quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Sete pessoas ameaçadas foram mortas

diário de cuiabá
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=441897


VIOLÊNCIA NO CAMPOAnterior | Índice | Próxima

Sete pessoas ameaçadas foram mortas

Relatório mostra os casos de violação dos direitos humanos em Mato Grosso nos últimos anos; mandantes de crimes continuam soltos


Um dos casos de maior repercussão envolvido conflito de terras aconteceu na reserva Maraiwatsedé, no nordeste de Mato Grosso
JOANICE DE DEUS
Da Reportagem

Desde 2000, cerca de 150 pessoas sofreram ameaçadas de morte em Mato Grosso, que ocupa o primeiro lugar na categoria violência no campo. Em determinados casos, os conflitos não ficam apenas no amedrontamento e terminam em mortes. No Estado, sete pessoas ameaçadas foram mortas nos últimos 10 anos. Em todos os casos, os mandantes continuam soltos.

Os ameaçados são, em sua maioria, aqueles que denunciam práticas de trabalho escravo e desmatamento, e muitos são motivados pela defesa de povos indígenas, além de quilombolas. As intimidações, em sua maioria, objetivam garantir a expropriação da terra, afastar as famílias e servir de exemplo para aqueles que continuam lutando pelos seus direitos.

Um dos fatos considerados como uma dos mais graves violações de direitos humanos envolve os povos xavante de Marãiwatsédé, munduruku e pareci. Neste último caso, uma das principais lideranças parecis na luta pela recuperação da terra Estação Pareci, demarcada por Marechal Rondon, Valmireide Zomorá, foi assassinada três meses após sofrer ameaça. Seu marido Valdenir Xavier de Amorim foi internado em estado grave e conseguiu sobreviver.

Dados e relatos como estes fazem parte do "Relatório de Direitos Humanos e da Terra 2013", divulgado ontem pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso (FDHT/MT), que agrega 30 entidades e organizações sociais ligadas às causas socioambientais e de direitos humanos. Dividido em 10 capítulos, o relatório busca revelar algumas violações de direitos humanos, sociais e ambientais.

Em relação aos mundurukus, por exemplo, a pesquisa aponta uma série de episódios, desde agressões a indígenas baleados em operações por policiais com o objetivo de realizar estudo sobre impactos ambientais para a construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós.

Contendo 132 páginas, o relatório aponta ainda as formas de infração aos direitos universais praticamente esquecidos no Estado, apesar do Brasil ser signatário ao documento de Paris (1948). "O relatório revela o descumprimento contumaz de Mato Grosso à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Quando você prioriza a questão agrícola em detrimento desses pequenos grupos, o Estado deixa de cumprir a sua missão”, afirmou o coordenador do relatório, Inácio Werner.

Werner lembra que enquanto em nível nacional há três programas de proteção como o Provita (Programa de Proteção a Vítimas e Ameaçados de Morte), Mato Grosso ainda não fez a implantação de nenhum deles. Portanto, um dos grandes desafios é o que fazer quando surgem as denúncias se não há como dar resposta ou encontrar solução para os casos de violência.

No Estado, entre 16 e 17 pessoas estariam sob a proteção do Governo Federal. "É uma emergência a implantação desses programas, mas a União quer que o Estado faça a sua parte", destacou Werner.

TRABALHO ESCRAVO - As condições dos trabalhadores do campo é destaque no relatório, que revela que no ano passado 2.077 trabalhadores foram libertados. Destes 75, em Mato Grosso, sendo que 50% das liberações ocorreram nas atividades agropecuárias e o restante em monocultivos como soja, cana-de-açúcar e reflorestamento.

Associado ao trabalho escravo persiste a violência no campo. Informações da Comissão Pastoral da Terra atestam que, em 2012, ocorreram 41 registros de violência contra a pessoa com 20.317 envolvidos.

Segundo o relatório, em termos proporcionais ou comparando à quantidade da população rural de outros estados do País, Mato Grosso se posiciona em primeiro lugar no quesito violência no campo. Os dados também apontam 21 pessoas ameaçadas de morte e 11 agredidas. "O que revela a estratégia de utilização do 'medo' sobre as famílias camponesas, tão comum na história do Estado", traz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário