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Mosquitos transgênicos de Juazeiro
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Mosquitos transgênicos de Juazeiro
ESCRITO POR ROBERTO MALVEZZI (GOGÓ) |
SEXTA, 09 DE MAIO DE 2014 |
Está sendo divulgado, em nível nacional, como absoluto sucesso, a soltura de mosquitos transgênicos do Aedes Aegypti, como forma de combate à dengue, aqui na cidade de Juazeiro da Bahia. Os números dizem que no, “bairro de Mandacaru, a incidência da dengue caiu 90%”. No bairro do Itaberaba também.
Em primeiro lugar, Mandacaru é um distrito de irrigação, está afastado do centro urbano de Juazeiro. Itaberaba é dos muitos bairros pobres e insalubres da cidade, para onde vieram milhares de trabalhadores da cana e da fruticultura irrigada.
O caso tem sido comentado em nível mundial porque a soltura dos mosquitos – aqui trabalho feito pela Moscamed, mas que traz a larva da empresa britânica Oxitec - foi feita sem os cuidados da precaução. O macho é geneticamente modificado em laboratório, copula com a fêmea e as larvas dessa fêmea morrem. É bom lembrar que as primeiras experiências foram feitas em regiões do Caribe e, aqui, nas periferias de Juazeiro. Portanto, lugares pobres e de terceiro mundo. Enfim, somos cobaias dessa experiência.
O caso já foi dado como sucesso e a CTNBio já liberou a experiência para todo território nacional.
Eu que sou morador da cidade – imagino que também muitos outros cidadãos juazeirenses - estou me perguntando se essa experiência pode mesmo ser considerada o sucesso propalado.
Nunca tivemos tantos mosquitos na cidade – e olha que sempre os tivemos em nuvens – como estamos tendo agora. Nas manifestações de julho do ano passado, a massa que subiu a ponte que une Juazeiro a Petrolina carregava mosquiteiros na cabeça para protestar contra a praga que devora a cidade. Alguns bares abertos colocaram mosquiteiros nas mesas para que as pessoas pudessem sentar-se ali e beber sua cerveja. Uma pizzaria da cidade, também com um espaço aberto, oferece repelentes para os fregueses passarem no corpo e, assim, poderem comer suas pizzas em paz.
Será que a solução está mesmo na transgenia? E o saneamento? Como não ter mosquito numa cidade que não tem saneamento básico, cujos bairros com até 30 mil pessoas têm o esgoto correndo a céu aberto? Claro que precisamos nos livrar da dengue, mas ela não é o único problema da cidade, já que existe uma quantidade enorme de outros mosquitos – muriçoca, muruin etc. – que fazem um inferno em nossas casas e nos espaço públicos.
Nem vamos falar do impacto da transgenia na natureza. Será mesmo que a proliferação dos outros mosquitos na cidade nada tem a ver com a soltura do Aedes transgênico? E os demais possíveis desequilíbrios ambientais foram efetivamente avaliados?
Enfim, seria preciso muito mais cuidado e ampliação do leque de informações, da situação como um todo, para que a CNTBIO decidisse o que já decidiu. Isso é muito bom para empresas, para o poder público que pode lavar as mãos diante do inferno que é viver numa nuvem de mosquitos numa cidade sem saneamento. Para o povo, a solução ainda está por vir.
Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
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A publicação deste texto é livre, desde que citada a fonte e o endereço eletrônico da página do Correio da Cidadania
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