segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A desigualdade social e suas barbáries

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A desigualdade social e suas barbáries

Não por acaso, é também no Maranhão que se manifestam outras barbáries sociais. Os índices de analfabetismo são os piores do Brasil e um dos piores do mundo. Pode haver barbárie e irresponsabilidade maior de um governo do que negar o direito de um trabalhador, que produz riquezas, de conhecer as letras? Em pleno século 21!
14/01/2014
Editorial da edição 568 do Brasil de Fato
Nos últimos dias, a sociedade brasileira tem assistido, chocada, a várias cenas de barbárie ao longo de seu território. Para lembrar alguns exemplos: o povo de Humaitá colocou fogo nas instalações da Funai e dos seus vizinhos indígenas. Duas crianças morreram sugadas na piscina, por falta de conservação e de guardas, em condomínio de luxo.
Os acidentes de trânsito – símbolo do progresso brasileiro – continuam matando 44 mil pessoas por ano. No Japão, com uma frota 40% superior e um território insular, o trânsito mata apenas 4.333 pessoas por ano.
As entidades de direitos humanos concluíram suas estatísticas de final de ano, revelando que a Polícia Federal, nos últimos anos, processou 566 fazendeiros por trabalho escravo. E nas cidades há processos na construção civil e na indústria têxtil. Mas ninguém foi preso!
Todos esses exemplos são, na verdade, facetas duras, que custam a vida de milhares de brasileiros, como consequência de uma sociedade extremamente desigual e injusta. Basta lembrar que o Brasil está entre os dez países mais desiguais do mundo. E é consequência de uma classe dominante cada vez mais rica, da qual os bancos se dão o direito de cobrar juros que podem chegar a 10% ao mês ou 144% ao ano, numa infl ação de 6% ao ano, e nada lhes acontece. Enquanto no capitalismo desenvolvido a taxa de juros anual é de apenas 2%.
Mas talvez os fatos mais vergonhosos expostos pela barbárie como sinal dessa injustiça e desigualdade foram revelados no Maranhão. Lá, há uma oligarquia familiar que domina o Estado, o poder econômico, as terras, o poder judiciário, o legislativo e o governo estadual desde 1964! E o Brasil inteiro assiste – pasmo – notícias de que foram assassinadas 63 pessoas, dentro dos presídios.
De que os bandidos por vingança atearam fogo a ônibus da população fazendo mais vítimas. Viu-se que uma das causas da revolta é a qualidade da comida, embora as marmitas foram cobradas do governo a um preço 142% acima da média, e sintomaticamente o proprietário da empresa fornecedora é sócio do marido da governadora! A governadora teve o ato falho de ir à televisão dizer que “a causa de tanta violência em seu estado é porque o Maranhão está mais rico.” Claro, como ela confunde o Maranhão com sua família, está certa. A causa é essa mesma. A concentração da riqueza e a desigualdade social decorrente.
Não por acaso, é também no Maranhão que se manifestam outras barbáries sociais. Os índices de analfabetismo são os piores do Brasil e um dos piores do mundo. Pode haver barbárie e irresponsabilidade maior de um governo do que negar o direito de um trabalhador, que produz riquezas, de conhecer as letras? Em pleno século 21!
É o estado do Maranhão que tem o maior índice de concentração da propriedade da terra nas mãos de meia dúzia de fazendeiros, em contraposição a mais de 300 mil famílias de sem-terras! No entanto, o Incra não conseguiu desapropriar nenhuma fazenda nos últimos cinco anos!
É pelo estado do Maranhão que são exportados por ano 100 milhões de toneladas de minério de ferro brasileiro, pela empresa Vale, privatizada, e hoje sob controle de grandes fundos de investimentos estrangeiros.
E essa riqueza toda não paga um centavo sequer de imposto de exportação, ou ICMS, ao povo do Maranhão, depois que o governo FHC isentou de impostos, pela lei Kandir, todas as exportações de matérias-primas. E o governo atual não teve coragem de revogá-la! Não é por nada que o ministro de Minas e Energia é do Maranhão e imposto pela oligarquia nas alianças com o governo Dilma.
É lá onde há um verdadeiro monopólio de comunicação, em que todas as grandes redes de comunicação são propriedade privada, das duas famílias da oligarquia local, e não passa nada que seja informativo ao povo.
Foi lá no Maranhão que o poder judiciário, a mando da oligarquia, destituiu o ex-governador Jackson Lago, eleito legitimamente pelo povo, com alegação de que tinha participação de um comício, ainda no mês de março do ano eleitoral. Já o processo de destituição da atual governadora dorme nas gavetas dos tribunais, empoeirados por essa burguesia que trata o Estado como escritório de interesses particulares.
Essas mazelas vergonhosas, essas cenas de barbárie social provocadas por um Estado controlado pelo poder econômico e por uma classe dominante estúpida, somente poderão ser combatidas se tivermos uma reforma política que altere a forma de eleger nossos representantes. Uma reforma política que inclua a democratização do poder judiciário e a democratização dos meios de comunicação social.

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