carta maior
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Com-intervencao-dos-EUA-caos-no-Iemen-gera-risco-de-uma-guerra-maior-/6/32749
Thalif Deeb, ISP News
Quando o Iêmen norte e sul se uniram em um único país sob a bandeira República Árabe do Iêmen em maio de 1990, um jornal britânico ressaltou com sarcasmo: “dois países pobres agora se tornaram um país pobre.”
Desde seu nascimento, Iêmen continuou a ser categorizado pela ONU como um dos 48 países menos desenvolvidos do mundo, o mais pobre dos pobres, dependente de auxilio estrangeiro e batalhando pela sobrevivência econômica.
Mas o caos político atual – com o presidente, primeiro ministro e gabinete tendo sido forçados a resignar em massa semana passada – ameaça tornar o país em um estado falido.
E, mais significante, Iêmen também corre o risco de se dividir em dois novamente – e pode estar a caminho de outra guerra civil.
Charles Schmitz, um analista do Instituto do Oriente Médio, foi citado semana passada dizendo: “Estamos olhando para a ruptura de um país, e estamos entrando em um processo longo de negociações, mas também podemos estar entrando em uma guerra.”
Em um relatório divulgado na terça-feira, o Grupo de Crise Internacional com sede em Bruxelas disse que a caída do governo botou de pé a transição atribulada e “levanta o verdadeira perspectiva de fragmentação territorial, colapso econômico e violência disseminada se não houver um acordo logo.”
O governo do presidente Abdu Rabbu Mansour Hadi era um aliado próximo dos EUA, que cooperava com os ataques de drones americanos contra a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) localizada nas regiões remotas do Iêmen.
Os EUA estavam tão confiantes com seu aliado que as demissões no governo “surpreenderam oficiais americanos,” de acordo com o New York Times. Matthew Hoh, membro sênior no Centro de Políticas Internacionais (CIP), disse à IPS, “não sei se o Iêmen irá se dividir em dois ou não. Mas acredito que o medo maior é de que o Iêmen descenda ao caos massivo com violência entre muitas facções como vemos no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, todas as nações que foram recipientes da política externa americana de intervencionismo.”
De acordo com um diplomata Árabe, os Houthis que tomaram o poder são parte integral do setor xiita muçulmano, os Zaydis, e são aparentemente financiados pelo Irã. Mas o país é dominado por uma maioria sunita e que é apoiada pelo vizinho Arábia Saudita, ele disse, o que poderia fomentar um conflito sectário – como na Síria, Iraque e Líbano.
Ironicamente, todos eles, incluindo os EUA, têm um inimigo em comum na AQAP, o qual se disse responsável pelo recente massacre nos escritórios da revista satírica em Paris.
“Em suma, é uma bagunça política monumental,” disse o diplomata, falando como anônimo.
Vijay Prashad, George e Martha Kellner Chair em História do Sul da Ásia e Professor de Estudos Internacionais na Faculdade Trinity, disse à IPS que é muito difícil avaliar o que irá acontecer no Iêmen a esta altura.
“As linhas de batalha estão longe de serem claras,” ele disse. O chamado governo pró-EUA tem, desde 2004, jogado um jogo muito delicado com os Estados Unidos em termos de contra-terrorismo.
De um lado, ele disse, o governo do ex presidente Ali Abdullah Saleh e depois Hadi, sugeriu aos EUA que fossem anti al-Qaeda. Mas por outro lado, usaram o fato da al-Qaeda para ir atrás de seus adversários, incluindo os Zaydis (Houthis).
Ele dispensou como “ridículas” as alegações de que os Zaydis são “representantes do Irã”. Disse que são uma confederação tribal que encarou o limite da espada de Saleh-Hadi.
“São decididamente contra a al-Qaeda, e não tornariam necessariamente fácil a existência da AQAP,” disse Prashad ex Edward Said Chair na Universidade Americana de Beirute e autor de “Primavera Árabe, Inverno Libanês.”
Hoh disse à IPS: “baseado nos resultados de décadas de influencias norte-americana em tentar escolher ganhadores e perdedores nesses países ou continuar a jogar o jogo geopolítico absurdo de apoiar uma teocracia repressiva, Arábia Saudita, contra outra, Irã, em guerras representadas, o melhor para os Iemenitas é que os americanos não se metam ou tentam posicionar um lado contra o outro.” A política externa americana no Oriente Médio pode ser categorizada como um desastre, especialmente para o povo do Oriente Médio.
“Os únicos beneficiários das políticas americanos no Oriente Médio tem sido os grupos extremistas, os quais tiram vantagem da guerra, dos ciclos de violência e ódio, para recrutar e preencher sua mensagem e propaganda, e companhias de armas americanas e ocidentais que vêem lucros aumentando cada ano,” disse Hoh, que serviu junto com o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA no Iraque e nos times da embaixada no Afeganistão e no Iraque.
Quando os dois Iêmen se uniram, a maioria das armas que o pais unificado herdou vieram da Rússia, que era um aliado militar próximo do Iêmen do Sul.
Os aviões de guerra do Iêmen e seus helicópteros da ex União Soviética – incluindo MiG-29 jatos e Mi-24 helicópteros de ataque – foram mais tarde reforçados com sistemas de armas americanos e ocidentais, incluindo naves de transporte (transferidas da Arábia Saudita), helicópteros Bell, mísseis anti-tanque TOW e tanques de batalha M-60.
Nicole Auger, uma analista militar monitorando o Oriente Médio/África no Internacional Forecast, uma líder em inteligência defensiva de mercado e meteorologia industrial, disse à IPS que armas americanas e auxilio militar tem sido cruciais para o Iêmen ao longo dos anos, especialmente pelo financiamento do Departamento de Defesa 1206 “treinar e equipar.”
Desde 2006, ela apontou, Iêmen recebeu um pouco mais de 400 milhões de dólares no auxilio da seção 1206 a qual apoiou a Força Aérea Iemenita (com aquisições de transporte e naves de vigilância), suas unidades de operações especiais, seu monitoramente de fronteiras e suas guardas costeiras.
Enquanto isso, o auxilio militar americano sob os programas Financiamento Externo Militar (FMF) e Treinamento e Educação Internacionais Militares (IMET) aumentou substancialmente, ela disse.
Também, o Iêmen está recebendo assistência com os programas de Não-Proliferação, Anti-Terrorismo, Não-Exploração e Programas Relacionados (NADR) e de Controle Internacional de Narcóticos e Aplicação da Lei (INCLE).
De acordo com a justificação orçamentária congressista americana – o apoio americano ao stor militar e de segurança “irá continuar uma prioridade em 2015 de forma a avançar com a paz e a segurança no Iêmen.”
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Com-intervencao-dos-EUA-caos-no-Iemen-gera-risco-de-uma-guerra-maior-/6/32749
Com intervenção dos EUA, caos no Iêmen gera risco de uma guerra maior
Caos político atual, com o presidente, primeiro ministro e gabinete tendo sido forçados a renunciar em massa, ameaça tornar o país um Estado falido.
Quando o Iêmen norte e sul se uniram em um único país sob a bandeira República Árabe do Iêmen em maio de 1990, um jornal britânico ressaltou com sarcasmo: “dois países pobres agora se tornaram um país pobre.”
Desde seu nascimento, Iêmen continuou a ser categorizado pela ONU como um dos 48 países menos desenvolvidos do mundo, o mais pobre dos pobres, dependente de auxilio estrangeiro e batalhando pela sobrevivência econômica.
Mas o caos político atual – com o presidente, primeiro ministro e gabinete tendo sido forçados a resignar em massa semana passada – ameaça tornar o país em um estado falido.
E, mais significante, Iêmen também corre o risco de se dividir em dois novamente – e pode estar a caminho de outra guerra civil.
Charles Schmitz, um analista do Instituto do Oriente Médio, foi citado semana passada dizendo: “Estamos olhando para a ruptura de um país, e estamos entrando em um processo longo de negociações, mas também podemos estar entrando em uma guerra.”
Em um relatório divulgado na terça-feira, o Grupo de Crise Internacional com sede em Bruxelas disse que a caída do governo botou de pé a transição atribulada e “levanta o verdadeira perspectiva de fragmentação territorial, colapso econômico e violência disseminada se não houver um acordo logo.”
O governo do presidente Abdu Rabbu Mansour Hadi era um aliado próximo dos EUA, que cooperava com os ataques de drones americanos contra a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) localizada nas regiões remotas do Iêmen.
Os EUA estavam tão confiantes com seu aliado que as demissões no governo “surpreenderam oficiais americanos,” de acordo com o New York Times. Matthew Hoh, membro sênior no Centro de Políticas Internacionais (CIP), disse à IPS, “não sei se o Iêmen irá se dividir em dois ou não. Mas acredito que o medo maior é de que o Iêmen descenda ao caos massivo com violência entre muitas facções como vemos no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, todas as nações que foram recipientes da política externa americana de intervencionismo.”
De acordo com um diplomata Árabe, os Houthis que tomaram o poder são parte integral do setor xiita muçulmano, os Zaydis, e são aparentemente financiados pelo Irã. Mas o país é dominado por uma maioria sunita e que é apoiada pelo vizinho Arábia Saudita, ele disse, o que poderia fomentar um conflito sectário – como na Síria, Iraque e Líbano.
Ironicamente, todos eles, incluindo os EUA, têm um inimigo em comum na AQAP, o qual se disse responsável pelo recente massacre nos escritórios da revista satírica em Paris.
“Em suma, é uma bagunça política monumental,” disse o diplomata, falando como anônimo.
Vijay Prashad, George e Martha Kellner Chair em História do Sul da Ásia e Professor de Estudos Internacionais na Faculdade Trinity, disse à IPS que é muito difícil avaliar o que irá acontecer no Iêmen a esta altura.
“As linhas de batalha estão longe de serem claras,” ele disse. O chamado governo pró-EUA tem, desde 2004, jogado um jogo muito delicado com os Estados Unidos em termos de contra-terrorismo.
De um lado, ele disse, o governo do ex presidente Ali Abdullah Saleh e depois Hadi, sugeriu aos EUA que fossem anti al-Qaeda. Mas por outro lado, usaram o fato da al-Qaeda para ir atrás de seus adversários, incluindo os Zaydis (Houthis).
“Esse jogo duplo sempre foi conhecido pelos americanos. Cooperavam com isso. Foi o que permitiu a AQAP tomar Jar e outras regiões do Iêmen e segurá-las com alguma facilidade,” disse Prashad.
Ele dispensou como “ridículas” as alegações de que os Zaydis são “representantes do Irã”. Disse que são uma confederação tribal que encarou o limite da espada de Saleh-Hadi.
“São decididamente contra a al-Qaeda, e não tornariam necessariamente fácil a existência da AQAP,” disse Prashad ex Edward Said Chair na Universidade Americana de Beirute e autor de “Primavera Árabe, Inverno Libanês.”
Hoh disse à IPS: “baseado nos resultados de décadas de influencias norte-americana em tentar escolher ganhadores e perdedores nesses países ou continuar a jogar o jogo geopolítico absurdo de apoiar uma teocracia repressiva, Arábia Saudita, contra outra, Irã, em guerras representadas, o melhor para os Iemenitas é que os americanos não se metam ou tentam posicionar um lado contra o outro.” A política externa americana no Oriente Médio pode ser categorizada como um desastre, especialmente para o povo do Oriente Médio.
“Os únicos beneficiários das políticas americanos no Oriente Médio tem sido os grupos extremistas, os quais tiram vantagem da guerra, dos ciclos de violência e ódio, para recrutar e preencher sua mensagem e propaganda, e companhias de armas americanas e ocidentais que vêem lucros aumentando cada ano,” disse Hoh, que serviu junto com o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA no Iraque e nos times da embaixada no Afeganistão e no Iraque.
Quando os dois Iêmen se uniram, a maioria das armas que o pais unificado herdou vieram da Rússia, que era um aliado militar próximo do Iêmen do Sul.
Os aviões de guerra do Iêmen e seus helicópteros da ex União Soviética – incluindo MiG-29 jatos e Mi-24 helicópteros de ataque – foram mais tarde reforçados com sistemas de armas americanos e ocidentais, incluindo naves de transporte (transferidas da Arábia Saudita), helicópteros Bell, mísseis anti-tanque TOW e tanques de batalha M-60.
Nicole Auger, uma analista militar monitorando o Oriente Médio/África no Internacional Forecast, uma líder em inteligência defensiva de mercado e meteorologia industrial, disse à IPS que armas americanas e auxilio militar tem sido cruciais para o Iêmen ao longo dos anos, especialmente pelo financiamento do Departamento de Defesa 1206 “treinar e equipar.”
Desde 2006, ela apontou, Iêmen recebeu um pouco mais de 400 milhões de dólares no auxilio da seção 1206 a qual apoiou a Força Aérea Iemenita (com aquisições de transporte e naves de vigilância), suas unidades de operações especiais, seu monitoramente de fronteiras e suas guardas costeiras.
Enquanto isso, o auxilio militar americano sob os programas Financiamento Externo Militar (FMF) e Treinamento e Educação Internacionais Militares (IMET) aumentou substancialmente, ela disse.
Também, o Iêmen está recebendo assistência com os programas de Não-Proliferação, Anti-Terrorismo, Não-Exploração e Programas Relacionados (NADR) e de Controle Internacional de Narcóticos e Aplicação da Lei (INCLE).
De acordo com a justificação orçamentária congressista americana – o apoio americano ao stor militar e de segurança “irá continuar uma prioridade em 2015 de forma a avançar com a paz e a segurança no Iêmen.”
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