sexta-feira, 19 de abril de 2013

Flechas, maracás e o inviolável

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519387-flechas-maracas-e-o-inviolavel


Flechas, maracás e o inviolável

"O abril indígena está demonstrando muito vigor e sabedoria ao conduzir as lutas em defesa de seus povos e contra a orquestração contra seus direitos, acontecendo nos três poderes. Na terça-feira, num momento histórico ocuparam por meia hora o plenário dos deputados. Apesar da violência utilizada pelos seguranças, nada impediu os índios de dizerem aos parlamentares, 'estamos aqui, exigimos respeito e a revogação dos projetos que querem tirar nossos direitos, nos matar'", escreve Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Foto: Egon Heck - CIMI-MS
Jamais algum movimento social conseguira ocupar o inviolável espaço do plenário da Câmara. Os povos indígenas revoltados e indignados com o processo de violação de seus direitos, com ações e iniciativas orquestradas nos três poderes, decidiram dar o recado aos parlamentares. E isso no "espaço considerado inviolável, na casa do povo". Após quase meia hora de pressão, conseguem irromper na sala do plenário.Surpresos e perplexos, os parlamentares foram se retirando de seus assentos, e outro grupo foi refugiar-se em torno da presidência da mesa. Um clima de temor e apreensão se espalhou pelo ambiente dos 513 deputados, dos quais um pouco mais de trezentos estavam no recinto.
Nesse fato inédito, em que das 18h10min às 18h40min o plenário da Câmara foi despido de seu padrão engravatado, para dar lugar aos corpos e rostos pintados que ao som do maracá disseram a que vieram - revoguem já! (as leis e projetos ainti-indígenas).
Foto: Egon Heck - CIMI - MS
Foi bonito ver indígenas velinhos, mulheres, jovens e crianças tomarem conta das confortáveis cadeiras, com sorrisos e comentários "como é confortável a casa do povo! nunca a gente tinha imaginado o que está vendo e assistindo." Esse fato inédito correu o Brasil e o mundo. Para dizer: estamos aqui, exigimos respeito, queremos respostas, não tirem os nossos invioláveis direitos! Se perplexos ficaram os senhores deputados, muito mais perplexos e indignados estão os povos indígenas pelas inúmeras propostas que estão nesta casa, com o único intuito de retirar os direitos indígenas, para favorecer o agronegócio e outros interesses, minerais,madeireiras, militares com acelerada privatização das terras e águas em nosso país.
O Brasil plural mostra sua cara
Ao ver o plenário da Comissão de Constituição e justiça cheia de cores, de corpos lindamente pintados, dando uma bela imagem desse Brasil plural, profundo, originário. É pena que isso só seja reconhecido somente nos momentos das cruciais lutas que os mais de trezentos povos indígenas levam adiante, quando os processos genocidas avançam sobre seus territórios, suas vidas.
As dezenas de parlamentares que vieram prestar apoio e solidariedade aos povos indígenas no congresso destacaram esse momento bonito e crucial.
Nas inúmeras manifestações das lideranças indígenas, caciques, pajés, a tônica foi a mesma. Querem nos matar com esses projetos de lei, portarias. Mas nós vamos resistir, lutar, até o último índio! E todos pediram que enterrem as malditas e criminosas iniciativas do legislativo e executivo.
O momento é esse, avançaremos!
Foto: Egon Heck - CIMI - MS
Nailton Pataxó ressaltou que esse momento é semelhante ao da Constituinte, quando os inimigos dos povos indígenas tramaram vários vezes para impedir com que os direitos indígenas fossem inscritos na nova Constituição. Só vencemos por que nos mobilizamos, viemos ao Congresso quase todos os dias, visitamos gabinete por gabinete dos parlamentares, fizemos debates e rituais aqui no Congresso, enchemos os tapetes verdes e azuis com a cara do Brasil plural, combativo e resistente. Agora estamos novamente num momento em que os nossos inimigos querem rasgar a Constituição tirando dela os direitos por nós conquistados. E com muita firmeza e sabedoria diz "Vamos vencer mais essa batalha! Unidos e mobilizados sairemos vitoriosos de mais essas tentativas criminosas de tirar nossos direitos."
Além da visibilidade conseguida para suas lutas e seus direitos, conseguiram do presidente da Câmara Henrique Alves, juntamente com outros parlamentares, líderes de partidos, a promessa de não indicação de membros para a Comissão especial, que daria o parecer sobre a PEC 215 e a instalação de uma mesa de negociação com a participação paritária dos povos indígenas , para debater todas os projetos de lei e iniciativas que dizem respeito aos povos indígenas.
Em documento entregue ao presidente da Câmara o movimento indígena reafirma “Não admitiremos retrocesso na garantia dos nossos direitos... Reafirmamos por tudo isso, a nossa determinação de fortalecer nossas lutas, continuarmos vigilantes e dispostos a partir para o enfrentamento político, arriscando inclusive as nossas vidas, em defesa dos nossos territórios e da mãe natureza e pelo bem das nossas atuais e futuras gerações”.
A promessa é de que seja criada essa mesa de diálogo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário