quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Onde vou amarrar a Rede?

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[Política brasileira] Onde vou amarrar a Rede?
 
Marilza de Melo Foucher
Economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em Paris
Adital
20/2/2013
de Paris

Marina Silva no ‘Roda-Viva’
Para embalar seus sonhos, Marina precisa de uma rede. Todavia, um partido político se define pelo programa de ações e pela sua filosofia. Uma rede não é um partido e ninguém deita em uma redesem armadores… Uma rede pode ser tecida por uma só pessoa, por varias pessoas ou por uma máquina. Quando ela é tecida manualmente têm que haver concordância entre as mãos que trabalham. Uma questão: Como Marina vai tecer uma rede com Heloisa Helena conhecida como egocêntrica? Uma das duas pode terminar caindo da rede… E adeus sonhos!
Se a ex-senadora Marina é coerente com sua trajetória política, ela não pode ter a posição de ficar em cima do muro, esta não é uma boa resposta. Em geral, este tipo de não posicionamento se caracteriza como oportunismo político. Ou seja, a pessoa age em função da adesão eleitoreira por tal e tal medida.
A coisa mais nobre numa ação política é de agir em função de suas convicções e não em função de enquetes/estudo de opinião ou pressão mediática. Outro gesto, que engrandece a política é agir em função do interesse coletivo. Ter coragem política de enfrentar as divergências faz parte da vitalidade da democracia.
Apesar desses pesares, desejo boa sorte nesta disputa pré-eleitoral para Marina Silva, mulher guerreira que eu conheço de longa data. Se for para trazer contribuições ao aprofundamento do debate político e soluções concretas para os problemas que ainda afligem a maioria da população brasileira, seja bem-vinda Marina! Aliás, bem-vindos os pré-candidatos à Presidência da República.
Nós eleitores somente esperamos que, desta vez, a campanha política possa contar com um alto nível de debates, onde as questões estruturais não sejam abafadas por questões de ordem pessoal ou religiosa. É de conhecimento, que a república brasileira é laica e respeita todas as religiões, todavia, a prática de qualquer religião deve ficar restrita ao espaço privado e não deve ser amparada em fins politiqueiros. Esperamos também que os comentaristas de canais de televisão promovam verdadeiros debates e que eles pratiquem um verdadeiro jornalismo, que se possam explorar as contradições de cada um, questionar as falsas afirmações, fazer analises comparativas e que assumam uma postura de imparcialidade diante de todos. Cabe aos leitores, aos telespectadores brasileiros que são inteligentes, fazer suas escolhas em função da coerência política, da experiência de gestão dos candidatos, dos conhecimentos que detêm sobre a realidade do Brasil, sobre questões geopolíticas de um mundo hoje multipolar, sobre o funcionamento das instituições multilaterais. Tendo em vista que, hoje, o Brasil está situado entre o quinto ou sexto lugar entre as potências mundiais. Finalmente, que o programa de governabilidade continue na sua luta contra a exclusão, no combate às injustiças e que favoreçam à juventude com Educação de qualidade, para garantir um futuro melhor.
Voltando à emergência de Marina Silva na cena política, espera-se que ela seja mais combativa. Sua participação no programa ‘Roda-Viva’ deixou uma imagem de acomodação política, de uma pessoa de centro, que fica em cima do muro observando para ver de que lado deve pular. O que se espera da Marina é determinação e não hesitação. Ela deve assumir, com garra, a defesa de um projeto de sociedade para o Brasil baseado em uma concepção de desenvolvimento que articule todos os setores em prol de um ordenamento territorial e que seja compatível com seus ecossistemas e sociodiversidade. Marina deu a impressão de apreciar a ação de Dilma, daí, ela pode colaborar através de sua rede para pressionar a presidenta nessa última etapa de governo. De certo, esta frase terá um significado ainda mais forte:
"O ser humano não é só realização prática, mas sonho; não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia. E esses são os elementos fundamentais para a afirmação coletiva de nossa Nação”. Espero que Marina reconheça de quem é esta frase.
A presidenta Dilma Rousseff será candidata à reeleição. Ela terá tempo de mudar a concepção desenvolvimentista. Infelizmente, a presidenta parece continuar atrelada ao antigo modelo no qual o econômico prima sobre todos os outros setores. Se eu pudesse, enquanto modesta cidadã brasileira, dar-lhe um conselho, sugiro-lhe que releia os últimos livros e entrevistas de Celso Furtado, para perceber como ele reavaliou sua visão desenvolvimentista. Não podemos falar de desenvolvimento sem lembrar do querido professor que, nos últimos anos, defendia outra concepção de desenvolvimento. Segundo Celso, tínhamos que pensar o desenvolvimento como uma maneira de reencontrar o gênio criativo de nossa cultura, como realização de nossas potencialidades humanas. Isto, talvez, possa parecer simplesmente utópico, entretanto, segundo Celso Furtado a utopia é apenas a percepção das dimensões escondidas da realidade, como o florescimento das energias que ela própria contém. Não será a utopia uma antecipação de poder oferecer outros horizontes e outras oportunidades ao homem? Indagava o grande Celso Furtado.
Quem sabe a presidenta Dilma, que é economista de formação, possa fazer esta virada, tal como Celso? E que ela exija que seus Ministros trabalhem de modo mais articulado, pensando na incidência social, cultural, de cada projeto, avaliando também seu impacto ambiental. Reafirmo que o Brasil tem um potencial enorme para enfrentar a crise econômica que é também planetária.
O Brasil ainda tem sede de inovação e ainda continua a correr atrás da bola sem querer suar a camisa, uso aqui a linguagem adaptada para a próxima Copa do Mundo. Nesse sentido, os governantes terão que suar a camisa e fazer gol de letra contra a pobreza, contra a corrupção, contra a concentração dos meios de comunicação, contra a concentração de terras produtivas, contra os sonegadores de impostos, contra os destruidores de florestas, contra os poluidores dos rios, lagos e lagoas, contra a desumanização de nossas cidades, contra a falta de transportes coletivos, e, principalmente contra os iletrados da política que desonram a Casa do Povo. Este último gol de letra caberá aos eleitores brasileiros.
Quanto à Marina Silva, atrás da aparência frágil existe uma mulher guerreira e ambiciosa. Ele tem um lugar assegurado para exercer um cargo eletivo. Sua sobrevivência política é necessária. O seu Estado (Acre) lhe relegou, de modo injusto, ao terceiro lugar nas últimas eleições. Todavia, Marina Silva, talvez tenha chances de ser eleita governadora em São Paulo ou no Rio de Janeiro, que lhes deu a maior votação nas últimas eleições.
Logicamente, já temos uma mulher na Presidência que tem demonstrado sua capacidade de governar um país como o Brasil. Ela não apenas tem tecido rede para um Brasil solidário, mas ela vem realizando ações concretas para garantir para as futuras gerações um Brasil sem miséria. O Brasil tem este privilégio de contar com mulheres guerreiras que tentam conjugar a política também no feminino, e, que estão mudando a cara do Brasil.
[Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris].
 
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