domingo, 21 de outubro de 2012

O exemplo que vem do Butão

ibase
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O exemplo que vem do Butão

do Climate Himalaya
Traduzido pelo Canal Ibase
Na semana passada, o ministro de Agricultura e Florestas do Butão, Gyamtsho Pema, anunciou um ambicioso plano para transformar a produção de alimentos em 100% orgânica em 2020. Em um país onde 79% da população está envolvida direta ou indiretamente na agricultura e onde há altas aspirações espirituais, tonar-se orgânico parece uma tarefa fácil. Mas os desafios já estão à vista.
“É inspirador e provoca conversa. Vai ser interessante ver durante o próximo ano se eles serão capazes de continuar fazendo isso – foi um desafio, ou foi uma transição fácil?”, disse Danielle Nierenberg do Worldwatch Institute, diretora do Nourishing the Planet Program (Programa Nutrir o Planeta, em tradução livre), em uma entrevista online.
No Butão, um pequeno reino hereditário do Himalaia situado entre a Índia e a China, a agricultura é basicamente um negócio voltado para o autossustento. Um estudo realizado em 2006 revelou que mais de 85% do arroz produzido no país é consumido em casa. A negociação de ativos envolve principalmente maçãs, tangerinas, batatas e raiz de gengibre.
Ainda assim, o arroz vermelho do Butão se mostrou um exemplo rentável. Muitos produtores de arroz em áreas de grande altitude produzem arroz vermelho para os mercados de exportação nos Estados Unidos e na Europa, onde cerca de 100 toneladas de arroz branqueado são exportadas anualmente, de acordo com o Ministério da Agricultura. Nierenberg disse que, embora a decisão de se tornar orgânico beneficie principalmente os cidadãos do próprio país, ela também pode servir como um bom exemplo para outras regiões e países que não têm grandes populações, mas têm uma boa quantidade de terra arável. “Eles podem aprender com o Butão como fazer isso”, acrescentou Nierenberg.
A ideia de se tornar orgânico veio em 2002, como parte de um Quadro Nacional de Agricultura Orgânica no Butão, mas o plano foi formulado em 2008 pelo Ministério da Agricultura. A política tem como objetivo promover a agricultura orgânica como um estilo de vida entre os agricultores do Butão e aumentar o bem-estar.
A agricultura no Butão já é quase toda orgânica, já que pesticidas ou fertilizantes quase não são usados. Ainda assim, há desafios como a consciência e a compreensão insuficiente da produção orgânica entre agricultores, legisladores e consumidores.
No Butão, a agricultura orgânica é muitas vezes confundida com a agricultura tradicional e vista como sendo atrasada, enquanto a agricultura moderna é relacionada às tecnologias verdes.
Outro problema é a falta de um quadro jurídico adequado, padronização e instituições desenvolvidas para dar suporte aos produtores orgânicos.
A produção orgânica é conhecida por sua intensidade de trabalho e falta ao Butão mão de obra suficiente para cobrir essas necessidades. De acordo com um relatório de 2008, da população total de 634.982 pessoas, apenas 49% são agricultores ativos.
A ecoagricultura parece ser a única direção possível a seguir, não só para o Butão, mas para o mundo inteiro. Com o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e efeitos cada vez mais evidentes das mudanças climáticas, o mundo precisará, naturalmente, se mover em direção a uma abordagem mais orgânica, a fim de cobrir as necessidades alimentares.
“Realmente, agora é a hora dos governos de todo o mundo começarem a investir em métodos agroecológicos. Tais investimentos irão criar resiliência não apenas no Butão, mas em todo o mundo. Eles também ajudarão a melhorar os rendimentos “, disse Nierenberg.
Nierenberg adverte que orgânico não é necessariamente sinônimo de sustentável, especialmente em grande escala, porque a agricultura tem que considerar não só a forma de reduzir o uso de produtos químicos, mas também a forma de contribuir para a biodiversidade, a reconstrução de solos, protegendo a água e evitando a poluição do ar.
“Orgânico nem sempre significa melhor, temos que nos concentrar na sustentabilidade”, disse Nierenberg.
O Butão parece estar no caminho certo. De acordo com a política do Ministério da Agricultura, “em um país onde a filosofia do ‘caminho do meio’ prevalece, a maioria das políticas de desenvolvimento são inclusivas e não exploradoras. Assim, a sustentabilidade é enfatizada em todas as ações”.
Agricultura orgânica no Butão. Foto: Rita Willaert, via Flickr
Tradução de Isis Reis

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