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http://www.revistafapematciencia.org/noticias/noticia.asp?id=644
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Projeto da Unemat colabora no fortalecimento da economia de catadores
19/01/2015 17:00
Grupos de catadores de resíduos sólidos se juntam em Mato Grosso para terem seu “próprio negócio” por meio de cooperativas. Eles têm como base a economia solidária, projeto de sociedade em que não existe exploração do homem pelo homem na relação de produção e nem utilização exacerbada da natureza. Para dar andamento ao projeto, os catadores contam com o apoio e orientação do doutor Sandro Benedito Sguarezi, professor adjunto da Universidade do Estado de Mato Grosso [Unemat], campus de Tangará da Serra.
“Essa é uma forma de fazer ciência conforme a LDB [Lei de Diretrizes de Base], procurando uma estreita relação entre ensino, pesquisa e extensão, além do próprio compromisso social com as pessoas mais carentes. Esses grupos têm condições de empreender também. Basta ter oportunidade e orientação”, destaca o professor ao falar sobre os motivos que o levaram a investir sua dedicação ao tema.
O ramo tende a ser promissor, caso o governo cumpra com o compromisso e obrigação legal de promover a coleta seletiva e implantar os aterros sanitários. Segundo Sguarezi, em Mato Grosso, do material que poderia ser reciclado, apenas 10% são aproveitados. Desse montante, a maior parte, 70%, vem do alumínio, plástico e papel. As indústrias existentes no Estado não só têm lugar para toda a demanda, como falta material para abastecê-las.
A união de cooperativas resultou no projeto da Rede Autogestionária de Cooperativas e Associações de Catadores de Resíduos Sólidos do Estado de Mato Grosso [Rede Catamato], criada em julho de 2012, que foi aprovado e classificado em primeiro lugar no contexto do edital de âmbito nacional e, inicialmente, teve o apoio da Incubadora de Organizações Coletivas Autogeridas, Solidárias e Sustentáveis [Iocass] da Unemat, a qual está vinculada ao Núcleo de Estudos da Complexidade no Mundo do Trabalho [Necomt].
Fonte: Rede Catamato
Sguarezi conta que a pesquisa com os catadores é acompanhada desde 2007, em Tangará, e uma das principais etapas foi desenvolvida entre março e dezembro de 2013, a partir de um curso de formação voltado para o segmento, o “Cataforte, Fase II”, projeto viabilizado por meio da Fundação Banco do Brasil [FBB]. Na ocasião, os trabalhadores conheceram estratégias de como fortalecer e consolidar a Rede Catamato. Eles aprenderam sobre economia solidária, autogestão e redes de cooperação solidária, com base no Plano de Logística Solidária.
À época do curso, a Rede tinha três cooperativas que reuniam 103 associados: a Coopertan, de Tangará, que foi quem iniciou todo o processo; a Asscavag, de Várzea Grande e região metropolitana; e a Coopchamar, de Chapada dos Guimarães. Hoje já são dez, com cerca de 400 sócios, localizadas em várias cidades do Estado, e outras nove já manifestaram interesse em entrar.
Desafios
A renda mensal de quem vive da coleta seletiva no Estado está em cerca de R$ 900. O valor, contudo, conforme Sguarezi, poderia ser 50% maior se houvesse nas cidades a coleta seletiva, que já deveria ser uma realidade, até para benefício do meio ambiente. Isso garantiria, então, cerca de dois salários mínimos por catador. “A renda poderia vir também do trabalho realizado para educação ambiental, caso fosse remunerado, como cursos, oficinas, palestras para ensinar pessoas a reciclar. Hoje, eles não ganham para fazer isso”, lamenta.
Até o momento, nem os aterros saíram do papel, mesmo com pressão do governo federal, que estipulou meta de encerramento dos lixões para agosto de 2014, o que não foi cumprido. “Isso atinge diretamente a vida dos catadores, pois se não tem a coleta seletiva, eles não têm a matéria-prima para trabalhar”, avalia o professor.
Mesmo Tangará da Serra, local onde tudo começou, a situação não é satisfatória. “Em relação ao aterro, Tangará ainda corre atrás do prejuízo porque teve problemas com o licenciamento. Mudou a nova lei dos aeroportos e ficou a uma distância que não compreende o mínimo que a lei exige entre o aterro e o aeroporto. Por isso, não conseguiu o licenciamento. Agora, está procurando uma forma de transferir esse aterro de lugar, porque para construir outro aeroporto é muito caro”, relata.
A extinção dos lixões bastaria para resolver a questão ambiental, mas não social. Esta só seria possível com a coleta seletiva e a criação das cooperativas para ajudar aqueles que um dia viram a necessidade de tirar do lixo o sustento da família.
De acordo com levantamento feito pelo Ipea, em 2013 já eram 400 mil catadores de resíduos no Brasil
[Foto: www.abr-casa.com.br]
A adoção da economia solidária foi a forma que os catadores encontraram para se unir na atividade, uma alternativa dentro do sistema capitalista para os excluídos. “O que os une é a necessidade. Em torno disso, eles vão criando consciência de que se não tiver solidariedade, não existe uma cooperativa forte, uma rede forte. É o processo que vai, de certa forma, educando para a solidariedade”.
Para passar a teoria aos catadores, o professor doutor tem como base a Epistemologia do Sul, voltada para a população emergente, buscando formas diferenciadas de pensar a economia, sociedade, cultura, educação etc. Dessa forma, a vontade do grupo é transcender as teorias existentes como capitalistas, marxistas, para encontrar novas possibilidades para melhorar a vida das pessoas. “Mas é claro que o catador, o agricultor familiar, não está se importando com qual teoria é utilizada. Ele quer ver, na prática, como é que ele resolve os problemas dele”, salienta.
Próximos passos
Conforme Sguarezi, os próximos passos do projeto junto aos catadores são institucionalizar a Rede, registrando-a como cooperativa na junta comercial, buscar mais projetos, recursos e pessoas para trabalhar, pois os trabalhadores não têm formação e precisam da colaboração de indivíduos com educação formal.
A Rede Catamato também está com o projeto Pró-Catador: Empreendimentos Econômicos Solidários e Redes de Cooperação Constituídas por Catadores e Catadoras de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis. Ele é desenvolvido por meio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente [Sema], com recursos em torno de R$ 3,7 milhões. Conforme o professor, contudo, a Sema enfrenta diversos entraves técnicos, políticos e burocráticos para tirar a proposta do papel. “Não consegue fazer operacionalizar os recursos. Ou seja, a verba não chega às bases, aos catadores”, lamenta.
Isso à parte, o projeto colabora constantemente com a redução das desigualdades sociais e isso concorre para que o Mato Grosso comece a contribuir com os Objetivos para o Desenvolvimento do Milênio [ODM] 1 e 7, “1- Erradicar a extrema pobreza e a fome; 7- Garantir a sustentabilidade ambiental”.
Imagem de capa: www.verdinha.com.br
Valérya Próspero
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