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http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8480&Itemid=79
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Geração sem medo está nascendo para o mundo |
Imagens rolantes |
SEXTA, 14 DE JUNHO DE 2013 |
Desta vez deveriam ter de 15 a 20 mil pessoas na rua. Um ato que caminhava de maneira organizada até a polícia interromper e iniciar a guerra. Toda tentativa de intimidação foi simplesmente ignorada pela manifestação. Quando se tem certeza de uma luta, não se recua diante de palavras que estamos acostumados a ouvir.
Chamou a atenção a quantidade enorme de policiais infiltrados. Eram eles que jogavam fogos e sinalizadores enquanto a absoluta maioria do ato gritava “sem violência!”. Este método estatal é antigo, muito antigo, mas o Brasil permanecia fingindo que deixou de existir. Assim como o desejo de realização de uma manifestação vitoriosa acabou novamente sendo verbalizada espontaneamente pelos manifestantes, estimulados por uma preocupação coletiva em torno da nossa pauta.
Obviamente, a repressão estava decretada. Não só pela ânsia de soldados mal pagos, treinados para reprimir a qualquer custo, mas respaldado pelos governos municipal, estadual e federal. Haddad declara que não vai abaixar a tarifa e que considera as manifestações violentas. Alckmin vomita as mesmas palavras de sempre, pela punição, repressão e criminalização. E José Eduardo Cardozo, o “professor” de direito que, além de encabeçar o anúncio oficial do genocídio indígena com as mudanças no método de demarcação de terras, afirma que o governo federal está à disposição para ajudar na repressão.
A repressão foi tremenda. Aliás, por curiosidade, quanto se gasta para reprimir uma manifestação? Helicópteros, 700 soldados, balas de borracha, bombas, cavalos, combustível... Gasta-se o quanto os governantes acharem necessário para proteger o Estado. Gasta-se cotidianamente contra os pretos, pobres e periféricos. A manifestação se dispersou e se juntou mais de uma vez. Está certo, nem a polícia sabia para onde dispersar. Talvez a intenção nem fosse esta. Mas também os manifestantes não viam sentido em fazê-lo voluntariamente. Afinal, estamos certos. Agora, é hora novamente de lutarmos sem trégua pela libertação dos nossos.
Pois então. Do outro lado, até a mídia, atingida pelas balas de borracha, passa a questionar os motivos de tanta intransigência dos governos. Ora, a pauta voltou ao seu lugar! Já não é lunático pedir a revogação dos aumentos. E mais, já não é aceitável tamanha violência estatal.
Mas o emocionante nesta jornada toda, para além da gostosa e distante sensação de nos juntarmos a jovens e trabalhadores de todo o mundo que estão em luta, é saber que o Estado e a mídia burguesa estão formando uma geração de ativistas. Saber que as lutas contra o aumento ocorreram em diversas outras cidades como Porto Alegre, Natal, Maceió e Rio de Janeiro nos dá força. Saber ainda que uma manifestação foi realizada em Curitiba, simplesmente em solidariedade às demais, é arrepiante.
É muito possível revertermos o aumento. Porém, mesmo sob uma derrota triunfal, uma geração está sendo forjada pela experiência prática sobre o que é nossa democradura, a necessidade da organização coletiva e da disputa de uma sociedade inteira que, mesmo não entendendo essas cabeças juvenis, sabem que elas têm razão. Ah, e uma geração com um repúdio gigante à mídia da ordem.
No Chile, diante das massivas manifestações estudantis, diz-se que esta é uma geração sem medo, pois não viveu os tempos sombrios da ditadura oficial e tampouco está adaptada à ordem. E é a própria geração esmagada pela ditadura e depois pelo discurso neoliberal quem chega a esta conclusão, contribuindo assim para repassar o bastão da história. E isto se transforma em solidariedade, inclusive dos familiares e conhecidos dos manifestantes.
É cedo pra dizer isso do Brasil. Muito cedo. Ainda viveremos muita barbárie fruto da desigualdade social, adormecida enjoativamente pelo discurso da pátria de chuteiras e por uma sensação de estabilidade. Mas não é exagero afirmar que não somos a geração amorzinho, da conciliação de classes e da organização orquestrada pelo capital. E de repente, nos vácuos da calmaria e do senso comum, nasceremos para o mundo.
Fábio Nassif é jornalista.
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