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Política| 26/08/2013 | Copyleft
Médicos cubanos pedem apoio ao povo brasileiro
Enquanto médicos brasileiros os ameaçam com boicotes, queixas-crimes e ações judiciais, os primeiros profissionais cubanos que chegaram ao Brasil falaram em solidariedade, amor, cooperação entre os povos e integração latino-americana. “Não viemos para competir”, diz Alexander Del Toro. “Somente queremos amar e ser amados”, complementa Jaiceo Pereira. Por Najla Passos, de Brasília
Najla Passos
Brasília – Os primeiros 206 médicos cubanos que desembarcaram neste sábado (24), no Brasil, para atuar no programa Mais Médicos, do governo federal, pediram o apoio do povo brasileiro para ajudarem a parcela mais carente da população a ter acesso à saúde. Ao contrário do tom raivoso dos discursos dos colegas brasileiros que os ameaçam com boicotes, queixas-crimes e ações judiciais, falaram em solidariedade, amor, cooperação entre os povos e integração latino-americana.
“Não viemos para competir. Viemos trabalhar junto e esperamos contar com o apoio de todo o povo brasileiro”, pediu Alexander Del Toro, graduado há 17 anos, que se apresentou como natural do centro da ilha, região onde “repousam os restos mortais de Che Guevara”, o médico exemplo de militância pela integração latino-americana.
“O mais importante é colaborar com os médicos brasileiros e ajudar na qualidade de vida do povo daqui. Também é importante a irmandade entre o povo cubano e o povo brasileiro que existe há muito tempo”, acrescentou Oscar Gonzales Martinez, graduado há 23 anos.
“Para nós, é um prazer estar aqui. Somente queremos ajudar. Somente queremos dar amor e receber amor”, afirmou Jaiceo Pereira, de 32 anos, caloura do grupo. “Sou nova, mas tenho bastante experiência. No meu país, se estuda medicina por seis anos consecutivos e, a partir do segundo, já começamos a atender à população. Depois, temos que prestar dois anos de serviço social”, atestou Jaiceo.
A médica, que atuou por 2,5 anos em regiões muito carentes da Bolívia, disse não temer encontrar, no Brasil, condições de trabalho inferiores às oferecidas em Cuba. “Na Bolívia, atuei em locais muito difíceis, mas não retornei. Fiquei até o final”, afirmou. O colega Angel, que atuou em Honduras, mostrou a mesma disposição. “Estive em locais de muitas dificuldades, mas sempre enfrentando a morte para dar qualidade de vida ao povo”, resumiu.
Rodolfo Garcia, graduado há 26 anos, também ressaltou a farta experiência do grupo em países pobres ou com históricos de desastres naturais. “Nossa vinda é fundamental para atender as regiões brasileiras que não têm médicos. Cuba é um país pobre em recursos naturais, mas que tem muita formação em recursos humanos”, garantiu ele, que já atuou antes em regiões carentes do Brasil, como Pará, Amapá e Tocantins.
A polêmica do salário
Os médicos cubanos que chegaram ontem ao país são os primeiros de um total de 4 mil que, até o final do ano, passam a atuar no Sistema Único de Saúde (SUS). Contratados mediante acordo do governo brasileiro com a Organização Pan-americana de Saúde (OPS), irão atuar nos rincões que não conseguiram atrair a atenção dos profissionais brasileiros e estrangeiros que se inscreveram individualmente no programa Mais Médicos.
“Vocês concordam que o governo de Cuba retenha a maior parte dos seus salários?”, perguntava, uníssono, o batalhão de jornalistas que os aguardavam no aeroporto, em referência à polêmica criada pelas entidades médicas brasileiras de que os cubanos atuarão em condições análogas a de escravos, já que, pelo contrato, seus vencimentos serão repassados ao governo de Cuba.
“Todos nós temos nossos salários e postos de trabalho garantidos em Cuba, que é a nossa pátria, o nosso povo. Viemos por questões humanitárias”, rebateu Angel, que disse apoiar qualquer iniciativa que sirva para “aportar mais saúde para o mundo”.
“Vamos ter o suficiente para viver no Brasil e o restante será investido nos hospitais cubanos, em medicamentos para a população de Cuba. Nossas famílias estão lá, nossos postos de trabalho estão lá. E em Cuba, saúde e educação são totalmente de graça. (...) Nos importa muito a vontade de ajudar as pessoas, e não necessariamente o dinheiro”, complementou Rodolfo.
“Amor e solidariedade não têm preço”, resumiu Del Toro, explicando que os cubanos têm uma relação diferente com o dinheiro.
Muitos prós e poucos contras
Os 176 rostos maduros que desembarcaram no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília (DF), se abriam em sorrisos ao se depararem com a recepção calorosa dos cerca de 50 brasileiros que, tão logo souberam da chegada deles, se organizaram espontaneamente, via redes sociais, para o ato de boas vindas.
Faixas, cartazes, aplausos, beijos e abraços eram compartilhados por pessoas comuns e militantes identificados com bandeiras como as da UNE, do MST e da Associação Médica Nacional (AMN), entidade que reúne 650 brasileiros formados em medicina nas universidades cubanas.
“Eles merecem toda a nossa solidariedade pela disposição de vir cuidar do povo brasileiro, de vir nos ensinar uma medicina mais voltada para as pessoas, e não para o dinheiro”, afirmou o historiador Yuri Soares, que fez questão de entregar um buquê de flores a cubana Jaiceo.
“Viemos dar as boas vindas àqueles que toparam assumir um compromisso com a população dos bolsões de miséria deste país, mesmo sob as críticas das entidades representativas dos médicos brasileiros que, ao invés de se preocupar com a população, só querem garantir seu nicho de mercado”, disse o estudante de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Florentino Junior Araújo Leão.
“Vim ver se encontro algum conhecido”, contou o cubano Raul Cabote Acunã, que cursa Engenharia Civil na UnB e é filho de uma médica cubana. “Minha mãe não se inscreveu porque ainda não abriram vagas para a especialidade dela, que é radiologia. Mas quando abrir, ela virá ajudar, com certeza. Já passou oito anos na Venezuela”, explicou ele.
Apenas uma médica brasileira, Ana Célia Bonfim, da Secretaria de Saúde do DF, apareceu para protestar contra a contratação dos colegas cubanos, que classificou como “uma verdadeira palhaçada”. Segundo ela, há pouco tempo, uma novela da TV Globo denunciou o absurdo do tráfico humano de pessoas, narrando a história de prostitutas brasileiras obrigadas a trabalhar na Europa sem direito a salário. “A Opas é o cafetão dos médicos cubanos”, comparou.
Também se manifestou contrário à vinda dos cubanos o professor de cursinho pré-vestibular Adail Pereira Carvalho. “Ao trazer estrangeiros para o país, esse programa Mais Médicos rouba a oportunidade dos dois milhões de jovens carentes brasileiros que sonham em ser médicos”, opinou. Segundo ele, o que o governo brasileiro deveria fazer é permitir que as universidades públicas ensinem medicina aos jovens carentes brasileiros que, após formados, irão atuar nas suas comunidades de origem. “As universidades, hoje, só formam os filhos da elite que, depois, não querem atuar nos rincões do país”, justificou.
“Não viemos para competir. Viemos trabalhar junto e esperamos contar com o apoio de todo o povo brasileiro”, pediu Alexander Del Toro, graduado há 17 anos, que se apresentou como natural do centro da ilha, região onde “repousam os restos mortais de Che Guevara”, o médico exemplo de militância pela integração latino-americana.
“O mais importante é colaborar com os médicos brasileiros e ajudar na qualidade de vida do povo daqui. Também é importante a irmandade entre o povo cubano e o povo brasileiro que existe há muito tempo”, acrescentou Oscar Gonzales Martinez, graduado há 23 anos.
“Para nós, é um prazer estar aqui. Somente queremos ajudar. Somente queremos dar amor e receber amor”, afirmou Jaiceo Pereira, de 32 anos, caloura do grupo. “Sou nova, mas tenho bastante experiência. No meu país, se estuda medicina por seis anos consecutivos e, a partir do segundo, já começamos a atender à população. Depois, temos que prestar dois anos de serviço social”, atestou Jaiceo.
A médica, que atuou por 2,5 anos em regiões muito carentes da Bolívia, disse não temer encontrar, no Brasil, condições de trabalho inferiores às oferecidas em Cuba. “Na Bolívia, atuei em locais muito difíceis, mas não retornei. Fiquei até o final”, afirmou. O colega Angel, que atuou em Honduras, mostrou a mesma disposição. “Estive em locais de muitas dificuldades, mas sempre enfrentando a morte para dar qualidade de vida ao povo”, resumiu.
Rodolfo Garcia, graduado há 26 anos, também ressaltou a farta experiência do grupo em países pobres ou com históricos de desastres naturais. “Nossa vinda é fundamental para atender as regiões brasileiras que não têm médicos. Cuba é um país pobre em recursos naturais, mas que tem muita formação em recursos humanos”, garantiu ele, que já atuou antes em regiões carentes do Brasil, como Pará, Amapá e Tocantins.
A polêmica do salário
Os médicos cubanos que chegaram ontem ao país são os primeiros de um total de 4 mil que, até o final do ano, passam a atuar no Sistema Único de Saúde (SUS). Contratados mediante acordo do governo brasileiro com a Organização Pan-americana de Saúde (OPS), irão atuar nos rincões que não conseguiram atrair a atenção dos profissionais brasileiros e estrangeiros que se inscreveram individualmente no programa Mais Médicos.
“Vocês concordam que o governo de Cuba retenha a maior parte dos seus salários?”, perguntava, uníssono, o batalhão de jornalistas que os aguardavam no aeroporto, em referência à polêmica criada pelas entidades médicas brasileiras de que os cubanos atuarão em condições análogas a de escravos, já que, pelo contrato, seus vencimentos serão repassados ao governo de Cuba.
“Todos nós temos nossos salários e postos de trabalho garantidos em Cuba, que é a nossa pátria, o nosso povo. Viemos por questões humanitárias”, rebateu Angel, que disse apoiar qualquer iniciativa que sirva para “aportar mais saúde para o mundo”.
“Vamos ter o suficiente para viver no Brasil e o restante será investido nos hospitais cubanos, em medicamentos para a população de Cuba. Nossas famílias estão lá, nossos postos de trabalho estão lá. E em Cuba, saúde e educação são totalmente de graça. (...) Nos importa muito a vontade de ajudar as pessoas, e não necessariamente o dinheiro”, complementou Rodolfo.
“Amor e solidariedade não têm preço”, resumiu Del Toro, explicando que os cubanos têm uma relação diferente com o dinheiro.
Muitos prós e poucos contras
Os 176 rostos maduros que desembarcaram no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília (DF), se abriam em sorrisos ao se depararem com a recepção calorosa dos cerca de 50 brasileiros que, tão logo souberam da chegada deles, se organizaram espontaneamente, via redes sociais, para o ato de boas vindas.
Faixas, cartazes, aplausos, beijos e abraços eram compartilhados por pessoas comuns e militantes identificados com bandeiras como as da UNE, do MST e da Associação Médica Nacional (AMN), entidade que reúne 650 brasileiros formados em medicina nas universidades cubanas.
“Eles merecem toda a nossa solidariedade pela disposição de vir cuidar do povo brasileiro, de vir nos ensinar uma medicina mais voltada para as pessoas, e não para o dinheiro”, afirmou o historiador Yuri Soares, que fez questão de entregar um buquê de flores a cubana Jaiceo.
“Viemos dar as boas vindas àqueles que toparam assumir um compromisso com a população dos bolsões de miséria deste país, mesmo sob as críticas das entidades representativas dos médicos brasileiros que, ao invés de se preocupar com a população, só querem garantir seu nicho de mercado”, disse o estudante de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Florentino Junior Araújo Leão.
“Vim ver se encontro algum conhecido”, contou o cubano Raul Cabote Acunã, que cursa Engenharia Civil na UnB e é filho de uma médica cubana. “Minha mãe não se inscreveu porque ainda não abriram vagas para a especialidade dela, que é radiologia. Mas quando abrir, ela virá ajudar, com certeza. Já passou oito anos na Venezuela”, explicou ele.
Apenas uma médica brasileira, Ana Célia Bonfim, da Secretaria de Saúde do DF, apareceu para protestar contra a contratação dos colegas cubanos, que classificou como “uma verdadeira palhaçada”. Segundo ela, há pouco tempo, uma novela da TV Globo denunciou o absurdo do tráfico humano de pessoas, narrando a história de prostitutas brasileiras obrigadas a trabalhar na Europa sem direito a salário. “A Opas é o cafetão dos médicos cubanos”, comparou.
Também se manifestou contrário à vinda dos cubanos o professor de cursinho pré-vestibular Adail Pereira Carvalho. “Ao trazer estrangeiros para o país, esse programa Mais Médicos rouba a oportunidade dos dois milhões de jovens carentes brasileiros que sonham em ser médicos”, opinou. Segundo ele, o que o governo brasileiro deveria fazer é permitir que as universidades públicas ensinem medicina aos jovens carentes brasileiros que, após formados, irão atuar nas suas comunidades de origem. “As universidades, hoje, só formam os filhos da elite que, depois, não querem atuar nos rincões do país”, justificou.
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