (…) Eu quero que meus filhos, Júlia e Alexandre, os jovens que têm a idade deles e a idade do Ivo e do André – filhos do Vlado –, saibam isso: aquele fato mudou o Brasil e mudou nossas vidas.
O culto e o cerco
Os dias de outubro, que se haviam iniciado com uma onda de prisões e sequestros de jornalistas – até a morte de um deles, Vladimir Herzog, sob tortura – não terminavam ali, naquele fim de tarde.
O projeto do livro, portanto, ficaria para depois. A luta continuava. Uma das tarefas que se impunham era a da exigência de esclarecimentos sobre as circunstâncias em que ocorrera a morte de Herzog.
O presidente da República ordenara ao comandante do II Exército que se fizesse um IPM, inquérito policial-militar, para apurar o caso. O comandante instaurou uma farsa: um “inquérito para apurar as circunstâncias em que ocorreu o suicídio do jornalista Vladimir Herzog”.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, por mim presidido, continuava a ser uma trincheira na guerra desigual que os setores mais extremados da ditadura militar moviam contra os opositores do regime.
Escrever sobre os acontecimentos dos quais fui um dos protagonistas não era uma tarefa simples. Decidi mais uma vez adiar o projeto. O distanciamento dos fatos, dos momentos de grande tensão que vivera, era recomendável. Uma desculpa, talvez. Outros fatores, no entanto,
iam se juntando e justificando o adiamento. Um deles, importantíssimo, foi o lançamento, em 1979, do livroDossiê Herzog, de Fernando Jordão. Como eu, Fernando, também diretor do Sindicato dos Jornalistas, foi tomado pela mesma indignação que levara à luta para denunciar o assassinato. Em seu caso, a tragédia pesara ainda mais, pois era um dos amigos mais próximos de Vlado.
O livro de Jordão, uma grande reportagem tocada pelo humano sentimento de revolta, retratava os dias de angústia que juntos tínhamos vivido. Em poucas palavras que escrevi, à guisa de apresentação do livro, defini-o como “uma admirável reportagem escrita a partir do instante em que a consciência da necessidade de resistir à opressão se sobrepõe ao medo”.
O que acrescentar ao trabalho de Jordão?
Outros livros vieram depois, demonstrando a grandeza e a importância dos acontecimentos que, a partir da denúncia do assassinato de Vladimir Herzog, feita pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, abriram os caminhos que levaram à queda da ditadura militar.
Desde então, a história do tempo de sombras que o país viveu a partir do golpe de 1964 não pode ser contada sem – pelo menos – o simples registro do que se passou a chamar de “Caso Herzog”.
Acompanhei, ao longo dos anos, praticamente tudo que se escreveu a respeito em jornais, revistas, livros e teses acadêmicas. A leitura de inúmeros textos levou-me à conclusão de que eu tinha uma dívida a pagar. Era preciso, em muitos casos, tentar repor a verdade dos fatos, preencher lacunas de informações, apontar inverdades e até omissões propositais.
Escrever este livro tornou-se, para mim, uma tarefa irrecusável. Havia, sim, muito mais a dizer sobre os dias de outubro de 1975. Principalmente sobre o papel do Sindicato, na maioria das vezes omitido nos textos produzidos sobre o episódio. Reproduzo aqui um trecho do que escrevi para o livro Pela democracia, contra o arbítrio, publicado em 2006 pela Editora Fundação Perseu Abramo:
O papel desempenhado pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na denúncia do assassinato de Vladimir Herzog ainda não foi devidamente avaliado. Se o sacrifício de Vlado foi, sem sombra de dúvida, o ponto de partida para o desmonte do aparelho de repressão armado pela ultradireita, que lutava pela hegemonia na ditadura militar, a atuação do Sindicato no episódio marcou o momento em que se abriu espaço para o crescimento da resistência da sociedade civil ao regime instalado no país com o golpe de 1964. (…) Naqueles dias de outubro, o Sindicato dos Jornalistas era a principal trincheira, uma referência para a sociedade civil na luta contra a repressão.
A omissão desse fato pode ser constatada na maioria das referências sobre o Caso Herzog. Uma saída cômoda para a falta de pesquisa ou, não poucas vezes, para os que, por paixão partidária, tentam reescrever a história remetendo os fatos para um exílio siberiano qualquer é a repetição de que tudo aconteceu em função de uma repentina “reação da sociedade civil”.
Houve, claro, essa reação – e sem ela não teria sido possível avançar na denúncia de mais um crime da ditadura – mas falta dizer como e por que ela surgiu. Não foi, evidentemente, num passe de mágica.
Antes de Vlado, dezenas de outros crimes haviam sido cometidos pela ditadura, em circunstâncias mais ou menos parecidas, sem que se produzissem reações tão significativas como as ocorridas em outubro de 1975. Basta lembrar que, antes de Herzog, 21 jornalistas foram mortos ou permanecem até hoje nas listas dos desaparecidos políticos, sem que esses crimes tenham sido denunciados com a veemência que tornou possível a maior manifestação de massa desde a decretação do AI-5 – apesar do gigantesco cerco policial montado para impedir a participação do povo em um ato público – o culto ecumênico em memória de Vlado, na catedral da Sé.
São inúmeros os casos de informação torta sobre a repercussão da morte de Vlado. Alguns, produzidos em trabalhos acadêmicos, por autores conhecidos e respeitados.
Dois ofícios
Este livro é uma tentativa de reconstituição de um tempo ruim. Centrado nos tumultuados dias de outubro de 1975, quando a fúria dos agentes do lado mais escuro da ditadura militar golpeou a fundo a categoria dos jornalistas, ele mostra os acontecimentos do ponto de vista de quem os viveu intensamente. Eu, por exemplo, que não tenho dúvidas de que aqueles foram os dias mais angustiantes da minha vida.
A partir das acusações de infiltração comunista nos veículos de comunicação, repetidas à exaustão pelos militares, e que levaram à escalada de prisões e sequestros de jornalistas, até os dias de maior tensão e medo que se sucederam à morte de Vlado, a reação do Sindicato dos Jornalistas foi decisiva para o movimento de protesto contra o assassinato. Toda essa história é contada neste livro, em que os acontecimentos são narrados de dentro para fora.
Para que ela pudesse ser mais bem compreendida, foi preciso recuar a um tempo mais distante e contar um pouco da história do Sindicato e da luta que levou jornalistas a se organizarem, nos anos 1970, para alijar da entidade grupos comprometidos com a ditadura militar. Muitas lutas marcaram essa história. Do grupo que fundou o Sindicato, em 1937, participaram figuras importantes, entre elas Oswald de Andrade e Pagu, que no início da década haviam lançado um provocante pasquim chamado O Homem do Povo, que teve vida curta de apenas oito edições. Por causa dele, os dois não foram, por pouco, linchados na praça da Sé.
Ao escrever este livro, não tive a pretensão de esgotar o assunto, mas sim acrescentar novas informações e jogar um pouco mais de luz sobre o que se pode considerar um dos capítulos mais importantes da história recente do Brasil.
Minha intenção nunca foi a de fazer “revelações”. No entanto, o leitor poderá encontrar aqui alguns fatos novos, boa parte dos quais permaneceu oculta nos papéis até recentemente sonegados pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) e que, finalmente, foram entregues à guarda do Arquivo Nacional, em Brasília.
A propósito desses documentos, vale registrar que, mesmo sob a guarda de um arquivo público, o acesso ao seu conteúdo tem sido extremamente dificultado. Pude constatar isso quando, em fevereiro de 2011, solicitei ao Arquivo Nacional a documentação sobre Vladimir Herzog. Pedi, também, os dados a meu respeito. Registrado o pedido, por escrito, em ficha com a qualificação do requerente, recebi um bom tempo depois o ofício assinado pela coordenadora da instituição no qual se exigiam vários documentos. Além da autorização da viúva de Herzog, a qual eu tinha em mãos no dia em que fiz a solicitação, eram exigidas nova autorização “atualizada” e cópias autenticadas das certidões de casamento e de óbito de Vladimir Herzog.
A exigência era, além de absurda, desrespeitosa à memória de Vlado. Cumpri-la significava aceitar como verdadeiro o laudo necroscópico que o médico Harry Shibata, colaborador do DOI-Codi, assinou sem ver o corpo, atestando a morte como suicídio.
O acesso à documentação só foi possível depois que o caso foi levado ao ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, a quem o Arquivo Nacional é subordinado. Mas não por completo. Tanto no caso dos papéis sobre Herzog quanto nos que me dizem respeito, há um claro “apagão” justamente no que se refere ao período em que estivemos mais visados pelos órgãos de informação: no caso de Vlado, a partir de sua indicação para dirigir o Departamento de Jornalismo da TV Cultura até sua morte e as manifestações de protesto que se seguiram; no meu, não foi encontrado, em cerca de 400 documentos em que sou citado, qualquer registro de fatos relevantes sobre os passos que dei desde o dia 5 de maio, quando assumi a presidência do Sindicato dos Jornalistas, até o fim de 1975. Em diferentes datas, porém, antes e depois dos acontecimentos, os papéis me colocam em posições as mais desencontradas possíveis: de dócil instrumento de manipulação pelos comunistas a militante de pelo menos seis organizações da luta armada.
O que faltou durante o período em que presidi o Sindicato sobrou nos anos seguintes. Durante a campanha eleitoral de 1978, quando concorri à Câmara dos Deputados pelo MDB, meu nome entrou em várias listas de “candidatos comunistas”.
Eleito, tive meus passos seguidos pelos órgãos de informação. E continuaram a me espionar mesmo depois da queda da ditadura. O informe confidencial ACE nº 059431, de 6 de novembro de 1986 (Acervo do Arquivo Nacional, Brasília), me incluiu entre os esquerdistas que ocupavam cargos no governo federal. Apontado como militante do PCB, eu era, então, membro do Conselho Fiscal da EBN (Empresa Brasileira de Notícias).
Sempre vigiado, o sindicato de onde partiu a denúncia do crime e a mobilização para as manifestações de protesto é mencionado em umas poucas atividades rotineiras, ao contrário do que ocorreu antes das eleições, quando a chapa de oposição da qual eu participava como candidato a presidente como cabeça de ponte de mais uma conspiração comunista.
Os documentos a que tive acesso são anteriores ou posteriores à ofensiva que levou aos cárceres do DOI-Codi 12 jornalistas, um dos quais de lá não sairia com vida. As referências mais importantes sobre a morte de Vlado só vão aparecer num longo relatório – o de nº 2.122, do CIE (Centro de Informações do Exército), datado de 6 de novembro de 1975 – que se estende sobre a versão do suicídio e apresenta Vlado como ponta de lança para a montagem de um núcleo de “formação esquerdista” e de “uma verdadeira célula comunista na TV Cultura”.
Em dois ofícios enviados em março de 2011 ao Arquivo Nacional/ Coordenação Regional no Distrito Federal solicitei informações sobre a ausência de referências sobre fatos de grande importância ocorridos nos períodos acima citados.
Não obtive qualquer resposta.
Leitor especial
Muito da história que insistem em manter na sombra é aqui contada por pessoas que viveram os longos anos de opressão da ditadura e são testemunhas dos fatos ocorridos durante os dias tumultuados de outubro de 1975. Depoimentos de quase meia centena de pessoas foram registrados para este livro. Todos os jornalistas que passaram pelo DOI-Codi, antes e depois da morte de Vlado, foram entrevistados. Foram ouvidos diretores do Sindicato e personalidades que tiveram participação relevante no episódio.
Neste trabalho, contei com a preciosa colaboração do jornalista Jorge Sá de Miranda, ele próprio uma das testemunhas dos fatos que levaram à morte de Herzog e à reação dos jornalistas unidos em torno de seu Sindicato para responsabilizar os militares pelo crime. Fizemos juntos a maior parte das entrevistas e, em alguns casos, Jorge se encarregou sozinho desse trabalho, completado com um competente resumo dos textos gravados.Jorge tem especial admiração por Vlado, de quem foi aluno no curso de Jornalismo da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo.
Muitas outras fontes foram consultadas para este livro, cujo ponto de partida é a saga da pequena família Herzog em fuga desesperada da Iugoslávia para a Itália, durante os dias de horror da Segunda Guerra Mundial. Fugiam da guerra que despedaçava a Europa e da perseguição nazista aos judeus. Para trás ficou o que restava da família, em sua maior parte assassinada nos campos de concentração.
Para sobreviver, o menino judeu Vlado Herzog aprendeu dolorosas lições de fuga. Ele vivia a sua primeira guerra. A segunda viveria no Brasil, país a que chegou aos 9 anos.
A paz que ele e seus pais acreditavam ter encontrado aqui terminou um dia na escuridão de uma sala de tortura.
Para contar a história da infância de Vlado vali-me da carta escrita em 1968 por seu pai, Zigmund Herzog (falecido em 1972), guardada como documento e relíquia da família e cuja íntegra seria publicada em 1986 por Trudi Landau, em seu livro Vlado: o que faltava contar. Outras informações a esse respeito foram dadas a Trudi pela mãe de Vlado, Zora. Essa história está aqui registrada em sua essência, contada com outras palavras.
O menino em fuga e o jovem que aqui aprendeu lições de Brasil e tornou-se o brasileiro Vladimir Herzog compõem o perfil do personagem central deste livro, cuja realização contou com a ajuda de muitas pessoas, amigos muito especiais e queridos aos quais deixo aqui os meus agradecimentos. Alguns deles, como os escritores Antônio Possidônio Sampaio, que tanto me incentivou a escrever este livro, Antonio Torres, Fernando Pacheco Jordão e Levi Bucalem Ferrari, honraram-me com a leitura crítica do texto. Clarice Herzog, sempre atenta, dedicou especial atenção à parte que trata da infância e do perfil de Vlado adulto, e Ivo Herzog é o guardião da memória de seu pai.
Juca Kfouri, participante das lutas do Sindicato dos Jornalistas nos momentos de crise mais aguda, foi outro dos que me distinguiram com a atenção de sua leitura. Finalmente, um leitor mais do que especial, do qual posso dizer que assistiu à elaboração deste livro durante todo o tempo que pude dedicar à sua escrita, foi um velho companheiro, o sociólogo Sineval Martins Rodrigues. Quando precisei, digamos, de um refúgio, foi Sineval que, com a cumplicidade de Sidneia, sua mulher, pôs à minha disposição sua casa, num canto tranquilo da Vila Romana, para que eu escolhesse um espaço mais adequado para a realização do trabalho. Frequentei durante meses o canto que considerei mais sossegado – um pequeno estúdio de som desativado, no fundo da garagem.
Sineval, aliás, tem tradição em conceder “asilo”. Durante quase dois anos, entre 1978 e 1979, um velho líder sindical rural, Espedito Rocha, permaneceu escondido em sua casa. Espedito vivia na ilegalidade em Mato Grosso e tinha escapado de um cerco policial. A pedido de um dirigente do PCB, foi se refugiar na casa de Sineval, que nas horas vagas fazia esculturas. Sineval e sua mulher passavam longas temporadas no interior, fazendo pesquisas, e o “aparelho” ficava por conta de Espedito, que passava o tempo mexendo com pedaços de madeira. Com o tempo, virou um escultor famoso.
Devo ainda agradecimentos a outros amigos que de algum modo contribuíram para que eu pudesse escrever este livro: Sérgio Gomes da Silva, o primeiro jornalista a ser apanhado na grande caçada de outubro de 1975; Ayrton Soares, companheiro da bancada da oposição na Câmara dos Deputados, nos anos 1970 e 1980, e que comigo e outros parlamentares acompanhou nas ruas do ABC as grandes greves operárias; os jornalistas Domingos Meirelles, Nunzio Briguglio, Eduardo Ribeiro, Wilson Baroncelli, Vladimir Sacchetta, Edimilson Cardial, Márcio Cardial, Inês Pereira, Danylo Martins, Nivaldo Honório da Silva, José Alberto Lovetro (JAL) e Carlos Alberto Malagodi, além de amigos muito especiais, como Onésio e Clementina Dantas, Roberto Ferreira, Thiago Francês Cordeiro, João Carlos Poço, José Gustavo Kunc, Olga Kunc e Severina Alves da Silva. Finalmente, devo estender estes agradecimentos à Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), pela contribuição que me permitiu dedicar o tempo necessário à realização das pesquisas. (São Paulo, dezembro de 2011)
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[Audálio Dantas é jornalista]

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