Autor/Fonte/Link: CBFJ
Por Gilberto Vieira
Há alguns dias recebemos um breve comunicado de que havia um conflito iminente na Terra Indígena Urubu Branco, do povo Tapirapé, em virtude da permanência dos invasores na área norte do território, que continuam a depredar impunemente a área, embora haja a presença de um posto da Funai e tenha havido algumas operações da Polícia Federal pela região.
Depois de uma consulta à pessoas do local, soubemos que os Tapirapé, cansados de verem os invasores desmatando para a retirada de palanques para seus currais e venda de madeira, apreenderam algumas cabeças de gado, arma, moto-serra e um trator dos invasores. A arma foi entregue, posteriormente, à Polícia Federal que esteve na área. O gado e o trator permanecem sob a guarda da comunidade, à espera da solução para as repetidas invasões.
A reação dos Tapirapé ao processo de esbulho de seu território resultou em ameaças às lideranças do povo. Até o momento três lideranças Tapirapé receberam ameaças de morte via telefone. Infelizmente, estas ameaças não são novidade, já que o cacique da aldeia Tapi'itãwa, a aldeia central, já havia sofrido um atentado em que, propositadamente, chocaram uma outra motocicleta contra a dele. O cacique, por sorte, sofreu "apenas" deslocamento no ombro, mas foi extremamente ferido pela desatenção da polícia que não quis lavrar o Boletim de Ocorrência, para o qual exigiam o nome de quem o derrubou (sic).
Também houve outros atentados, em que queimaram partes da mata, o que impossibilitou a reforma da casa cerimonial por falta de materiais; e, segundo informações, um carro da equipe da Funai também foi queimado e invasores efetuaram disparos de arma de fogo contra o posto de vigilância, onde estavam os Tapirapé e funcionários da Funai. Ou seja, a situação é conflituosa e não é de hoje.
Ainda em 2004, em pleno período de festas do povo, a Polícia Militar cercou a casa tradicional, tendo inclusive ingressado com uma policial dentro da Takãra, espaço proibido para mulheres neste período. Ela foi retirada pelos Tapirapé que se sentiram invadidos (como de fato foram).
Nesta ocasião a PM acompanhava o fazendeiro de apelido "Ruela", que ainda hoje é invasor do território e, como outros, se mantém no território indígena através de seguidas liminares. A Terra Indígena Urubu Branco, que está localizada nos municípios de Confresa, Porto Alegre do Norte e Santa Terezinha, foi homologada em 1998 e os invasores já receberam indenizações por parte da Funai. Entretanto, um grupo deles continua na área, desmatando e retirando madeira ilegalmente.
Mais uma vez, os Tapirapé dão sinais claros de que querem uma solução e a Paz, mesmo que isso signifique muita luta de resistência à invasão de seu território.
Espera-se que, concretamente, ações sejam efetivadas no sentido não só de garantir a segurança do povo e de suas lideranças, mas que o motivo principal do conflito - a invasão da terra indígena - seja sanado e os Tapirapé possam isufruir integralmente de seu território.
* Gilberto Vieira é Coordenador Regional do Cimi MT
Nenhum comentário:
Postar um comentário