segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ativistas prestam solidariedade ao povo Guarani Kaiowá

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Ativistas prestam solidariedade ao povo Guarani Kaiowá

Luana Luizy
"Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias.
Deus, mesmo, se vier, que venha armado" Guimarães Rosa
17/01/2014
Por Luana Luizy
"Não morreremos educadamente", esse foi o slogan que levou 30 ativistas e independentes de Brasília rumo ao Mato Grosso do Sul, no último dia 6 de janeiro, com objetivo de prestar solidariedade ao povo Guarani Kaiowá. O grupo se chama "Brigada em Solidariedade aos povos Guarani Kaiowá". 
"Tivemos nas ruas no ano passado e acreditamos que a luta na cidade se soma à luta no campo", aponta Thiago Ávila, um dos participantes da brigada. O primeiro dia da viagem contou com visita na Terra Indígena (TI) de Água Bonita, localizada na periferia de Campo Grande. Na aldeia vivem atualmente os povos Terena, Guató, Kadiwéu, Guarani e Kaiowá. Apesar de terem o reconhecimento de 36 hectares no cartório, os indígenas habitam atualmente apenas 14 hectares espalhados em 62 casas.
 
Ativistas ajudam na construção da casa de reza na aldeia Taquara-MS
Foto Luana Luizy
 
Como forma de acelerar a demarcação da terra pela Fundação Nacional do Índio (Funai), os indígenas ocuparam mais cinco hectares." Percebemos que vários outros movimentos sociais também sofrem com a falta de reconhecimento de suas terras, mas pra mim o sofrimento é um só", afirma o cacique Nito Nelson Kaiowá.
Durante a roda de conversa na aldeia de Água Bonita, o grupo discutiu a diferença entre os conceitos de "reserva" e "aldeia".  Após a Guerra do Paraguai houve o reajuste de fronteiras e terras na região do pantanal e muitos indígenas que estavam dentro de territórios reivindicados por latifundiários foram dispersados e confinados em reservas.
Então o conceito de reserva foi criado, um espaço administrativo para retirar os indígenas de seus territórios de origem, o propósito era colonizar os indígenas, prepará-los para trabalhar nas fazendas, urbanizá-los. No Brasil o projeto foi administrado por Marechal Rondon.
Após a visita em Água Bonita, a brigada seguiu para a aldeia de Marçal de Souza, também em Campo Grande.  Habitada por indígenas da etnia Terena, a ocupação na Marçal de Souza começou em 1995, a área estava prevista para Funai construir sua sede administrativa, com o passar dos anos nada foi feito, foi aí que os indígenas decidiram ocupar a área. Hoje a aldeia conta com uma escola e um memorial de cultura indígena, a 1° cacique mulher do Brasil também vive na aldeia, dona Enir Terena.
Apesar do reconhecimento da área, os indígenas da região sofrem com falta de uma educação escolar que contemple a cultura e língua dos Terena, além da falta de acesso à moradia e saúde. "Precisamos de uma escola tradicional indígena, atendimento na saúde indígena nos órgãos como a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) mais voltada para os indígenas. Atualmente vivem 10 mil indígenas em Campo Grande, podemos colocar que aí 70% reivindicam habitação. O espaço do memorial também precisa ser mais utilizado pela comunidade", reitera Sidney de Albuquerque, jornalista Terena.
Durante a jornada, os brigadistas puderem desmitificar a visão do índio romântico e perceber que cultura é um processo dinâmico. Os indígenas dentro da cidade não deixam de ser mais ou menos índios por isso. "O homem branco come mandioca, mas ninguém vai lá e diz que ele está deixando de ser branco por comer mandioca, tradição que é herdada dos indígenas, mas quando um índio tá consumindo algum produto tecnológico todos caem em cima dele pra dizer que ele tá deixando de ser índio", comenta o jornalista Rafael Abreu.
Dourados 
"A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia conhecida na questão indígena em todo o mundo", vice-procuradora geral da República, Débora Duprat.
  
  
 
Indígenas da aldeia de Água Bonita- MS pedem
aceleração da demarcação da terra Foto: Luana Luizy
 
Quem chega na cidade de Dourados logo percebe as oligarquias do campo que dominam a cidade, rodeada por usinas de álcool e campos de soja, a região parece esconder uma triste e dura realidade: O maior quadro de confinamento indígena e um dos contextos mais graves de miséria do país. A cidade também registra um dos maiores casos de violência contra os povos indígenas, além de casos de suicídio e alcoolismo.
A visita na aldeia de Jaguapiru só comprova o quadro, logo no caminho as marcas de destruição de uma pedreira dentro da terra indígena já revelam o clima desolador. "Vi que vocês tiveram exploração de uma mineradora aqui na aldeia, queria saber como isso tem afetado o cotidiano de vocês desde então?", questiona Henrique Dias participante da brigada.
"Já fomos ameaçados. Meu véio ficou surdo por causa da pedreira. A explosão é muito grande... parece que vai rachar a terra. Eu trabalhava e nunca parava, fazia meu artesanato, aprendi com minha mãe, mas agora não posso trabalhar bem, meu braço começa a formigar e preciso parar de trabalhar. Meu ‘véio’ ficou surdo, não vai ouvir mais nunca na vida dele", lamenta dona Floriza Souza da Silva Guarani Kaiowá.
Dona Floriza já sofreu um acidente devido a explosão da pedreira e afirma que foi arremessada pelo impacto. Os indígenas afirmam que as atividades da mineradora Santa Maria LTDA começou a partir de 1970, desde então ela tem provocado danos ambientais e afetado o dia-dia dos povos indígenas.
Para saber mais confira o documentário: Flor Brilhante e as Cicatrizes da Pedra
Guerreiras
O protagonismo das mulheres Guarani Kaiowá é percebido na sua autonomia. Em Dourados existe uma Associação de Mulheres Indígenas que vive de doações e oferece cursos de artesanato a indígenas. "Muitas vezes a imagem que passa lá fora é a de que o índio só quer viver de cesta básica, nós não queremos viver de cesta básica , mas queremos condições para termos nosso próprio sustento", reitera a cacique Elenir Guarani Kaiowá.
Taquara e a luta pela terra
"Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. 
Deus, mesmo, se vier, que venha armado" Guimarães Rosa
 
Indígenas da aldeia de Jaguapiru, em Dourados- MS
sofrem com as atividades de uma mineradora
dentro de suas terras Foto: Luana Luizy
 
A aldeia indígena de Taquara encontra-se a pouco mais de 10 km do município de Caarapó, no sul do estado de MS. Lá, os Guarani Kaiowá travam luta diária pelo reconhecimento de sua terra.  Em 2003, o cacique Marcos Verón foi morto brutalmente por agressores contratados por fazendeiro na região.

O monocultivo da soja e cana-de-açúcar tem provocado a especulação e degradação em cima das florestas e terras indígenas no Mato Grosso do Sul, só em 2007 a 2012 foram construídas 27 usinas de álcool no estado. A aldeia dos Guarani Kaiowá em Taquara é um caso bastante emblemático nessa questão, rodeada por canaviais, os indígenas ainda aguardam homologação da terra.
Em maio de 2013, os Guarani Kaiowá da aldeia Taquara decidiram retomar cerca de 300 hectares como meio de acelerar a regularização da área. "O ministro esteve aqui na área, mas foi priorizado a terra dos Terena. A gente não sabe como o governo vai fazer em relação ao fazendeiro. Vai demorar pra sair, enquanto isso tem os arrendatários que ficam explorando terra indígena", afirma a liderança indígena Ládio Veron, filho do cacique morto Marcos Veron.

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