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Política| 06/02/2013 | Copyleft
Projeto de casamento gay coloca David Cameron em maus lençóis
Com os conservadores divididos, o tema do casamento gay atingiu em cheio o primeiro- ministro David Cameron e seu atribulado projeto “modernizador”. Mais da metade dos 303 deputados conservadores, incluindo dois membros do gabinete, se abstiveram ou votaram contra o projeto, que sobreviveu graças a uma aliança dos conservadores mais abertos, os liberal-democratas e os trabalhistas. A análise é de Marcelo Justo, de Londres
Marcelo Justo
Londres - O casamento gay dividiu os conservadores ao meio e atingiu o primeiro ministro David Cameron e seu atribulado projeto “modernizador”. Mais da metade dos 303 deputados conservadores, incluindo dois membros do gabinete, se abstiveram ou votaram contra o projeto que sobreviveu graças a uma aliança dos conservadores mais abertos, seus parceiros na coalizão de governo, os liberal-democratas e a oposição trabalhista.
A vitória na matemática parlamentar foi inequívoca: 400 a favor, 175 contra. O problema para Cameron é outro. Nas pesquisas prévias, três de cada cinco votantes se mostraram a favor do casamento homossexual, mas um em cada cinco conservadores disseram que não votariam no primeiro ministro em 2015 se ele avançasse com o projeto.
O primeiro ministro defendeu ante suas próprias hostes e a sociedade sua determinação de avançar com o projeto de lei dizendo que é um “firme convicto das virtudes do matrimônio” e que não quer que os homossexuais “estejam excluídos desta grande instituição”. O tom anti-discriminatório do argumento e o caráter progressista que tem uma lei a favor do casamento gay são os últimos vestígios do projeto modernizador que lançou ao ser eleito em 2005 líder de seu partido que acabara de ser derrotado pelos trabalhistas pela terceira vez consecutiva.
Este projeto modernizador pretendeu suavizar a imagem conservadora vinculada ao thatcherismo, ao colocar-se como guardião dos serviços públicos em vez de privatizador radical, ao promover uma agenda social em vez de estigmatizar os pobres e ao assumir uma atitude “liberal” (termo equivalente a progressista nestas ilhas” frente a temas sociais. Com o estouro financeiro de 2008 e a recessão, os pilares deste projeto, que havia sido mais discursivo que programático, foram caindo um depois do outro. Com a vitória de 2010, desmoronaram. A coalizão formada com os democratas liberais aprovou um dos ajustes mais duros do mundo desenvolvido e retomou a estigmatização dos pobres que, segundo o ministro de Trabalho e Pensões, Ian Duncan Smith, devem sua situação não à loteria social do nascimento, mas sim a seus defeitos morais.
Entre as bases conservadores, o projeto modernizador nunca foi popular. Atiçados pelo tablóide populista radical Daily Mail e pelo Daily Telegraph, as críticas a Cameron cresceram junto com a crise econômica. Quando a coalizão chegou ao governo, o Reino Unido começava a recuperar-se da recessão e exibia um tímido crescimento de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O draconiano plano de ajuste interrompeu essa vacilante recuperação: hoje o Reino Unido está à beira da segunda recessão em um ano. Nas pesquisas e eleições locais o descontentamento é claro: os trabalhistas terminaram 2012 com uma vantagem de seis pontos nas pesquisas. Nas últimas semanas se multiplicaram os rumores de complôs contra o primeiro passado.
Na quinta-feira passada altos dirigentes conservadores confirmaram ao The Guardian que o primeiro ministro poderia enfrentar uma moção de censura de seu próprio partido no próximo ano se não melhorar nas pesquisas e se obtiver maus resultados nas eleições locais e europeias. Alguns dias antes, a usina de rumores parlamentares ventilava um plano similar, mas para 2015, no caso de Cameron não ganhar com maioria própria as eleições. Na sexta, o Daily Mail disse que se for confirmado em abril que o Reino Unido está outra vez em recessão a primeira cabeça a rodar seria a do ministro de Finanças, George Osborne.
O casamento gay foi uma ofensa maior porque ao contrário dos discutíveis avatares econômicos é uma decisão adotada pelo primeiro ministro que vai contra os valores mais tradicionais de seu partido. Um grupo de 25 presidentes e ex-presidentes de associações conservadoras entregaram a David Cameron uma carta no domingo advertindo que o projeto não havia sido debatido de modo apropriado e que as deserções do partido estavam “se multiplicando”. Com o voto a favor, o projeto passa à Câmara dos Lordes que o votará em maio e, segundo o procedimento legislativo britânico, voltará aos deputados para uma segunda votação que o converterá em lei. O tema já não é se os homossexuais poderão se casar a partir do próximo ano: isso está descartado. O tema é se o primeiro ministro não gerou um mal estar interno em seu partido que poderá lhe custar o posto ou as eleições de 2015.
Tradução: Katarina Peixoto
A vitória na matemática parlamentar foi inequívoca: 400 a favor, 175 contra. O problema para Cameron é outro. Nas pesquisas prévias, três de cada cinco votantes se mostraram a favor do casamento homossexual, mas um em cada cinco conservadores disseram que não votariam no primeiro ministro em 2015 se ele avançasse com o projeto.
O primeiro ministro defendeu ante suas próprias hostes e a sociedade sua determinação de avançar com o projeto de lei dizendo que é um “firme convicto das virtudes do matrimônio” e que não quer que os homossexuais “estejam excluídos desta grande instituição”. O tom anti-discriminatório do argumento e o caráter progressista que tem uma lei a favor do casamento gay são os últimos vestígios do projeto modernizador que lançou ao ser eleito em 2005 líder de seu partido que acabara de ser derrotado pelos trabalhistas pela terceira vez consecutiva.
Este projeto modernizador pretendeu suavizar a imagem conservadora vinculada ao thatcherismo, ao colocar-se como guardião dos serviços públicos em vez de privatizador radical, ao promover uma agenda social em vez de estigmatizar os pobres e ao assumir uma atitude “liberal” (termo equivalente a progressista nestas ilhas” frente a temas sociais. Com o estouro financeiro de 2008 e a recessão, os pilares deste projeto, que havia sido mais discursivo que programático, foram caindo um depois do outro. Com a vitória de 2010, desmoronaram. A coalizão formada com os democratas liberais aprovou um dos ajustes mais duros do mundo desenvolvido e retomou a estigmatização dos pobres que, segundo o ministro de Trabalho e Pensões, Ian Duncan Smith, devem sua situação não à loteria social do nascimento, mas sim a seus defeitos morais.
Entre as bases conservadores, o projeto modernizador nunca foi popular. Atiçados pelo tablóide populista radical Daily Mail e pelo Daily Telegraph, as críticas a Cameron cresceram junto com a crise econômica. Quando a coalizão chegou ao governo, o Reino Unido começava a recuperar-se da recessão e exibia um tímido crescimento de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O draconiano plano de ajuste interrompeu essa vacilante recuperação: hoje o Reino Unido está à beira da segunda recessão em um ano. Nas pesquisas e eleições locais o descontentamento é claro: os trabalhistas terminaram 2012 com uma vantagem de seis pontos nas pesquisas. Nas últimas semanas se multiplicaram os rumores de complôs contra o primeiro passado.
Na quinta-feira passada altos dirigentes conservadores confirmaram ao The Guardian que o primeiro ministro poderia enfrentar uma moção de censura de seu próprio partido no próximo ano se não melhorar nas pesquisas e se obtiver maus resultados nas eleições locais e europeias. Alguns dias antes, a usina de rumores parlamentares ventilava um plano similar, mas para 2015, no caso de Cameron não ganhar com maioria própria as eleições. Na sexta, o Daily Mail disse que se for confirmado em abril que o Reino Unido está outra vez em recessão a primeira cabeça a rodar seria a do ministro de Finanças, George Osborne.
O casamento gay foi uma ofensa maior porque ao contrário dos discutíveis avatares econômicos é uma decisão adotada pelo primeiro ministro que vai contra os valores mais tradicionais de seu partido. Um grupo de 25 presidentes e ex-presidentes de associações conservadoras entregaram a David Cameron uma carta no domingo advertindo que o projeto não havia sido debatido de modo apropriado e que as deserções do partido estavam “se multiplicando”. Com o voto a favor, o projeto passa à Câmara dos Lordes que o votará em maio e, segundo o procedimento legislativo britânico, voltará aos deputados para uma segunda votação que o converterá em lei. O tema já não é se os homossexuais poderão se casar a partir do próximo ano: isso está descartado. O tema é se o primeiro ministro não gerou um mal estar interno em seu partido que poderá lhe custar o posto ou as eleições de 2015.
Tradução: Katarina Peixoto
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