PELA VIDA DA TERRA
E NA TERRA
Os
movimentos e pastorais sociais, as entidades da sociedade civil e a CNBB, que
constituem o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS), reunidos em
plenária nacional em Brasília nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, vêm a
público reafirmar sua preocupação com os efeitos sociais e ecológicos das
mudanças climáticas e com a baixa sensibilidade do poder público em relação a
elas.
É
estranho como os governantes reagem diante do aprofundamento da crise
financeira que assola a Europa e os Estados Unidos, dispondo-se até a reforçar
o socorro a eles, mas mostram-se absolutamente surdos em relação aos gritos que
vêm dos povos amazônidas, por exemplo, atingidos pela hidrelétrica Belo Monte.
Esse grito é reforçado por estudiosos e apoiadores brasileiros e de outros
países, pela ação atenta e insistente do Ministério Público e da OEA, mas nada
demove os governantes da decisão de construí-la, mesmo diante das evidências de
que são falsos os argumentos técnicos, de que os prejuízos sociais, ecológicos,
culturais e estéticos são irreparáveis e de que há alternativas mais ecológicas
para produzir a energia eventualmente necessária.
Na
contramão do exemplo do Presidente da Bolívia Evo Morales, que, como fruto de
um tenso processo de enfrentamento e diálogo com o povo indígena da reserva
Tipnis, mudou sua decisão e suspendeu a construção da rodovia que atravessaria
o território indígena, o Brasil se nega a enfrentar a convocação da OEA, dando
entender que seguir os argumentos das empresas ligadas à hidroeletricidade e à
mineração seria a única maneira de “afirmar a soberania nacional”.
Da
mesma forma, a prática do Congresso Nacional, agora representado pelo Senado,
em relação ao Código Florestal continua demonstrando que os interesses de
minorias poderosas ligadas ao agronegócio são considerados superiores ao
direito de todas as pessoas a um ambiente vital saudável. De fato, os
legisladores não dão ouvido aos argumentos das organizações da sociedade civil
e insistem em aprovar, entre outras medidas, a diminuição das Áreas de Proteção
Permanente e das Reservas Legais e a anistia dos crimes ambientais dos grandes
proprietários do agronegócio. Seguem, por isso, por um caminho que desrespeita
o que a Terra construiu em bilhões de anos para oferecer como ambiente
favorável à vida.
Estamos
iniciando os preparativos para a Rio+20, que acontecerá no início de junho de
2012. Uma vez mais, em vez de avaliar com seriedade o que se fez e o que se
deixou de fazer desde a Conferência Rio 92 na relação entre desenvolvimento e
meio ambiente, acolhe-se a proposta dos grupos econômicos responsáveis pela
emissão crescente de gases de efeito estufa e propõe-se que a temática da
Rio+20 seja o Capitalismo Verde. Isto é, tenta-se transformar a crise ecológica
em chance de reestruturação do capitalismo.
Diante
de tudo isso, o Fórum associa-se a todas as forças sociopolíticas que desejam e
estão implementando mudanças profundas no modo de vida dominante em nossa
sociedade.
Reafirma sua posição em favor da defesa da
vida das pessoas, dos demais seres vivos e da Terra como valor primordial,
denunciando todas as medidas legislativas e executivas que a sacrificam em
favor unicamente dos lucros concentrados.
Mais
concretamente, o Fórum declara sua veemente oposição à proposta de Código
Florestal em processo de aprovação no Senado Federal, só aceitando mudanças em
favor de uma maior defesa de tudo que constitui o ambiente da vida e das formas
de cultivo do solo agrícola e de usos do solo urbano que cooperem com sua vitalidade
natural.
Nesse
sentido, apóia as práticas e propostas da agroecologia familiar e da economia
solidária e assume o exemplo dos povos e comunidades tradicionais, que mantêm a
terra preservada e cuidada, respeitando-a; na realidade, eles se assumem como
parte dela e, por isso, vivem em sintonia e dependem dela para viver.
O
Fórum defende e apóia as ações dos povos e comunidades atingidos pela
hidrelétrica de Belo Monte contra a sua construção.
E
assume, por fim, o compromisso de reforçar a Cúpula dos Povos na Rio+20 como
força sociopolítica em favor de acordos internacionais que diminuam a emissão
de gases de efeito estufa e reforcem as atividades que ajudam a Terra a
recuperar-se do desequilíbrio provocado pelo produtivismo e consumismo
capitalista.
Brasília, 01 de
novembro de 2011.
Representantes das
Entidades que compõem o FMCJS.
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