quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Eu quero um outro jornalismo


Eu quero um outro jornalismo

Por Keka Werneck




Eu quero um outro jornalismo, viu Enock Cavalcanti. Um que tenha disposição de se indispor, como você me cobra sempre. Um outro jornalismo, como o proposto pelo Ailton Segura, que dê espaço ao pobre do repórter, para que ele possa se expressar e não ser apenas uma máquina tosca, repetidora, maritaca. Quero um jornalismo pé no chão, de acordo com Gibran Lachowski, que seja a voz do povo sofrido. Um jornalismo que questione os ricos o tempo todo, porque, como sabemos eu e Marcela Brito, quanto mais um ganha outro perde na lei do capitalismo.

Quero um jornalismo que saia incansavelmente às ruas, como o de Alecy Alves, para alegria da professora Sônia Zaramella, que lamenta o repórter burocrático, assentadinho em frente ao computador, telefone à mão, celulares ao bolso, asséptico. Um jornalismo que sua a camisa, que volta sujo para a redação, porém realizado no âmago.

Quero um jornalismo talhado em casa e depois em sala de aula, que chegue para romper e não para manter.

Quero um jornalismo fênix, capaz de ressurgir das cinzas, na linha Najla Passos, que, após a fadiga existencial, se reencontra, se redescobre e entra no jogo novamente.

Um jornalismo vigoroso e confiável, como o texto de Márcia Raquel ou de Ana Cláudia Drummond.

Não me contento com outro jornalismo que não seja um tanto literário, cuidadoso com as palavras e vivenciado com mais calma, como busca Marcio Camilo.

Um jornalismo que traga sim exclusividades, notícias em primeira mão, como gosta Téo Meneses, mas que saiba ir um pouco mais a fundo e articule os fatos entre si, como ele mesmo faz tão bem.

Quero um jornalismo romântico, como eu defendo todo dia. Um jornalismo afetuoso, como um abraço de Liana Meneses. Um outro jornalismo, que não seja fétido, que cumpra seu papel, que esteja sempre nos bastidores, que revele e não esconda. Um jornalismo digno como Antônio Carlos Silva. Ou íntegro, como Antônio Lemos. Um jornalismo que seja capaz de tocar a pele da gente, como as palavras de Rose Domingues. E que conte uma história tão bem, como Martha Batista.

Não quero mais esse jornalismo que oprime e que faz meus colegas infelizes, decepcionados, cabisbaixos, se sentindo fracassados.

Quero um jornalismo novo, como o sopro de esperança que vem trazer Renê Dióz ou Thiago Foresti.

Um fotojornalismo que soque o estômago da gente fazendo lembrar que a vida é dura, como diz Mary Juruna. Um jornalismo grandioso como registra José Luiz Medeiros, iluminado, tecnicamente deslumbrante, perfeito, regional, que foque o caboclo. Que ponha o índio nu e na aldeia como Mário Vilela.

Um jornalismo que busca um viés curioso e de repente nos toma de assalto, como faz Rodrigo Vargas. Que escolhe bem as pautas, a dedo, que nem se cata conchinhas na praia, as mais bonitas, interessantes, rajadinhas ou rosadas.

Quero um jornalismo de confiança, como quando leio o Jonas da Silva e sei que ele conferiu os dados. Um jornalismo que seja ímpar em meio ao comum, como eu vejo Jonas Campos fazer, que independa um pouco do veículo, seja mais autoral. Um jornalismo na veia, como o que injeta até hoje Rubens Valente.

Quero um jornalismo que diz o que tem que ser dito, como fez Ricardo Boechat denunciando os absurdos no despejo em Pinheirinho. Um jornalismo que chora diante do que é triste, lamentável, de cortar o coração, insustentável, nojento, medonho, criminoso. Que fica puto, que sai do sério e depois volta ao equilíbrio. Humano é assim! Mas não um jornalismo histérico, ensimesmado, vaidoso, que usa os fatos para promoção pessoal.

Quero um jornalismo que tenha antepassados, como Jê Fernandes, Nelson Severino, Severo Crudo, Mino Carta, Munir Sodré, Alberto Dines...

Um jornalismo militante, que levanta bandeira, como o de tantos sindicalistas. Que proponha mudanças, como a democratização da mídia e outras pautas urgentes, como Bia Barbosa, Leonor Costa, Pedro Pomar, Sílvia Regina.

Quero um jornalismo que contrarie o patrão, que ignore a linha editorial, que desafie o sistema midiático, que cuspa no chão e seja bruto também.

Quero um jornalismo radical, como a língua de Luana Soutos. Indignado, como a Dafne Spolti. Moderno como Euzyane Teodoro e charmoso como Tchélo Figueiredo e Kleber Lima.

Quero um jornalismo contra a corrupção e pelos direitos humanos todos!

Um jornalismo do bem, como Anderson Pinho. Que saiba ver também o lado bom das coisas, como Márcia Andreola.

Um jornalismo parcial como faz Rodrigo Viana e por isso mesmo mais honesto com o expectador, leitor, receptor, como queiram.

Quero um jornalismo reclamão, como Laura Lucena, primeira mulher repórter de rua em Mato Grosso. Capaz de loucuras!

Quero um outro jornalismo, mais envelhecido do que jovem, mais maduro do que imaturo, mais profundo do que factual, mais literário que fugaz, mais político do que sonso, mais preto do que branco, mais popular que elitizado, mais verdadeiro que mascarado, mais urgente do que descartável.

Quaisquer que sejam os jornalismos, que estão por aí ou por vir, são feitos por todos nós, braçais da imprensa.


Keka Werneck é jornalista em Cuiabá e diretora de Mobilização do Sindjor-MT

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