---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Schabib Hany <schabibhany@gmail.com>
Data: 25 de junho de 2013 15:34
Assunto: SOMOS TODOS BOLIVIANOS
Para: "Amigo(a)s Estimado(a)s" <amigos.estimados@gmail.com>
Estimado(a) Amigo(a)s,
Estou encaminhando o texto preliminar do manifesto de desagravo às senhoras vítimas da covarde agressão feita por alguns policiais militares e guardas municipais em Corumbá (MS), acompanhados de outros funcionários públicos (municipais), numa sucessão de equívocos protagonizados pela nova administração municipal, cuja obtusidade começa a dar combustível ao já crescente sentimento antipetista em todo o País.
O texto é preliminar (porque será lido por um coletivo para ser assinado por várias pessoas e instituições), mas pode ser divulgado à vontade. E para quem quiser saber de quem é a redação, eu adianto que é de minha exclusiva iniciativa e autoria (mas aberta a contribuições), e desafio os parasitas do poder a qualquer tentativa de intimidação.
Sou da geração que desafiou a ditadura, e não me amedrontam quaisquer feitores travestidos de "esquerdalha", caricaturas, aliás, que me faz cócegas.
Fraternalmente,
Schabib
SOMOS TODOS BOLIVIANOS
MANIFESTO DE DESAGRAVO ÀS TRABALHADORAS AGREDIDAS
Este dia 22 de junho de 2013 entra tristemente para a história da cidadania do coração do Pantanal e da América do Sul pela truculência dos gendarmes que agiram, não como servidores públicos, mas verdugos da irmandade de dois povos que vêm construindo uma nova página na história latinoamericana.
Por meio deste manifesto público, fazemos nosso incondicional e irrestrito ato de desagravo às trabalhadoras da Feira Brasbol agredidas acintosa e covardemente, em plena luz do dia e diante de diversas câmeras, sábado, 22 de junho, por gendarmes despreparados, eivados do ranço xenófobo que vem sendo alimentado irresponsavelmente por algumas autoridades de Corumbá, de modo obtuso e na contramão da história.
Fruto dessa empáfia bizarra, tais agentes do Estado parecem desconhecer que o outrora polo cosmopolita que abrigou quase todos os povos no coração do Pantanal e da América do Sul só pôde permanecer por mais cinco décadas como importante centro comercial intracontinental graças ao mercado andino, predominantemente boliviano, que permitiu um movimento pela fronteira de Corumbá de mais de um milhão e meio de dólares por dia, segundo dados da CACEX (Carteira de Comércio Exterior) do Banco do Brasil.
Graças ao Pacto Pela Cidadania (em que deram o melhor de si cidadãos como Dom José Alves da Costa, Padre Pascoal Forin, Padre Ernesto Sassida, Irmã Antônia Brioschi, Jorge Katurchi, Armando Lacerda, Balbino de Oliveira, Arturo Ardaya, Alexandre Gonçalves, Elemar Ebeling, Lamartine Costa, Maçu Sabatel, Heloísa Urt, Angélica Anache, Luz Marina Silva, Cristiane Santana, Ednir de Paulo e Delari Botega), dois parlamentares defenderam em Brasília a implantação da Área de Livre-Comércio de Corumbá e Ladário, de modo a equalizar as condições de comercialização entre as duas fronteiras irmãs.
De modo fraternal e sincero, estabeleceram-se canais de interlocução entre os atores sociais dos dois lados desta fronteira, tendo servido de instrumento balizador das políticas públicas pioneiras, introduzidas na sequência. Aliás, os motivos que levaram ao engavetamento dos referidos projetos de lei no Congresso Nacional não estão relacionados ao sacrifício feito pela coordenação do Pacto Pela Cidadania, cujos membros foram muitas vezes alvo do escárnio dos que desde sempre se alimentaram da exclusão social pantaneira.
Em pleno século XX, quando as fronteiras nacionais são abolidas pelo inexorável processo histórico de integração dos blocos continentais, é inadmissível que funcionários públicos de formação no mínimo questionável coloquem em xeque uma relação fraternal e profícua desenvolvida nos últimos 60 anos, quando da celebração do Tratado de Roboré pelas autoridades do Brasil e da Bolívia, e que a partir de então culminaram com a construção da Ferrovia Corumbá – Santa Cruz de la Sierra, do Gasoduto Bolívia – Brasil.
Não é demais recordar os desavisados que, desde o início do funcionamento do gasoduto (a partir de 2000), Corumbá tem sido beneficiada pela elevação da parcela que lhe cabe no bolo do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), e por conta disso sua receita não despencou no ranking estadual.
Relembramos ainda aos abutres que se alimentam da discórdia, que vêm acirrando uma hedionda intolerância com bolivianos e árabes (“turcos”) por meio de opiniões racistas, destituídas de qualquer fundamentação lógica, que xenofobia é racismo, crime inafiançável. Antes de passar pelo constrangimento de estar por trás das grades, prudência e civilidade não são demais.
Como a ignorância é torpe e atrevida, cabe aqui recalcar que, a exemplo das Mães da Coronilla (as heroínas que protagonizaram a primeira gesta libertária contra o jugo colonial na chamada América Espanhola, em solo boliviano), a grande Juana Azurduy, cantada pela voz imortal de Mercedes Sosa, também era conterrânea de muitas senhoras humilhadas e agredidas neste nefasto sábado, 22 de junho. A chibata, portanto, feriu de morte a dignidade e a honra da nação latinoamericana, vítima desde sempre dos feitores e jagunços que protegem saqueadores e seus sabujos, não seu povo explorado e humilhado.
Está enlutada a mãe-terra em cujo útero foram gestados cérebros generosos e iluminados como Pedro de Medeiros, Luiz e Mário Feitosa Rodrigues, Lobivar de Mattos, Apolônio de Carvalho, Wega Nery, Admar Amaral (Ramda Larama), Clio Proença, Carlos de Castro Brasil, Alceste de Castro, Ângela Maria Pérez, Magali de Souza Baruki, Renato Báez, Márcio Nunes Pereira, Jorapimo, Heloísa Urt, Augusto Malah dos Santos, Manoel de Barros, Augusto César Proença, Edson Moraes, Dary Júnior, Luiz Taques, Nelson Urt, Bolivar Porto, Edson Castro, Marcelo Fernandes e Felipe Porto.
É por isso que os signatários deste manifesto, à luz da ética universal, da irrestrita solidariedade e da indignação cidadã, declaram-se também em uma só voz: SOMOS TODOS BOLIVIANOS!
Corumbá (MS), 24 de junho de 2013.
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