Candidatos das chapas majoritárias que disputam o governo de Mato Grosso nas Eleições 2014 se reuniram na noite dessa segunda-feira (08) com representantes dos movimentos de mulheres, no auditório do Conselho Regional de Contabilidade (CRC), em Cuiabá. O convite foi feito pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, para uma conversa franca, sobre quais políticas vão adotar nesse segmento, caso sejam eleitos. Entre as principais discussões se destacaram a violência contra a mulher, a discriminação de gênero e raça no mercado de trabalho, a omissão do Estado com relação à saúde feminina e a inclusão da mulher em cargos estratégicos.
Compareceram o deputado estadual José Riva (PSD) e a candidata a vice da chapa petista, a também deputada estadual Teté Bezerra (PMDB), representando o médico Lúdio Cabral. Os candidatos Pedro Taques (PDT), José Marcondes Muvuca (PHS) e José Roberto (Psol) afirmaram, ao Conselho, que não tinham impedimento para comparecer ao evento, mas não estiveram presentes, nem encaminharam representantes.
A presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, Rosana Leite Antunes de Barros, que também é defensora pública em Cuiabá, abriu o bate-papo, junto a uma plateia majoritariamente feminina, cobrando do Estado que execute as leis, para que não fiquem somente no papel. Segundo ela, as mulheres foram historicamente relegadas ao segundo plano no campo social, econômico e político no Brasil e agora é hora de mudar esse cenário.
Rosana Leite cobrou a implementação do Plano Estadual de Políticas para as Mulheres, que tem indicadores importantes na condução de iniciativas públicas que revertam problemas crônicos, gerados pela discriminação e o machismo.
Entre vários dados apresentados aos candidatos, um deles é que 27% das mulheres de Mato Grosso ainda não são alfabetizadas. Mas 35% delas são arrimo de família, ou seja, responsáveis pelo sustento do lar.
“É hora da gente enxergar um pouco melhor o direito da mulher, porque onde há qualquer forma de descriminalização não reina a paz”, discursou a presidenta.
A proposta de Plano Estadual observa os direitos construídos junto à mulher das águas, da cidade, da floresta e do campo. Trata da educação, do enfrentamento à violência, da luta pela autonomia e igualdade no mundo do trabalho e da cidadania. O documento reivindica saúde, direitos sexuais e reprodutivos. Além disso, indica a necessidade de monitorar a situação da mulher na sociedade, através de gestão qualificada e pesquisas qualitativas e quantitativas, que façam o apontamento dimensional da questão. O diagnóstico foi entregue aos candidatos.
O candidato José Riva agradeceu o convite e a oportunidade para tratar de um assunto tão importante. Ele reconheceu “o machismo perpetuado” e prometeu “acatar integralmente as indicações do Plano proposto pelas mulheres”. Disse ainda que “as mulheres terão muito espaço em nosso governo”. Destacou que vai criar programa de microcrédito e acompanhamento para o empreendedorismo voltados ao público feminino.
Sobre a violência contra a mulher, o candidato Riva assegurou que vai transformar em programa institucional o projeto “Lá em casa quem manda é o respeito”. Também prometeu criar delegacias especializadas em violência de gênero, em 16 polos, agregando profissionais da psicologia e assistência social, com plantão nos finais de semana, quando os casos aumentam.
O deputado disse que vai trabalhar para dar ao conselho poder deliberativo e não somente consultivo.
Na saúde, destacou o alto índice de mortalidade materna e de mães adolescentes, como “enfrentamentos que com certeza nosso governo terá que fazer”.
A candidata Teté Bezerra destacou que a questão de gênero é transversal a todas as preocupações apontadas no plano de governo da chapa conduzida por Lúdio, nas dimensões ambiental, econômica, social e governamental. Destacou ainda que a violência contra a mulher afeta toda a família. “Estudos apontam que crianças geradas em meio violento tendem a reproduzir isso em sua vida adulta”.
Teté Bezerra citou, entre as demais propostas que constam do plano de governo da sua chapa, a construção de um hospital materno-infantil, pensando justamente no alto índice de mortalidade infantil e materna. Disse também que vão trabalhar para ampliar o comitê estadual de combate a violência doméstica. Outra promessa de campanha, segundo ela é que no governo de Lúdio Cabral, caso seja eleito, um terço dos cargos de comando serão ocupados por mulheres.
Criar delegacias especializadas no segmento (hoje são cinco apenas), incentivar a alfabetização das mulheres, qualificar essa mulher para a autonomia de vida, incentivar projetos ligados a cultura, esporte e lazer e estender todos os programas de governo às trabalhadoras da zona rural são algumas das propostas citadas pela deputada. Para finalizar, disse que serão feitas campanhas publicitárias que promovam a imagem da mulher.
No último bloco do encontro, representantes de movimentos sociais, questionaram os candidatos.
Sônia Rocha, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), perguntou sobre as políticas públicas voltadas para a ampliação e continuidade para mulher no mercado e formal.
Riva reforçou que acredita muito no fomento para mulheres empreendedoras e na força do microcrédito. “Quantas mulheres querem ter a oportunidade de começar um negócio e não conseguem. Uma viúva me pediu apetrechos de menos de R$ 1.200 e com isso conquistou a autonomia financeira. Tempos depois, recebi um bolo, da produção dela, agradecendo. O microcrédito tem uma força para gerar emprego, renda e oportunizar um pequeno negócio”, defendeu o candidato.
Representando o Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sintep), Marli Keller, questionou, na perspectiva educacional, como irão atuar no enfrentamento às discriminações de gênero e étnica, na inclusão e permanência nos diversos níveis educacionais e na alfabetização das mulheres. Questionou também como pensam em tratar de assuntos como desmatamento e queimadas ainda na perspectiva educacional.
O deputado Riva salientou que muitas dessas mulheres são analfabetas porque maridos machistas as impedem de estudar. “Grande parte são casadas com homens que não permitem que elas saiam e então isso exige um trabalho não muito fácil de fazer contra o machismo, com agentes comunitários”.
Teté destacou que não podemos pensar em nada, sem priorizar a educação. “Para que a mulher possa ter mais consciência de seus direitos, a alfabetização tem de ser debelada de forma definitiva”.
Rosa Maria Morceli, da União Brasileira de Mulheres (UBM), destacou que os processos se avolumam na vara da mulher e que é preciso evitar tantos casos, além de resolver com mais eficácia os que ocorrem. Ela perguntou aos candidatos, de acordo com a visão deles, o que é possível fazer para prevenir e atender casos de violência contra a mulher?
Riva destacou que o país investe muito pouco em prevenção, não só em relação à violência contra a mulher mas em vários aspectos.
A deputada Teté disse que era deputada federal quando a Lei Maria da Penha foi aprovada no Congresso Nacional. “Ficamos muito orgulhosas no dia que o Lula sancionou a lei e logo em seguida Mato Grosso criou a primeira vara especializada da mulher no país. Mas penso que nada vai resolver a violência de modo geral que não passe pela educação de qualidade à toda a população brasileira, restaurando valores que estão muitas vezes desprezados. Enquanto estamos aqui discutindo, estão acontecendo vários casos neste minuto, mulheres estão sendo agredidas”, lamentou.
Representando o MT Mama, Adriana Catelli perguntou o que os candidatos pensam em fazer para garantir o equipamento dos hospitais em Mato Grosso.
Riva disse que a saúde de modo geral é um assunto muito preocupante, e ampliar as unidades do PSF é importante.
Teté destacou que este é o assunto das eleições porque o povo está sentindo muito a situação da saúde há anos. Ela falou em recuperar as unidades hospitalares no interior, transformar hospitais regionais em unidades escola em cidade onde já tenha cursos de medicina, como é o caso de Sinop, Várzea Grande, Cáceres e Rondonópolis, e ampliar a cobertura do PSF, que hoje é de 35% no Estado. “Nossa meta é elevar para 85%”.
Denize Amorim, da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos(SEJUDH/MT), perguntou se, caso eleitos, vão ouvir as demandas populares ou se fechar em gabinetes.
Riva e Teté asseguraram que vão receber o povo e estarão abertos ao diálogo com os movimentos sociais ali representados.
Nas considerações finais, Riva disse que vai manter um governo de diálogo, plural e sem exclusão, gerador de empregos e pediu voto.
Teté disse que a cada bate-papo, como este, enriquecem mais o plano de governo. Destacou que tem histórico da liderança feminina, seja como deputada ou como integrante de outras articulações femininas. Segundo ela, acima de tudo, deve estar em alta “a lealdade, a honestidade uma virtude que todo candidato que vá tratar do dinheiro público deve ter como premissa”, independentemente de ser homem ou mulher.
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Keka Werneck, da Assessoria do evento
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