adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=74842
Através da Frente nos tornamos mais visíveis como mulheres camponesas de base e estamos nos desenvolvendo agora em outro âmbito que é a defesa dos direitos. Ainda assim, através da Frente temos encontrado um espaço na opinião pública, oportunidades para nos capacitarmos e para fazer ações conjuntamente com outras organizações em resistência.
As mulheres que integram a Frente não são as mesma de 5 anos atrás. Agora temos maiores conhecimentos, experiência, não temos medo de falar, de levar ao conhecimento o que pensamos. Inclusive algumas companheiras foram ao exterior conhecer diferentes órgãos e instituições internacionais e falaram de como os projetos de mineração estão nos afetando com suas próprias palavras de mulheres camponesas simples, mas que defendem uma causa justa como são os Direitos Humanos, Ambientais, de Gênero e de nossa Mãe Terra.
Adital – Como começou a surgir a Frente e especialmente qual é a importância de incorporar as mulheres?
Rosío Pérez Arévalo – A Frente nasce de todo o processo de mobilização das comunidades em resistência aos megaprojetos de mineração no sul do Equador, onde as mulheres têm desempenhado um papel de liderança. Contudo elas se mantinham invisíveis devido às características próprias de uma sociedade patriarcal que deixa sentir o peso da dominação masculina desde os âmbitos familiares e comunitários.
As mulheres se mobilizaram com força e convicção em defesa da Natureza, Água, Terra, diante da ameaça dos megaprojetos de mineração, mas a representação e clamor das comunidades era majoritariamente dos homens. É por isso que ao criar-se a Frente de Mulheres Defensoras da Pachamama se abriu um espaço a parti do qual as mulheres camponesas das comunidades afetadas pela mineração, muitas apenas com poucos anos de instrução primária, com idade avançada e sem nenhum tipo de experiência no ativismo pela defesa dos direitos, começassem a se deixar visibilizar, a falar com a própria voz, a ser ouvida pela opinião pública e a ser identificada como referência de resistência à mineração.
Adital – É conhecido que o problema da mineração em grande escala está muito presente na América Latina. Como a Frente se posiciona sobre este tema em seu país?
Rosío Pérez Arévalo – A Frente sempre teve uma posição clara de total oposição à mineração no Equador, já que estamos conscientes que não é só apenas a grande mineração que causa danos ambientais e sociais, mas sim todo tipo de mineração e nós somos de comunidades camponesas, onde a água é indispensável para a nossa sobrevivência, para poder produzir, como também para que os ecossistemas estejam livres de contaminação.
A Frente tem feito uma oposição consistente, em especial aos projetos Quimsacocha e Río Blanco, já que a maioria dos membros é de Tarqui, Victoria del Portete e Molleturo, paróquias afetadas por estes megaprojetos de ouro, e também há companheiras da cidade de Cuenca que estão sendo afetadas por estes projetos.
Temos falado e seguiremos dizendo NÃO à mineração, porque essa não é uma opção de desenvolvimento. Se a mineração contamina nossos ecossistemas não podemos produzir mais alimentos saudáveis e isso é uma perda que não será compensada com as migalhas da mineração.
Adital – Quais são as principais lutas e demandas referentes à grande mineração no Equador?
Rosío Pérez Arévalo – Para a Frente é importante continuar reclamando porque a o Mandato Minero ainda não foi aplicado, quer dizer, não foram anuladas as concessões ilegais e ilegítimas que se mantém nas mãos de corporações, apesar da extinção feita pela Assembleia Constituinte em 2008 através do referido mandato.
Nunca houve processos adequados de informação e consulta prévias às comunidades e se pretende iniciar a grande mineração no país fazendo pouco caso destes direitos fundamentais. É por isso que se deve continuar denunciando como o governo favorece as transnacionais mineiras ao não aplicar o Mandato Minero.
Nós seguiremos insistindo que essas concessões são nulas e de que não se deve levar adiante esses projetos, já estão nas áreas dos páramos, ecossistemas vitais para a produção da água que abastece extensas zonas da região andina e da costa, porque o Equador é um país muito pequeno e a mineração contamina quilômetros de distância dos empreendimentos.
Adital – Neste período de lutas houve alguma vitória em relação ao projeto como os casos de Rio Blanco e Quimsacocha?
Rosío Pérez Arévalo – Acreditamos que o fato de haver conseguido até o momento que não se inicie a fase de exploração em nenhum dos projetos é uma vitória da mobilização e ações de oposição das comunidades e da Frente como setor organizado.
No caso do projeto Río Blanco não temos que esquecer que este era o primeiro da lista para firmar contrato com o governo, aproveitando a "vantajosa coincidência” de que seu ex-gerente corporativo Federico Auquilla é agora o Vice-ministro de Minas. A Frente de Mulheres Defensoras da Pachamama teve um papel ativo na mobilização das comunidades de Molleturo para abandonar a farsa com que se pretendia cumprir com o simples requisito de "socializar” o Estudo de Impacto Ambiental para obter a Licença Ambiental por parte do Ministério do Ambiente.
A Frente junto com a Coordenadora pela Defesa da Vida e da Soberania, a Coordenadora Popular de Molleturo e muitas outras organizações comunitárias, tanto da parte alta como da zona costeira desta paróquia, implantaram em 2011 e 2012 todo um trabalho que permitiu tirar a luz La patrañadas famosas "socializações” e freou as prevenções do governo e a IMC.
Contudo agora o governo disse que "autorizou a venda do projeto Río Blanco ao consórcio chinês Junefield”, o qual nos causa riso porque essa negociação já foi liquidada em dezembro sem nenhuma autorização do governo e sem que o estado receba um centavo dessa milionária venda. Agora simplesmente estão fazendo o anúncio oficial porque seguramente querem dar trâmite aos licenciamentos para a exploração.
Nós esperamos que as comunidades sigam resistindo. Por nossa parte estamos exigindo o pronunciamento da Defensoria do Povo diante do desacato ao Mandato Minero no caso de Río Blanco, do qual a Direção de Proteção dos Direitos Humanos e da Natureza fez uma investigação por mais de um ano, durante o qual ficou demonstrado que jamais houve informação nem consulta prévia às comunidades, que o projeto está na área do bosque protetor Molleturo-Mollepongo e da área de amortecimento do Parque Nacional Cajas, e que mantém vigente 4 concessões, que estão anuladas já que foram extinguidas pelo Mandato Minero.
Adital – Como tem sido o diálogo com o governo?
Rosío Pérez Arévalo – Jamais houve diálogo com o governo, pois este sempre manteve uma posição pró-mineração. Nunca houve vontade de escutar as demandas das comunidades, pelo contrário, tem dado total apoio e abertura às corporações mineiras, especialmente as chinesas, levando em conta que o Equador está bastante endividado com a China, e que os capitais deste país estão entrando fortemente em todos os setores estratégicos: petróleo, hidrelétricas e mineração.
Adital – Quais os planos da Frente para os próximos anos?
Rosío Pérez Arévalo – Continuar nos fortalecendo, sobretudo através de um maior poder das mulheres como Defensoras de Direitos. Continuar com as diferentes áreas de trabalho que estamos desenvolvendo tanto na capacitação como em ações de resistência.
Também é importante para nós a relação com os Aspectos Jurídicos e de Proteção, pela perseguição, repressão e criminalização de nosso trabalho que tem ocorrido nos últimos anos, assim como as diferentes violações de direitos humanos dos quais os membros da Frente foram alvo.
Outro aspecto importante sobre o que vamos colocar sempre nosso empenho é abrir espaços para a reflexão com outros setores sociais, especialmente com as/os crianças e jovens. É por eles que continuaremos organizando eventos como os Concursos Estudantis "S.O.S Pachamama”, que cada ano ganha uma maior participação por parte dos centros educativos da cidade de Cuenca e seus arredores. Fazemos estes concursos pelo motivo do Dia Mundial da Terra, que para nós é uma data muito importante para chamar para a reflexão sobre tudo o que está ocorrendo com nossa casa comum, de como estamos afetando a nossa Pachamama e as terríveis consequências ambientais e sociais que isso traz para o presente e para as futuras gerações.
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=74842
Entrevista – Próximo ao Dia da Terra, a Frente das Mulheres Defensoras da Pachamama fala sobre resistência e luta
Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital
A América Latina virou um quintal promissor para as grandes empresas mineiras transnacionais. Despejos forçados, desrespeitos aos direitos territoriais, ameaça de sobrevivência para minorias...esses são alguns dos problemas gerados por esses investimentos que acontecem com o aval dos governos. De acordo com o Observatório de Conflitos Ambientais esses empreendimentos, até 2010, já geraram 120 conflitos graves – onde até mortes são registradas – em, pelo menos, 15 países latino-americanos.
Por outro lado, cada vez mais as comunidades se fortalecem em articulações. É o caso da Frente de Mulheres Defensoras da Pachamama, no Equador, que este ano completa 5 anos de intensa luta e resistência frente a projetos mineiros no país.
E, próximo ao Dia da Terra – celebrado no dia 22 de abril – a Adital conversou com Rosío Pérez Arévalo, presidente da Frente, sobre a importância de celebrar a vida com respeito e sobre os prejuízos que o negócio da mineração está trazendo para o planeta e seus povos.
Adital – Nestes cinco anos de luta intensa, que balanço fazem de seu trabalho na Frente de Mulheres Defensoras da Pachamama?
Rosío Pérez Arévalo- Definitivamente as conquistas que tivemos são muito superiores às dificuldades e inclusive fracassos que, lógico, se dão em todo processo organizacional, o qual nos faz sentir mais confiantes de que estamos desenvolvendo um trabalho que dá frutos tanto no fortalecimento interno de nossa organização como converter a Frente a ser uma referência de resistência de mulheres de comunidades afetadas pela mineração, que vivemos dia-a-dia os impactos desta indústria extrativa.Através da Frente nos tornamos mais visíveis como mulheres camponesas de base e estamos nos desenvolvendo agora em outro âmbito que é a defesa dos direitos. Ainda assim, através da Frente temos encontrado um espaço na opinião pública, oportunidades para nos capacitarmos e para fazer ações conjuntamente com outras organizações em resistência.
As mulheres que integram a Frente não são as mesma de 5 anos atrás. Agora temos maiores conhecimentos, experiência, não temos medo de falar, de levar ao conhecimento o que pensamos. Inclusive algumas companheiras foram ao exterior conhecer diferentes órgãos e instituições internacionais e falaram de como os projetos de mineração estão nos afetando com suas próprias palavras de mulheres camponesas simples, mas que defendem uma causa justa como são os Direitos Humanos, Ambientais, de Gênero e de nossa Mãe Terra.
Adital – Como começou a surgir a Frente e especialmente qual é a importância de incorporar as mulheres?
Rosío Pérez Arévalo – A Frente nasce de todo o processo de mobilização das comunidades em resistência aos megaprojetos de mineração no sul do Equador, onde as mulheres têm desempenhado um papel de liderança. Contudo elas se mantinham invisíveis devido às características próprias de uma sociedade patriarcal que deixa sentir o peso da dominação masculina desde os âmbitos familiares e comunitários.
As mulheres se mobilizaram com força e convicção em defesa da Natureza, Água, Terra, diante da ameaça dos megaprojetos de mineração, mas a representação e clamor das comunidades era majoritariamente dos homens. É por isso que ao criar-se a Frente de Mulheres Defensoras da Pachamama se abriu um espaço a parti do qual as mulheres camponesas das comunidades afetadas pela mineração, muitas apenas com poucos anos de instrução primária, com idade avançada e sem nenhum tipo de experiência no ativismo pela defesa dos direitos, começassem a se deixar visibilizar, a falar com a própria voz, a ser ouvida pela opinião pública e a ser identificada como referência de resistência à mineração.
Adital – É conhecido que o problema da mineração em grande escala está muito presente na América Latina. Como a Frente se posiciona sobre este tema em seu país?
Rosío Pérez Arévalo – A Frente sempre teve uma posição clara de total oposição à mineração no Equador, já que estamos conscientes que não é só apenas a grande mineração que causa danos ambientais e sociais, mas sim todo tipo de mineração e nós somos de comunidades camponesas, onde a água é indispensável para a nossa sobrevivência, para poder produzir, como também para que os ecossistemas estejam livres de contaminação.
A Frente tem feito uma oposição consistente, em especial aos projetos Quimsacocha e Río Blanco, já que a maioria dos membros é de Tarqui, Victoria del Portete e Molleturo, paróquias afetadas por estes megaprojetos de ouro, e também há companheiras da cidade de Cuenca que estão sendo afetadas por estes projetos.
Temos falado e seguiremos dizendo NÃO à mineração, porque essa não é uma opção de desenvolvimento. Se a mineração contamina nossos ecossistemas não podemos produzir mais alimentos saudáveis e isso é uma perda que não será compensada com as migalhas da mineração.
Adital – Quais são as principais lutas e demandas referentes à grande mineração no Equador?
Rosío Pérez Arévalo – Para a Frente é importante continuar reclamando porque a o Mandato Minero ainda não foi aplicado, quer dizer, não foram anuladas as concessões ilegais e ilegítimas que se mantém nas mãos de corporações, apesar da extinção feita pela Assembleia Constituinte em 2008 através do referido mandato.
Nunca houve processos adequados de informação e consulta prévias às comunidades e se pretende iniciar a grande mineração no país fazendo pouco caso destes direitos fundamentais. É por isso que se deve continuar denunciando como o governo favorece as transnacionais mineiras ao não aplicar o Mandato Minero.
Nós seguiremos insistindo que essas concessões são nulas e de que não se deve levar adiante esses projetos, já estão nas áreas dos páramos, ecossistemas vitais para a produção da água que abastece extensas zonas da região andina e da costa, porque o Equador é um país muito pequeno e a mineração contamina quilômetros de distância dos empreendimentos.
Adital – Neste período de lutas houve alguma vitória em relação ao projeto como os casos de Rio Blanco e Quimsacocha?
Rosío Pérez Arévalo – Acreditamos que o fato de haver conseguido até o momento que não se inicie a fase de exploração em nenhum dos projetos é uma vitória da mobilização e ações de oposição das comunidades e da Frente como setor organizado.
No caso do projeto Río Blanco não temos que esquecer que este era o primeiro da lista para firmar contrato com o governo, aproveitando a "vantajosa coincidência” de que seu ex-gerente corporativo Federico Auquilla é agora o Vice-ministro de Minas. A Frente de Mulheres Defensoras da Pachamama teve um papel ativo na mobilização das comunidades de Molleturo para abandonar a farsa com que se pretendia cumprir com o simples requisito de "socializar” o Estudo de Impacto Ambiental para obter a Licença Ambiental por parte do Ministério do Ambiente.
A Frente junto com a Coordenadora pela Defesa da Vida e da Soberania, a Coordenadora Popular de Molleturo e muitas outras organizações comunitárias, tanto da parte alta como da zona costeira desta paróquia, implantaram em 2011 e 2012 todo um trabalho que permitiu tirar a luz La patrañadas famosas "socializações” e freou as prevenções do governo e a IMC.
Contudo agora o governo disse que "autorizou a venda do projeto Río Blanco ao consórcio chinês Junefield”, o qual nos causa riso porque essa negociação já foi liquidada em dezembro sem nenhuma autorização do governo e sem que o estado receba um centavo dessa milionária venda. Agora simplesmente estão fazendo o anúncio oficial porque seguramente querem dar trâmite aos licenciamentos para a exploração.
Nós esperamos que as comunidades sigam resistindo. Por nossa parte estamos exigindo o pronunciamento da Defensoria do Povo diante do desacato ao Mandato Minero no caso de Río Blanco, do qual a Direção de Proteção dos Direitos Humanos e da Natureza fez uma investigação por mais de um ano, durante o qual ficou demonstrado que jamais houve informação nem consulta prévia às comunidades, que o projeto está na área do bosque protetor Molleturo-Mollepongo e da área de amortecimento do Parque Nacional Cajas, e que mantém vigente 4 concessões, que estão anuladas já que foram extinguidas pelo Mandato Minero.
Adital – Como tem sido o diálogo com o governo?
Rosío Pérez Arévalo – Jamais houve diálogo com o governo, pois este sempre manteve uma posição pró-mineração. Nunca houve vontade de escutar as demandas das comunidades, pelo contrário, tem dado total apoio e abertura às corporações mineiras, especialmente as chinesas, levando em conta que o Equador está bastante endividado com a China, e que os capitais deste país estão entrando fortemente em todos os setores estratégicos: petróleo, hidrelétricas e mineração.
Adital – Quais os planos da Frente para os próximos anos?
Rosío Pérez Arévalo – Continuar nos fortalecendo, sobretudo através de um maior poder das mulheres como Defensoras de Direitos. Continuar com as diferentes áreas de trabalho que estamos desenvolvendo tanto na capacitação como em ações de resistência.
Também é importante para nós a relação com os Aspectos Jurídicos e de Proteção, pela perseguição, repressão e criminalização de nosso trabalho que tem ocorrido nos últimos anos, assim como as diferentes violações de direitos humanos dos quais os membros da Frente foram alvo.
Outro aspecto importante sobre o que vamos colocar sempre nosso empenho é abrir espaços para a reflexão com outros setores sociais, especialmente com as/os crianças e jovens. É por eles que continuaremos organizando eventos como os Concursos Estudantis "S.O.S Pachamama”, que cada ano ganha uma maior participação por parte dos centros educativos da cidade de Cuenca e seus arredores. Fazemos estes concursos pelo motivo do Dia Mundial da Terra, que para nós é uma data muito importante para chamar para a reflexão sobre tudo o que está ocorrendo com nossa casa comum, de como estamos afetando a nossa Pachamama e as terríveis consequências ambientais e sociais que isso traz para o presente e para as futuras gerações.
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