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http://www.oeco.org.br/convidados-lista/27135-amazonia-peruana-tecnologia-promete-reduzir-impacto-dos-pocos-de-petroleo?utm_source=newsletter_699&utm_medium=email&utm_campaign=as-novidades-de-hoje-em-oeco
Lima - Ao sobrevoar a floresta Amazônica ao norte do Peru, o engenheiro Bill Powers ficou chocado com a visão que se descortinava logo abaixo, à medida que o aparentemente interminável tapete de copas de árvores em vários matizes de verde, repentinamente deu lugar a clareiras e estradas revelando as instalações da mais antiga concessão de exploração de petróleo em atividade no país.
“Havia enormes lagoas de petróleo a céu aberto próximo às baterias de produção," lembrou Powers. “Foi bem lúgubre avistar essas imensas lagoas de petróleo bem no meio da floresta.”
Essa concessão que está prevista para expirar em 2015 e que será novamente leiloada é uma de mais de uma dúzia de blocos de petróleo e gás natural que provavelmente estarão disponíveis para quem quiser em breve na região Amazônica de Loreto, localizada no nordeste do Peru.
Membros do governo dizem que a receita do petróleo e do gás natural é vital para expandir os serviços públicos para a população mais carente do Peru. Organizações indígenas e ambientalistas receiam que as perfurações em Loreto conduzam a desmatamentos e poluição, além de ameaçar diversos grupos indígenas nômades que não desejam contato com o mundo exterior.
Um estudo publicado em 1º de maio no periódico de acesso aberto PLOS ONE, argumenta que um caminho do meio seria exigir das empresas que evitem as áreas ambientalmente mais sensíveis e empreguem métodos de desenvolvimento que deixem a menor pegada possível.
Métodos menos agressivas
Essas melhores práticas (best practices) alinhadas no estudo estão situadas em um espectro entre “negócios como de costume” – o tipo de perfuração que poluiu a Amazônia no Equador e no Peru – e a proposta para o petróleo que está no subsolo do Parque Nacional de Yasuní, no Equador, onde o governo concordou em adiar as perfurações em troca de compensações de doadores internacionais.
“Dada a realidade de que os projetos (de petróleo e gás) estão seguindo em frente em Loreto, esta é uma estrutura operacional que deve ser considerada,” disse Matt Finer do programa de biodiversidade doCentro para Legislação Ambiental Internacional, sediada em Washington, D.C. e principal autor do estudo.
A Amazônia do norte do Peru está localizada sobre a ponta sul de uma formação geológica que contém petróleo e que se estende ao longo da borda ocidental da bacia Amazônica da Venezuela até a Colômbia passando pelo Equador e pelo Peru. O governo Peruano já mapeou 48 blocos de petróleo e gás, cobrindo mais de 215 mil quilômetros quadrados em Loreto, ou seja, mais da metade do território da região.
Quatro blocos estão ativos no bombeamento de petróleo, 25 receberam concessão de exploração e 19 estão marcados para leilão, embora o processo tenha desacelerado devido à nova regulamentação que exige que as comunidades indígenas sejam consultadas sempre que qualquer projeto de desenvolvimento possuir o potencial de afetar seu território.
Biodiversidade de Loreto
A região de Loreto é a maior, mais remota e mais densamente coberta por florestas do Peru. Viajantes podem chegar até a capital Iquitos somente de avião ou por barcos motorizados. Há uma estrada asfaltada que vai de Iquitos até a cidade portuária de Nauta, reduzindo o tempo de percurso, pois permite que viajantes possam cortar caminho evitando algumas das muitas curvas do sinuoso rio Marañón.
A falta de estradas ligando Iquitos às terras altas dos Andes e à costa dificulta o escoamento da produção e a chegada de produtos, mas igualmente coíbe o desmatamento. Loreto contrasta fortemente com as regiões vizinhas de Ucayali e San Martín, onde a expansão das fazendas e da pecuária ao longo das estradas vêm acelerando o desmatamento.
Loreto se orgulha de possuir cerca de 8 mil espécies de plantas e mais de 900 de pássaros. A região é o lar de entre 40 e 60% das espécies de pássaros, anfíbios e répteis encontrados em toda a bacia Amazônica, segundo um estudo recente.
Powers, da empresa de engenharia E-Tech International, sediada nos EUA e que também é coautor do estudo de melhores práticas para empresas de petróleo e gás, não deseja que as novas concessões se pareçam com o que viu em sua primeira visita aos campos petrolíferos do norte do Peru, em 2005.
O petróleo que ele viu nas lagoas da concessão conhecida como Bloco 1AB, perto da fronteira com o Equador era de resíduos flutuando em “águas de produção”, o líquido salino saturado de metais, bombeado de poços de petróleo operadas por uma subsidiária da Pluspetrol, sediada na Argentina. A água era então despejada nos riachos que fluem para o rio Corrientes, desencadeando um longo protesto das comunidades Achuar rio abaixo.
Depois que os testes revelaram um alto teor de chumbo e cádmio na corrente sanguínea das pessoas que moram ao longo do rio, na parte mais ao norte da região de Loreto no Peru, os manifestantes tomaram conta das instalações da Pluspetrol em 2006 até que um acordo fosse firmado com os executivos da empresa e com representantes do governo.
Como parte do acordo, a Pluspetrol concordou em reinjetar a água de produção nos poços ao invés de despejá-la nos rios. Uma mudança nas leis do Peru havia tornado a reinjeção obrigatória para poços novos, mas não para os já existentes. Powers, que havia visitado as instalações da Pluspetrol em 2005, forneceu conselhos técnicos aos negociadores de Achuar durante as negociações.
O resultado foi que as águas de produção não são mais despejadas nos rios, embora isso tenha resolvido somente parte do problema. Em janeiro, o governo peruano multou a Pluspetrol em $11 milhões por poluir a área da Reserva Natural de Pacaya-Samiria. O Bloco 1AB foi renomeado para Bloco 192 e está agendado para ir novamente a leilão em 2015, após o término da concessão da Pluspetrol.
Estradas do Petróleo
Porém, a poluição é somente um dos impactos que Powers testemunhou na bacia de Corrientes, onde uma rede de estradas conecta os campos e plataformas de perfuração. O estudo calculou mais de 800 quilômetros de estradas de acesso nos blocos atualmente produtivos em Loreto, incluindo mais de 500 quilômetros só no Bloco 1AB. As estradas de acesso também estão incluídas nos planos de dois outros blocos.
Estradas e o direito-de-passagem para os dutos proporcionam uma abertura para que migrantes e madeireiros ilegais se instalem e comecem a derrubada da floresta. Caso estas estradas se conectem às estradas principais existentes, aumenta a probabilidade de desmatamento em grande escala.
A alternativa, diz Powers, é abordar a floresta Amazônica como se fosse um oceano, um método conhecido como “offshore-inland,” que envolve transportar trabalhadores e equipamentos em helicópteros ou mesmo pelo rio ao invés de abrir estradas. Construir de forma permanente, somente nas margens de rios navegáveis.
Perfurações de Alcance Estendido
Deixar uma pegada pequena também significa perfurar a menor quantidade possível de poços, empregando perfurações de “Alcance Estendido” (extended-reach drilling), que permite que uma empresa acesse múltiplos locais a partir de uma única plataforma.
Embora perfurações de Alcance Estendido tenham sido pouco empregadas na Amazônia, distâncias horizontais de 8 quilômetros são rotineiras em outras partes do mundo e distâncias de 12 quilômetros são possíveis, diz Powers.
As empresas exploram petróleo e gás natural empregando testes sísmicos onde cargas explosivas são colocadas ao longo de uma rede de trilhas pela mata. Engenheiros mapeiam o depósito medindo como as ondas sonoras atravessam o subsolo.
Os críticos dizem que essas trilhas também abrem caminhos para posseiros e há os que questionam o efeito dessas cargas explosivas sobre os animais. Estudos no Peru demonstram que o impacto na fauna silvestre é mínimo, segundo Alfonso Alonso, gerente-diretor de programas de sustentabilidade e conservação para o Smithsonian Conservation Biology Institute de Washington, D.C., que falou numa conferência no fim de 2012 em Lima, sobre as melhores práticas nas operações de petróleo e gás.
Powers, que também foi palestrante naquela conferência, disse que as explorações feitas no passado na Amazônia forneceram dados que poderiam ser complementados com os dados geomagnéticos colhidos pelas aeronaves. A informação combinada poderia permitir que as empresas decidissem se a perfuração seria ou não lucrativa sem a colocação de novas linhas sísmicas para isso.
Dutos em passagens estreitas
O direito de passagem dos dutos pode também ser redesenhado para reduzir o impacto da produção de petróleo e gás, disse Powers. Ele sugeriu a redução do direito de passagem padrão de 25 metros de largura para 13 metros, seguindo os contornos naturais do terreno e abrir clareiras manualmente para a rota ao invés de empregar equipamento pesado, especialmente em declives íngremes.
Árvores ao longo de um trajeto de oleoduto mais estreito podem formar uma abóbada de folhagem que sirva de ponte para que espécies arborícolas possam cruzar o duto. Alonso disse que o monitoramento de 13 “pontes” como esta ao longo das rotas dos dutos próximo do campo de extração de gás de Camisea no sul do Peru durante seis meses em 2012, mostrou que pelo menos 11 espécies de animais, de porcos-espinho a micos, utilizaram essa forma de passagem.
Embora o estudo tenha sido publicado tarde demais para influenciar as operações do Bloco 67 (uma concessão operada conjuntamente pela Perenco e pela Petro Vietnam), os autores a usam como exemplo, argumentando que a perfuração de alcance estendido poderia ter reduzido a quantidade de plataformas de 21 para três. Eles também sugerem uma mudança no desenho do projeto que poderia eliminar uma instalação de processamento, reduzindo ainda mais sua pegada.
Embora as empresas aleguem que adotar tais medidas recomendadas no estudo encareceria suas operações de forma inviável, Powers calculou que o custo mais alto por metro para a perfuração de Alcance Estendido no Bloco 67 seria compensado pela redução de custo nas plataformas e usinas de processamento. Enquanto a estimativa contida nos planos aponta para um custo de perto de 1,34 bilhões de dólares para o projeto, ele disse que o custo utilizando as tecnologias de baixo impacto chegaria a um pouco menos: 1,32 bilhões de dólares.
Índios isolados e áreas protegidas
O Bloco 67 têm sido controverso porque fica em uma área usada pelos povos nômades que se esquivam de contato com o mundo exterior. O estudo revelou que uma dúzia de blocos em Loreto se sobrepõe a reservas que foram propostas para povos indígenas, enquanto que quase a totalidade dos blocos inclui territórios indígenas cujos habitantes já obtiveram ou pleiteiam a titularidade.
Além disso, 19 blocos se sobrepõem a 10 áreas naturais protegidas na região, disse Finer, enquanto outras incluem partes de parques e zonas de separação de reservas. Partes de quatro blocos também estão na vertente do rio Nanay, que fornece a água potável de Iquitos, a capital de Loreto. A ConocoPhillips se retirou dos Blocos 123 e 129 ano passado, depois dos protestos sobre seus planos de exploração da bacia, mas os blocos permanecem ativos.
Em abril, o governo regional de Loreto passou uma lei protegendo a cabeceira dos rios por causa dos serviços ambientais que elas fornecem, mas é pouco provável que isso mude os planos para exploração de petróleo e gás que já foram aprovados.
Experiência em Camisea
Algumas das técnicas recomendadas no estudo já foram empregadas no desenvolvimento do campo de extração de gás de Camisea na região sudeste do departamento de Cusco. O consórcio liderado pela Pluspetrol construiu suas instalações principais nas margens do rio Urubamba e transportou seus equipamentos e maquinário para os locais das obras de helicóptero.
Mas enquanto não foram construídas estradas de serviço de, ou para, os campos de extração de gás, os governos locais têm investido parte de sua receita do projeto na construção de estradas fora do bloco. Comunidades Machiguenga locais também têm reclamado do aumento no tráfego fluvial relacionado às operações com extração de gás.
A parte mais controversa agora é a expansão do consórcio para dentro da reserva de povos indígenas isolados, que está situada em parte dentro dos limites do bloco de exploração de gás natural.
Pensar antes
Finer e Powers dizem que, para haver um menor impacto nas operações de petróleo e gás, tudo começa com o desenho do projeto, porque uma empresa que já tenha instalado muitas plataformas de perfuração dificilmente reduzirá seus números e trocar pela perfuração de Alcance Estendido para sua produção.
“Caso não iniciem com as melhores práticas na fase de exploração, as chances de utilizá-las na fase de produção serão muito menores,” disse Powers.
Finer disse que os autores têm esperança que seu estudo promova o debate sobre os critérios para se estabelecer zonas proibidas – locais onde a exploração de petróleo e gás não serão permitidas por serem áreas muito sensíveis, enquanto capacita empresas a operarem com uma pegada menor em outras áreas.
“Mesmo empregando as melhores práticas, não se pode evitar a contaminação em 100%,” disse Finer. “Então como equilibrar critérios sociais e ambientais de forma a permitir o desenvolvimento em algumas áreas? Esta é uma das perguntas mais complexas que ainda resta ser respondida.”
http://www.oeco.org.br/convidados-lista/27135-amazonia-peruana-tecnologia-promete-reduzir-impacto-dos-pocos-de-petroleo?utm_source=newsletter_699&utm_medium=email&utm_campaign=as-novidades-de-hoje-em-oeco
02 de Maio de 2013
“Havia enormes lagoas de petróleo a céu aberto próximo às baterias de produção," lembrou Powers. “Foi bem lúgubre avistar essas imensas lagoas de petróleo bem no meio da floresta.”
Essa concessão que está prevista para expirar em 2015 e que será novamente leiloada é uma de mais de uma dúzia de blocos de petróleo e gás natural que provavelmente estarão disponíveis para quem quiser em breve na região Amazônica de Loreto, localizada no nordeste do Peru.
Membros do governo dizem que a receita do petróleo e do gás natural é vital para expandir os serviços públicos para a população mais carente do Peru. Organizações indígenas e ambientalistas receiam que as perfurações em Loreto conduzam a desmatamentos e poluição, além de ameaçar diversos grupos indígenas nômades que não desejam contato com o mundo exterior.
Um estudo publicado em 1º de maio no periódico de acesso aberto PLOS ONE, argumenta que um caminho do meio seria exigir das empresas que evitem as áreas ambientalmente mais sensíveis e empreguem métodos de desenvolvimento que deixem a menor pegada possível.
Métodos menos agressivas
Essas melhores práticas (best practices) alinhadas no estudo estão situadas em um espectro entre “negócios como de costume” – o tipo de perfuração que poluiu a Amazônia no Equador e no Peru – e a proposta para o petróleo que está no subsolo do Parque Nacional de Yasuní, no Equador, onde o governo concordou em adiar as perfurações em troca de compensações de doadores internacionais.
“Dada a realidade de que os projetos (de petróleo e gás) estão seguindo em frente em Loreto, esta é uma estrutura operacional que deve ser considerada,” disse Matt Finer do programa de biodiversidade doCentro para Legislação Ambiental Internacional, sediada em Washington, D.C. e principal autor do estudo.
A Amazônia do norte do Peru está localizada sobre a ponta sul de uma formação geológica que contém petróleo e que se estende ao longo da borda ocidental da bacia Amazônica da Venezuela até a Colômbia passando pelo Equador e pelo Peru. O governo Peruano já mapeou 48 blocos de petróleo e gás, cobrindo mais de 215 mil quilômetros quadrados em Loreto, ou seja, mais da metade do território da região.
Quatro blocos estão ativos no bombeamento de petróleo, 25 receberam concessão de exploração e 19 estão marcados para leilão, embora o processo tenha desacelerado devido à nova regulamentação que exige que as comunidades indígenas sejam consultadas sempre que qualquer projeto de desenvolvimento possuir o potencial de afetar seu território.
Biodiversidade de Loreto
"Loreto se orgulha de possuir cerca de 8 mil espécies de plantas e mais de 900 de pássaros. A região é o lar de entre 40 e 60% das espécies de pássaros, anfíbios e répteis encontrados em toda a bacia Amazônica"
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A falta de estradas ligando Iquitos às terras altas dos Andes e à costa dificulta o escoamento da produção e a chegada de produtos, mas igualmente coíbe o desmatamento. Loreto contrasta fortemente com as regiões vizinhas de Ucayali e San Martín, onde a expansão das fazendas e da pecuária ao longo das estradas vêm acelerando o desmatamento.
Loreto se orgulha de possuir cerca de 8 mil espécies de plantas e mais de 900 de pássaros. A região é o lar de entre 40 e 60% das espécies de pássaros, anfíbios e répteis encontrados em toda a bacia Amazônica, segundo um estudo recente.
Powers, da empresa de engenharia E-Tech International, sediada nos EUA e que também é coautor do estudo de melhores práticas para empresas de petróleo e gás, não deseja que as novas concessões se pareçam com o que viu em sua primeira visita aos campos petrolíferos do norte do Peru, em 2005.
O petróleo que ele viu nas lagoas da concessão conhecida como Bloco 1AB, perto da fronteira com o Equador era de resíduos flutuando em “águas de produção”, o líquido salino saturado de metais, bombeado de poços de petróleo operadas por uma subsidiária da Pluspetrol, sediada na Argentina. A água era então despejada nos riachos que fluem para o rio Corrientes, desencadeando um longo protesto das comunidades Achuar rio abaixo.
Depois que os testes revelaram um alto teor de chumbo e cádmio na corrente sanguínea das pessoas que moram ao longo do rio, na parte mais ao norte da região de Loreto no Peru, os manifestantes tomaram conta das instalações da Pluspetrol em 2006 até que um acordo fosse firmado com os executivos da empresa e com representantes do governo.
Como parte do acordo, a Pluspetrol concordou em reinjetar a água de produção nos poços ao invés de despejá-la nos rios. Uma mudança nas leis do Peru havia tornado a reinjeção obrigatória para poços novos, mas não para os já existentes. Powers, que havia visitado as instalações da Pluspetrol em 2005, forneceu conselhos técnicos aos negociadores de Achuar durante as negociações.
O resultado foi que as águas de produção não são mais despejadas nos rios, embora isso tenha resolvido somente parte do problema. Em janeiro, o governo peruano multou a Pluspetrol em $11 milhões por poluir a área da Reserva Natural de Pacaya-Samiria. O Bloco 1AB foi renomeado para Bloco 192 e está agendado para ir novamente a leilão em 2015, após o término da concessão da Pluspetrol.
Estradas do Petróleo
Porém, a poluição é somente um dos impactos que Powers testemunhou na bacia de Corrientes, onde uma rede de estradas conecta os campos e plataformas de perfuração. O estudo calculou mais de 800 quilômetros de estradas de acesso nos blocos atualmente produtivos em Loreto, incluindo mais de 500 quilômetros só no Bloco 1AB. As estradas de acesso também estão incluídas nos planos de dois outros blocos.
Estradas e o direito-de-passagem para os dutos proporcionam uma abertura para que migrantes e madeireiros ilegais se instalem e comecem a derrubada da floresta. Caso estas estradas se conectem às estradas principais existentes, aumenta a probabilidade de desmatamento em grande escala.
A alternativa, diz Powers, é abordar a floresta Amazônica como se fosse um oceano, um método conhecido como “offshore-inland,” que envolve transportar trabalhadores e equipamentos em helicópteros ou mesmo pelo rio ao invés de abrir estradas. Construir de forma permanente, somente nas margens de rios navegáveis.
Perfurações de Alcance Estendido
“Hoje, as empresas exploram petróleo e gás natural empregando testes sísmicos onde cargas explosivas são colocadas ao longo de uma rede de trilhas pela mata”
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Embora perfurações de Alcance Estendido tenham sido pouco empregadas na Amazônia, distâncias horizontais de 8 quilômetros são rotineiras em outras partes do mundo e distâncias de 12 quilômetros são possíveis, diz Powers.
As empresas exploram petróleo e gás natural empregando testes sísmicos onde cargas explosivas são colocadas ao longo de uma rede de trilhas pela mata. Engenheiros mapeiam o depósito medindo como as ondas sonoras atravessam o subsolo.
Os críticos dizem que essas trilhas também abrem caminhos para posseiros e há os que questionam o efeito dessas cargas explosivas sobre os animais. Estudos no Peru demonstram que o impacto na fauna silvestre é mínimo, segundo Alfonso Alonso, gerente-diretor de programas de sustentabilidade e conservação para o Smithsonian Conservation Biology Institute de Washington, D.C., que falou numa conferência no fim de 2012 em Lima, sobre as melhores práticas nas operações de petróleo e gás.
Powers, que também foi palestrante naquela conferência, disse que as explorações feitas no passado na Amazônia forneceram dados que poderiam ser complementados com os dados geomagnéticos colhidos pelas aeronaves. A informação combinada poderia permitir que as empresas decidissem se a perfuração seria ou não lucrativa sem a colocação de novas linhas sísmicas para isso.
Dutos em passagens estreitas
O direito de passagem dos dutos pode também ser redesenhado para reduzir o impacto da produção de petróleo e gás, disse Powers. Ele sugeriu a redução do direito de passagem padrão de 25 metros de largura para 13 metros, seguindo os contornos naturais do terreno e abrir clareiras manualmente para a rota ao invés de empregar equipamento pesado, especialmente em declives íngremes.
Árvores ao longo de um trajeto de oleoduto mais estreito podem formar uma abóbada de folhagem que sirva de ponte para que espécies arborícolas possam cruzar o duto. Alonso disse que o monitoramento de 13 “pontes” como esta ao longo das rotas dos dutos próximo do campo de extração de gás de Camisea no sul do Peru durante seis meses em 2012, mostrou que pelo menos 11 espécies de animais, de porcos-espinho a micos, utilizaram essa forma de passagem.
Embora o estudo tenha sido publicado tarde demais para influenciar as operações do Bloco 67 (uma concessão operada conjuntamente pela Perenco e pela Petro Vietnam), os autores a usam como exemplo, argumentando que a perfuração de alcance estendido poderia ter reduzido a quantidade de plataformas de 21 para três. Eles também sugerem uma mudança no desenho do projeto que poderia eliminar uma instalação de processamento, reduzindo ainda mais sua pegada.
Embora as empresas aleguem que adotar tais medidas recomendadas no estudo encareceria suas operações de forma inviável, Powers calculou que o custo mais alto por metro para a perfuração de Alcance Estendido no Bloco 67 seria compensado pela redução de custo nas plataformas e usinas de processamento. Enquanto a estimativa contida nos planos aponta para um custo de perto de 1,34 bilhões de dólares para o projeto, ele disse que o custo utilizando as tecnologias de baixo impacto chegaria a um pouco menos: 1,32 bilhões de dólares.
Índios isolados e áreas protegidas
“19 blocos se sobrepõem a 10 áreas naturais protegidas na região, enquanto outras incluem partes de parques e zonas de separação de reservas”
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Além disso, 19 blocos se sobrepõem a 10 áreas naturais protegidas na região, disse Finer, enquanto outras incluem partes de parques e zonas de separação de reservas. Partes de quatro blocos também estão na vertente do rio Nanay, que fornece a água potável de Iquitos, a capital de Loreto. A ConocoPhillips se retirou dos Blocos 123 e 129 ano passado, depois dos protestos sobre seus planos de exploração da bacia, mas os blocos permanecem ativos.
Em abril, o governo regional de Loreto passou uma lei protegendo a cabeceira dos rios por causa dos serviços ambientais que elas fornecem, mas é pouco provável que isso mude os planos para exploração de petróleo e gás que já foram aprovados.
Experiência em Camisea
Algumas das técnicas recomendadas no estudo já foram empregadas no desenvolvimento do campo de extração de gás de Camisea na região sudeste do departamento de Cusco. O consórcio liderado pela Pluspetrol construiu suas instalações principais nas margens do rio Urubamba e transportou seus equipamentos e maquinário para os locais das obras de helicóptero.
Mas enquanto não foram construídas estradas de serviço de, ou para, os campos de extração de gás, os governos locais têm investido parte de sua receita do projeto na construção de estradas fora do bloco. Comunidades Machiguenga locais também têm reclamado do aumento no tráfego fluvial relacionado às operações com extração de gás.
A parte mais controversa agora é a expansão do consórcio para dentro da reserva de povos indígenas isolados, que está situada em parte dentro dos limites do bloco de exploração de gás natural.
Pensar antes
Finer e Powers dizem que, para haver um menor impacto nas operações de petróleo e gás, tudo começa com o desenho do projeto, porque uma empresa que já tenha instalado muitas plataformas de perfuração dificilmente reduzirá seus números e trocar pela perfuração de Alcance Estendido para sua produção.
“Caso não iniciem com as melhores práticas na fase de exploração, as chances de utilizá-las na fase de produção serão muito menores,” disse Powers.
Finer disse que os autores têm esperança que seu estudo promova o debate sobre os critérios para se estabelecer zonas proibidas – locais onde a exploração de petróleo e gás não serão permitidas por serem áreas muito sensíveis, enquanto capacita empresas a operarem com uma pegada menor em outras áreas.
“Mesmo empregando as melhores práticas, não se pode evitar a contaminação em 100%,” disse Finer. “Então como equilibrar critérios sociais e ambientais de forma a permitir o desenvolvimento em algumas áreas? Esta é uma das perguntas mais complexas que ainda resta ser respondida.”
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