From: teobaldo witter
Date: 2011/10/10
Subject: [DHT_MT] Hoje é o dia 10 da celebração
To: "direitoshumanos@googlegroups.com
Colegas,
Hoje é o dia 10, dia da celabrçaõ dos 40 anaos da carta D. Pedro Csaldálica. Por isso, envio saudações de colegas da EST-São Leopoldo: Hans Trein e Arteno Spellmeyer. Durante os anos 70 e 80, estiveram muito presentes nas lutas, lidas e reflexões do Araguaia e Mato Grosso. Ambos estão ativos nas lutas das causas indígenas.
Abraços Teobaldo
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Arteno escreve:
Obrigado pelo envio do texto e da carta de Dom Pedro. Repassei teu texto e a carta ao Hans que, de momento, está sob grande pressão: o grupo da parceria de Sulzbach-Rosenberg acbou de embarcar para Guarita, depois de 4 dias em São Leopoldo; 2ª feira vamos juntos a Santa Rosa para um seminário sob o tema " O BEM VIVER"; lá pelo dia 20/10 ele embarca à Alemanha para cumprir um programa de endoidar durante 30 dias....
De minha parte transmita minhas lembranças daqueles tempos de antigamente e minha admiração pelo trabalho do Centro de Direitos Humanos e pelo testemunho coerente de D. Pedro.
Em separado envio uma oração da irmã católica de origem judaica Edith Stein que foi assassinada pelos nazistas em Auschwitz, em 1942.
Abraços
Arteno Spellmeyer
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Hans Escreve:
Envio uma mensagem curtinha que pode ser o texto abaixo:
“Ao querido irmão em Cristo, Pedro Casaldáliga, o meu mais profundo respeito por seu ministério profético e sacerdotal, a minha alegria por sua amizade e pelas duas oportunidades em que se hospedou em nossa casa, em Barra do Garças, lembrança da minha participação numa Assembléia da Prelazia com assessoria de Luiz Alberto Gomes da Silva em julho de 1980, a minha lembrança da festa de 10 anos da Prelazia de São Félix do Araguaia, da qual participamos, Arteno Spellmeier, Marli Lutz e eu em agosto de 1981; ao lado dos estudos conjuntos, da análise de conjuntura e das reflexões sobre como continuar e de uma grande concelebração eucarística houve a apresentação da peça “Meu Padim, segura o tacho que a quentura vem por baxo!”. Sinto-me muito irmanado ao Pedro e à toda a proposta da Igreja de São Félix do Araguaia daqueles anos de frutífera convivência. Que Deus abençoe o Pedro e em sua graça complete o seu trabalho e engajamento.”
Se puder ser algo mais comprido, anexo a minha fala de introdução a um seminário sobre “Economia e Bem Viver” que vamos realizar nos dias 11 e 12 de outubro próximos com ao redor de 60 pessoas e que seria algo do mundo de hoje que nos ocupa e que está na lógica do ontem, e sem o que não teremos amanhã.
Abraços,
Hans
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“Economia para Bem Viver”
Hans Trein
Nos dias de hoje, presumivelmente estamos vivendo numa encruzilhada do desenvolvimento. Quanto tempo a terra ainda agüenta o dogma neo-liberal do crescimento econômico? Desenha-se um cenário de mudança fundamental do olhar sobre a economia, quando se considera as possibilidades de catástrofes climáticas e a crise global nos mercados financeiros. Essa mudança de perspectiva ainda está longe de chegar nos responsáveis por economia e política. Entretanto, espera-se que o clamor por socorro e ajuda do Estado vindo de banqueiros que acreditavam piamente no mercado, a falta de confiança na economia e pelo menos os enunciados de governantes, de que a catástrofe climática é um dos mais importantes desafios, sejam o início de uma fundamentalmente nova forma de pensar. Muito mais esperança ainda vem dos movimentos sociais que eclodem em vários pontos do planeta: na Argentina, no Chile e na Bolívia, em alguns países árabes, na Puerta Del Sol em Madrid e até mesmo em Wall Street. Parece que estamos entrando em um novo tempo de ascenso social e político. Nesse processo queremos contribuir com o nosso seminário.
O tema “Economia para Bem Viver” procura conjugar dois conceitos de contextos muito diferentes: De um lado, está o conceito “Wirtschaft”, uma palavra que tem sua história de significados no contexto de língua alemã. De outro lado, está o conceito “Bem Viver” que aqui nos vem de pensadores indígenas andinos e que está sendo recebido e refletido também entre os povos indígenas do Brasil. A pergunta fundamental de ambos é: como organizar a produção, o consumo, para que haja vida boa para toda a criação e essa seja sustentável.
Quando um alemão diz: “Ich geh in die Wirtschaft”, isso pode significar duas coisas: originalmente significava ir para uma hospedaria ou estalagem para encontrar-se com os amigos, tomar uma cervejinha no fim do dia, jogar conversa fora, o famoso “happy hour”, a hora alegre, enfim um lugar para viver bem. Só mais recentemente impôs-se o significado: vou assumir um cargo na diretoria de uma empresa, ou entrar no ramo dos investimentos financeiros.
Aplicando isso ao nosso mundo, o significado mais antigo sugere conceber o mundo como uma grande hospedaria, onde os seus gestores em política e economia fazem questão de que os hóspedes se sintam bem, tenham boa comida, possam alegrar-se, desfrutar boas companhias, desafiar-se mentalmente, enlevar-se espiritualmente, cultivar sua cultura. O significado mais recente sugere um campo de batalha, onde há vencedores e vencidos, onde há ganhos e perdas, onde quem não cresce, desaparece, onde na melhor hipótese impera o antropocentrismo, e o restante da natureza é concebido como matéria prima disponível a ser explorada até a exaustão. A economia na Bíblia propõe algo mais próximo à hospedaria.
O Bem viver nos chega dos indígenas andinos como um novo ancestral horizonte. Inunda Abya Yala com a inspiração e raiz milenar de um novo tradicional modelo de vida e sociedade. Sumak Kawsay – o Bem Viver - não é apenas uma utopia, é a reconstrução da harmonia e da reciprocidade entre a Pacha Mama – Mãe Terra, os seres humanos e todas as formas de vida. É um projeto de futuro que exige mudanças radicais, rupturas com o atual modelo neoliberal e neocolonizador. Diante da profunda crise civilizacional - que alguns, como o teólogo Leonardo Boff, estão chamando de terminal, pelo menos para a espécie humana - o Bem-Viver indígena é uma inspiração, um horizonte de lutas. O Sumak Kawsay é um horizonte em construção, um conceito político que se constitui como alternativo ao atual modelo capitalista neoliberal.
Nesse seminário nos propomos a fazer uma primeira aproximação a essa temática, aproveitando a diversidade que nos compõe, cristãos luteranos do sul brasileiro, de Misiones, do sul da Alemanha, Kaingang e Guarani. Em seguida vamos ouvir uma fala a partir do tema da IECLB, depois do almoço vamos privilegiar uma fala Kaingang e outra fala Guarani, na segunda metade da tarde outra fala, trazendo reflexões desde a parceria de Sulzbach-Rosenberg. Cada um vem trazendo a sua contribuição que vamos ouvir com atenção, procurar compreender, para então amanhã tentar sistematizar e fazer algumas projeções de continuidade.
Nos dias de hoje, presumivelmente estamos vivendo numa encruzilhada do desenvolvimento. Quanto tempo a terra ainda agüenta o dogma neo-liberal do crescimento econômico? Desenha-se um cenário de mudança fundamental do olhar sobre a economia, quando se considera as possibilidades de catástrofes climáticas e a crise global nos mercados financeiros. Essa mudança de perspectiva ainda está longe de chegar nos responsáveis por economia e política. Entretanto, espera-se que o clamor por socorro e ajuda do Estado vindo de banqueiros que acreditavam piamente no mercado, a falta de confiança na economia e pelo menos os enunciados de governantes, de que a catástrofe climática é um dos mais importantes desafios, sejam o início de uma fundamentalmente nova forma de pensar. Muito mais esperança ainda vem dos movimentos sociais que eclodem em vários pontos do planeta: na Argentina, no Chile e na Bolívia, em alguns países árabes, na Puerta Del Sol em Madrid e até mesmo em Wall Street. Parece que estamos entrando em um novo tempo de ascenso social e político. Nesse processo queremos contribuir com o nosso seminário.
O tema “Economia para Bem Viver” procura conjugar dois conceitos de contextos muito diferentes: De um lado, está o conceito “Wirtschaft”, uma palavra que tem sua história de significados no contexto de língua alemã. De outro lado, está o conceito “Bem Viver” que aqui nos vem de pensadores indígenas andinos e que está sendo recebido e refletido também entre os povos indígenas do Brasil. A pergunta fundamental de ambos é: como organizar a produção, o consumo, para que haja vida boa para toda a criação e essa seja sustentável.
Quando um alemão diz: “Ich geh in die Wirtschaft”, isso pode significar duas coisas: originalmente significava ir para uma hospedaria ou estalagem para encontrar-se com os amigos, tomar uma cervejinha no fim do dia, jogar conversa fora, o famoso “happy hour”, a hora alegre, enfim um lugar para viver bem. Só mais recentemente impôs-se o significado: vou assumir um cargo na diretoria de uma empresa, ou entrar no ramo dos investimentos financeiros.
Aplicando isso ao nosso mundo, o significado mais antigo sugere conceber o mundo como uma grande hospedaria, onde os seus gestores em política e economia fazem questão de que os hóspedes se sintam bem, tenham boa comida, possam alegrar-se, desfrutar boas companhias, desafiar-se mentalmente, enlevar-se espiritualmente, cultivar sua cultura. O significado mais recente sugere um campo de batalha, onde há vencedores e vencidos, onde há ganhos e perdas, onde quem não cresce, desaparece, onde na melhor hipótese impera o antropocentrismo, e o restante da natureza é concebido como matéria prima disponível a ser explorada até a exaustão. A economia na Bíblia propõe algo mais próximo à hospedaria.
O Bem viver nos chega dos indígenas andinos como um novo ancestral horizonte. Inunda Abya Yala com a inspiração e raiz milenar de um novo tradicional modelo de vida e sociedade. Sumak Kawsay – o Bem Viver - não é apenas uma utopia, é a reconstrução da harmonia e da reciprocidade entre a Pacha Mama – Mãe Terra, os seres humanos e todas as formas de vida. É um projeto de futuro que exige mudanças radicais, rupturas com o atual modelo neoliberal e neocolonizador. Diante da profunda crise civilizacional - que alguns, como o teólogo Leonardo Boff, estão chamando de terminal, pelo menos para a espécie humana - o Bem-Viver indígena é uma inspiração, um horizonte de lutas. O Sumak Kawsay é um horizonte em construção, um conceito político que se constitui como alternativo ao atual modelo capitalista neoliberal.
Nesse seminário nos propomos a fazer uma primeira aproximação a essa temática, aproveitando a diversidade que nos compõe, cristãos luteranos do sul brasileiro, de Misiones, do sul da Alemanha, Kaingang e Guarani. Em seguida vamos ouvir uma fala a partir do tema da IECLB, depois do almoço vamos privilegiar uma fala Kaingang e outra fala Guarani, na segunda metade da tarde outra fala, trazendo reflexões desde a parceria de Sulzbach-Rosenberg. Cada um vem trazendo a sua contribuição que vamos ouvir com atenção, procurar compreender, para então amanhã tentar sistematizar e fazer algumas projeções de continuidade.
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