quinta-feira, 24 de outubro de 2019

É difícil para o corrupto Riva se tornar herói.

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ENOCK CAVALCANTI: É difícil para o corrupto Riva se tornar herói. LEIA INTEGRA DA DELAÇÃO

É difícil para o corrupto Riva se tornar herói
Por Enock Cavalcanti
Meus amigos, meus inimigos: José Geraldo Riva, corrupto confesso, quer se livrar da cadeia antes que venham sobre ele as esperadas condenações na segunda instância. Riva não quer passar o resto da vida atrás das grades, vendo o sol nascer quadrado – e temendo o olhar faminto de algum taradão do Comando Vermelho. Quem tem cu tem medo. Mas quem planta ventos, colhe tempestades.
Riva, imagino eu, no meu pobre imaginar, não quer ficar longe das mordomias, da vida de conforto e de delícias a que se acostumou, como um dos homens que mais tempo reinou sobre a política e sobre os negócios  e sobre os destinos deste trágico Estado de Mato Grosso – onde a riqueza abunda mas tantas e tantas pessoas vivem na mais sórdida miséria. Uns se divertem, uns enriquecem e a maioria continua com a bunda na janela para os poderosos passarem a mão nela.
Só que está sendo difícil para esse corrupto tão conhecido, já exposto diante de Mato Grosso, do Brasil e do mundo, transfigurar-se em herói, um pecador arrependido que agora se dedicaria a expurgar o pecado. São tantas implicações que podem ser feitas a partir das revelações que ele tem condição de botar na mesa. Por isso, Riva enfrenta mais barreiras do que afagos quando fala em bater com a língua dos dentes. Sugerem que ele só quer escapulir do Inferno, sem entregar de fato provas consistentes. A delação seria então mais um tipo de golpe do sr. Riva.
É difícil tornar-se herói, avisara o poeta Aldir Blanc. Riva tá provando desta dificuldade e está vendo como dói.
Dominus dominium juros além
Todos esses anos agnus sei que sou também
Mas ovelha negra me desgarrei, o meu pastor não sabe que eu sei
                                                                                      (Aldir Blanc, Agnus Sei)
Como deve ser constrangedor para Riva ver os jornais amigos e os jornalistas amestrados de antigamente, aos quais garantiu tanto dinheiro e tanto poder por estes vinte anos afora, tratando-o agora como um desdentado, um porra louco, um pobre homem destituído do poder até mesmo para amedrontar seus antigos comensais. E as páginas da mídia se abrem para que os parceiros de ontem sugiram que Riva talvez esteja desmiolado, pisando impiedosamente na sua própria imagem de todo poderoso que ele, durante tanto tempo, conseguira cultivar.
Mas, tido como cristão, Riva devia saber muito bem o que acontece com aqueles que constroem seu castelo na areia.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertament(e: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.
E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.

(Jesus Cristo, no Evangelho Segundo Mateus, 7: 21-27)
O que tantos temem é que se Riva falar realmente tudo que viveu e que tramou, o castelo de cartas da política de Mato Grosso viria abaixo, desde aqueles tempos hoje imemoriais do governador Dante de Oliveira, quando o contador e deputado estadual José Geraldo Riva, do pequenino partido chamado PMN despontou na política de Mato Grosso.
Sim, o homem das Diretas Já talvez tenha tido pés de barro – e esse calcanhar de Aquiles talvez se chame José Geraldo Riva e não Antero Paes de Barros. Uma história que ainda precisa ser contada, mas pelo menos no rascunho que vazou esta semana, Riva se mantém silente sobre ela.
Seria bom que Riva contasse tudo para que se desmontasse os túmulos caiados que alguns, com grande maestria estilística, conseguiam transformar em suntuosas catedrais.
Pela que a imprensa vazou, nesses dias, já pudemos sentir no cangote o bafo putrefato de uma corrupção aparentemente incontrolável. Quem foi que ficou por fora da corrupção na Assembleia? Só o Pivetta. E aí a imprensa fala isso sem lembrar das reportagens do Romilson Dourado sobre a Cooperlucas. Ah, como é seletiva a nossa imprensa. Como é seletiva a nossa História.
À nudez sem véus diante da santa inquisição
Ah, o tribunal não recordará dos fugitivos de shangri-lá
O tempo vence toda a ilusão
                                                                          (Aldir Blanc – Agnus Sei)
O que Riva conta neste novo trecho de delação que, pelo que se especula, talvez esteja sendo vazado justamente para tentar impedir que Riva conte toda a sua história?!
Espantou a alguns saber que todas as Mesas Diretoras eleitas para comandar a Assembleia Legislativa de Mato Grosso talvez tenham sido escolhidas tendo como argumento principal por parte dos componentes da chapa vencedora, o uso de muita propina.
Poucos deputados teriam resistido a esta atração fatal.
Na pretensa delação, Riva relata como teria funcionado o pagamento de propina mensal aos deputados estaduais e chega a falar na apresentação de diversas provas como transferências bancárias, depósitos bancários, notas promissórias e testemunhas, que documentariam o repasse de dinheiro aos deputados para mantê-los na base do governo. Já os que não faziam parte da base, no caso, a  oposição, eram excluídos do esquema.
Os esquemas segundo Riva foram iniciados em 1995, com o até agora inatacado pela História e pelos historiadores Dante de Oliveira e teriam continuado nas gestões de Blairo Maggi e Silval Barbosa. Maggi teria encaminhado para os gulosos parlamentares a propina por meio de suplementação. Talvez tenha se tornado tudo legal mas certamente foi imoral.
Pelo que conta Riva, na gestão de Maggi, aquele governador que era tão rico que não precisaria roubar (sic), teriam sido pagos entre R$ 30 e 35 mil de propina aos deputados da Assembleia. Já na gestão Silval Barbosa, escolhido para o cargo por Maggi, o valor da propina teria chegado a R$ 50 mil. Tal padrinho, tal afilhado. E na vasta literatura sobre o crime organizado padrinho é sinônimo de chefe mafioso, como se pode conferir nos livros de Mario Puzo, nos filmes de Copolla, de Martin Scorsese.
Para melhor conhecimento de todos, a PAGINA DO E divulga no anexo a íntegra da pretensa delação premiada de José Geraldo Riva. A autenticidade da delação é questionada pelo próprio Riva. E o vazamento desta pretensa delação, alimentada pelos jornais amigos e pelos jornalistas amestrados, e que avança impunemente diante do silêncio do Ministério Público e da Justiça, talvez seja uma forma de impedir que Riva delate de fato tudo que sabe, dando concretude a suas revelações.
Ah, como é complicada a política de Mato Grosso! Um labirinto. Um saco de gato. Um beco sem saída. Um novelo sem fim. Um rolo tremendo.  Uma formação de quadrilha. Para sobreviver em meio a ela, talvez só sendo aquele herói impossível que o poeta Aldir almejara. Vencer Satã, por aqui, nem com orações, porque Satã quase sempre nos aparece com cara de anjo – e muito dinheiro para distribuir.

Enock Cavalcanti, jornalista e blogueiro, é editor do blogue PAGINA DO E desde 2006. Como jornalista responde, até hoje, a processos que lhe foram movidos por Riva como reação ao fato de que ousou questionar o trato de Riva com a coisa pública.

 CATEGORIAS:Justiça dos homens

domingo, 8 de setembro de 2019

Arnaldo Antunes lança poema-manifesto contra Bolsonaro


http://www.esquerdadiario.com.br/Arnaldo-Antunes-lanca-poema-manifesto-contra-Bolsonaro?fbclid=IwAR09MXr91rB4TjSlhVl2PJibgZHmIUfmhGGF3Jv-rcQUX7eSy3kPfPWQ4d8

A ARTE CONTRA BOLSONARO

Arnaldo Antunes lança poema-manifesto contra Bolsonaro

Nessa semana o cantor e poeta Arnaldo Antunes lançou em sua página do Facebook o que chamou de “desabafo e não um poema”.


São Paulo | @gabriela_eagle
segunda-feira 15 de outubro de 2018| Edição do dia

No vídeo a letra do texto em que o autor fala do assassinato de Môa do Katendê “por conta de uma divergência política num bar”, sobre a extrema-direita agindo contra a arte, cultura, educação, liberdade de expressão, e democracia, sobre como o mercado vem apoiando Bolsonaro sem ligar para aonde caminha o Brasil. O ódio e o horror que pregam Bolsonaro reproduzindo frases do mesmo como: “eu apoio a tortura”, “eu defendo a ditadura”, “eu vou fechar o congresso”, “não servem nem pra procriar”, “não te estupro por que você não merece”, “a gente vai varrer esses vagabundos daqui”, “o erro foi torturar e não matar”, “viadinho tem que apanhar”.
Continua colocando os argumentos de quem defende o candidato: “sim mas veja a Venezuela”, “é para acabar com a corrupção”, “nós queremos segurança”, “não é bem assim”. Arnaldo questiona como explicar o que é Bolsonaro para esses que só querem matar, atirar, vingar, em nome da pátria, família, propriedade, segurança. Arnaldo cita Marielle e “sua placa rompida rasgada, desonrada, pelas mãos truculentas de brutamontes prepotentes com suas camisetas estampadas com a face do coiso”. Relembra o apoio de Bolsonaro a Ustra “aquele que além de torturar levava crianças para verem suas mães torturadas. A vitória da direita excita “em outros o desejo de exercer seu obscuro poder de milícia, polícia, esquadrão da morte”.
Arnaldo faz referência Intervenção Federal do Rio de Janeiro, cita outras frases mais recentes de Bolsonaro: “ não vai ter ONG, não vai ter ativismo, não vai ter mimimi”, e to da a campanha de Bolsonaro que se pauta em fake newse em seguidores que cravam “suásticas nazistas na pele da menina que usava Ele Não”. Arnaldo continua colocando quais serão os resultados de uma extrema-direita no poder, cita o Museu Nacional, o projeto “Escola sem Partido”, a reforma curricular, o “golpe que precisa parir outro golpe, ou autogolpe”. Tudo em nome Deus Bolsonaro é contra “os dferentes os misiráveis os favelados, os do outro lado, os que se manifestam, ou contestam, ou pensam de outra forma, ou se vestem de outro cor, ou tem outra cor. Arnaldo denuncia os que agora se declaram neutros “lavando as mãos como Pilatos”, ou aqueles que declaram os dois lados extremistas. Bolsonaro e a extrema-direita são defensores da Ditadura e conseguem respaldo no STF quando o seu presidente afirma que não foi golpe militar, foi um movimento, porém para que não tenhamos o sentimento de derrota o autor nos chama dizendo que “ainda dá para evitar, ainda é tarde de menos para conter o ódio” e termina declarando o seu voto em Haddad.
Abaixo colocamos na íntegra o vídeo e poema:

IstoNãoÉUmPoema
isto não é um poema

desabafo
que não pude não
fazer e não pude fazer
de outra forma
que não fosse
assim
fatiando as frases
no espaço
aqui
hoje
eu vi
aterrorizado
um artista assassinado
Moa do Catendê,
mestre de capoeira,
autor do Badauê —
por conta de uma divergência política num bar
da Bahia
depois corri o dedo
sobre a tela e
vi e ouvi
arrepiado
Luiz Melodia
(também negro e compositor,
também com o cabelo rastafari,
como a vítima do post anterior)
cantando
“no coração do Brasil”
e repetindo muitas vezes
esse refrão
“no coração
do Brasil”
“no coração do Brasil”
que tento sentir
pulsar ainda
entre a luz de Luiz
e a treva
desse buraco vazio
que não pulsa mais no peito
de Moa do Catendê
e “não existe amor em SP”
ou “no coração do Brasil”
fraturado
nesses dias
brutos
de coturnos
chucros
a chutar a cara
de quem
ama
arte
cultura educacão
liberdade de expressão
diversidade
cidadania
solidariedade
democracia
mas não se dá
a mínima
o que importa é se subiu
a bolsa
caiu
o dólar
se todos vão prosseguir
seguindo
docilmente para o abismo
nessa insanidade coletiva
em que o Brasil nega
qualquer Brasil
possível
cega
qualquer futuro possível
e o ódio
o horror e o
ódio
e nada que se diga faz sentido
mais
para quê
expor na cara desses caras
a palavra explícita
(gravada em vídeo e repetida, repetida, repetida)
do seu “mito”
dizendo
“eu apoio a tortura”
“eu defendo a ditadura”
“eu vou fechar o congresso”
“não servem nem para procriar”
“não te estrupro porque você não merece”
“a gente vai varrer esses vagabundos daqui”
“o erro foi torturar e não matar”
“viadinho tem que apanhar”
etc etc etc etc etc
e tudo mais
que repete incansavelmente
há anos
ante câmeras e microfones
para quê mostrar de novo
e de novo
o mesmo nojo
se é justamente
por isso
que o idolatram?
e sempre haverá
os que vêm disfarçar
dizendo:
“estamos entre dois extremos”
“sim, mas veja a Venezuela”
“é para acabar com a corrupção”
“nós queremos segurança”
ou
“não é bem assim…”
enquanto constatamos cada vez mais
que sim,
é assim
mesmo, é assim
que é
mas
como li por aí:
“como explicar a lei Rouanet para quem
ainda não assimilou a lei Áurea?”
ou: como explicar a lei da gravidade
para quem ainda crê
que a terra é plana?
e querem defender sua ignorância com dentes
e garras
querem
matar atirar vingar
a quem?
em nome de quem?
(pátria, família, propriedade, segurança?)
se nessa seara não há direitos
nem respeito
ensino ou dignidade
só horror e
ódio, ódio
e horror
as palavras perdem a clareza
os valores perdem o valor
a vida perde o valor
Marielle
remorta remorrida rematada
por sua placa
rompida rasgada desonrada
pelas mãos truculentas de
brutamontes prepotentes
com suas camisetas estampadas
com a face do coiso
que redemonstra sua monstruosidade
quando vende
em seus próprios comícios
camisetas de outro
ultra-monstro
ustra

aquele que além de torturar
levava crianças para verem
suas mães torturadas

e esses mesmos
abomináveis
que, diante de uma claque vergonhosa,
se orgulham
de terem
rasgado as placas
com o o nome Marielle Franco
estão sim
agora
eleitos
satisfeitos
mas não saciados
de todo o sangue
de inocentes
que há de correr
só por serem
diferentes
excitando em outros
o desejo de exercer
seu obscuro
poder
de milícia polícia esquadrão da morte
e o anúncio da Rocinha metralhada
como solução
a barbaridade finalmente
institucionalizada
como diversão
o Brasil finalmente
sem coração
fora da ONU
e dos acordos internacionais pelo
meio-ambiente
sem controle
de sensatez ou mentalidade
sem limite humanitário
“não vai ter ong!”
“não vai ter ativismo!”
“não vai ter mimimi!”
bradam
cheios de si e de ódio
criminosos contra o crime
opressores pela família
amorais pela moral
apesar de todos
os alertas
da imprensa internacional
de esquerda, de centro, de direita
só não vê quem não quer
a tragédia anunciada
divulgada
não como boato
mas escancarada
- mente
enquanto
empoderados pelo discurso
de ódio
de horror e ódio
seus eleitores
já saem pelas ruas
dando tiros
e gritos
enxurradas de fakes
suásticas nazistas gravadas com canivete
na pele da menina
que usava “ele não” estampado na blusa
e a promessa de violência desmedida
se concretizando
antes mesmo de começar o segundo turno
e nem um centímetro de terra para os índios
e nem um pingo de direitos civis ou humanos
e a volta da censura e o ódio,
o ódio, o horror
e o ódio
pra encerrar de vez
o sonho de uma nação
que tem a chance
de dar ao mundo
sua contribuição
original
agora fadada a repetir o que de pior já houve
na história
sem história agora
sem Museu Nacional
nem cultura nem educação
abolir filosofia e arte
em seu lugar:
moral e cívica
escola militar
religião
geografia dos lucros e dividendos
massacre das minorias
horror e ódio
e ódio
e horror
crescente permanente enquanto dure
pois ninguém larga o osso assim tão fácil
depois de um golpe
que precisa parir outro golpe
ou autogolpe
alimentado por todas as fakes e facas
contra as costas de artistas
como Moa
mas na cabeça de quem apóia
tudo se justifica:
o fascismo
a tortura dos presos
o sumário julgamento sem juri
autorização dada à polícia
para matar
e o ódio aos pobres
as blitzes ostensivas
a guerra declarada
dos que aceitam assassinos para combater bandidos
se está tudo invertido mesmo
pobre elegendo milionário,
pelo avesso e ao contrário
então se autoriza a sórdida
barbárie
dos fortes contra os fracos
algo está muito doente
no Brasil
no descoração do Brasil
que mente, se omite, agride, regride
para avançar sem freios
em direção ao fascismo
seguindo a música hipnótica do
ódio,
horror e ódio
pregados em igrejas
em nome de Deus
e de Cristo
só desamor em nome de Cristo
violência e brutalidade em nome de Cristo
armas e tortura
e preconceito em nome de Cristo
de Deus e de Cristo
armar a população
para metralhar os adversários
os diferentes
os miseráveis
os favelados
os do outro lado
os que se manifestam
ou contestam
ou pensam de outra forma
ou se vestem
de outra cor ou tem
outra cor ou
qualquer pretexto
que se crie
para espalhar o ódio, o horror
e o ódio
do machismo ao estupro
da mentira ao linchamento
do homicídio ao genocídio
(“tinha que ter matado pelo menos trinta mil!”)
já sem democracia
palavra vazia
em boca
de quem compactua
(e não são poucos)
pensando ser
possível
alguma forma de
neutralidade
nesse momento
como Pilatos
lavando as mãos
a chamada mídia
tenta fazer média
ao dizer que os dois lados são igualmente
extremistas e perigosos
mas então
onde estavam nos últimos três mandatos
e meio
antes do pesadelo Temer?
estavam numa ditadura comunista
e não sabiam?
na verdade
todos sabem muito bem
que o extremismo
vem de um só
lado, que
quer se eleger para acabar
com eleições
e que o grande perigo é mesmo
esse jogo
de equivalências que,
na verdade
serve ao monstro
pois a omissão é missão impossível
neste agora
impossível
mascarar o sol
da ameaça
hostil e explícita
do nazismo
crescente
com a peneira furada
de um bom senso
mediano hipócrita indiferente
que sempre
vai dizer:
sim, mas a Venezuela…
como se não tivéssemos ouvido exatamente isso
em 64,
quando diziam:
— Sim, mas Cuba…
para justificar a ditadura militar
que tanto elogiam
hoje em dia
e que o atual
presidente
do nosso Supremo Tribunal Federal
decidiu
que agora vai chamar
de “movimento”
em vez de
“golpe militar”
para adoçar um pouco a boca
amarga
do sangue
impregnado
que não vai sumir assim
mudando a nomenclatura
desnomeando a já tão dita
“ditadura”
mas esse des-
- equilíbrio
ético
que diz
preferir uma autocracia
perfeita
a uma
defeituosa
democracia
esse
erro
que nenhum arrependimento será
capaz de reparar
quando for tarde
demais
ainda dá
para evitar
ainda
é tarde
de menos
para
conter
o ódio,
o horror e o ódio
ainda

dd
a
d


*

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Fórum lança relatório sobre Direitos Humanos e da Terra em Cuiabá/MT; CEBs participam

http://cebsdobrasil.com.br/2019/09/05/18974/

Fórum lança relatório sobre Direitos Humanos e da Terra em Cuiabá/MT; CEBs participam



Fórum lança relatório sobre Direitos Humanos e da Terra em Cuiabá/MT; CEBs participam

Texto: Gibran Lachowski/assessoria comunicação Regional Oeste 2
Fotos: Ana Paula Carnahiba/asses. comunicação Regional Oeste 2
Integrantes de movimentos sociais, comitês, sindicatos, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), congregações religiosas e da rede pública de educação participaram do lançamento do relatório do Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso. A atividade ocorreu nesta quarta-feira à noite (dia 04), em Cuiabá/MT, no salão paroquial da igreja do Rosário e São Benedito, e fez parte da programação do 25º Grito d@s Excluíd@s. Houve lanche com frutas, sanduíches, bolos, sucos e café. Teve música, mãos dadas, punhos cerrados e muita animação. Confira galeria de fotos ao final da matéria.
Cerca de 70 pessoas participaram do lançamento do relatório, que está na quinta edição. Algumas delas falaram sobre os textos publicados no livro. O material é resultante do esforço de dezenas de pessoas e entidades, entre elas várias ligadas à igreja, como Centro Burnier Fé e Justiça, Pastoral do Migrante, CEBs e Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O relatório é um instrumento de DENÚNCIA dos problemas da realidade e ANÚNCIO de como encarar e viver a vida. O material tem uma palavra central, que é ESPERANÇAR. Esperançar é o contrário de esperar. É agir e fazer acontecer.

DENÚNCIA

Valdir Seze, da Comissão Pastoral da Terra (CPT)/Nova Canaã do Norte, foi uma das pessoas que apresentou o relatório. Ele falou que a violência no campo é causada por um conjunto de crimes e eles são cometidos principalmente pelos grandes fazendeiros. Entre os crimes estão:
– a grilagem de terras pelos empresários do agronegócio;
– o desmatamento ilegal;
– a extração ilegal de madeira e minérios;
– a exploração de trabalhadoras e trabalhadores;
– a concentração de muitas terras em poucas mãos;
– a sonegação de impostos (pelos grileiros de terras).
“E quando o povo se organiza pra sair do sofrimento, lutar pelos direitos e cobrar das autoridades, aí vem o conflito. Por isso este relatório dos direitos humanos é uma denúncia”, disse Valdir.

PARTE A PARTE

O relatório é dividido em quatro partes: Esperançares Basilares, Esperançares e Trabalho, Esperançares Socioambientais e Esperançares de Constituição. A primeira reflete sobre as situações urbanas, do campo e territórios no que diz respeito à política de proteção e direitos humanos. A segunda parte traz questões como o trabalho escravo, agronegócio, migrantes e pessoas atingidas por barragens.

Integrantes das CEBs e Pastoral da Juventude.

A terceira mostra a realidade dos povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e outros grupos afetados pelo agrotóxico e pelo colapso climático. E a quarta parte do relatório reflete sobre as dimensões religiosa e espiritual, do corpo feminino e das lutas de gênero, além da comunicação popular.

ESPERANÇA

O bispo emérito de São Félix do Araguaia/MT, dom Pedro Casaldáliga, diz que a esperança é revolucionária. E que, apesar da dificuldade, é preciso ter ânimo e seguir em frente. Nessa sintonia é que Glória Maria Muñoz falou da organização e resistência das mulheres da região da Baixada Cuiabana.
São mulheres da cidade e do campo. A maioria é pobre e sofre violência. Mas resistem e não desistem. E ainda são apoio umas para as outras. “Uma parte delas mexe com empreendimentos solidários, de forma cooperativa. Elas se ajudam quando um equipamento de trabalho quebra, fazendo promoções para juntar dinheiro. Isso é lindo e maravilhoso”. Glória faz parte do Fórum de Mulheres Negras/MT e escreveu o texto em parceria com a doutoranda em Educação, Denize Rodrigues de Amorim.

LEIA O RELATÓRIO

Acesse e baixe a quinta edição do Relatório dos Direitos Humanos e da Terra aqui. Ou aqui. E no site você pode ler os quatro relatórios anteriores.

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Relatório Estadual de Direitos Humanos e da Terra é lançado em MT

https://www.24horasnews.com.br/noticia/relatorio-estadual-de-direitos-humanos-e-da-terra-e-lancado-em-mt.html

Relatório Estadual de Direitos Humanos e da Terra é lançado em MT


LANÇAMENTO

Relatório Estadual de Direitos Humanos e da Terra é lançado em MT

Jornalista Jonas Jozino | 05/09/2019 10:22:52

  Este é o 5º relatório produzido pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra e conta com a colaboração da gestora governamental e pesquisadora Denize de Amorim.

 
 
RENATA NEVES
Assessoria AGGEMT
 
Foi lançado nesta quarta-feira (04), em Cuiabá, o 5° Relatório Estadual de Direitos Humanos e da Terra. O documento é produzido pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT) a cada dois anos e expressa um panorama geral das dimensões relacionadas com os direitos humanos e do ambiente como partes intrínsecas do perfil mato-grossense.

Para melhor compreensão didática, o relatório foi dividido em quatro grandes seções, as quais apresentam reflexões acerca das conjunturas urbanas, de campo, ou de outros territórios, entre os pactos e acordos das políticas de proteção e de direitos humanos; considerações sobre os conflitos do trabalho escravo, agronegócio ou dos migrantes, incluindo os atingidos pelas barragens; informações sobre povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e outros grupos sociais afetados pelos agrotóxicos e pelo colapso climático; e dimensões ontológicas do ser religioso, dos meios de comunicação, do corpo feminino e as lutas de gênero.

Pelo terceiro ano, a gestora governamental, doutoranda em Educação e pesquisadora do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da UFMT, Denize Aparecida Rodrigues de Amorim, deu a sua contribuição ao documento, escrevendo, em autoria conjunta com a assistente social, mobilizadora e articuladora nos movimentos de mulheres, Gloria María Grández Muñoz, o artigo "Organização e a resistência feminina na Baixada Cuiabana".

Em seis páginas, as autoras enfatizam o trabalho de oito grupos de mulheres, que persistem na ação coletiva de viver e de promover os direitos humanos das mulheres. "A motivação principal deste texto é dar visibilidade às narrativas dessas mulheres responsáveis por organizações e movimentos sociais que fazem a diferença nas relações e, fundamentalmente, nas vidas delas, para torná-las mais leves pela solidariedade feminina", diz trecho do artigo.

Denize de Amorim explica que o grupo foi escolhido devido à aproximação das autoras e que as mulheres entrevistadas representam algumas de tantas outras que tem atuação importante na região da Baixada Cuiabana. "Nesse sentido, desenvolvemos uma metodologia de entrevistas e as descrevemos para que pudessem ter visibilidade pela sua atuação de engajamento na promoção e autonomia das mulheres".

A pesquisadora destaca a importância do relatório para a sociedade mato-grossense. "O relatório vem se consolidando como indicador analítico e descritivo das ameaças e das denúncias às vidas, daqueles que lutam por terra e moradia, por justiça social, por direitos fundamentais. Evidencia também as causas de degradação do meio ambiente e apresenta formas de resistências de diversas organizações que procuram, em meio a tantos problemas, sobreviver à crise socioambiental por qual passa a humanidade".

O 5º Relatório Estadual de Direitos Humanos e da Terra foi organizado por Inácio Werner, Michèle Sato e Déborah Santos e conta com a colaboração de outras 27 pessoas que participam de diversas atividades ligadas às ações de direitos humanos e que assinam artigos sobre as temáticas abordadas.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Educação e Direitos Humanos

https://revistacult.uol.com.br/home/educacao-e-direitos-humanos/

Educação e Direitos Humanos

Edição do mês
Educação e Direitos Humanos
(Foto: Liz Dorea)

Vivemos tempos sombrios. Sombrios e cruéis, tanto para a educação quanto para os direitos humanos. É preciso força moral, coragem e, sobretudo, estarmos juntos nas lutas que continuam e exigem de nós informação confiável, organização, objetividade e também, apesar de tudo, uma boa dose de esperança.
A realidade nacional, nos dois temas aqui escolhidos, é angustiante. Desde o governo do usurpador M.T., com a Emenda Constitucional do corte de gastos que atinge dramaticamente as políticas sociais e os grupos mais vulneráveis, até as propostas absurdas dos recentes ministros da Educação, tudo nos dá medo, raiva e tristeza. Podemos resumir o cenário: o Brasil não respeita sentenças condenatórias de legítimos órgãos internacionais referentes às violações de direitos humanos; o abandono das principais formas de participação popular através de Conselhos; deformação radical dos compromissos do Estado com o respeito aos direitos humanos, com o consequente aumento da violência; desprezo e abandono de órgãos atuantes na redução das desigualdades, com a desvalorização da diversidade e da inclusão; conservadorismo e reacionarismo ideológico explícitos no movimento “Escola sem Partido”, assim como na defesa das escolas militarizadas e da educação domiciliar; estímulo à delação de professores considerados “doutrinadores”; graves cortes no financiamento do ensino público, ignorando o Plano Nacional de Educação; propostas do neoliberalismo triunfante sobre a privatização das universidades públicas. É um horror.
Ciente desse horror, creio que vale a pena retomar a discussão e a prática de nossos projetos de Educação em Direitos Humanos, pois é a nossa maneira, como intelectuais e professores, de contribuir para a formação ética e cívica dos adolescentes e jovens (sobretudo nas periferias) que estão perplexos, desanimados e perdidos. Já temos em São Paulo certo acúmulo de experiências com EDH, sobretudo na gestão municipal com Fernando Haddad e com os projetos do Instituto Vladimir Herzog, do qual faço parte.
O que entendemos por Educação em Direitos Humanos? Trata-se, essencialmente, da criação de uma cultura de respeito à dignidade humana – de todos, e não apenas das minorias privilegiadas que se consideram “superiores” – através da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da igualdade, da justiça, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz. Portanto, a educação assim proposta é uma formação – isto é, mais do que a instrução, a qual é igualmente importante e obrigatória nas diferentes áreas do conhecimento. A formação dessa cultura significa criar, influenciar, compartilhar e consolidar mentalidades, costumes, atitudes, hábitos e comportamentos que decorrem daqueles valores essenciais – os quais assumem sentido na vida quando se transformam em práticas. Tratar educação como formação já é uma ideia radical, pois pela tradição a formação (que inclui a educação moral) sempre foi obrigação da família e das Igrejas. Hoje, justamente essa tradição tem voltado com força, embora nossa Constituição afirme que a educação é dever da família e da sociedade.
Algumas premissas se impõem. A EDH é de natureza permanente, continuada e global. É necessariamente compartilhada por todos, educadores (incluindo todos os funcionários da escola, da direção às merendeiras) e educandos, como sempre enfatizou nosso mestre Paulo Freire. Deve ser um projeto de toda a escola e a comunidade na qual está inserida. É uma formação ética, que visa atingir tanto a razão quanto a emoção, ou seja, conquistar corações e mentes. Não é uma disciplina, mas um tema transversal. É uma formação que valoriza a realidade dos alunos, de suas famílias, de suas dificuldades de aprendizado ou de relacionamento (preconceito, racismo, bullying, assédio físico e moral) e que deve lidar constantemente com os problemas através da escuta e do diálogo. Importa destacar que essa escuta e o diálogo são esforços que buscam conhecer e compreender, mesmo quando não se concorda ou se entende. É uma formação que valoriza costumes e tradições de uma determinada região, mas está voltada para a mudança, para a transformação dos(as) educandos(as) em sujeitos históricos, críticos e emancipados. Por emancipação, entende-se aqui a proposta educadora de ensinar a pensar, a argumentar, a fazer escolhas.
Junto a tais premissas, um problema bastante citado pelos responsáveis de cada projeto refere-se ao próprio conceito de direitos humanos, deformado por ignorância ou má-fé em nosso país. Sempre houve, mas hoje é ainda mais comum ouvirmos que “são direitos de bandidos” ou que só valem para “humanos direitos”. Daí a importância, como dizia Antonio Candido, de “esclarecer o pensamento e pôr ordem nas ideias”.
O que são direitos humanos? São aqueles direitos comuns a todos os seres humanos, desde o nascimento, sem distinção alguma de nacionalidade, etnia, sexo e orientação sexual, nível socioeconômico e de instrução, opinião ou filiação política, limitações físicas ou mentais, ou qualquer julgamento moral. São, portanto, universais; e o Brasil é signatário de todas as Declarações, Pactos e Convenções internacionais. Direitos humanos são históricos, lista aberta a aperfeiçoamentos e acréscimos. Hoje, além do direito humano ao meio ambiente saudável, que tem mobilizado jovens ao redor do mundo, temos novos direitos para mulheres e a comunidade LGBT+ e cotas raciais, embora a herança maldita da escravidão (quase quatro séculos!) perpetue-se na discriminação e na morte violenta de jovens negros, na maioria das vezes pela ação policial abusiva (76% dos mortos pela polícia são negros). Mas o racismo é crime e deve ser punido. Direitos humanos são também interdependentes e irreversíveis: direitos civis e políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais.
Uma questão relevante diz respeito à igualdade, como essência dos direitos humanos. Trata-se de igualdade em dignidade (ou seja, a vida digna com os direitos sociais junto às liberdades individuais). Igualdade não é homogeneidade, assim como não é o contrário da diferença. A desigualdade é cultural e economicamente construída, quando se estabelece uma hierarquia dos seres humanos, quem nasceu superior para mandar, e quem nasceu inferior para obedecer. Já a diferença é uma relação horizontal e expressa identidades que devem ser reconhecidas e respeitadas. Logo, o direito à igualdade e o direito à diferença são faces da mesma moeda. Uma diferença pode ser (e, geralmente, o é) culturalmente enriquecedora, enquanto a desigualdade pode ser um crime. No Brasil é o que ocorre em muitas situações, a começar pelo racismo e pelo machismo. É preciso entender que todo crescimento de direitos das classes tradicionalmente perseguidas e humilhadas produz, nos dominantes, uma reação contrária.
É importante também enfatizar que ser tolerante e ser solidário não são a mesma coisa. A simples aceitação do outro, do diferente, é pouco. A tolerância ativa significa que, concretamente, é reconhecida, respeitada e defendida a diferença do outro. Maria Rita Khel insiste que a solidariedade não investe contra o interesse individual. O bem-estar garantido pelos direitos humanos de todos é também favorável a cada um, pois é de nosso interesse viver em uma cidade que não nos envergonhe. Ao falar da megalópole São Paulo, cidade onde alguns são cidadãos e muitos são “sobras”, Maria Rita afirma: “12 milhões de mapas sentimentais recortados pelas pequenas histórias de vida de seus habitantes”. São essas histórias de vida que, nas escolas, os projetos de EDH devem buscar conhecer e entender.
Voltando à educação, a EDH deve estar associada ao projeto político-pedagógico de cada escola. É claro que tudo dependerá da gestão democrática. A Constituição vigente define que o ensino será ministrado com base em vários princípios, dentre os quais está a gestão democrática (art. 206, VI), o que se desdobra nas Constituições estaduais e nas Leis Orgânicas dos Municípios. Logo, a gestão democrática escolar é uma exigência constitucional, desde 1988.
A democracia representativa está em crise no Brasil e no mundo. Cabe defendê-la como o regime político que melhor reconhece, garante e promove os direitos humanos. Está difícil entre nós. Mas não podemos desistir. Muitos se referem à EDH, a busca da igualdade e da justiça, como uma utopia. Que seja. Mas prefiro acompanhar o teólogo Leonardo Boff: “A paz e a democracia, por sua natureza, possuem forte densidade utópica. Quer dizer, são anseios que nunca vão se realizar plenamente na História. Nem por isso são destituídos de sentido. Os anseios, as utopias e os sonhos nos desinstalam, nos obrigam a caminhar e a buscar sempre novas formas de democracia e de paz. São como as estrelas. Não podemos alcançá-las, mas são elas que nos iluminam as noites e orientam os navegantes”.
Maria Victoria de Mesquita Benevides é doutora em Sociologia pela USP e professora titular da Faculdade de Educação da USP, autora de A cidadania ativa(Ática)