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1º de maio em 2013 e os desafios para a classe operária
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1º de maio em 2013 e os desafios para a classe operária
ESCRITO POR WALDEMAR ROSSI |
TERÇA, 30 DE ABRIL DE 2013 |
Passaram-se 127 anos do martírio dos operários de Chicago. Em 1886, operários foram assassinados a mando da justiça dos Estados Unidos da América porque lutavam pela redução da jornada e por melhores condições de trabalho.
Desde então, trabalhadores do mundo inteiro se reúnem no dia 1º de maio para não deixar que tal sacrifício caia no esquecimento, como quer a burguesia responsável pelo martírio. Os exploradores usam de todos os meios possíveis para que essa data seja transformada em dia de lazer, de festa, recheada das várias formas de circo, como shows custeados pelas grandes empresas (as mesmas que exploram os trabalhadores).
Mais grave é saber que tais shows são organizados por Centrais Sindicais vendidas ao capital. Torneios de futebol e de outros esportes são patrocinados pelo mundo inteiro, visando apagar a memória da classe trabalhadora. O que mais importa ao capital é que as novas gerações de trabalhadores permaneçam à margem da História da resistência de seus irmãos de classe, desta classe em luta permanente contra a cada vez mais cruel exploração de sua força de trabalho.
Com isso, tentam jogar também para a lata do lixo a memória dos trabalhadores que continuam sendo assassinados a cada dia, seja pelas balas das polícias e jagunços, com omissão dos governos federais, seja pelas péssimas condições de trabalho e de segurança.
Desigualdades crescentes
Se no mundo inteiro o capital entrou em nova fase de sua curta história, avançando na ação política para eliminar as conquistas operárias alcançadas com muito sangue ao longo de pouco mais de dois séculos, em nosso país, em particular, este ataque se mostra realmente feroz. O Brasil, tendo se transformado numa das grandes forças produtivas do mundo, se transformou também no país das maiores desigualdades sociais do planeta.
Ao lado de empresas e empresários riquíssimos, encontram-se milhões de pessoas em condições de miséria absoluta e ou relativa – que sobrevivem do que sobra nos tristes lixões ou com os miseráveis R$ 70,00 que o governo lhes concede como esmola –, para que não reclamem por justiça social. Ou ainda sobrevivendo com o miserável Salário Mínimo decretado sem nenhum escrúpulo pelos nossos governantes.
As desigualdades se expressam também nas relações entre eleitos e eleitores. Parlamentares e políticos em geral tiram dos cofres públicos, a título de salários, em torno de R$ 26.700,00, enquanto “concedem” R$ 678,00 para quem produz as riquezas deste país. Uma relação criminosa de40 vezes o valor do salário mínimo. Porém, a relação é muito mais injusta porque cada parlamentar conta com muitas outras regalias que não são reveladas ao povo eleitor. O que não dizer das benesses que muitos recebem das grandes empreiteiras, por exemplo?
Eliminação e negação dos direitos básicos
Da mesma forma que na Europa, o governo brasileiro vem eliminando direitos da classe trabalhadora, sonegando receita para os serviços essenciais (saúde, educação, saneamento, entre outros), enquanto concede gordos benefícios para o empresariado sedento por lucros exorbitantes à custa do mesmo dinheiro público.
Após 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho, 18,6 milhões de trabalhadores se encontram na informalidade. São quase 19 milhões de trabalhadores que não são atingidos pelos direitos assegurados em lei. São também 20% da mão de obra do país que não contam ainda com carteira assinada (fonte: IHU UNISINOS). Há ainda 15,2 milhões que vivem do próprio trabalho, sem qualquer proteção social, porque não têm como contribuir com a Previdência Social. São tratados como coitados ou marginais.
Estado politicamente falido
Todas essas mazelas são também o resultado de um Estado criado e mantido a serviço dos interesses dos proprietários de terras, de fábricas, do grande comércio e, hoje, sobretudo, para defender os interesses do chantagista e agiota sistema financeiro global. Foram constituídos Estados que, em vez de defender os interesses do conjunto da sociedade, atuam como força repressiva, esmagando as legítimas reivindicações dos povos. Um Estado que precisa ser deslegitimado e substituído por outros modelos, que estejam sob o controle e a serviço de todo o povo.
O sindicalismo superado
Assim como em outras partes do mundo, no Brasil também as Centrais Sindicais se acomodaram, seus dirigentes se tornaram “dirigentes sindicais profissionais”, permanecendo no topo das suas estruturas, fazendo o jogo sujo dos interesses do capitalismo predador, gozando de um padrão de vida que causa inveja a muita gente da chamada Classe Média Alta. Para enganar suas bases, promovem atividades do “faz de conta que lutamos”, mas que não mexem em nada nos interesses das grandes empresas.
É mais fácil promover encontros de “trabalhadores” em Brasília, com muita mordomia, com despesas pagas e tudo o mais - aparecendo para a mídia teatral - do que mexer com a produção capitalista, que continua sem interrupção. Tais dirigentes profissionalizados, porém, mostram competência para fazer longos, repetitivos e cansativos discursos. Esse comportamento me faz lembrar as advertências de Jesus aos poderosos de sua época: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês exploram as viúvas e roubam suas casas e, para disfarçar, fazem longas orações!”. E a grande mídia faz eco a tais enganações, dos governantes e do peleguismo oficial.
Desafios atuais
Assim, entre os desafios para a classe trabalhadora, hoje, estão: tomar consciência do que é este modelo de sindicalismo corrompido e corrupto, criar novas formas de organização dos trabalhadores e assumir sua tarefa como protagonista das mudanças estruturais que nos vêm sendo negadas há longos anos. Assim como é urgente que trabalhadores e seus familiares, enquanto isso, se engajem nos movimentos populares independentes para exigir políticas públicas que garantam condições de vida com um mínimo de dignidade humana.
Dessa dupla dimensão de engajamentos e das ações sociais poderão, com o tempo, nascer novos e revolucionários instrumentos de lutas que deverão promover as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais, colocando a política oficial sob rigoroso controle popular.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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