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http://www.revistasina.com.br/portal/direitos-humanos/item/9167-abril-vermelho-ato-lembra-massacre-de-eldorado-dos-caraj%C3%A1s-e-pede-pacto-pela-reforma-agr%C3%A1ria
o mesmo dia em que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) anunciou a publicação de um relatório que aponta o assassinato de 36 pessoas em decorrência da luta pela reforma agrária em 2012, o MST reuniu anteontem (15) cerca de 400 pessoas na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, para lembrar os 17 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido no Pará em 1996. Coordenador nacional do movimento, João Pedro Stédile anunciou que hoje (17) trabalhadores sem-terra irão fechar por 19 minutos rodovias em todo o Brasil: “Será para lembrar as 19 pessoas mortas no massacre”, explicou.
Segundo Stédile, os assassinatos de Eldorado dos Carajás propiciaram nos anos seguintes um avanço na luta pela reforma agrária, ciclo que, avalia, perdeu força nos últimos anos. “A luta pela reforma agrária é um longo processo de acúmulo de forças da classe trabalhadora e de enfrentamento com a classe dominante. Tem períodos da história em que ela avança e períodos em que ela recua. Logo após o massacre de Carajás, como nós fizemos a marcha a Brasília e recebemos a solidariedade do movimento sindical, em especial da CUT, e de toda a sociedade brasileira, aquilo alterou a correlação de forças. De 1997 até o final do governo de Fernando Henrique, nós conquistamos muitos assentamentos. Mais de 150 mil famílias foram assentadas, digamos, por conta do massacre de Carajás. Foi um alto preço”, diz.
A atual conjuntura brasileira, afirma o dirigente do MST, é menos favorável à reforma agrária: “Do governo Lula para cá, nós estamos enfrentando uma conjuntura novamente adversa porque a correlação de forças se alterou com a entrada do capitalismo internacional e financeiro na agricultura. Eles vieram fugindo da crise da Europa e dos Estados Unidos e estão aplicando muito dinheiro no Brasil para comprar terra, comprar usina, comprar etanol. O fato de eles comprarem muita terra fez com que o preço da terra subisse. Atualmente, eles disputam o latifúndio improdutivo com o Incra e controlam a produção”.
Stédile diz que “a reforma agrária neste momento, independentemente de governo, está bloqueada por essa enorme força que o capital tem na agricultura”. Para reverter essa realidade, ele prega um novo pacto de luta entre os trabalhadores do campo e da cidade. “Os camponeses e o MST sozinhos não conseguem mais desbloquear a luta pela reforma agrária. Nós dependemos de uma grande aliança com a classe trabalhadora urbana para criar um movimento de mudança de projeto em nosso país, pois precisamos avançar mais do que estamos agora nas reformas estruturais. Aí, a reforma agrária voltará a ter um papel importante no novo projeto de desenvolvimento do país. Somente com essa aliança, a classe trabalhadora terá força suficiente para repautar a retomada da luta social no país e repautar um novo projeto de libertação do nosso povo”, diz.
Mudar o modelo
Convidado especial para o evento, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) diz que “o recrudescimento da violência que ocorre hoje no campo tem a ver com a concepção de desenvolvimento rural que o país tem”. Segundo o deputado, é preciso uma mudança de paradigma: “A luta pela reforma agrária é central em uma outra concepção de desenvolvimento que prima a pessoa humana como centro da nossa economia. Hoje, a gente tem um avanço muito grande do capitalismo no campo, você tem uma produção de grãos e sementes muito forte, o reforço da monocultura e da concentração de terra e o aumento da violência no campo e da falta de soberania alimentar e nacional”.
Freixo critica a opção do atual governo brasileiro por fortalecer a agricultura em larga escala. “Hoje, o agronegócio é colocado como um grande projeto de país e de desenvolvimento econômico no campo, mas, na verdade, 70% dos alimentos dos brasileiros são produzidos pela agricultura camponesa e hoje o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo inteiro. A gente tem 5% da produção de alimentos e consome 20% de todo o veneno produzido no mundo. Esse modelo de desenvolvimento não nos serve e não nos interessa”, diz.
Abril Vermelho
Começaram em Pernambuco as ações do “Abril Vermelho” proposto pelo MST. Desde domingo (14), centenas de famílias de trabalhadores rurais sem terra do estado já invadiram pelo menos oito fazendas nas regiões do sertão, do agreste e da zona da mata. Na Bahia, cerca de 70 militantes do MST ocupam desde sábado (13) um terreno da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) no município de Barra do Choça. Na semana passada, uma marcha com cinco mil trabalhadores seguiu de Camaçari até Salvador.
No Rio de Janeiro, cerca de 50 militantes do MST se reuniram com o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Gustavo de Noronha, para exigir a regularização das áreas de acampamento no estado e a concretização da assistência técnica prometida pelo governo aos trabalhadores rurais que já estão assentados.
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Abril Vermelho: Ato lembra massacre de Eldorado dos Carajás e pede pacto pela reforma agrária
Por Maurício Thuswohl / Rede Brasil Atual
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Hoje, dia em que o assassinato de 19 trabalhadores sem terra completará 17 anos, MST irá bloquear rodovias em todo o país por 19 minutos
o mesmo dia em que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) anunciou a publicação de um relatório que aponta o assassinato de 36 pessoas em decorrência da luta pela reforma agrária em 2012, o MST reuniu anteontem (15) cerca de 400 pessoas na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, para lembrar os 17 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido no Pará em 1996. Coordenador nacional do movimento, João Pedro Stédile anunciou que hoje (17) trabalhadores sem-terra irão fechar por 19 minutos rodovias em todo o Brasil: “Será para lembrar as 19 pessoas mortas no massacre”, explicou.
Segundo Stédile, os assassinatos de Eldorado dos Carajás propiciaram nos anos seguintes um avanço na luta pela reforma agrária, ciclo que, avalia, perdeu força nos últimos anos. “A luta pela reforma agrária é um longo processo de acúmulo de forças da classe trabalhadora e de enfrentamento com a classe dominante. Tem períodos da história em que ela avança e períodos em que ela recua. Logo após o massacre de Carajás, como nós fizemos a marcha a Brasília e recebemos a solidariedade do movimento sindical, em especial da CUT, e de toda a sociedade brasileira, aquilo alterou a correlação de forças. De 1997 até o final do governo de Fernando Henrique, nós conquistamos muitos assentamentos. Mais de 150 mil famílias foram assentadas, digamos, por conta do massacre de Carajás. Foi um alto preço”, diz.
A atual conjuntura brasileira, afirma o dirigente do MST, é menos favorável à reforma agrária: “Do governo Lula para cá, nós estamos enfrentando uma conjuntura novamente adversa porque a correlação de forças se alterou com a entrada do capitalismo internacional e financeiro na agricultura. Eles vieram fugindo da crise da Europa e dos Estados Unidos e estão aplicando muito dinheiro no Brasil para comprar terra, comprar usina, comprar etanol. O fato de eles comprarem muita terra fez com que o preço da terra subisse. Atualmente, eles disputam o latifúndio improdutivo com o Incra e controlam a produção”.
Stédile diz que “a reforma agrária neste momento, independentemente de governo, está bloqueada por essa enorme força que o capital tem na agricultura”. Para reverter essa realidade, ele prega um novo pacto de luta entre os trabalhadores do campo e da cidade. “Os camponeses e o MST sozinhos não conseguem mais desbloquear a luta pela reforma agrária. Nós dependemos de uma grande aliança com a classe trabalhadora urbana para criar um movimento de mudança de projeto em nosso país, pois precisamos avançar mais do que estamos agora nas reformas estruturais. Aí, a reforma agrária voltará a ter um papel importante no novo projeto de desenvolvimento do país. Somente com essa aliança, a classe trabalhadora terá força suficiente para repautar a retomada da luta social no país e repautar um novo projeto de libertação do nosso povo”, diz.
Mudar o modelo
Convidado especial para o evento, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) diz que “o recrudescimento da violência que ocorre hoje no campo tem a ver com a concepção de desenvolvimento rural que o país tem”. Segundo o deputado, é preciso uma mudança de paradigma: “A luta pela reforma agrária é central em uma outra concepção de desenvolvimento que prima a pessoa humana como centro da nossa economia. Hoje, a gente tem um avanço muito grande do capitalismo no campo, você tem uma produção de grãos e sementes muito forte, o reforço da monocultura e da concentração de terra e o aumento da violência no campo e da falta de soberania alimentar e nacional”.
Freixo critica a opção do atual governo brasileiro por fortalecer a agricultura em larga escala. “Hoje, o agronegócio é colocado como um grande projeto de país e de desenvolvimento econômico no campo, mas, na verdade, 70% dos alimentos dos brasileiros são produzidos pela agricultura camponesa e hoje o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo inteiro. A gente tem 5% da produção de alimentos e consome 20% de todo o veneno produzido no mundo. Esse modelo de desenvolvimento não nos serve e não nos interessa”, diz.
Abril Vermelho
Começaram em Pernambuco as ações do “Abril Vermelho” proposto pelo MST. Desde domingo (14), centenas de famílias de trabalhadores rurais sem terra do estado já invadiram pelo menos oito fazendas nas regiões do sertão, do agreste e da zona da mata. Na Bahia, cerca de 70 militantes do MST ocupam desde sábado (13) um terreno da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) no município de Barra do Choça. Na semana passada, uma marcha com cinco mil trabalhadores seguiu de Camaçari até Salvador.
No Rio de Janeiro, cerca de 50 militantes do MST se reuniram com o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Gustavo de Noronha, para exigir a regularização das áreas de acampamento no estado e a concretização da assistência técnica prometida pelo governo aos trabalhadores rurais que já estão assentados.
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