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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/534874-dividido-agronegocio-busca-compromissos-de-presidenciaveis
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Sob os holofotes desde o início da atual campanha presidencial, o agronegócio está conseguindo capitalizar como nenhum outro a disputa por seu apoio criada pelos principais candidatos ao Planalto. E a cada visita de Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB) a um dos diversos eventos agropecuários realizados nos polos de produção do país, ou a cada encontro de um dos três com as lideranças rurais do Sul-Sudeste ou do Centro-Norte, o Brasil redescobre um dos setores mais importantes de sua economia e se familiariza com suas demandas.
A reportagem é de Fernando Lopes e Alda do Amaral Rocha, publicado pelo jornal Valor, 02-09-2014.
Engana-se quem pensa, entretanto, que o agronegócio é um só ou que suas necessidades respeitem uma lógica uniforme. Há denominadores comuns, normalmente ligados a questões macroeconômicas que independem dos rumos do campo em si. É o caso do câmbio, que une as cadeias exportadoras - por mais que grande parte de insumos como adubos e defensivos sejam importados - e do crédito a juros subsidiados, abraçado por produtores em geral. Ou do chamado "custo Brasil".
Mas os grandes produtores de grãos de Mato Grosso e as tradings que comercializam suas safras estão muito mais preocupados com áreas de expansão de suas lavouras e com as obras que permitirão o escoamento de suas exportações pelo Norte do que com a política de combustíveis que tira a competitividade do etanol das usinas sucroalcooleiras de São Paulo. Da mesma forma que os pecuaristas do Pará seguem mais atentos a novas regras de sustentabilidade do que à política de preços mínimos que afeta os arrozeiros gaúchos.
Nesse contexto, é impossível afirmar que o "agronegócio" apoia um ou outro candidato, por mais que a maior parte do setor esteja, aparentemente, descontente com o governo Dilma. A presidente conta com o apoio da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com sede em Brasília, e de alguns grandes produtores de grãos do Centro-Oeste como Eraí Maggi, satisfeitos com o desempenho de seus negócios nos últimos anos e com alguns avanços logísticos que beneficiaram a região. Mas a impressão geral de sua gestão talvez nunca tenha sido tão ruim como é hoje.
Pesquisa recente feita pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) aponta que 74% dos entrevistados (645 produtores rurais e 40 empresas de insumos) não acreditam que o governo valorize o setor agropecuário. Desse universo, 69% não acham que Brasília esteja se esforçando para melhorar os mecanismos de comercialização das safras agrícolas e da produção pecuária e 68% discordam que o Planalto esteja de fato empenhado em investir em infraestrutura logística para o escoamento dessa oferta.
Enquanto aparecia nas pesquisas como o único candidato com chances de frustrar os planos de reeleição de Dilma, Aécioconseguiu surfar nesse descontentamento. Assessorado por lideranças rurais como Roberto Rodrigues, que foi ministro da Agricultura no primeiro mandato de Lula, fortalecido por consultores como o economista José Roberto Mendonça de Barros e inflamado pela crise do etanol, o tucano, mesmo sem empolgar o agronegócio, tornou-se a primeira opção de boa parte dele.
Mas Eduardo Campos morreu e Marina, escolhida a candidata do PSB, mostrou, segundo as pesquisas de intenção de voto, que é ela quem tem mais chances de derrotar Dilma, o que abalou as estruturas do apoio rural que Aécio começava a amalgamar. "Você viu a Marina, que maravilha?", perguntou a um amigo uma liderança do setor em almoço na semana passada na capital paulista. "Pois é, agora a Dilma não resiste", respondeu o amigo. "Mas você vai 'Marinar' já no primeiro turno?", devolveu. "Não, ainda sou Aécio, mas no segundo turno vou 'Marinar' com certeza", afirmou a liderança.
Em encontros da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) ou da Sociedade Rural Brasileira (SRB), ambas com sede em São Paulo, diálogos como esses agora são comuns. E Marina é a escolha da maioria de seus representantes e associados no segundo turno basicamente pela expectativa de que, com ela, o etanol em particular e os biocombustíveis em geral serão mais estimulados do que são hoje.
Questionado sobre que candidato a SRB apoia, o presidente da entidade, Gustavo Junqueira, disse que 'não dá para apoiar um ou outro candidato". "Todos [os candidatos] estão olhando para esse setor com preocupação pois é um dos principais vetores de crescimento no Brasil". Ele considera natural a tentativa de Marina de dialogar com o agronegócio e avalia que a candidata "evoluiu muito desde" quando foi ministra do Meio Ambiente. "Ela é pragmática. Entende que o Brasil precisa crescer", afirmou.
Os esforços de Marina para vencer as resistências que sofre no agronegócio são claros. Na sexta-feira passada, mesmo dia em que lançou seu programa de governo, a candidata reuniu-se com cerca de 60 lideranças do setor em jantar em São Paulo. No encontro, havia representantes do setor de açúcar e álcool, grãos, citricultura, carnes, café e florestas plantadas.
A presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) Elizabeth Farina esteve no jantar e entregou à Marinadocumento em que reafirma "o compromisso do setor com a preservação e recuperação do meio ambiente" e enumera os benefícios ambientais da produção canavieira. O documento também critica a ausência de políticas públicas para enfrentar a crise que afeta o setor e propõe ações para reverter esse quadro.
Além de Farina, estiveram no jantar o empresário Rubens Ometto, da Cosan, e Rui Chammas, presidente da Biosev, entre outros.
Segundo apurou o Valor, no jantar, as lideranças levantaram duas preocupações: a demarcação de terras indígenas e territórios quilombolas e a revisão dos índices de produtividade, mencionada no capítulo sobre reforma agrária.
Na visão do anfitrião do jantar, o consultor do segmento de açúcar e etanol Plínio Nastari, Marina mostrou "uma enorme capacidade de diálogo". Segundo ele, de uma maneira geral, as lideranças ficaram "esperançosas" pela perspectiva de diálogo.
Ainda que Marina tenha, de uma forma geral, impressionado positivamente os presentes no jantar, há sinais de que terá se esforçar mais para reduzir as resistências. Sua postura histórica em relação aos impactos de obras de infraestrutura e ao licenciamento ambiental preocupa agricultores do Centro-Oeste e do Sul. "Ela é fundamentalista. Se ela vencer, o Brasil vai parar", afirmou um grande pecuarista de Mato Grosso de passagem por São Paulo nos últimos dias. "Deus nos livre deMarina", postou no Twitter um sojicultor.
Independentemente de quem vencerá as eleições, o setor está unido em torno da pressão por mudanças para revigorar a economia brasileira. Seus representantes se orgulham de o agronegócio ser uma espécie de "tábua de salvação" do PIB. Mas sabem que, sem um ambiente mais favorável, perderão eficiência, competitividade e renda.
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