terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Existe cultura do trabalho escravo?

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Existe cultura do trabalho escravo?

Por Inácio José Werner
Observando a ideia de cultura a partir da sociologia, compreendemos que é o resultado da convivência humana e abrange os costumes, idéias, leis e conhecimento, fruto da convivência social.
Também percebemos que existem diversas formas de expressá-la ou manipulá-la. No seminário “De olho aberto contra o Trabalho Escravo”, realizado em São Félix do Araguaia no início do  mês de fevereiro de 2013, fui interrogado enquanto debatedor sobre qual a minha opinião a respeito de o trabalho escravo ser uma questão cultural. Tentei separar cultura, enquanto aspecto positivo, e os argumentos apresentados pelos latifundiários do agronegócio, para justificar a prática do trabalho escravo, e lá exemplifiquei como o estado de Mato Grosso é dúbio diante do assunto.
Essa dubiedade manifesta-se nos recentes acontecimentos. A carta do Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso, pedindo a exoneração da secretária de Cultura, Janete Riva, pelo fato do nome dela constar na lista suja do trabalho escravo. E a decisão de Dom Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, de retirar o nome do Prêmio Nacional de Jornalismo da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (COETRAE-MT), também para reagir contra a nomeação da secretária de Cultura. Com o Prêmio, o Governo e a COETRAE-MT querem homenagear quem divulga e combate trabalho escravo, mas o Governo, ao mesmo tempo, nomeia uma secretária, que representa as velhas práticas no campo.
Cabe aí uma reflexão no seguinte sentido: como cultura é algo a ser preservado, “cultivado”, em qual cultura o Governo aposta?
Esperamos que não seja a cultura de “por a raposa para cuidar do galinheiro”.
Inácio Werner é sociólogo do Centro Burnier Fé e Justiça, Coordenador do Fórum de Diretos Humanos e da Terra Mato Grosso e vice- Presidente da COETRAE-MT

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