segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O apelo dramático de Rosie Marie Muraro

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O apelo dramático de Rosie Marie Muraro

Rose Marie Muraro, Patrona do Feminismo Brasileiro, pede socorro, em carta dramática como informa Mônica Bergamo, jornalista, na sua coluna publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 26-08-2013.
Eis o texto.
"Sou Rose Marie Muraro, chegando aos 83 anos, e como vocês sabem fui nomeada pelo governo federal, em 2005, aPatrona do Feminismo Brasileiro, e também cidadã honorária de Brasília e de São Paulo, além de ter sido duas vezes escolhida uma das mulheres do século."
É dessa forma que a celebrada escritora e intelectual começa a carta dramática enviada a seus amigos há alguns dias. "Semicega", como diz, e "semiparalítica", desabafa: está também passando por grave dificuldade financeira. E pede socorro.
"Depois de mais de cinquenta anos de dedicação à sociedade brasileira, encontro-me hoje numa situação financeira muito delicada porque não tenho mais condições físicas para ler nem escrever, pois minha miopia aumentou enormemente (42º), e uma pneumonia dupla me levou a força das pernas. Não posso mais trabalhar nem viajar como antes. Continuo trabalhando em casa dando assessoria para um senador e transformando algumas de minhas obras em e-book."
As despesas se multiplicaram nos últimos anos, relata. Os filhos ajudam. "Entretanto, meus custos com remédios, acompanhantes e outras despesas excedem em muito a minha receita. Preciso de mais recursos para continuar trabalhando."
Rose perdeu o pai quando era jovem, e rompeu com a família, "que era muito rica", para se engajar em movimentos sociais. "Se você tem hoje a sua liberdade, é porque eu fiquei pobre", disse ela à coluna. Nos anos 40, juntou-se à equipe de dom Helder Câmara. Trabalhou com Leonardo Boff na editora Vozes. E quer agora preservar o acervo do instituto que leva o nome dela, "para que os estudos de gênero continuem gratuitamente à disposição de toda a sociedade brasileira".
A entidade, explica na carta, foi criada em 2009 também "para ser uma forma de contribuição nesta difícil etapa final de minha vida". Ainda não obteve recursos públicos. "Mas continuamos trabalhando arduamente e participando dos editais acreditando que em breve seremos contemplados." O instituto sobrevive com recursos próprios, ajuda de "poucos amigos" e o dinheiro arrecadado em sua cantina.
Rose quer produzir documentários e e-books de diálogos com lideranças de movimentos sociais. "Pelo curto tempo que tenho", escreve, "preciso com muita urgência de uma secretária que possa ler para mim e redigir meu trabalho semanalmente". Segue a carta: "É contando com vocês, amigas e amigos, e com meu coração esperançoso que lanço esta campanha de contribuição financeira como forma de reconhecimento pelos meus longos anos de trabalho em prol da mulher brasileira, que mudou o pensamento de uma geração inteira, abrindo caminho para a transformação das novas gerações. (...) Serei eternamente grata. Isto me permitirá continuar vivendo e produzindo com as forças que me restam."
A ministra Eleonora Menicucci (Mulheres) telefonou para dizer que fará de tudo para ajudá-la. Cem pessoas já depositaram algum dinheiro de forma anônima em sua conta. "Eu não conheço ninguém e agradeço a todo mundo. Valeu a pena", diz Rose. "Mas escreve aí: não estou pedindo esmola. Estou pedindo uma contribuição." E afirma: "Mesmo que ninguém me desse nada, eu faria tudo na minha vida outra vez."

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