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Cuiabá reage em favor da etnia Guarani-Kaiowá
Por Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa do Centro Burnier Fé e Justiça e da ADUFMAT S.Sind
Mais de 100 pessoas de Cuiabá – entre ambientalistas, militantes de movimentos sociais, sindicais e populares, além de muitos e muitos estudantes – estão dispostas a reagir em favor do povo Guarani-Kaiowá, da terra Pyelito, localizada no Mato Grosso do Sul (MS).
Esse pessoal todo lotou a reunião realizada nessa terça-feira, 30/10, à tarde, no campus de Cuiabá da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Essa é uma reação local contra a expulsão da comunidade que ameaça resistir até a morte na reserva, se quiserem de fato expulsá-la.
A questão virou um caso viral na internet, principalmente no Facebook. O apelo popular pode ter sensibilizado para a causa, tanto parte da sociedade, que em geral é omissa às questões indígenas, e a justiça, que suspendeu a reintegração de posse da área ocupada pelos índios guaranis-kaiowás, na fazenda Cambará, no município de Iguatemi. Veja notícia sobre a decisão aqui.
A notícia da suspensão, que alivia mas não resolve nada em definitivo, chegou em meio à reunião, na qual foram formados Grupos de Trabalho (GTs) de estudos e formação, assistência, comunicação, mobilização, materiais e ato público.
A decisão da justiça não foi tão comemorada porque o jogo político está em curso e é fato que se não houver um acompanhamento do caso, corre-se o risco da justiça voltar atrás.
Como em outras cidades brasileiras, também em Cuiabá será realizado um ato público, dia 9 de novembro, em local e horário ainda a serem definidos.
Para Gilberto Vieira, da coordenação do Conselho Indigenista Missionário em Mato Grosso (CIMI-MT), se houver derramamento de sangue na área em questão será responsabilidade sobretudo do Governo Federal que não fez o que tinha que ser feito para defender os direitos dos povos indígenas do Brasil.
A professora da UFMT, Cida Rezende, ressaltou que o preconceito ao índio é um ódio naturalizado, promovendo o preconceito racial. Ela contou que recebeu visita de índios em sua casa e teve problemas com a vizinhança.
Os presentes reclamaram que os meios de comunicação reforçam o preconceito contra os índios e não dão conta de narrar os fatos com fidedignidade e em prol da justiça social.
A professora da UFMT, Michele Sato, destacou que a luta tem que avançar para além do virtual, apesar de reconhecer a visibilidade que o Facebook deu à causa.
O teólogo João Inácio Wenzel, do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), visitou a terra Pyelito e deu um depoimento indignado. Diz ter visto crianças passando fome, disse que os índios sofrem com a intoxicação por venenos agrícolas, que estão encurralados em pequenas áreas, que é gritante a situação,
Ele explicou que para os Guarani-Kaiwoá eles realmente não vão sair nem vivos nem mortos da terra, porque eles são parte da terra, são uno com a terra, integrados.
Wenzel também disse que “é hora de entendermos a questão dos Guarani-Kaiowás como a mesma dos sem-terra, a mesma dos quilombolas e de outros grupos sociais marginalizados e violado em seus direitos básicos”.
Segundo ele, o ódio racial é que permite a violência contra os índios. “Nossa sociedade que ver os índios mortos ou longe”.
Para a assistente social Solange Pereira, do Grupo de Pesquisa em Movimentos Sociais e Educação-UFMT, “a situação em que se encontram os Guarani Kaiowá, os Xavante de maräiwatsedé e outros povos indígenas e povos tradicionais, afeta igualmente toda a sociedade. Pois a questão de fundo aqui é que estão sendo desrespeitados os direitos existentes na Constituição Federal brasileira (At. 231). O que está posto é um Sistema Judiciário que ao invés de respeitar estes direitos tem sido tendencioso para o agronegócio, para o lado das grandes corporações financeiras. E isso deixa a toda a sociedade em perigo”.
Três estudantes indígenas de etnias diferentes se manifestaram. Adriana Bakairi faz serviço social na UFMT. Para ela, o ato público seria importante para mostrar à sociedade a violência que os Guarani-Kaiowás estão sofrendo. A estudante Marta Manoki acredita que esse modelo capitalista é que causa tantas tragédias. Ela citou a evidente afronta à Constituição nesse caso, mas tudo pode quando é para atender aos interesses do poder econômico. “Engraçado, o que significa então a Constituição?” – questionou. Juvenilda Chiquitano disse estar quase formando e que sofreu preconceitos de todo tipo e o tempo todo nesses últimos quatro anos dentro da UFMT. Sobre as tragédias do momento, ela comenta: “As questões indígenas são assim. Quando a gente pensa que venceu uma luta, vem outra bomba e estoura encima da gente”.
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