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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/521079-somos-estudantes-trabalhadores-pessoas-que-estao-desempregadas-que-apostam-nessa-luta-para-alcancar-seus-direitos
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Quando O Globo, 15-06-2103, pediu à estudante de Geografia da USP e garçonete Mayara Vivian, de 23 anos, uma entrevista sobre sua atuação no Movimento Passe Livre (MPL), ela propôs um acordo: não queria que o texto fosse focado em seu perfil, mas no grupo que representa.
"Podemos ser qualquer pessoa, são as posições políticas do movimento que constroem as coisas desse jeito. Uma pessoa, sozinha, não faz uma manifestação", diz a jovem, destinatária final das mensagens pelo telefone que definiam para que lado os atos que pararam São Paulo pela redução da tarifa do transporte deveriam seguir.
A reportagem é publicada pelo jornal O Globo, 16-06-2013.
Em contato direto com o negociador do MPL que fica sempre junto ao comando da polícia, Mayara não gosta de ser tratada como líder e lembra que, por princípio, as funções no MPL não são fixas, para evitar o que chamou de “alienação das funções”, conceito que está na boca do grupo:
"Uma coisa é você ser referência, outra coisa é você ser liderança. Não tô nem um pouco a fim de liderar alguém. As pessoas se apropriam da luta delas, o que é o correto, não precisam ficar esperando alguém dizer o que fazer", diz a jovem, citando uma característica que explica a dinâmica dos protestos em São Paulo, na medida em que permite a auto-organização dos manifestantes a cada tentativa de repressão e dispersão dos grupos.
Na última sexta-feira, ela se sentia sortuda por não ter sido presa ou ter se ferido no ataque de bombas de gás e tiros de borracha da polícia, que havia reprimido a quarta manifestação do grupo no centro da cidade no dia anterior. No bar onde trabalha, na Vila Madalena, dividia o tempo entre o atendimento aos clientes e rápidas checagens no telefone, que não parava de tocar.
"A gente tá gastando uma fortuna de crédito de telefone, todo mundo fica me ligando e não consigo retornar, tenho que ligar a cobrar", contou, entre uma ligação do senador Eduardo Suplicy (preocupado com a dimensão tomada pelos protestos do grupo) e um convite para participar do programa “Encontro com Fátima Bernardes” (ela declinou).
O núcleo duro de organização do MPL conta com jovens de mesmo perfil de Mayara — são estudantes ou ex-estudantes da USP, da área de Ciências Humanas, entre 18 e 30 anos. Mas, para ela, quem está nas ruas não é apenas o movimento.
"As 20 mil pessoas que estão ali são estudantes, trabalhadores, pessoas que estão desempregadas, que apostam nessa luta como uma forma de ter uma cidade mais justa e alcançar seus direitos", argumenta a jovem, que é paulistana, saiu de casa aos 15 anos, traz no corpo cicatrizes de confrontos com a polícia em manifestações anteriores do MPL e um número indefinido de tatuagens (“após a quinta a gente para de contar”).
E quem comete os atos de violência em protestos liderados pelo MPL?
"O movimento não é violento. Existem atos isolados de violência e eles não nos representam", afirma Mayara, que acredita instigar na sociedade o desejo de apoio ao lado mais fraco no momento em que a polícia reprime as manifestações.
"Qual violência é pior? Os jovens assassinados na periferia de São Paulo que ninguém está nem aí? Ou uma pessoa que bota fogo em um saco de lixo indignado por ter levado pancada da polícia?", pergunta a jovem, que compara os atos de São Paulo a eventos como a Primavera Árabe e a luta por direitos trabalhistas, “por interferir nos interesses de pessoas que têm poder”.
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