Carta no. 7: governo federal, nós voltamos!
Nós somos indígenas
Munduruku, Xipaya, Kayapó, Arara e Tupinambá. Nós vivemos do rio e da floresta
e somos contra destruírem os dois. Vocês já nos conhecem,mas agora somos mais.
O seu governo disse
que se nós saíssemos do canteiro, nós seríamos ouvidos. Nós saímos
pacificamente – e evitamos que vocês passassem muita vergonha nos tirando à força daqui. Mesmo assim, nós não fomos atendidos. O
governo não nos recebeu. Nós chamamos pelo ministro Gilberto Carvalho e ele não
veio.
Esperar e chamar não servem para nada. Então nós
ocupamos mais uma vez o seu canteiro de obras. Não queríamos estar de volta no
seu deserto de buracos e concreto. Não temos nenhum prazer em sair das nossas
casas nas nossas terras e pendurar redes nos seus prédios. Mas, como não vir?
Se não viermos, nós vamos perder nossa terra.
Nós queremos a suspensão dos estudos e da
construção das barragens que inundam os nossos territórios, que cortam a
floresta no meio, que matam os peixes e espantam os animais, que abrem o rio e
a terra para a mineração devoradora. Que trazem mais empresas, mais
madeireiros, mais conflitos, mais prostituição, mais drogas, mais doenças, mais
violência.
Nós exigimos sermos consultados previamente sobre
essas construções, porque é um direito nosso garantido pela Constituição e por
tratados internacionais. Isso não foi feito aqui em Belo Monte, não foi feito
em Teles Pires e não está sendo feito no Tapajós. Não é possível que todos
vocês vão continuar repetindo que nós indígenas fomos consultados. Todo mundo
sabe que isso não é verdade.
A partir de agora o governo tem que parar de dizer
mentiras em notas e entrevistas. E de nos tratar como crianças, ingênuas,
tuteladas, irresponsáveis e manipuladas. Nós somos nós e o governo precisa
lidar com isso. E não minta para a imprensa que estamos brigando com os
trabalhadores: eles são solidários a nossa causa! Nós escrevemos uma carta para
eles ontem!.Aqui no canteiro nós jogamos bola juntos todos os dias. Quando
saímos da outra vez, uma trabalhadora a quem demos muitos colares e pulseiras
nos disse: “eu vou sentir saudades”.
Nós temos o apoio de muitos parentes nessa luta.
Temos o apoio dos indígenas de todo o Xingu. Temos o apoio dos Kayapó. Nós temos
o apoio dos Tupinambá. Dos Guajajara. Dos Apinajé, dos Xerente, dos Krahô,
Tapuia, Karajá-Xambioá, Krahô-Kanela, Avá-Canoero, Javaé, Kanela do Tocantins e
Guarani. E a lista está crescendo. Temos o apoio de toda a sociedade nacional e
internacional e isso também incomoda bastante a vocês, que estão sozinhos com
seus financiadores de campanha e empresas interessadas em crateras e dinheiro.
Nós ocupamos de novo no seu canteiro – e quantas
vezes será preciso fazer isso até que a sua própria lei seja cumprida? Quantos
interditos proibitórios, multas e reintegrações de posse vão custar até que nós
sejamos ouvidos? Quantas balas de borracha, bombas e sprays de pimenta vocês
pretendem gastar até que vocês assumam que estão errados? Ou vocês vão
assassinar de novo? Quantos índios mais vocês vão matar além de nosso parente
Adenilson Munduruku, da aldeia Teles Pires, simplesmente porque não queremos
barragem?
E não mande a Força Nacional para negociar por
vocês. Venham vocês mesmos. Queremos que a Dilma venha falar conosco.
Canteiro de obras Belo Monte, Altamira, 27 de maio
de 2013
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