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http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80191
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Os bebês que morrem de fome em La Guajira
Las 2 Orillas
Adital
Por Isabella Bernal
Um ‘chinchorro guajiro’ (rede de dormir) abriga o corpo de um bebê enquanto as mulheres o despem com gritos e pranto em uma coberta em Manaure. Ali estão sua mãe, suas avós, suas tias, as vizinhas do barracão, que cobrem o rosto como parte do doloroso ritual de despedida. Um adeus cheio de afeto. Ninguém fala, não sabem nem perguntam por sua morte. A pele de sua barriguinha inchada estava coberta de manchas. O ‘piache’, médico do barracão, acreditou curá-lo com seus remédios ancestrais, mas o bebê agonizante terminou no Instituto para a Saúde Indígena, onde lhe receitaram um comprimido para a febre, que custou 2 mil pesos porque a mãe não tinha para o antibiótico que podia ter salvado sua vida. Morreu de fome, sem ter alcançado completar o primeiro ano de vida. Sobreviveu dias chupando um pedaço de banana, dado por outra menina desnutrida de 14 anos, sua mãe, que nunca pôde dar-lhe de mamar.
Depois de um pranto barulhento volta o silêncio. As tecedoras de mochilas suspendem durante 24 horas seu trabalho para despedir o menino morto; comem lentilhas com arroz e conversam silenciosamente. Nesse ritual, não há cabra, nem um grande fogão aceso, tampouco garrafas de whisky Old Parr, como nos enterros dos caciques indígenas. É um velório doloroso e austero. Em uma manta funerária, que não é outra coisa se não uma tela estreita colorida, parecida com a das mochilas, envolvem o pequeno corpo para enterrá-lo no árido deserto dos cemitérios guajiros. Antes que as mulheres começassem a colocar a terra em cima, lançaram na cova a única coisa que tinha na vida: uma camiseta suja de flanela.
Esse ritual tem se transformado em algo cotidiano entre os wayúu, pois quase que, a cada semana, morre uma de suas crianças. Assim enterraram as 4.125 crianças que morreram de fome e desnutrição nos últimos cinco anos em La Guajira, segundo os manuais de saúde. Mas também morrem pela água com a qual buscam matar a sede do ardente sol caribenho; água que tiram de poços onde se revolve a terra e a chuva, quando não a recolhem em tanques negros de plástico sujo, onde crescem e se cultivam bactérias, parasitas intestinais, sarna, conjuntivite aguda e enfermidades pulmonares nas crianças wayúu. Os riachos que saem do rio Rancherías vão carregados de mercúrio, produto das mineradoras das multinacionais, para fazer com que a água que bebem em La Guajira seja quase veneno.
A comida é um prato de aveia diário, que é o alimento que repartem gratuitamente. O pão, uma pequena banana ou um prato de lentilhas chega à casa quando as mães conseguem vender alguma mochila no mercado de Riohacha por menos de 10 mil pesos, quando em Bogotá valem 200 mil.
Mas para conseguir essa venda, antes enfrentam um longo caminho. Devem andar desde os seus barracões até a rodovia principal, onde pegam um carpati–jeep 4×4, nos quais a passagem custa 2 mil pesos se, por exemplo, a viagem é desde Mayapo até Manure. A inexistência de vias não somente complica a chegada até o mercado, mas também até os centros de saúde e os centros de provisão de alimentos.
Os wayúu vivem do artesanato, do pastoreio e muito poucos da pesca, pois nem todos têm a linha e os anzóis. Alguns conseguem ganhar algo ajudando os pescadores a trazer a rede. Outros, para sua sorte, podem encontrar na estrada com um homem que se enamore de sua filha e lhes ofereça uma cabra. A poligamia faz com que as meninas fiquem grávidas prematuramente, quase que desde que chega a primeira menstruação.
Dos meninos wayúu apenas se sabe seu nome e sua idade quando morrem.
No ano passado, continuavam morrendo as crianças enquanto o ex-governador Kiko Gómez, detido na Picota, lançava com o Instituto de Bem Estar Familiar o Programa de Alimentação e Nutrição para La Guajira – PAN, com um orçamento de 4,8 bilhões de pesos, um dinheiro que ficou aos cuidados de Leandro Sampayo, mas que desapareceu como tantas outras verbas em La Guajira. Como ocorre com as regalias de Uribia, um município que recebe 5 bilhões e que detém as estatísticas de miséria mais altas do país. A politicagem e a corrupção se destaca enquanto a morte espreita.
Nos primeiros dois meses deste ano, morreram três bebês e 47 agonizam por terem nascido com baixo peso, pela desnutrição de suas mães. Não são mortes anônimas, são crianças de carne e osso com mães que não esquecem e que os visitam nos cemitérios esperando que algum dia esse ritual da morte não se repita com tanta frequência, com tanta indolência.
A exploração dos recursos naturais
Sob a atual política mineradora, os recursos naturais não renováveis se converteram numa maldição. Existe uma relação direta entre os projetos das multinacionais e a miséria dos moradores vizinhos da exploração. Tal é o caso de La Guajira e Cesar, os maiores produtores de carvão e os primeiros em necessidades básicas insatisfeitas, entraves coloniais que agravam as condições de comunidades, trabalhadores e produtores nacionais, que se veem irremediavelmente deslocados de suas terras.
Read more at http://ojosparalapaz-colombia.blogspot.com/2014/04/los-bebes-que-mueren-de-hambre-en-la.html#qlgjPtuIBYKDAepc.99
Um ‘chinchorro guajiro’ (rede de dormir) abriga o corpo de um bebê enquanto as mulheres o despem com gritos e pranto em uma coberta em Manaure. Ali estão sua mãe, suas avós, suas tias, as vizinhas do barracão, que cobrem o rosto como parte do doloroso ritual de despedida. Um adeus cheio de afeto. Ninguém fala, não sabem nem perguntam por sua morte. A pele de sua barriguinha inchada estava coberta de manchas. O ‘piache’, médico do barracão, acreditou curá-lo com seus remédios ancestrais, mas o bebê agonizante terminou no Instituto para a Saúde Indígena, onde lhe receitaram um comprimido para a febre, que custou 2 mil pesos porque a mãe não tinha para o antibiótico que podia ter salvado sua vida. Morreu de fome, sem ter alcançado completar o primeiro ano de vida. Sobreviveu dias chupando um pedaço de banana, dado por outra menina desnutrida de 14 anos, sua mãe, que nunca pôde dar-lhe de mamar.
Depois de um pranto barulhento volta o silêncio. As tecedoras de mochilas suspendem durante 24 horas seu trabalho para despedir o menino morto; comem lentilhas com arroz e conversam silenciosamente. Nesse ritual, não há cabra, nem um grande fogão aceso, tampouco garrafas de whisky Old Parr, como nos enterros dos caciques indígenas. É um velório doloroso e austero. Em uma manta funerária, que não é outra coisa se não uma tela estreita colorida, parecida com a das mochilas, envolvem o pequeno corpo para enterrá-lo no árido deserto dos cemitérios guajiros. Antes que as mulheres começassem a colocar a terra em cima, lançaram na cova a única coisa que tinha na vida: uma camiseta suja de flanela.
Esse ritual tem se transformado em algo cotidiano entre os wayúu, pois quase que, a cada semana, morre uma de suas crianças. Assim enterraram as 4.125 crianças que morreram de fome e desnutrição nos últimos cinco anos em La Guajira, segundo os manuais de saúde. Mas também morrem pela água com a qual buscam matar a sede do ardente sol caribenho; água que tiram de poços onde se revolve a terra e a chuva, quando não a recolhem em tanques negros de plástico sujo, onde crescem e se cultivam bactérias, parasitas intestinais, sarna, conjuntivite aguda e enfermidades pulmonares nas crianças wayúu. Os riachos que saem do rio Rancherías vão carregados de mercúrio, produto das mineradoras das multinacionais, para fazer com que a água que bebem em La Guajira seja quase veneno.
A comida é um prato de aveia diário, que é o alimento que repartem gratuitamente. O pão, uma pequena banana ou um prato de lentilhas chega à casa quando as mães conseguem vender alguma mochila no mercado de Riohacha por menos de 10 mil pesos, quando em Bogotá valem 200 mil.
Mas para conseguir essa venda, antes enfrentam um longo caminho. Devem andar desde os seus barracões até a rodovia principal, onde pegam um carpati–jeep 4×4, nos quais a passagem custa 2 mil pesos se, por exemplo, a viagem é desde Mayapo até Manure. A inexistência de vias não somente complica a chegada até o mercado, mas também até os centros de saúde e os centros de provisão de alimentos.
Os wayúu vivem do artesanato, do pastoreio e muito poucos da pesca, pois nem todos têm a linha e os anzóis. Alguns conseguem ganhar algo ajudando os pescadores a trazer a rede. Outros, para sua sorte, podem encontrar na estrada com um homem que se enamore de sua filha e lhes ofereça uma cabra. A poligamia faz com que as meninas fiquem grávidas prematuramente, quase que desde que chega a primeira menstruação.
Dos meninos wayúu apenas se sabe seu nome e sua idade quando morrem.
No ano passado, continuavam morrendo as crianças enquanto o ex-governador Kiko Gómez, detido na Picota, lançava com o Instituto de Bem Estar Familiar o Programa de Alimentação e Nutrição para La Guajira – PAN, com um orçamento de 4,8 bilhões de pesos, um dinheiro que ficou aos cuidados de Leandro Sampayo, mas que desapareceu como tantas outras verbas em La Guajira. Como ocorre com as regalias de Uribia, um município que recebe 5 bilhões e que detém as estatísticas de miséria mais altas do país. A politicagem e a corrupção se destaca enquanto a morte espreita.
Nos primeiros dois meses deste ano, morreram três bebês e 47 agonizam por terem nascido com baixo peso, pela desnutrição de suas mães. Não são mortes anônimas, são crianças de carne e osso com mães que não esquecem e que os visitam nos cemitérios esperando que algum dia esse ritual da morte não se repita com tanta frequência, com tanta indolência.
Aqui está o nome, o lugar e a idade das 4.125 crianças que morreram em La Guajira. Essa informação foi obtida da tutela posta pelo diretor de Planejamento de La Guajira, Cesar Arismendy. |
A exploração dos recursos naturais
Sob a atual política mineradora, os recursos naturais não renováveis se converteram numa maldição. Existe uma relação direta entre os projetos das multinacionais e a miséria dos moradores vizinhos da exploração. Tal é o caso de La Guajira e Cesar, os maiores produtores de carvão e os primeiros em necessidades básicas insatisfeitas, entraves coloniais que agravam as condições de comunidades, trabalhadores e produtores nacionais, que se veem irremediavelmente deslocados de suas terras.
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