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Direitos Humanos| 08/06/2013 | Copyleft
Paulo Vanucchi é eleito para Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Nas eleições para a mais alta entidade de Direitos Humanos do continente americano, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, esteve na linha de frente da campanha, fazendo algo bastante incomum para os padrões da política externa de seu país. Kerry esteve pessoalmente em Antígua e jogou todo o peso do Departamento de Estado para garantir a "América para os americanos". No entanto, o Brasil mobilizou grande força para a eleição de seu candidato, Paulo Vanucchi. Por Marcelo Salles.
Marcelo Salles
As ruas de Antígua, na Guatemala, parecem vivas. São quase todas de pedra e, a cada esquina, há um pedaço de ruína que conta um pouco de sua história. Ao longo dos séculos, em duas circunstâncias a cidade foi destruída: uma vez, devido a uma erupção vulcânica, outra pela força de um terremoto.
Seu povo, de maioria indígena, orgulha-se de sua ancestralidade maya, cujo símbolo maior é o pássaro Quetzal. Reza a lenda que, quando o invasor espanhol assassinou o chefe indígena, o Quetzal, que acompanhava tudo de cima, também caiu morto, revelando assim a intensidade da ligação entre homem e natureza. Nos dias de hoje, em Antígua essa ligação parece refeita ao olharmos a perfeita conjugação entre restos dessas muralhas imemoriais e as plantas que as envolvem. Não é possível distinguir onde começa uma e termina a outra.
Na primeira semana de junho, a Organização dos Estados Americanos (OEA) esteve reunida nesta cidade mágica da Guatemala, para sua 43ª Assembleia Geral. Entre os muitos assuntos, um chamava atenção: a eleição para a renovação de três vagas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para as quais concorriam seis países: EUA, México, Colômbia, Brasil, Equador e Peru. A Comissão, como sabemos, tem sido importante ferramenta para a garantia de direitos; no entanto, também vem sendo instrumentalizada por aqueles que querem impedir o desenvolvimento dos países de maneira independente.
Nas eleições para a mais alta entidade de Direitos Humanos do continente americano, três eram os países que tentavam a recondução ao posto. Todos legítimos representantes da direita na região: Estados Unidos, México e Colômbia. John Kerry, o chanceler estadunidense, esteve na linha de frente da campanha, fazendo algo bastante incomum para os padrões da política externa de seu país. Kerry esteve pessoalmente em Antígua e jogou todo o peso do Departamento de Estado para garantir a "América para os americanos".
No entanto, o Brasil estava atento e mobilizou grande força para a eleição de seu candidato. Nosso chanceler, Antonio Patriota, e a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, foram à linha de frente, em Antígua, após intensa campanha por todo o continente. O candidato equatoriano, com o decisivo apoio de seu país e da Venezuela, apresentou-se como uma alternativa novidadeira. Foi-se o tempo em que os países do Sul a tudo assistiam calados, ou com tudo consentiam sem expressar seus legítimos interesses. Como resultado, os países americanos perceberam o que estava em jogo e elegeram o ex-ministro Paulo Vanucchi para uma das três vagas, ao lado dos EUA e do México. No total, foram 60 votos para EUA, México e Colômbia, contra 42 votos para Brasil, Equador e Peru. Cada um dos 34 países tinha direito a 3 votos, totalizando 102 indicações.
A OEA tem em seu currículo desastres da envergadura de terremotos e fúrias vulcânicas, como o reconhecimento do golpe de estado promovido por Pedro Carmona na Venezuela em 2002, além da injustificável expulsão de Cuba em 1962.
O futuro pertence aos deuses, como se sabe. Mas o que aconteceu em Antígua nos permite, ao menos, antever novos rumos para o continente. E se as pedras e plantas mayas falassem, certamente diriam: após tanta devastação, a OEA já começa a encontrar o caminho do equilíbrio.
(*) Marcelo Salles é jornalista. No Twitter é @MarceloSalles.
Seu povo, de maioria indígena, orgulha-se de sua ancestralidade maya, cujo símbolo maior é o pássaro Quetzal. Reza a lenda que, quando o invasor espanhol assassinou o chefe indígena, o Quetzal, que acompanhava tudo de cima, também caiu morto, revelando assim a intensidade da ligação entre homem e natureza. Nos dias de hoje, em Antígua essa ligação parece refeita ao olharmos a perfeita conjugação entre restos dessas muralhas imemoriais e as plantas que as envolvem. Não é possível distinguir onde começa uma e termina a outra.
Na primeira semana de junho, a Organização dos Estados Americanos (OEA) esteve reunida nesta cidade mágica da Guatemala, para sua 43ª Assembleia Geral. Entre os muitos assuntos, um chamava atenção: a eleição para a renovação de três vagas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para as quais concorriam seis países: EUA, México, Colômbia, Brasil, Equador e Peru. A Comissão, como sabemos, tem sido importante ferramenta para a garantia de direitos; no entanto, também vem sendo instrumentalizada por aqueles que querem impedir o desenvolvimento dos países de maneira independente.
Nas eleições para a mais alta entidade de Direitos Humanos do continente americano, três eram os países que tentavam a recondução ao posto. Todos legítimos representantes da direita na região: Estados Unidos, México e Colômbia. John Kerry, o chanceler estadunidense, esteve na linha de frente da campanha, fazendo algo bastante incomum para os padrões da política externa de seu país. Kerry esteve pessoalmente em Antígua e jogou todo o peso do Departamento de Estado para garantir a "América para os americanos".
No entanto, o Brasil estava atento e mobilizou grande força para a eleição de seu candidato. Nosso chanceler, Antonio Patriota, e a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, foram à linha de frente, em Antígua, após intensa campanha por todo o continente. O candidato equatoriano, com o decisivo apoio de seu país e da Venezuela, apresentou-se como uma alternativa novidadeira. Foi-se o tempo em que os países do Sul a tudo assistiam calados, ou com tudo consentiam sem expressar seus legítimos interesses. Como resultado, os países americanos perceberam o que estava em jogo e elegeram o ex-ministro Paulo Vanucchi para uma das três vagas, ao lado dos EUA e do México. No total, foram 60 votos para EUA, México e Colômbia, contra 42 votos para Brasil, Equador e Peru. Cada um dos 34 países tinha direito a 3 votos, totalizando 102 indicações.
A OEA tem em seu currículo desastres da envergadura de terremotos e fúrias vulcânicas, como o reconhecimento do golpe de estado promovido por Pedro Carmona na Venezuela em 2002, além da injustificável expulsão de Cuba em 1962.
O futuro pertence aos deuses, como se sabe. Mas o que aconteceu em Antígua nos permite, ao menos, antever novos rumos para o continente. E se as pedras e plantas mayas falassem, certamente diriam: após tanta devastação, a OEA já começa a encontrar o caminho do equilíbrio.
(*) Marcelo Salles é jornalista. No Twitter é @MarceloSalles.
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