segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Conjuntura da Semana. 2014: Cenário tenso, inquietante e instigante

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Conjuntura da Semana. 2014: Cenário tenso, inquietante e instigante

A análise da Conjuntura da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
Sumário:
Cenário tenso, inquietante e instigante
Agora os rolezinhos. Perplexidade e preconceito
#Nãovaitercopa versus #Vaitercopa
Criminalização das ruas?
Esquerda perplexa e intolerante
As ruas como ‘poder constituinte’. Outra chave de leitura
‘Brasil Grande’. Para onde vai?
Conjuntura da Semana em frases
Eis a análise.
Cenário tenso, inquietante e instigante
2014 começou tenso. Aturdido pela barbárie no Maranhão, surpreso pelo fenômeno dos rolezinhos, insensível aos eternos conflitos indígenas. Isso tudo num ano de Copa de Mundo e eleições. O cenário para 2014 é, a um só tempo, instigante e inquietante.
Instigante pelo que apresenta de renovadas formas de organização – agora os rolezinhos na esteira das grandesmanifestações de J13; inquietante pelo prenúncio do #Nãovaitercopa e da possível saída autoritária do governo – criminalização dos movimentos que não consegue compreender, dialogar e “controlar”.
A periferia ‘negra’ que assusta o centro ‘branco’, os jovens que ‘vandalizam’ as ruas, os ruralistas que defendem a morte dos indígenas, o colapso do sistema prisional... revelam paradoxalmente a exitosa e perversa face do modelo neodesenvolvimentista.
O neodesenvolvimentismo desaguou o Brasil num novo ciclo. Brasil da mobilidade social para cima, da elevação da renda, da geração de mais empregos, do Bolsa-Família, do aumento real do salário mínimo, do ProUni, do crédito farto e do aumento do consumo, da economia de commodities, das grandes obras. Esse ‘novo Brasil’ não conseguiu, porém, apesar dos avanços, dar conta dos problemas estruturais na saúde, na educação, no saneamento e, agora, na mobilidade urbana.
O novo ciclo de um Brasil ancorado na comoditização e nas grandes obras para dar sustentação ao projeto ‘plataforma exportadora’ se mostra por outro lado antiecológico e antipovos tradicionais. A ‘batalha de Humaitá’ é a manifestação emblemática da face desse novo ciclo da economia-comoditização em que ruralistas reproduzem o discurso oficial do produtivismo ao qual tudo deve se subordinar.
O novo ciclo tem ainda outra face. Autodenominado de esquerda com a ascensão do PT ao poder, nesses mais de dez anos, em sua versão lulista-dilmista não conseguiu ou não mostrou disposição suficiente em romper com as velhas oligarquias. A barbárie do Maranhão é também um pouco, ou muito, da sarneyzação do governo.
O sistema prisional brasileiro, a ‘Batalha de Humaitá’, os rolezinhos... são faces do novo e do antigo Brasil.
2014 começa inquietante, mas instigante. Os ‘decretos’ das ruas e o poder constituinte das manifestações do J13, osrolezinhos dos jovens de periferia pedindo visibilidade, a mensagem do #nãovaitercopa, o silencioso drama dos povos indígenas dos kaiowá-guaranis aos Tenharim são sinais. As interpretações estão lançadas.
Do debate ideológico, das forças das ruas e das respostas do governo, pode-se em 2014 avançar ou regredir. Esse entrecruzar de acontecimentos cruza com outro – as eleições 2014, oportunidade para qualificar o debate e buscar saídas civilizatórias ou render-se às saídas autoritárias.
Agora os rolezinhos. Perplexidade e preconceito
A polícia reprimiu, os lojistas fecharam as lojas, a clientela correu. Uma das frequentadoras do shopping disse a frase-símbolo: “Tem de proibir este tipo de maloqueiro de entrar num lugar como este”. Dessa forma a escritora, repórter e documentarista Eliane Brum deu a síntese da reação aos rolezinhos.
Os rolezinhos - termo ligado à ideia de lazer, de sair para se divertir e usufruir da cidade –, assim como as jornadas de junho, surpreendeu a todos. Da academia aos políticos há perplexidade com o seu surgimento e ainda mais com o ‘recado’ que estariam querendo dar.
Acostumados à análise dos ‘movimentos tradicionais’ – oriundos basicamente do mundo operário-camponês de corte classista, os intelectuais revelam perplexidade na compreensão de um movimento (?) que não explicita seus objetivos e que se anuncia mais performático do que classista. Uma perfomance, ainda mais incômoda, porque que teria a sua origem no funk de ostentação.
Diferentemente, destaca Eliane Brum, “do núcleo duro do hip hop paulista dos anos 80 e 90, que negava o sistema, e também do movimento de literatura periférica e marginal que, no início dos anos 2000, defendia que, se é para consumir, que se compre as marcas produzidas pela periferia, para a periferia, o funk da ostentação coloca os jovens, ainda que para a maioria só pelo imaginário, em cenários até então reservados para a juventude branca das classes média e alta. Esta, talvez, seja a sua transgressão. Em seus clipes, os MCs têm vida de rico, com todos os signos dos ricos. Graças ao sucesso de seu funk nas comunidades, muitos MCs enriqueceram de fato e tiveram acesso ao mundo que celebravam”.
“Esta exaltação do luxo e do consumo, interpretada como adesão ao sistema, tornou o funk da ostentação desconfortável para uma parcela dos intelectuais brasileiros e mesmo para parte das lideranças culturais das periferias de São Paulo”, diz a escritora. Agora, entretanto, acrescenta ela, “os rolezinhos – e a repressão que se seguiu a eles – deram a esta vertente do funk uma marca de insurgência, celebrada nos últimos dias por vozes da esquerda. Ao ocupar os shoppings, a juventude pobre e negra das periferias não estava apenas se apropriando dos valores simbólicos, como já fazia pelas letras do funk da ostentação, mas também dos espaços físicos, o que marca uma diferença. E, para alguns setores da sociedade, adiciona um conteúdo perigoso àquele que já foi chamado de ‘funk do bem’”.
Na opinião de Eliane Brum, “os rolezinhos não são protestos contra o shopping ou o consumo, mas afirmações de: ‘Queremos estar no mundo do consumo, nos templos do consumo’. Entretanto, por serem jovens pobres de bairros periféricos, negros e pardos em sua maioria, e que ouvem um gênero musical considerado marginal, eles passam a ser vistos e classificados pela maioria dos segmentos da sociedade como bandidos ou marginais”.
O fenômeno é ao mesmo tempo, segundo ela, uma insubordinação e uma adesão: “Não dá para situá-lo num polo ou noutro, dentro do modo tradicional de pensar a política. Conservador ou revolucionário? Nenhum dos dois, mas com possibilidade para os dois ao mesmo tempo”.
De forma similar pensa Osana Pinheiro Machado, professora de antropologia na Universidade de Oxford, para quem “orolezinho é um evento de jovens da periferia que se reúnem para passear nos shoppings das cidades, cantar funk e se divertir”. Segundo ela, “há uma reinvindicação clara de ocupar espaços urbanos privilegiados, de marcar presença. É um basta na invisibilidade”. Rosana Pinheiro Machado conta que “uma vez um menino disse que usava as melhores roupas e marcas para ir ao shopping para ser visto como gente. Ou seja, a roupa tentava resolver uma profunda tensão da visibilidade de sua existência. Mas noutro canto, os donos da loja se assustavam e cuidavam para ver se eles não roubavam nada".
Em sua opinião, "a classe média disciplinada vê os jovens vestindo as marcas do mercado hegemônico para qual ela serve. A classe média vê os sujeitos vestindo as mesmas marcas que ela veste (ou ainda mais caras), mas não se reconhece nos jovens cujos corpos parecem precisar ser domados. A classe média não se reconhece no Outro e sente um distúrbio profundo e perturbador por isso".
“Não adianta não gostar de ver a periferia no shopping. Se há poesia da política do rolezinho é que ela é um ato fruto da violência estrutural (aquela que é fruto da negação dos direitos humanos e fundamentais): ela bate e volta. Toda essa violência cotidiana produzida em deboches e recusa do Outro e, claro, também por meio de cacetes da polícia, voltará a assombrar quando menos se esperar”, comenta a cientista social.
Essa violência estrutural é destacada por Paulo Lins, escritor, autor de Cidade de Deus, para quem “o rolezinho é uma forma de trazer à tona o fato de que o Brasil é um país racista”.  Segundo ele, “a resposta das autoridades diante dorolezinho não é novidade, sempre foi assim. Se entrarem cinco negros num shopping a segurança vai ficar olhando, vai ir atrás. A polícia brasileira é a que mais mata jovens negros”.
O preconceito e a repressão estariam diretamente associados ao lugar social e à raça. Para o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira, “sempre existiram encontros de jovens em shoppings, inclusive estão circulando imagens deestudantes de Economia da Universidade de São Paulo fazendo uma bagunça, tranquilos. Essa reação me parece que começa por três fatores. Um é de classe – são jovens pobres –, o segundo é de cor e raça, e o terceiro é justamente porque são jovens, são adolescentes. E acho que há um problema na nossa sociedade de lidar com a juventude. A grande questão é que, se fossem jovens de classe média, certamente não seria a polícia que seria acionada. Seria criada outra solução. Como são jovens da periferia, a polícia foi usada como elemento de autoridade e com a imposição de uma certa força sobre eles”.
Paradoxalmente, os rolezinhos são também resultado do Brasil da Era Lula com seus avanços e contradições. A opinião do sociólogo Rudá Ricci, é de que “os rolezinhos nascem de dois sentimentos que se cruzam. O primeiro, fruto da inclusão pelo consumo provocado pelo lulismo. A inclusão pelo consumo disseminou que prestígio social se vincula a bens adquiridos, se possível, top de linha. O segundo sentimento é o ressentimento, fruto da condição social dos moradores da periferia. Não está diretamente vinculado ao padrão de consumo (vários deles possuem casas com TV tela plana, celulares e tênis de última geração), mas ao descaso dos governantes (não possuem áreas ou programas culturais ou de lazer e são tratados com violência pela polícia) e, principalmente, pela discriminação das classes médias tradicionais”.
Algo semelhante diz Gilberto Maringoni, ao afirmar que tudo indica que “os jovens estão indo ao lugar onde pode se realizar a propalada ‘inclusão social’ da Era lulista. O que se alardeou na última década não foi o fato de a chamada ‘classe C’ estar comprando seu laptop, seu tablet, sua TV de tela plana, seus eletrodomésticos e seu Corsa em prestações a perder de vista? O substrato do pleno emprego e do aumento real dos salários não é, ao fim e ao cabo, poder comprar mais e mais? A garotada quer isso. Quer mais tênis, quer mais grifes e quer poder mostrar isso. Algo como o funk ostentação. Pode não estar comprando, mas está indo aos templos do consumo para dizer que existem, que estão aí e que querem se divertir. Se consumo é alardeado como direito de cidadania, onde exercê-lo plenamente? Em que lugar exercitar meu hedonismo a pleno vapor”?
Segundo ele, “a garotada está se comportando como Lula falou, como a marquetagem propagou, como a mídia repetiu e como a publicidade os pautou. Vamos comprar! Vamos consumir. Que mal há nisso, na sociedade em que tudo é mercadoria? Não pode. A sociedade da mercadoria não é para todos”.
Na opinião de Bruno Cava, “o que agride a ordem não é o fato de ocupar shoppings. Isso a classe sem nome já vem fazendo, também em restaurantes, aeroportos, pet shops, salões de beleza e charmosas cidades in da Europa ou Estados Unidos. O que realmente agride, o choque de gosto, hoje, é ocupar de maneira organizada e organizar-se para ocupar: a capacidade de gerar sentidos sem passar pelas mediações da grande imprensa, do mercado de consumo ou da esquerda convencional”.
Segundo ele, “a periferia se testemunha enquanto tal, sem hesitar em usar o funk e apropriar-se da esfera do consumo, como um manifesto pela própria existência e senso coletivo. Acusados todavia de despolitização, por meramente desejar zoar, consumir, ostentar e pegar alguns(as) meninos(as), juntos em grandes ocupações os jovens acabam politizando tudo”.
Para Bruno Cava, “não é caso de romantizar os pobres (romantizar porra nenhuma aliás) e, mais realista do que o rei, enxergar ‘consciência de classe’ onde só haveria alienação e autoafirmação adolescente. Mas não se pode negar, por outro lado, que algo está fora da caixa, que um processo novo, potente, e com possíveis desdobramentos políticos, está em curso”.
O fato, diz ele, “é que a polícia não tem protocolo para lidar com a nova situação. Confusa diante de uma composição social nova, segue a cartilha histórica: na dúvida, reviste os negros. Negros com poder de consumo, até pouco tempo atrás, era sinônimo de traficante. A grande mídia corporativa tampouco sabe o que fazer. A tentativa de rotular ‘arrastão’ nos rolezinhos foi desmentida pela ação rápida das redes sociais e mídias alternativas. A imprensa precisa cuidar para que o próprio racismo não saia do armário. O que ela quer mesmo é colocar Mandela na coleira para passeá-lo como cachorrinho de sua boa consciência”.
#Nãovaitercopa versus #Vaitercopa
A polêmica em torno dos rolezinhos se manifesta com o evento da Copa do Mundo. A criação do movimento por setores populares do #Nãovaitercopa foi respondida pela esquerda mais institucionalizada com o movimento #Vaitercopa.
O movimento #Nãovaitercopa está convocando ato para o dia 25 de janeiro em todas as sedes da Copa. Na convocação são denunciados problemas sociais que, segundo os organizadores dos protestos “o governo optou por esconder do mundo”. Em primeiro lugar, é citada a insegurança nas ruas de um país no qual, segundo dados oficiais, “800 mil cidadãos morreram por disparos de algum tipo de arma de fogo” entre 1980 e 2010.
Depois, criticam os altos índices de prostituição infantil, a ‘precariedade da saúde pública’, os elevados impostos, o pouco investimento em educação, a corrupção, a repressão que sofrem os movimentos sociais e as remoções forçadas de cidadãos e expropriações devido às obras necessárias para a Copa. O documento circula nas redes sociais e assegura que “os protestos contra o Mundial no Brasil estão acima dos interesses políticos partidários e, se têm alguma bandeira, é a das reivindicações populares”. Segundo estes movimentos, “o Brasil precisa mudar, mas não com o futebol. O clamor popular a partir de janeiro terá uma só voz: Não vai haver Mundial”.
A Copa do Mundo se transformou num dos grandes projetos do Brasil Maior, destaca Hugo Albuquerque, e as críticas à sua realização têm causado desconforto no governo. Com o objetivo de “negociar” com o movimento a presidente Dilmapublicou o Decreto 6.521, que estabelece que a Secretaria-Geral da Presidência será reforçada com dois altos funcionários. Sua missão será a “promoção do diálogo com os movimentos e segmentos sociais por ocasião da Copa do Mundo de 2014″.
Na opinião do cientista político Adriano Pilatti, se trata de “resposta burocrática típica de alguém cuja soberba mantém tapados os ouvidos, os olhos e o entendimento”. Segundo ele, “as ruas não precisam de mais dois burocratas gratificados, as ruas precisam que os que estão no poder as considerem politicamente e tomem a sério o que têm a dizer”.
Criminalização das ruas?
Mais grave, porém, na opinião de movimentos sociais com vistas à Copa, é a decisão do governo no anúncio de Portariaque classifica manifestações em vias públicas e ocupações de prédios públicos entre 'principais ameaças' à manutenção da ordem, sujeitas à repressão militar. Recentemente publicado, documento do Ministério da Defesa que regulamenta atuação das Forças Armadas em operações de segurança pública considera movimentos sociais como “forças oponentes” de Exército, Marinha e Aeronáutica nas situações em que estas forem acionadas para garantir a lei e a ordem, e iguala organizações populares a quadrilhas, contrabandistas e facções criminosas.
De acordo com o manual, também podem ser alvo da repressão militar pessoas, grupos de pessoas ou organizações “infiltrados” em movimentos, “provocando ou instigando ações radicais e violentas” – termos que têm sido utilizados pelas autoridades e pela opinião pública para descrever as atividades de pessoas mascaradas durante manifestações, os chamados black blocs.
O regulamento considera que todos eles, sem distinção, devem ser “objeto de atenção e acompanhamento e, possivelmente, enfrentamento durante a condução das operações” das tropas federais, que agora estão textualmente autorizadas a atuarem em grandes eventos, como já vinha ocorrendo desde a Conferência Rio+20 sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2012.
Além de elencar características das “forças oponentes” do Estado brasileiro, o manual enumera as “principais ameaças” à manutenção da lei e da ordem no país. Entre elas, figuram estratégias comuns de protesto popular, como “bloqueio de vias públicas de circulação”, “invasão de propriedades e instalações rurais ou urbanas, públicas ou privadas” e “paralisação de atividades produtivas”. Ainda no rol das ameaças, o documento cita episódios observados nas manifestações do ano passado em algumas capitais, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, tais como “depredação do patrimônio público e privado” e “saques de estabelecimentos comerciais”. O termo “distúrbios urbanos”, utilizado como sinônimo de manifestações públicas em manuais das polícias militares, também aparece como perigos à ordem.
A normativa passou a vigorar em 19 de dezembro, após publicação da Portaria 3.461/MD, assinada pelo ministro Celso Amorim.
Na opinião de Antonio Martins, é preocupante a forma como o governo vem se comportando em relação aos movimentos de ruas. Segundo ele, “uma retrospectiva permite rastrear sua origem. A partir de outubro do ano passado, o Palácio do Planalto adotou uma sequência de decisões que revela tendência a usar a repressão policial contra mobilizações e protestos – especialmente relacionados à Copa do Mundo”.
O jornalista, editor do sítio Outras Palavras, destaca que “esta postura é ainda mais chocante porque cessaram os diálogos abertos com movimentos sociais, após as manifestações de junho. E além de antidemocrática, do ponto de vista político, é extremamente temerária no que diz respeito à popularidade da presidente, a suas perspectivas eleitorais e à própria segurança pública. Porque torna o governo Dilma refém de polícias estaduais que já demonstraram, além de desrespeito aos direitos humanos, partidarismo e despreparo, capacidade de converter movimentos pacíficos em atos explosivos”.
Antonio Martins comenta que “o primeiro marco visível da ênfase preferencial por reprimir é a reunião que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo realizou em Brasília, em 31 de outubro, com os secretários de Segurança de São Paulo e Rio de Janeiro. Os dois estados estavam sob impacto das manifestações black blocs, uma das quais resultou na agressão (nunca suficientemente esclarecida) a um coronel da PM paulista. A mídia pressionava por uma resposta dura. Mas ao se reunir com os secretários, e ao definir com eles um conjunto de ações comuns, Cardozo passou por cima de um fato óbvio, já então. Nos dois Estados, a polícia era parte do problema, não da solução. Primeiro, por sua brutalidade, registrada, por exemplo, na repressão à manifestação de 13 de junho contra o aumento das passagens do transporte, em São Paulo. Segundo porque, em diversos episódios, a ação policial havia revelado não apenas despreparo, mas intenção de provocar; de levar os manifestantes a agir violentamente. Ao ignorar este aspecto, o ministro transmitia, aos manifestantes, uma clara atitude de cumplicidade do governo federal”.
Alguma das medidas anunciadas, destaca ele, “sugeriam repressão mais aguda (a criação de um banco de dados sobre manifestantes, compartilhado entre os governos). Outras, positivas, jamais foram efetivadas (a criação de fóruns de diálogo entre manifestantes e autoridades, para relato de abusos). Falou-se na adoção de um ‘protocolo comum’ para orientar a ação policial perante as manifestações, mas nada se informou, desde então, que tipo de comportamentos ele estimulará ou proibirá. A julgar pelo comportamento da PM paulista diante dos ‘rolezinhos’, ou o protocolo não existe, ou é indesejável”.
No início do ano, continua ele, “o governo voltou à carga. Em entrevista a O Globo, o secretário nacional de segurança para grandes eventos, delegado (PF) Andrei Augusto Passos Rodrigues, anunciou que a Força Nacional de Segurança criaria uma tropa de choque de dez mil homens, para intervir durante a Copa do Mundo. Mais uma vez, falou-se na definição de protocolos de ação – e de novo eles não foram revelados”.
Por fim, comenta “o Portal Brasil divulgou, há uma semana, um documento ainda mais amedrontador: um manual produzido pelo Estado Maior das Forças Armadas para orientar a atuação de militares em operações de ‘garantia da lei e da ordem’. Aprovado no final do ano passado, e só agora revelado, o documento é redigido em linguagem que lembra a antiga Doutrina de Segurança Nacional. Fala em ‘forças oponentes’ e ‘ameaças’ (pág. 15), ‘emprego de inteligência e contra-inteligência’ (p.26), ‘uso progressivo de força’ (p.26). Inclui, entre as ‘principais ameaças’ (p.29), itens como ‘bloqueio de vias públicas’, ‘distúrbios urbanos’, ‘invasão de propriedades e instalações rurais e urbanas’ e até mesmo ‘paralisação das atividades produtivas’”.
Na análise de Adriano Pilatti, “o pogrom midiático presidencial na virada do ano - com a tríade ‘guerra psicológica’, ‘centrais de flagrância’, ‘10 mil homens pra reprimir protestos na Copa’ - só produziu um efeito: ampliar nas redes e nas ruas o uso do - e a adesão ao - ‘Não Vai Ter Copa!’ Ao mesmo tempo, projetos de lei liberticidas começam a tramitar no Congresso, e outros virão, podem escrever, gestados nos piores gabinetes desta República. Lastimavelmente, muitas críticas e questionamentos legítimos à escalada repressiva, às remoções de pobres e outros desatinos do governo e seus aliados têm merecido, de alguns setores petistas, respostas extremamente agressivas com uso de tons ameaçadores. Se o governo continuar se encaminhando para o tudo ou nada, estará criando irresponsavelmente a possibilidade de acirramento dos ânimos e, aí sim, a instalação de uma situação incontrolável”, destaca ele.
Adriano Pilatti, comenta que “ao mesmo tempo, há todo um universo de apoiadores do governo e seu partido que têm uma trajetória de esquerda, defendem com razão as boas políticas distributivas, lutaram contra a ditadura, mas desde junho se dedicam a um esforço permanente de não ver, não entender, não aceitar simplesmente a existência das ruas - nunca pisaram lá pra ver por si mesmos”.
Segundo ele, “ficam indignados com as arbitrariedades do processo e execução da AP 470 [mensalão], mas não escreveram uma linha contra a selvagem repressão que há oito meses desaba sobre jovens (pobres em sua maioria) e pobres em geral que se levantam por direitos. Neste momento, estão obcecados pelo processo eleitoral, reduzindo tudo ao cálculo do benefício ou do prejuízo para a reeleição daquela senhora. E o pior é que estão calculando errado: se continuar ombreando com Cabral, Paes e seus atos de lesa-pobre, Dilma vai perder a eleição no Rio. O(a)s pobres sabem, a cada remoção um pouco mais, que a luta dos menino(a)s intrépido(a)s é por ele(a)s”.
Esquerda perplexa e intolerante
O sociólogo Rudá Ricci chama atenção para os traços de envelhecimento da esquerda e sua intolerância para com as manifestações juvenis. Algo que já havia ocorrido com as manifestações de J13, onde significativos setores de esquerda enxergaram no movimento traços de fascismo. Lembra ele:  "A esquerda sempre se alimentou da ousadia dos jovens. Se renovou a partir de suas ações", mas agora de forma conservadora olha com desconfiança aquilo no qual poderia encontrar seu rejuvenescimento.
Diz ele: “Fico desconcertado com a intolerância para tudo o que os jovens fazem coletivamente e que não segue o script que se encontra nos manuais de conduta juvenil partidária. As manifestações de junho foram caracterizadas como provocação, baderna ou manipulação (existente ou potencial) da direita”.
Agora, comenta, “com os rolezinhos, o que se lê nas redes sociais, partindo de petistas declarados? Que se trata de ações descompromissadas, provocações ingênuas e que, invariavelmente este é o argumento final, serão usadas pela direita”. Segundo ele, “PT bom parece aquele composto por gente grisalha e barriguda. E que me faz lembrar de como os velhos militantes do Partidão nos abordavam, nós, jovens, que fundávamos o PT ou pouco antes disto. Com um copo dewhisky na mão, o olhar pouco acolhedor e o ar blasé  nos ensinava, do alto de sua poltrona, como não sermos ingênuos, esquerdistas, impetuosos e provocadores da direita sempre alerta. Acho que se tivéssemos seguido seus conselhos não teríamos feito nada do que fizemos e só teríamos a  história deles para contar para os netos, já que a nossa seria de extrema previsibilidade monótona”.
Na opinião de Rudá Ricci, “tenho para mim que os adultos grisalhos teriam que ter outra postura em relação aos atos adolescentes de nossos jovens. Ao menos, ouvi-los e, se possível, dialogar. Enfrentá-los, além de atitude defensiva e grosseira (lembra a disputa de espaço no mundo selvagem), só reforçará o espírito de corpo e aumentará a comunidade. Não foi isto, afinal, que ocorreu em junho do ano passado quando a PM bateu sem dó nos jovens militantes do MPL?Para nós, velhos de esquerda, a responsabilidade é ainda maior. Teríamos que aprender com eles. A esquerda, lembremos, sempre se alimentou da ousadia dos jovens. Se renovou a partir de suas ações. Não gostar de tudo o que não é espelho é revelador. Da idade. E da esclerose mental”.
Para o cientista político Adriano Pilatti, a incompreensão e intolerância pode levar à criminalização. Segundo ele, “a criminalização dos movimentos sociais é pura e simplesmente a continuidade dessa incapacidade das elites brasileiras de aceitar a ação política que vem de baixo. Os primeiros movimentos sociais criminalizados foram os quilombos e, assim como os quilombolas eram caçados, hoje os dissidentes pobres também o são. Entre eles, esses meninos que tomaram as ruas do Rio de Janeiro e que não querem ser traficantes, nem milicianos, nem policiais, mas também não querem ser ‘escravos remunerados’ em sórdidos ambientes de trabalho. Eles querem ser cidadãos e são satanizados pura e simplesmente porque põem uma máscara no rosto, independentemente do que fizerem ou deixarem de fazer”.
As ruas como ‘poder constituinte’. Outra chave de leitura
Opondo-se à leitura conservadora de muitos que veem os novos movimentos de rua como uma ameaça ao governo, à ordem, aos movimentos tradicionais, uma série de autores pontifica o caráter emancipatório desse novo ciclo de lutas. Uma leitura parcial desse pensamento encontra-se na revista IHU On-Line intitulada “A potência das ruas em debate”, de dezembro de 2013. Para muitos deles, abre-se com o novo ciclo das ruas a possibilidade do governo avançar, o risco é o recuo como destacado anteriormente.
Em entrevista ao IHU, o cientista político Adriano Pilatti destaca a que “as respostas a essas contestações foram até aqui pífias, ao passo que sobrou arrogância, autoritarismo, insensibilidade diante da fantástica contribuição crítica à construção da democracia no Brasil que foi oferecida em cada cartaz, faixa, refrão das manifestações, em cada ocupação, em cada ato de resistência ao longo desses meses. Enquanto os poderes constituídos mantiverem essa impermeabilidade em face do que vem das ruas, [mantiverem] esse padrão repressivo de resposta, não há razão para ser otimista”.
Segundo ele é possível avançar mais: “A estabilidade é precária, as desigualdades diminuíram, mas permanecem enormes, as políticas de inclusão produziram avanços mas não conseguem sequer ‘incluir’ satisfatoriamente doentes em hospitais, crianças nas escolas, passageiros nos veículos de transporte, etc. Não incluem os cidadãos pobres em geral, e os pobres negros em particular, entre aqueles que são respeitados pelas polícias”.
Para Pilatti “ninguém ‘combinou com os russos’ que eles se satisfariam em comer três vezes por dia e ter vaga na escola. A garantia de um patamar mínimo de direitos em matéria de nutrição, educação, saúde, etc. não produz saciedade ou resignação. Os levantes iniciaram um novo ciclo nas lutas por direitos relativos ao transporte, aos espaços públicos, à informação, à segurança, à educação, à participação, à representação. O direito de contar politicamente de forma autônoma, de participar diretamente das decisões da pólis e fruir dos serviços da cidade. Em diferentes níveis e questões, os jovens questionam a plutocracia que, de dentro das estruturas da democracia atual, impede o exercício de direitos fundamentais”.
O cientista político propõe outra chave de leitura para interpretar o movimento das ruas. Segundo ele, “o que se expressa nas ruas através da mobilização dos corpos e das mentes desses jovens é uma dimensão nova, potente, determinante ao menos a médio e longo prazo, do devir-multidão dos pobres, dos excluídos e de todos os que são incluídos apenas e tão somente na extensão necessária para serem explorados. Na medida em que se aproxime de outros movimentos e possa com eles se comunicar e cooperar, penso que tende a contagiá-los com muitos de seus aspectos positivos: sua horizontalidade, sua composição múltipla, a reivindicação e o respeito pela autonomia de todos os que nele se integram”.
“Desde junho estou convencido de que ‘o sal da terra’ está hoje nas ruas”, afirma Adriano Pilatti para quem “nos setores mais engajados e mobilizados, essas mobilizações inspiraram um renovado e difuso desejo de autonomia, de participação livre, de novas formas de ação e participação”.
Adriano Pilatti utiliza-se da contribuição de Antonio Negri, autor da trilogia Império, Multidão e Comum, para a compreensão da novidade nas ruas. “O constituinte sempre excede e ultrapassa o constituído. O constituído é mero produto, consequência, expressão na melhor hipótese, traição na pior hipótese, do que é constituinte. O que é constituinte é a vida, é o trabalho, é o desejo, é a cooperação”.
A contribuição de Negri, diz ele, “é compreender a fonte de toda a vivacidade e produção biopolítica. É compreender as imensas transformações que o trabalho e, portanto, o capitalismo, vem experimentando nas últimas décadas. Portanto, aí está a necessidade de atualizar as velhas categorias da esquerda, de se ‘antenar’ a esse novo mundo”.
Em Império, comenta Pilatti, “Toni Negri faz um grande esforço de, no campo da sociologia política, tentar entender essas novas formas do governo mundial. Multidão, que é o livro seguinte e o último publicado no Brasil, tenta entender essa nova subjetividade política que não é uniforme e não é classe operária, mas uma outra coisa, que é essa confusão excedente e que corresponde justamente à própria variação do mundo do trabalho hoje que não é só mais a fábrica, do mundo da produção em que o hardware importa menos que o software. Falta traduzir para o português a última obra, que trata sobre o comum. Essa tetralogia, que engloba os livros Poder constituinte traduz uma trajetória instigante e generosíssima de reflexões”, comenta.
“A multidão continua nas ruas, redes e shoppings. Mas ainda há tempo para os poderes constituídos, sobretudo o governo federal, reconhecerem a potência da nova etapa democrática. Isso é o melhor que podemos desejar”, afirmamGiuseppe Cocco e Adriano Pilatti.
‘Brasil Grande’. Para onde vai?
A mesma dificuldade do governo em ‘dialogar’ com os novos movimentos de rua, já se cristalizou em relação aos povos tradicionais, particularmente os indígenas. O modelo em curso repete os equívocos do modelo dos anos de chumbo em que o preço a ser pago pelo desenvolvimento vitima aqueles que se interpõem no seu caminho. A batalha de Humaitáestá aí para comprovar com a triste história da transamazônica. História que se repente na voracidade do ciclo dacomoditização.
Nesses dias repercutiu a entrevista do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que critica o governo de Dilma Rousseff e os seus projetos de estradas e usinas hidrelétricas e benefícios ao agronegócio que atingem diretamente os povos indígenas. O antropólogo comparou as ambições desenvolvimentistas da atual presidente à megalomania da ditadura, com seu ideário de “Brasil Grande”.
Segundo ele, “foi preciso a esquerda, uma ex-guerrilheira, para realizar o projeto da direita. Na verdade, eles sempre quiseram a mesma coisa, que é mandar no povo. Direita e esquerda achavam que sabiam o que era melhor para o povo e, o que é pior, o que eles pensavam que fosse o melhor é muito parecido. Os militares talvez fossem mais violentos, mais fascistas, mas o fato é que é muito parecido.”
Na opinião de Eduardo Viveiros de Castro, “o PT, a esquerda em geral, tem uma incapacidade congênita para pensar todo tipo de gente que não seja o bom operário que vai se transformar em consumidor. Uma incapacidade enorme para entender as populações que se recusaram a entrar no jogo do capitalismo”.
Nessa perspectiva, diz ele, “quem não entrou no jogo – o índio, o seringueiro, o camponês, o quilombola –, gente que quer viver em paz, que quer ficar na dela, eles não entendem. O Lula e o PT pensam o Brasil a partir de São Bernardo. Ou de Barretos. Eles têm essa concepção de produção, de que viver é produzir – ‘O trabalho é a essência do homem’. O trabalho é a essência do homem porra nenhuma. A atividade talvez seja, mas trabalhar, não”, conclui.
O destrato para com os povos originários e por extensão com o meio ambiente talvez custe caro ao país num futuro próximo. O Brasil não se dá conta das enormes potencialidades de superação do modelo produtivista-fordista que sinaliza para o fracasso civilizatório.
“Ecologizar” é verbo da vez, sustenta Bruno Latour. Segundo ele, “o Brasil, com todas as suas contradições, é fundamental na possibilidade de um futuro de inovações que gerem um novo tipo de ‘civilização ecológica’, numa nova ‘inteligência política e científica’”.
Latour afirma: “Penso que deve haver uma verdadeira revolução ecológica, não somente no sentido de natureza, e o Brasil é um ator importante”. Para ele, “a esperança do mundo repousa muito sobre o Brasil, país com uma enormidade de reservas e de recursos. Se fala muito do movimento da civilização na direção da Ásia, o que não faz muito sentido do ponto de vista ecológico, pois quando se vai a estes países se vê a devastação. Não se pode imaginar uma civilização ecológica vindo da Ásia”.
No Brasil — e também na Índia — diz o antropólogo, “há um pensamento, não simplesmente a força nua, num país em que os problemas ecológicos são colocados em grande escala. Há um verdadeiro pensamento e uma verdadeira arte, o que é muito importante”.
Fazendo referência das manifestações de junho de 2013 Latour comenta: “Essa é uma das razões pelas quais o Brasil é interessante, porque há ao mesmo tempo um dinamismo de invenção política, ligado a outros dinamismos relacionados às ciências, às artes. Há um potencial no Brasil. E há, hoje, uma riqueza. Não são temas que se pode abordar em uma situação de miséria. É preciso algo que se pareça ao bem-estar. Na Índia, se você tem um milhão de pessoas morrendo de fome não pode fazer muito. O Brasil é hoje muito importante para a civilização mundial”.
Talvez falte às nossas elites essa percepção de que “o Brasil é muito importante para a civilização mundial”. A percepção de que nós podemos gestar um novo modelo paradigmático, um modelo de superação ao ciclo industrialista que se iniciou na Revolução Industrial e que se encontra em crise.
Conjuntura da Semana em frases
Seleção de frases extraídas das “Frases do dia” publicadas diariamente no sítio do IHU. Frases publicadas entre os dias10 a 17 de janeiro de 2014:
Rolezinhos
“Shoppings quebram as barreiras do que é público e privado. São ao mesmo tempo as duas coisas. Vem daí a dificuldade de lidar com os "rolezinhos", essa nova maneira de protestar de jovens que ontem descambou para seu primeiro episódio de violência, em Itaquera” – Fábio Zanini, jornalista – Folha de S. Paulo, 13-01-2014.
A nova Paulista
“Para a turma dos "rolezinhos", os shoppings são a nova Paulista" – Fábio Zanini, jornalista – Folha de S. Paulo, 13-01-2014.
“Pelo menos na avenida, após anos de manifestações, as autoridades sabem um pouco o que esperar. Desta vez, ninguém tem ideia de como agir” – Fábio Zanini, jornalista – Folha de S. Paulo, 13-01-2014.
Não vai ter Copa
“De molecagem, no bom e no mau sentido, o "rolê" está sendo "ressignificado" como "Occupy Shopping" (como o protesto iniciado em Nova York contra a finança) ou como um paralelo de protestos que se ensaiam contra a Copa ("Não vai ter shopping", "Não vai ter Copa")” – Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 14-01-2014.
Disposição
“À parte discussões legais, o fato é que o rolê ameaçou cruzar fronteiras definidas na "limpeza étnica" que reservou o centro paulistano para os mais ricos, "zoando" costumes exclusivistas, o que dá combustível para o típico confronto político destes dias, comportamental, que passa longe de economia e de "questões de Estado". Sabe-se lá se decola a "aliança" entre inconscientes de classe e ideólogos de esquerda. Mas desde 2013 há disposição para "causar" – Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 14-01-2014.
Rolexzinho
"Quando for ao shopping JK nunca diga que vai comprar um rolexzinho". Aliás, em shopping algum. Seria pânico geral! Causa mais pânico que uma invasão de baratas carnívoras dilaceradoras de vísceras!” – José Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 14-01-2014.
Rolê
“Porta de shopping antes tinha pipoqueiro, agora tem 84 seguranças e 120 PMs” – José Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 15-01-2014.
O fantasma do 'rolê'
"Na reunião extraordinária de ontem sobre os "rolezinhos", a presidente Dilma Rousseff ouviu temores de que o fenômeno cresça e ganhe as ruas às vésperas da campanha. O estágio atual do movimento foi comparado ao início dos protestos de junho. Os militantes pelo passe livre eram poucos, mas a reação desproporcional da PM turbinou a causa e jogou o governo nas cordas. O Planalto ainda teme a infiltração de black blocs entre os jovens que promovem os "rolês" –Bernardo Mello Franco, jornalista – Folha de S. Paulo, 15-01-2014.
Pegamos!
“Adorei a charge do Pelicano com um PM segurando um cara pela gola: "Pegamos um suspeito de rolezinho, tava circulando pelo shopping sem qualquer cartão no bolso" – José Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 16-01-2014.
Ato de esquerda
"Ir ao shopping barbarizar não é um ato de esquerda. Tem gente saudosa de uma revolução que não fez e não fará” -Aloysio Nunes, líder do PSDB no Senado – Folha de S. Paulo, 16-01-2014.
Além do limite
"Até setembro, Pedrinhas tinha 39 mortes. Em 2012, tinha quatro mortes. Então, até setembro, 39 estava dentro do limite que se esperava” – Roseana Sarney, governadora do Maranhão – PMDB – Folha de S. Paulo, 10-01-2014.
Roseana fofa
“Tá todo mundo falando mal da Roseana porque ela licitou 80 kg de lagosta. Mas a Roseana é fofa: as lagostas são para as quentinhas! Arroz cru, feijão azedo e uma lagosta por cima! Quentinha Roseana Gourmet!” – José Simão, humorista –Folha de S. Paulo, 10-01-2014.
Tudo é Sarney
“Pedir informação em São Luís: pega a avenida José Sarney, passa pela ponte Roseana Sarney, dobra na maternidade Kiola Sarney e vira à direita na escola Marly Sarney!” – José Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 10-01-2014.
Camarão e lagosta
“Enquanto a família Sarney come camarão e lagosta, o povo passa fome” – Gutemberg Bogea, jornalista – Zero Hora, 13-01-2014.
Rico sem caviar é um miserável
“Eremildo fez umas contas de economia doméstica com a despensa da doutora Roseana. Ela pretendia gastar R$ 1 milhão para abastecer seu palácio e a casa de verão durante um ano. Isso dá uma conta de US$ 418 mil. (Isso para não se falar no caviar para visitantes ilustres.) Como disse a doutora, o Maranhão tem problemas porque "está mais rico", e rico sem caviar é um miserável" – Elio Gaspari, jornalista – Correio do Povo, 12-01-2014.
Voz do Brasil
“Depois de três dias de silêncio, Dilma Rousseff recorreu ontem ao Twitter para comentar a barbárie no Maranhão. Foi o mesmo expediente usado há um mês após a pancadaria entre as torcidas de Vasco e Atlético-PR em Joinville (SC)” –Bernardo Mello Franco, jornalista – Folha de S. Paulo, 11-01-2014.
Monólogo
“Ao se refugiar no microblog em vez de dar entrevistas, a presidente evita ter que responder a perguntas incômodas. Um exemplo: "A senhora ainda pretende apoiar a campanha de Roseana ao Senado?" – Bernardo Mello Franco, jornalista –Folha de S. Paulo, 11-01-2014.
Campeões
“Penitenciárias superlotadas e violentas não são vergonhas só brasileiras, claro. O problema de como alojar apenados, tratá-los como gente e se possível reabilitá-los é internacional. Mas as cenas da barbárie no Maranhão mostraram um grau de selvageria provocado pelos anos de indiferença, que espantou o mundo. Chegamos a isto. Somos os campeões do descaso e das suas consequências” – Luís Fernando Verissimo, escritor – Zero Hora, 13-01-2014.
Comédia macabra
“Só no Brasil é que presos são degolados por outros presos, uma comissão senatorial vai fiscalizar o local dos bárbaros atentados e não pode vistoriar o local. Isso é uma verdadeira anedota. E passam para o público essa legítima e macabra comédia” – Paulo Sant’Ana, jornalista – Zero Hora, 16-01-2014.
Doações
“Em sete dias, a família de José Genoino recebeu mais de R$ 450 mil para ajudar a pagar a multa à qual o petista foi condenado pelo mensalão, de R$ 667,5 mil. Em 24 dias, o Corpo de Bombeiros do Espírito Santo recebeu R$ 900 mil por meio das três contas abertas para auxiliar as 49 mil vítimas das enchentes de dezembro” – Cauê Fonseca, jornalista –Zero Hora, 17-01-2014.
Daqui não saio
“Daqui ninguém me tira. É tró-ló-ló pra cá. É ti-ti-ti pra lá. Mas o chefe de gabinete da presidente Dilma, o ministro Gilberto Carvalho, vai permanecer no governo e no Planalto. Pelo menos até o final do mandato da presidente. Gilberto comentou ontem, para vários interlocutores, que notícia sobre sua eventual saída do Palácio “é pura bobagem” – Ilimar Franco, jornalista – O Globo, 16-01-2014.
Empurrando com a barriga
“O PT nacional não quer saber dos petistas do Maranhão apoiando o candidato da oposição à governadora Rosena Sarney (PMDB), o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB). Para evitar que isso ocorra, a cúpula vai aceitar, no máximo, que o PT tenha candidato próprio” – Ilimar Franco, jornalista – O Globo, 16-01-2014.

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