segunda-feira, 22 de outubro de 2012

NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE CAUSA DO SUICÍDIO NA VISÃO GUARANI E KAIOWÁ


NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE CAUSA DO SUICÍDIO NA VISÃO GUARANI E KAIOWÁ

Esta nota de lideranças da Aty Guasu visa explicitar e traduzir sinteticamente, o termo e conceito complexo de suicídio jejukauka, do ponto de vista Guarani e Kaiowá, esclarecendo os significados de “suicídio”, ou seja, um desejo e sentimento indígena de não viver mais, diante de desespero e medo kyhyje , entendido como uma vontade profunda em se matar juntos jajejukauka pa se distanciar do sofrimento e de ameaça existente, é para não se ver mais johexa vei  nos meio de sofrimentos variados teko asye sem perspectiva digna teko asyrã.  Dessa forma, pretendemos destacar os motivos principais que levam os indígenas se matar, ou melhor, o motivo de buscar/procurar/planejar a própria morte Guarani e Kaiowá jajejukauka que de fato foi divulgado historicamente pela imprensa nacional e internacional como a prática de suicídio Guarani e Kaiowá.

Importa ressaltar que todos os integrantes do Guarani e Kaiowá ameaçados, sem esperança de ver uma vida mais digna no futuro, pertencente aos territórios em conflito, em contexto de sofrimento infinito, já pensaram, algum momento, em suicídio. De modo fechado, o grupo já fala entre eles e pensa aborrecidamente em se matar, isto é, Guarani e Kaiowá sofridos carregam os sentimentos de reagir para morrer e/ou enfrentar iminente perigo/resistir se suicidando, por não conseguir o objetivo central de sua luta individual e coletiva, como povo indígena.  Este sentimento de não querer viver mais no Mundo suscita justamente frente à frustação, derrota, medo e fúria intensa indígena que só é narrada voluntariamente e expressada de modo discreto para as pessoas queridas íntimas ou companheiras/parceiras de luta recíproca. Assim, o sentimento Guarani e Kaiowá de não querer a viver mais é muito fechado e previamente nunca foi e nem será narrada em detalhe para as pessoas não indígenas estranhas e pessoas externas com quem não compartilham os seus sentimentos. Os indígenas narram previamente o seu sentimento pessoal somente para as pessoas de sua inteira confiança e companheira íntima. O fato de suicídio indígena já efetivado torna-se sempre público e divulgado pela imprensa. Não há uma preocupação de evitar o suicídio Guarani e Kaiowá.  Baseado em nossos sentimentos pessoais e nesses fatos citados acima, nas condições de lideranças de Aty Guasu, vimos, mais uma vez, reafirmar que os conteúdos da carta divulgada pela comunidade Guarani e Kaiowá de Pyleito kue/Mbarakay é uma decisão definitiva e histórica. Por exemplo, os trechos da carta da comunidade em julho/2003, dezembro/2009, agosto/2011, outubro/2012 declarou e divulgou que, “nós retornamos a reocupar a nossa antiga tekoha, voltamos aqui para morrer pela nossa terra”, “queremos morrer pela nossa terra antiga, por isso retornamos aqui reocupamos.” Este grupo indígena foi atacado e violentado, agredido e expulsa de modo cruel pelos pistoleiros em 2003, mas mesmo assim, retornaram a tekoha em 2009, foram agredidos e machucados e jogados na margem da estrada, porém voltaram de novo em 2011, sempre afirmando a sua intenção, “vamos morrer todos juntos pela nossa terra antiga”. De fato, já morreram vários integrantes nesse contexto de reocupação de Pyelito kue/Mbarakay. Os Guarani e Kaiowá reagiram para morrer, na sequencia, os machucados pelos pistoleiros estão morrendo sim, em outro termo, já estão praticando tal de suicídio sim. Esta é a verdade na nossa visão. Assim, a FUNAI não deveria confirmar em nota que “os indígenas de Pyelito Kue/Mbarakay não tem a intenção de suicídio, conforme divulgada pela imprensa” (Ver a nota da FUNAI em anexo), afirmação não confere com a realidade conhecida que nessa parte da nota da FUNAI nos deixa muito indignados. Visto que a FUNAI de Ponta Porã-MS agiu de modo autoritário com as lideranças de Pyelito Kue os intimaram para confirmar que “não há a intenção de suicídio”. Neste trecho da nota da FUNAI parece que está ignorando o fato conhecido de suicídio epidêmico do povo Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul. De fato, o suicídio indígena ocorreu e aumentou em decorrência da demora de identificação e demarcação do território antigo.  Os Guarani e Kaiowá se mataram, estão ameaçados e morrendo dia-a-dia por conta de medo, desespero, sem perspectiva digna. Essa é a verdade. É sabido que a imprensa está divulgando amplamente o caso de suicídio Guarani e Kaiowá desde 1980 que perdura até hoje.

Por fim, esta nota pretende esclarecer e reafirmar que as comunidades Guarani e Kaiowá da tekoha de Passo Piraju-Dourados-MS e tekoha Pyelito kue/Mbarakay-Iguatemi-MS decidiram a resistir o despejo sim e morrer todos juntos pela terra sim. A comunidade afirma na carta “ Nós não vamos sair daqui nem vivo e nem morto” “ nós vamos morrer todos junto aqui na tekoha antiga”. Assim confirmaram.

 

Atenciosamente,

Tekoha guasu Guarani e Kaiowá, 19 de outubro de 2012

Lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá

Esclarecimentos da FUNAI sobre situação de Pyelito Kue (MS)
 
Com relação às informações divulgadas pela mídia a respeito de ordem judicial de reintegração de posse a fazendeiros, determinando a saída dos indígenas Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue, Município de Iguatemi (MS), a Fundação Nacional do Índio (Funai) informa que está trabalhando para reverter a decisão e esclarece que não há uma data definida para cumprimento da liminar da Justiça Federal de Navirai-MS.

De acordo com lideranças indígenas ouvidas pela Coordenação Regional da Funai em Ponta Porã, não há intenção de suicídio, conforme anunciado pela imprensa. O que há é a determinação de não se deixar o local que consideram sua terra tradicional. A comunidade aguarda o resultado do recurso interposto pela Funai, perante o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, que ainda não foi apreciado.

A Funai informa ainda que está acompanhando a situação e presta atendimento e assistência jurídica à comunidade Guarani e Kaiowá acampada na área.

Fundação Nacional do Índio – Funai
Brasília, 19 de outubro de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário